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Dezembro 2024
Tempo do Natal -
7º dia da Oitava do Natal
Primeira leitura:
1 João 2, 18-21
18*Meus filhos,
estamos na última hora. Ouvistes dizer que há - de vir um Anticristo; pois bem,
já apareceram muitos anticristos; por isso reconhecemos que é a última hora.
19*Eles saíram de entre nós, mas não eram dos nossos, porque, se tivessem sido
dos nossos, teriam permanecido conosco; mas aconteceu assim para que ficasse
claro que nenhum deles é dos nossos. 20*Vós, porém, tendes uma unção recebida
do Santo e todos estais instruídos. 21Não vos escrevi por não saberdes a
verdade, mas porque a sabeis, e também que da verdade não vem nenhuma mentira.
S. João exorta a comunidade
cristã à vigilância pela iminência da «última hora» da história, marcado por um
violento ataque do «anticristo», símbolo de todas as forças hostis a Deus e
personificadas nos heréticos. O tempo final da história não deve ser entendido
em sentido cronológico mas teológico, isto, como tempo decisivo e último da
vinda de Cristo, tempo de luta, de perseguição e de provação para a fé da
comunidade. O agudizar das dificuldades indica que o fim está próximo.
Vislumbra-se já no horizonte o perfil de um mundo novo. O sinal mais evidente
vem dos heréticos que difundem a mentira. Embora tivessem pertencido à
comunidade, mostram-se agora seus inimigos, ao abandonarem a Igreja e ao
criar-lhe dificuldades.
É duro verificar
que Deus possa permitir a Satanás encontrar instrumentos da sua ação dentro da
própria comunidade eclesial. Mas, a esses instrumentos, opõem-se os verdadeiros
discípulos de Jesus, aqueles que receberam «a unção do Santo» (cf. v. 20), isto
é, a palavra de Cristo e o seu Espírito que, pelo batismo, lhes ensina a
verdade completa (cf. Jo 14, 26). Essa verdade refere-se a Jesus, o Verbo de
Deus feito carne, como professa o Apóstolo, e não um Jesus aparentemente
humano, figura de uma realidade apenas espiritual, como dizem os hereges.
Evangelho: João 1, 1-18
1*No princípio já
existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; o Verbo era Deus. 2No princípio Ele
estava em Deus; 3*por Ele é que tudo começou a existir; sem Ele nada veio à
existência. 4*Nele é que estava a Vida de tudo o que veio a existir. E a Vida
era a Luz dos homens. 5A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam.
6*Apareceu um homem enviado por Deus, que se chamava João. 7Este vinha como
testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. 8Ele não
era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz. 9*O Verbo era a luz
verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina. 10*Ele estava no
mundo e por Ele o mundo veio à existência, mas o mundo não o reconheceu.
11*Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. 12*Mas, a quantos o
receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
13*Estes não nasceram de laços de sangue, nem de um impulso da carne, nem da
vontade de um homem, mas sim de Deus. 14*E o Verbo fez-se homem e veio habitar
conosco. E nós contemplámos a sua glória, a glória que possui como Filho
Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. 15*João deu testemunho dele ao
clamar: «Este era aquele de quem eu disse: 'O que vem depois de mim passou-me à
frente, porque existia antes de mim.'» 16*Sim, todos nós participamos da sua
plenitude, recebendo graças sobre graças. 17*É que a Lei foi dada por Moisés,
mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo. 18*A Deus nunca ninguém o
viu. O Filho Unigénito, que é Deus e que está no seio do Pai, foi Ele quem o
deu a conhecer.
Ao contrário dos evangelhos da infância, o prólogo de S. João não narra os acontecimentos históricos do
nascimento e da infância de Jesus. De forma poética, descreve a origem do Verbo
na eternidade de Deus e a sua pessoa divina no amplo quadro bíblico do projeto
de salvação, que Deus traz para o homem.
Começa pela
preexistência do Verbo (vv. 1-5), real e em comunhão de vida com o Pai; o Verbo
pode falar-nos do Pai porque possui a eternidade, a personalidade e a divindade
(v. 1). Depois fala da vinda histórica do Verbo para meio dos homens (vv.
