04 de dezembro - As
contrariedades e os sofrimentos que nos perturbam são como tantas outras cruzes
sobre as quais está escrito o nome de Jesus. (S 209). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Mateus 3,1-12
Naquele tempo João Batista foi para o deserto da Judéia e
começou a pregar, dizendo:
- Arrependam-se dos
seus pecados porque o Reino do Céu está perto!
A respeito de João, o
profeta Isaías tinha escrito o seguinte:
"Alguém está
gritando no deserto:
Preparem o caminho para
o Senhor passar!
Abram estradas retas
para ele!"
João usava uma roupa
feita de pêlos de camelo e um cinto de couro e comia gafanhotos e mel do mato.
Os moradores de Jerusalém, da região da Judéia e de todos os lugares em volta
do rio Jordão iam ouvi-lo. Eles confessavam os seus pecados, e João os batizava
no rio Jordão.
Quando João viu que
muitos fariseus e saduceus vinham para serem batizados por ele, disse:
- Ninhada de cobras
venenosas! Quem disse que vocês escaparão do terrível castigo que Deus vai
mandar? Façam coisas que mostrem que vocês se arrependeram dos seus pecados. E
não digam uns aos outros: "Abraão é nosso antepassado." Pois eu
afirmo a vocês que até destas pedras Deus pode fazer descendentes de Abraão! O
machado já está pronto para cortar as árvores pela raiz. Toda árvore que não dá
frutas boas será cortada e jogada no fogo. Eu os batizo com água para mostrar
que vocês se arrependeram dos seus pecados, mas aquele que virá depois de mim
os batizará com o Espírito Santo e fogo. Ele é mais importante do que eu, e não
mereço a honra de carregar as sandálias dele. Com a pá que tem na mão ele vai
separar o trigo da palha. Guardará o trigo no seu depósito, mas queimará a
palha no fogo que nunca se apaga.
Meditação:
A primeira leitura (Is 11,1-10) descreve uma maneira nova e diferente de relação da humanidade entre si e com uma ordem natural harmônica. O povo se encontra numa época em que recorda os dias bons e felizes. Mas também se lembra dos dias amargos que experimentou por culpa da direção errada de seus governantes.
Houve uma época em que o povo vibrou por ter
alcançado a Terra Prometida. Uma vez nela, experimentou a alegria e o
bem-estar, filhos da liberdade. Mas logo começou a vivenciar uma etapa
diferente. Poder-se-ia dizer que houve um retrocesso: foi a época da monarquia.
Em seu bojo, veio a infidelidade a Javé.
Naquele contexto, o referencial de esperança do
povo hebreu passou a ser o surgimento de um rei como Davi, que corrigisse os
desvios dos sucessores de seu trono. A partir de Isaías, começou a surgir a ideia
da vinda de um ser extraordinário que não fosse simplesmente como Davi, mas
muito mais que ele; mais propriamente, filho de Jessé, o pai de Davi.
Tal personagem devia encarnar os atributos do
verdadeiro rei, entendido como lugar-tenente de Deus. Se até então os reis de
Israel haviam-se descuidado de seu principal dever, que era a proteção dos
fracos, esse novo ramo do tronco de Jessé colocaria essa função em
primeiríssimo lugar.
O poema descreve-nos, além disso, que esse novo
ramo seria o homem do Espírito como os profetas; mais que eles, porém, porque
aqueles tinham sido movidos “temporariamente”, pelo Espírito, enquanto que o
descendente de Davi o possuiria permanentemente.
A partir dos anúncios de Isaías, a figura do
Messias iria adquirindo cada vez mais força, e isso era presságio de tempos
novos e melhores. A descrição que faz o profeta sobre esse novo ambiente, essa
nova harmonia entre seres humanos e a Criação provocará o surgimento de uma
mentalidade nova e liberta.
O Messias se definiria pela libertação que deveria
ser entendida, sob todos os aspectos, tanto material quanto espiritual.
Absurdas brigas, discriminações, ódios, a própria guerra teria que desaparecer
diante da presença do Messias.
São Paulo (Rm 15,4-9) ensina aos cristãos de
Roma que não percam a esperança. Esta virtude – afirma ele – assenta-se em dois
pilares fundamentais: a convivência fraterna e a escuta da palavra de Deus, registrada
nas Escrituras.
