30 junho - Solene tumulação dos despojos mortais de São José
Marello no Santuário da Casa-Mãe em Asti. (1923).
Atualmente não temos senão um tênue reflexo da fé e da caridade
apostólica. São Paulo! Oh! a grande figura típica do Cristianismo! (L 11). São José Marello
REFLEXÃO
PARA A SOLENIDADE DOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO
A
solenidade de São Pedro e de São Paulo é uma das mais antigas da Igreja, sendo
anterior até mesmo à comemoração do Natal. Depois da Virgem Santíssima e de São
João Batista, Pedro e Paulo são os santos que têm mais datas comemorativas no
ano litúrgico. Além do tradicional 29 de junho, há: 25 de janeiro, quando
celebramos a Conversão de São Paulo; 22 de fevereiro, temos a festa da Cátedra
de São Pedro e 18 de novembro, reservado à Dedicação das Basílicas de São Pedro
e São Paulo.
O martírio
de ambos deve ter ocorrido em ocasiões diferentes: São Pedro, crucificado de
cabeça para baixo na Colina Vaticana em 64, e São Paulo decapitado na chamada
Três Fontes em 67. Mas não há certeza quanto ao ano desses martírios.
São Pedro e
São Paulo não fundaram Roma, mas são considerados os "pais de Roma" e
considerados os pilares que sustentam a Igreja tanto por sua fé e pregação,
como pelo ardor e zelo missionário.
São Pedro é
o apóstolo que Jesus Cristo escolheu e investiu da dignidade de ser o primeiro
Papa da Igreja. A ele Jesus disse: "Tu és Pedro e sobre esta pedra
fundarei a minha Igreja". São Paulo é o maior missionário de todos os
tempos, o advogado dos pagãos, o "Apóstolo dos gentios".
No Brasil,
em homenagem a São Pedro, fogueiras são acesas, mastros são erguidos com a sua
bandeira, fogos são queimados. São Pedro é caracterizado como protetor dos
pescadores. A brincadeira do pau-de-sebo está em várias regiões, estando
diretamente relacionada com a festividade deste santo.
Leitura do Santo
Evangelho segundo São Mateus 16,13-19
"Jesus foi à região de Cesaréia de
Filipe e ali perguntou aos discípulos: "Quem dizem as pessoas ser o Filho
do Homem?" Eles responderam: "Alguns dizem que é João Batista;
outros, Elias; outros ainda, Jeremias ou algum dos profetas". "E
vós", retomou Jesus, "quem dizeis que eu sou?" Simão Pedro
respondeu: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Jesus então
declarou: "Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e
sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te
digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as forças do
Inferno não poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o
que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra
será desligado nos céus". "
A liturgia do
décimo terceiro domingo do tempo comum, neste ano, é substituída pela
solenidade dos apóstolos Pedro e Paulo. Por isso, interrompe-se neste dia a leitura semi
contínua do Evangelho de Mateus. Para esta solenidade, o evangelho é o mesmo em
todos os anos: Mt 16,13-19. Esse texto é muito rico e significativo, pois
contém o relato do clássico episódio de Cesareia de Filipe, cujo ápice é a
confissão de fé de Pedro, que reconhece e proclama Jesus como o Cristo, ou
seja, o Messias. Trata-se de um episódio comum aos três evangelhos sinóticos
(Mt 16,13-19; Mc 8,27-30; Lc 9,18-21), sendo que a versão de Mateus apresenta
mais elementos próprios, como veremos no decorrer da reflexão. E foi exatamente
por causa dos seus elementos próprios que o texto de Mateus foi mais valorizado,
ao longo dos séculos, sobretudo, no cristianismo católico. Como fazemos em
todos os domingos, concentraremos a reflexão no texto bíblico em si, sem
transformá-la em mera apologia devocional aos santos apóstolos recordados. No
entanto, reconhecemos que a recordação dos apóstolos é sempre importante para a
vida da Igreja, porque a ajuda a manter-se alinhada às suas origens, não
obstante os desgastes históricos.
Os apóstolos Pedro
e Paulo foram imprescindíveis para o cristianismo das origens conservar os ensinamentos
de Jesus e, ao mesmo tempo, para se espalhar e crescer, extrapolando os limites
culturais e geográficos do judaísmo e da Palestina. Olhando para o exemplo dos
dois, a Igreja, de hoje e de sempre, é interpelada, cada vez mais, a renovar-se
e edificar-se somente pela fé em Jesus Cristo, sem tomar como parâmetro nenhuma
instituição terrena. Antes de entrarmos na reflexão do texto em si, é
necessário fazer algumas considerações a respeito do contexto do relato no
conjunto do Evangelho. Convém recordar que esse trecho abre uma série de
acontecimentos importantes da vida de Jesus e dos seus seguidores, como a
transfiguração (Mt 17,1-7) e os dois primeiros anúncios da paixão (Mt 16,21-23;
17,22). Na verdade, pode-se dizer que esses acontecimentos são consequência do
episódio narrado no evangelho de hoje, pois tanto a transfiguração quanto os
anúncios da paixão são tentativas de Jesus revelar a sua verdadeira identidade,
tendo em vista que os discípulos ainda não tinham tanta clareza dessa.
Recordamos acima o
que sucede ao texto no conjunto do evangelho, mas também não podemos deixar de
recordar o que o antecede: houve uma controvérsia de Jesus com os fariseus, que
lhe pediram um sinal do céu (Mt 16,1-4), e uma séria advertência aos discípulos
para não se deixarem contaminar pelo fermento dos fariseus e saduceus (Mt
16,5-12). Esse fermento era a mentalidade equivocada sobre Deus e o futuro
messias e, principalmente, a hipocrisia em que viviam. Mateus recorda tudo isso
porque, certamente, a sua comunidade passava por uma crise de identidade: por
falta de clareza da identidade de Jesus e falta de experiência autêntica com o
Crucificado-Ressuscitado, o “fermento dos fariseus”, quer dizer a influência da
sinagoga, estava atrapalhando a vivência das bem-aventuranças, síntese do
programa de Jesus, e impedindo a realização do Reino dos céus naquela
comunidade.