6-13), de cuja luz deu testemunho João Baptista (vv. 6-8); a luz põe o homem
perante a necessidade de fazer uma opção de vida: recusá-la ou acolhê-la,
permanecer na incredulidade ou aderir à fé (vv. 9-11); o acolhimento favorável
tem por consequência a filiação divina, que não procede da carne ou do sangue,
isto é de possibilidades humanas (vv. 12-13). Finalmente, a Incarnação do Verbo
(v. 14) como ponto central do prólogo. Este Verbo já tinha entrado na história
humana por meio da criação, mas agora vem habitar entre os homens de um modo
ativo: «O Verbo fez-se homem», na fragilidade de Jesus de Nazaré, para mostrar
o amor infinito de Deus. Nele, a humanidade crente pode contemplar a glória do
Senhor, a glória de Jesus, o Revelador perfeito e escatológico da Palavra que
nos faz livres, o verdadeiro Mediador humano-divino entre o Pai e humanidade, o
único que nos manifesta Deus e no-lo faz conhecer (vv. 17-18).
Meditação
«Todos nós
participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças», diz-nos João no
Prólogo do seu evangelho. Vamos partir desta frase para n os colocarmos numa
atitude de ação de graças, neste último dia do ano. Ao longo dele, fomos
recebendo cada dia graça sobre graça, cada um segundo as suas necessidades e
capacidades de receber. E, as graças que recebemos este ano, preparam as que
havemos de receber no ano que vai começar.
Recebemos a graça
do perdão misericordioso de Deus para os nossos pecados e para termos coragem
de avançar no caminho da santidade. Recebemos luz para avançarmos, dia a dia no
ano que termina. Essa luz também não o deixará de brilhar sobre nós no ano que
começa. A luz é o próprio Filho de Deus feito homem: «Eu sou a Luz do mundo».
Essa luz é-nos dada como força e como amor, sobretudo na Eucaristia. Há que
acolhê-la de coração aberto e disponível para todos os dons e surpresas de
Deus.
A falta dessa
abertura levou alguns cristãos, logo na primitiva Igreja, à heresia. Não
aceitavam que Deus se pudesse fazer homem e, mais ainda, homem pobre, homem
frágil. Ao longo da história, e ainda em nossos dias, não faltam falsos
profetas e mestres de falsidade, que se servem do nome de Cristo para propagar
as suas ideias e doutrinas. Muitas vezes, provêm das próprias comunidades
cristãs. Há que distinguir o verdadeiro do falso. A verdadeira doutrina traz
alegria e paz interior.
O dom e o mistério
de pertencer à Igreja têm como única garantia a fidelidade à Palavra de Cristo,
em humilde e permanente busca da verdade. Recusar a Igreja é recusar a Cristo,
a verdade e a vida (cf. Jo 14, 6). Recusar a Igreja é não acreditar no
Evangelho e na Palavra de Jesus, é viver nas trevas, no não-sentido. O
verdadeiro discípulo de Jesus é aquele que, tendo recebido a unção do Espírito
Santo, se deixa conduzir suavemente pela sua ação e pela sua verdade, reconhecendo
os caminhos de Deus, esperando a sua vinda sem alarmismos nem fantasias
milenaristas. A Incarnação de Cristo impregnou toda a história e toda a vida
dos homens, porque só nele reside a plenitude da vida e toda a aspiração de
felicidade e o homem entrou de pleno direito entre os familiares de Deus.
O fim do ano civil
recorda-nos que a história humana é guiada por Deus. Para Ele a nossa gratidão
e a nossa súplica de vida nova que sempre nos quer oferecer.
Ó abismo de amor!
A alma que Te contempla eleva-se admiravelmente acima da terra, eleva-se acima
de si mesma e paira, pacificada, no mar da serenidade».
S. João é o
pregador do amor. Todo o seu evangelho está neste espírito. A sua primeira
página é uma elevação de amor para o Verbo incarnado. «Nós vimos, diz, o Filho
de Deus cheio de graça e de glória». Só ele descreve as núpcias tocantes de Canaã,
o colóquio com a Samaritana, a grande promessa da Eucaristia, a parábola do bom
Pastor, a ressurreição de Lázaro, o lava-pés e os discursos tão ternos do Bom Mestre
durante a Ceia e depois da Ceia. Narra a abertura do Coração de Jesus.
As suas epístolas
pregam a caridade: «Deus é caridade... amou-nos primeiro... deu- nos o seu
Filho por nosso amor. Portanto, amemo-lo também da nossa parte». E sem cessar
repete: «Amemo-nos uns aos outros».
Vivendo junto de
Maria e da Eucaristia, caminha para a consumação do amor. Chega à união mística
mais intensa com Nosso Senhor, às visões, às revelações. O céu está aberto para
ele. Descreve-o inteiramente. Mas sobretudo o Cordeiro triunfante retém o seu
olhar: o Cordeiro sempre ferido no Coração e imolado, o Cordeiro que é bem o
laço de amor entre Deus e nós.
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