É muito agradável e consolador esta mensagem de
Paulo, hoje. Não é raro encontrar pessoas que têm a Bíblia consigo e ouvir
delas como se sentem aliviadas e consoladas nos momentos difíceis. Temos que
ser mais incisivos nesse trabalho de união e partilha fraterna e a escuta da
Palavra, para que esse contato com a Escritura não se torne intimista nem
mágico.
A narrativa deste Evangelho passa por um intervalo
de silêncio de cerca de 30 anos,
Estava chegando a hora de iniciar o Seu ministério,
e Deus havia já fornecido e equipado um mensageiro apropriado para preparar o
Seu caminho, de conformidade com a profecia de Isaías proferida sete séculos
antes (Is 403-5, Ml 3,1 e 4,5).
O seu arauto, ou proclamador, foi João (Favor de
Deus), sobre quem encontramos mais detalhes no primeiro capítulo do evangelho
de Lucas. Foi apelidado de "o batista", porque se tornou notório
pelos batismos que executava no rio Jordão.
No evangelho nos encontramos com João Batista em
plena atividade: tocando, com suas palavras e seu estilo de vida, as fibras
mais íntimas da sociedade de seu tempo.
João encarna em sua pessoa os clássicos profetas do
Antigo Testamento, totalmente em contraste com as pessoas que andavam
preocupadas somente com sua aparência externa. O evangelho descreve uma figura
quase estranha, e para muitos, vulgar, por causa de sua maneira de vestir-se e
sua dieta alimentar.
Suas palavras ressoam desde o deserto, e têm
impacto na capital; desde ali se deslocam fariseus e saduceus para escutá-lo.
Eles são os representantes da sociedade judaica.
Os primeiros encarnam o ideal do judaísmo através
da rigorosa prática da lei, agora convertida em legalismo; os outros encarnam a
opulência, a auto -suficiência; estão convencidos de que suas riquezas e bens
são “bênçãos de Deus”. Todo Israel escuta a João, pois estão ali também os
pobres, os que não vivem na capital nem possuem fortuna, mas todos ansiosos
para escutar o profeta.
A proposta de João é clara: não basta saber e proclamar-se filho de Abraão;
isso é acidental, também das pedras Deus pode fazer filhos de Abraão. Por mais
filhos da promessa e da bênção que se sintam, a conversão é estritamente
necessária; não valem nem a aparência nem a auto - suficiência. Mesmo que as
árvores sejam frondosas, também serão podadas se não produzirem os frutos
exigidos pela Palavra de Deus.
João coloca a exigência dos frutos a partir do seu batismo de água, ponto de
partida para se dispor ao batismo no Espírito que “a àquele que vem depois de
mim” outorgará e ao qual João considera tão grande a ponto de não se julgar
digno de desamarrar-lhe as correias das sandálias. Somente os que souberam
captar a mensagem de João foram capazes de intuir ao menos algo do que Jesus
propôs.
Este tempo de Advento é uma oportunidade mais que propícia para nos colocarmos
diante de João e de Jesus. O primeiro nos prepara, e o outro nos forma de um
modo único e definitivo, e a formação que Jesus oferece voluntariamente faz
parte de sua própria origem, na simplicidade e na pobreza como elementos
essenciais para captar sua mensagem e seguir seu caminho.
Peçamos à
Deus que possamos dar muitos bons frutos.
Ligamos a TV e vemos um exagero de propagandas de produtos em promoção; junto a isso, um sem fim de anúncio dos especiais de fim de ano. Muitas luzes brancas ou coloridas piscam enfeitando ruas, igrejas, lojas. Nas casas, árvores de natal, presépios, guirlandas. Começam as festas com a brincadeira de amigo oculto e distribuição de presentes.
São sinais que deveriam dizer pra nós com força: é tempo de preparar o interior para acolher o Salvador do mundo. Convertam-se! Mudem de mentalidade! Mas parece que tais sinais nos estimulam a fazer exatamente o contrário: preocupem-se com o material, comprem, bebam, esqueçam quem na realidade deve ser lembrado.
