19 novembro - Quantas forças a nós
ainda desconhecidas, quantos segredos para a nossa limitada experiência,
quantos campos de ação por nós inexplorados! (L 18). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Lucas 20,27-40
Naquele tempo, 27aproximaram-se de Jesus
alguns saduceus, que negam a ressurreição, 28e lhe perguntaram:
“Mestre, Moisés deixou-nos escrito: se alguém tiver um irmão casado e este
morrer sem filhos, deve casar-se com a viúva a fim de garantir a descendência
para o seu irmão. 29Ora,
havia sete irmãos. O primeiro casou e morreu, sem deixar filhos. 30Também o segundo 31e o terceiro se casaram
com a viúva. E assim os sete: todos morreram sem deixar filhos. 32Por fim, morreu também a
mulher. 33Na
ressurreição, ela será esposa de quem? Todos os sete estiveram casados com
ela”.
34Jesus
respondeu aos saduceus: “Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se, 35mas os que forem julgados
dignos da ressurreição dos mortos e de participar da vida futura, nem eles se
casam nem elas se dão em casamento; 36e já não poderão morrer,
pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram.
37Que
os mortos ressuscitam, Moisés também o indicou na passagem da sarça, quando
chama o Senhor ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. 38Deus não é Deus dos
mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele”. 39Alguns doutores da Lei
disseram a Jesus: “Mestre, tu falaste muito bem”. 40E ninguém mais tinha
coragem de perguntar coisa alguma a Jesus.
Meditação:
Jesus
desmoraliza os saduceus, apresentando o cerne das Escrituras: Deus é o Deus
comprometido com a vida. Ele não criou ninguém para a morte, mas para a aliança
consigo para sempre. A vida da ressurreição não pode ser imaginada como cópia
do modo de vida deste mundo.
A propósito de uma pergunta capciosa dos seus adversários que negavam a
ressurreição dos mortos, Jesus procura fazer-lhes compreender que, no mundo
novo da ressurreição, as coisas estão fora e acima do nosso modo de pensar
terreno.
A ressurreição dos mortos pertence já a esse “mundo que há-de vir” para além da morte, em que Deus vive como Deus de vivos, como Ele Se tinha revelado no episódio da sarça ardente, ao apresentar-Se a Moisés como Deus dos que tinham vivido antes, mas que para Ele são sempre vivos, Ele “o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacob”.
Os saduceus, grandes proprietários de terras, formavam a elite dos sacerdotes (20,27-40). Não acreditavam na ressurreição, e propõem a Jesus um caso difícil, para mostrar que é absurdo crer na ressurreição.
Jesus retifica a questão, mostrando que a vida da ressurreição não deve ser concebida como mera cópia da vida na dimensão presente. E os mortos ressuscitam? Referindo-se à célebre forma “Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó”, Jesus mostra que, sendo Deus dos vivos e da Vida, também Abraão, Isaac e Jacó devem estar vivos com ele.
Com efeito, o sentido de toda a criação é viver para Deus, e essa vida não conhece fim. Ruma para a plenitude, sempre. O que está com Deus está vivo para gozar a vida em abundância.
Os saduceus queriam embaraçar Jesus fazendo perguntas a partir da prática do levirato (Dt 25.5-6). No livro do Deuteronômio está ordenado que, no caso de um irmão falecer sem descendência, é a obrigação de um irmão casar com a viúva para dar o nome à família. Se, nessa prática, uma viúva casar sucessivamente, de quem será a mulher na ressurreição?
Jesus afirma a ressurreição (vv. 35-37), e mostra aos saduceus que as instituições pertencentes a esta ordem das coisas não continuarão pós-ressurreição. Em outras palavras, as instituições terrenas não continuarão no céu, que é o mundo da justiça plena. O mundo onde está presente o Reino de Deus. Todas as instituições e poderes são transitórios e provisórios, ainda.
A continuidade entre o agora e o então está em Deus e na sua graça. E Jesus faz excursão mais profunda no Pentateuco, lembrando-os do que Moisés disse a respeito de Deus como o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. A ressurreição é contrastada, por isso, pela imposição da morte; pelos determinismos e fatalismos da cultura, da religião, da política corrompida, nos sistemas de pensar. A ressurreição é a dádiva da vida e vem de Deus.
Assim, à luz da ressurreição, a vida é vista e vivida sob o poder da graça. Em Lucas a ênfase recai na expressão: “não podem mais morrer” com referência aos filhos da ressurreição.
Reflexão Apostólica:
O Deus de Jesus é o Deus que ama a vida e a defende, que se faz presente na história humana para conduzi-la à plenitude, para além do natural, do tempo histórico e dos modos de viver. Jesus responde sabiamente à pergunta dos saduceus. Sua resposta tem como fundamento a fidelidade de Deus ao longo da história da salvação, que é doadora de sentido para todo cristão.
Afirma que para Deus todos vivem, são filhos da ressurreição, pois não a morte,
mas a vida é o destino último do ser humano; uma vida plena e abundante que é
concedida por Deus e confirmada por Jesus em sua ressurreição.
Baseando-se na lei de Moisés, segundo a qual o irmão de um homem falecido sem
descendência deveria se casar com a viúva, os saduceus elaboram uma história
truculenta apenas para desprestigiar Jesus e a fé na ressurreição.
A resposta do Mestre é clara: depois da ressurreição seremos como anjos; não viveremos segundo as leis deste mundo, incluindo o casamento. Jesus enfatiza e recalca que os mortos ressuscitam, porque o Deus em que cremos é o Deus dos vivos e não dos mortos, e para Ele todos os servos vivem. É um convite de Jesus para que seus discípulos assumam o compromisso pela vida e rechacem todas as atitudes de morte que crescem em nosso mundo.
Como todos nós vivemos num mundo marcado pelo materialismo, cada vez mais somos tentados a fazer da matéria a causa da nossa felicidade e nos fecharmos nessa realidade para analisar todas as coisas e, com isso, não somos capazes de ver outros caminhos para a felicidade ou até mesmo outras condições de vida que Deus pode nos conceder para o nosso bem, como é o caso da vida eterna.
O erro que os saduceus cometeram e que aparece no evangelho de hoje é esse: se tornaram tão materialistas que ficaram incapazes de abrir o próprio coração para a proposta da vida plena que nos é feita pelo próprio Deus.
Nós, cristãos, somos gestores da esperança e construtores
de soluções de vida. Temos que testemunhar contra a "cultura da
morte" e todas suas manifestações, rechaçá-las, lutarmos em favor de suas
revisões e transformações; isso em fidelidade ao Deus que é Vida Eterna, fonte
universal da vida e que nos enviou seu Filho, que "é a ressurreição e a
vida", para que quem creia nele, ainda que morra tenha a vida eterna.
Somos chamados como crentes em Jesus a construir projetos que favoreçam, em
todo momento, a vida e a dignidade das pessoas, em especial dos mais
debilitados e necessitados, já que desta maneira é como Deus mesmo se vai
manifestando à humanidade.
Ele nos chama à vida, à fraternidade, e devemos responder da mesma maneira:
sendo testemunhas dessa vida, dessa esperança prometida por Deus na
ressurreição.
Propósito:
Pai, és Deus da vida e Deus dos vivos, e queres todos os
seres humanos em comunhão contigo para sempre. Ajuda-me a viver, já nesta vida,
esta comunhão eterna.
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