O cristão autêntico vive neste mundo, e, apesar das dificuldades, deve considerar estes sinais precursores que aqueçam o nosso coração para esperar, desejar e acolher aquele que está para chegar. Assim, ninguém poderá dizer: “ah, eu não sabia que o Natal estava próximo”.
O evangelho de hoje apresenta um precursor, aquele por excelência: João. Aparece no deserto vestindo pele de camelo e cinturão de couro. Ao mostrar João vestido dessa forma, Mateus quer nos dizer que ele é profeta ao modo de Elias; tal profeta conduziu o povo de volta ao Deus verdadeiro.
Além da roupa simples, se alimenta de gafanhotos (alimento próprio dos beduínos pobres) e de mel. Esta fuga de popularidade é explicada pelo fato de que “aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu.
Eu nem sou digno de carregar suas sandálias”; ele não quer chamar a atenção, nem está preocupado com o próprio prestígio, interesse ou sucesso, mas encaminha tudo exclusivamente a Jesus.
João Batista tem uma voz forte, clara e decidida porque sabe muito bem quem está para chegar, ele faz de tudo para que as pessoas se preparem de modo justo para esta chegada.
Ele convida a conversão: “convertei-vos, porque o reino dos céus está próximo”. A conversão é simbolizada aqui pelo tempo no deserto, tempo de prova, tempo de transformação, assim como o povo liberto do Egito foi conduzido por Deus até a terra prometida, alcançando-a finalmente pela travessia no Jordão.
Quem escuta João, se batiza no Jordão, confessando os próprios pecados. O batismo de João era algo tão raro que ele ficou conhecido como João, o Batista. De fato, através do batismo nas águas do Jordão, a pessoa confessava os pecados, purificando-se para se aproximar do Messias.
Um ponto importante é que não devemos identificar
esta conversão com o comportamento farisaico. Ser fariseu é fazer a coisa certa
pelo motivo errado.
Somos fariseus quando fazemos algo correto por medo, por interesse, pela busca da aprovação e admiração. O fariseu vive naquele que apresenta uma boa imagem, sem de fato ser bom.
Podemos chegar a ser tão orgulhosos que ouvindo a mensagem de Jesus, fingimos acreditar ser pecadores, e, consequentemente, fingimos acreditar ser perdoados.
O simples remorso pelo pecado não é arrependimento, menos ainda palavras piedosas de falsa santidade. Isso não tem valor algum. O verdadeiro arrependimento consiste em deixar de uma vez por todas o pecado e dirigir-se para o caminho reto da justiça e obediência a Deus.
João deixa bem claro que quem não produz frutos bons será cortado e jogado no fogo. Estes frutos bons são fáceis de entender, é simplesmente o modo como tratamos uns aos outros: com amor.
“Acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo vos acolheu”. Acolher é uma parte do amor, quem sabe, a mais difícil. Quantas vezes na nossa família não nos suportamos, discutimos, ofendemos com palavrões o próximo ou mesmo com o desprezo.
Como Cristo acolheu a nós: a ovelha perdida, o bom ladrão, com o amor misericordioso, assim devemos acolher o próximo. Para isto, somos batizados com o fogo e com o Espírito Santo na totalidade de seu amor e de seus dons.
João nos prepara para definir-nos frente a Jesus; essa definição implica uma mudança em nossa vida. O que devemos mudar? É reto ou tortuoso, com muitas curvas, o caminho por onde caminhamos? Por quê?
João é a antítese da sociedade de seu tempo; quer dizer, não se adaptou comodamente às maneiras de ser e de pensar de seus contemporâneos. Como nos comportamos no ambiente em que vivemos? Existe algo de anúncio-denúncia em nossa maneira de ser e de transmitir a mensagem?
Propósito:
Ó Deus, Pai-Mãe, que nos dais todo o vosso amor; fazei
com que nossas palavras e obras mostrem sempre nossa disposição ao amor e à
reconciliação, afastai de nós toda atitude de discórdia, egoísmo e violência, e
fazei com que o encontro que hoje celebramos nos fortaleça na construção do
“outro mundo” possível que Vós nos convidais a vos ajudar. Senhor, ensinai-nos
a cumprir toda a justiça, a exemplo de Jesus, fazendo-nos solidários com quem
se afastou de Vós e precisa novamente encontrar-vos.