Feita a
contextualização, olhemos para o texto: «Jesus foi à região de Cesaréia de
Filipe e ali perguntou aos seus discípulos: ‘Quem dizem os homens ser o Filho
do homem?’» (v. 13). Como se vê, o texto começa com um indicativo
espacial. Cesareia de Filipe estava localizada no extremo norte de Israel,
portanto, muito longe de Jerusalém. Como o próprio nome indica (homenagem a
César), era um centro do poder imperial e, portanto, lugar de culto ao
imperador romano. Certamente o evangelista e sua comunidade tinham um propósito
muito claro ao narrar esse episódio e recordar a sua localização. Ora, longe de
Jerusalém, os discípulos estariam isentos da influência do fermento dos
fariseus e, portanto, aptos a confessarem e professarem livremente a fé em
Jesus, fora dos esquemas tradicionais da religião. O distanciamento físico,
portanto, é sinal do distanciamento da ideologia que Jerusalém representa. Ao
mesmo tempo, estando em uma região de culto ao imperador, a confissão da fé em
Jesus se torna um sinal de convicção e adesão ao projeto do Reino dos Céus, e
uma demonstração da coragem que deve marcar a vida da comunidade cristã,
chamada a testemunhar a Boa Nova, e a continuar a obra de Jesus, mesmo em meio
às hostilidades impostas pelo poder imperial. Portanto, pode-se dizer que
professar a fé em Jesus é distanciar-se dos esquemas tradicionais do judaísmo
e, ao mesmo tempo, desafiar qualquer sistema que não coloque a vida e o bem do
ser humano em primeiro lugar, como o império romano. Isso torna a confissão de
Pedro um ato extremamente subversivo.
A expressão “Filho
do Homem” ao invés do pronome pessoal “eu” é a primeira particularidade de
Mateus em relação às versões de Marcos e Lucas, deste episódio. Porém, o
sentido aqui é o mesmo. A pergunta de Jesus sobre o que diziam a respeito de
si, ou seja, do Filho do Homem, não é demonstração de preocupação com sua
imagem pessoal, mas com a eficácia do anúncio da comunidade. Àquela altura da
sua vida pública, ele já tinha realizado muitos sinais entre o povo e ensinado
bastante, mas pouca gente o conhecia verdadeiramente. Muitos o seguiam pela
novidade que ele trazia, uns pelo seu jeito diferente de acolher os mais
necessitados e excluídos, outros para aproveitarem-se dos sinais que ele
realizava. Foi como consequência disso que ele fez a pergunta: «Que dizem
os homens ser o Filho do Homem?» (v. 13b). E a resposta dada pelos
discípulos revela a falta de clareza que se tinha a respeito da sua identidade
e, ao mesmo tempo, a boa reputação da qual ele já gozava diante do povo;
certamente, o povo simples, com quem ele interagia e por quem lutava. Eis a
resposta: «alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias, outros,
ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas» (v. 14). A menção a Jeremias
entre os personagens com os quais o povo identificava Jesus é outra
exclusividade de Mateus. Marcos e Lucas nomeiam apenas João Batista e Elias. O
acréscimo de Mateus é significativo, pois Jeremias foi o profeta mais
“parecido” com Jesus, em relação ao estilo de vida, o teor da pregação e a
perseguição sofrida.
A resposta mostra
o quanto Jesus estava bem-conceituado pelo povo, pois era reconhecido como um
grande profeta. Mas ele era e é muito mais. Logo, trata-se de uma resposta
incompleta. Ora, embora continuem sempre atuais, os profetas de Israel são
personagens do passado. E a comunidade cristã não pode ver Jesus como um
personagem do passado que deixou um grande legado a ser lembrado, pois isso a
impede de fazer sua experiência com o Ressuscitado, presente e atuante na
história. Apesar de importante, a pergunta de Jesus sobre o que as outras
pessoas diziam a seu respeito foi apenas um pretexto. Na verdade, o que ele
queria saber mesmo era o que os seus discípulos pensavam de si, qual imagem
tinham a seu respeito. Por isso, lhes perguntou: «E vós, quem dizeis que
eu sou?» (v. 15), uma vez que longe do “fermento dos fariseus”, os
discípulos poderiam dar uma resposta sincera, isenta e livre. O texto
afirma que «Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho
do Deus vivo» (v. 16). Certamente, também os outros discípulos também
responderam. O evangelista enfatiza a resposta de Pedro por ser uma síntese do
pensamento dos doze. Essa é a resposta do grupo e, portanto, da comunidade, da
qual Pedro se faz porta-voz.
A resposta de
Pedro é complexa e profunda: Jesus é «o Messias, o Filho e do Deus vivo».
A tradução litúrgica traz a palavra “Messias”, porém,
é mais apropriado o termo
“Cristo”, conforme o texto na língua original (em grego: Χριστός –
Christós). É muito significativo que Jesus seja reconhecido e acolhido como o
Messias esperado, ou seja, o Cristo, o enviado de Deus para libertar o seu povo
e a humanidade inteira. Como circulavam muitas imagens de messias entre o povo,
principalmente a de um messias guerreiro e glorioso, o segundo elemento da
resposta de Pedro é de extrema profundidade e importância: «o Filho do
Deus vivo». Além de definir a qualidade da messianidade de Jesus, essa expressão
serve também para denunciar a falsidade do culto ao imperador romano, o qual
exigia ser reverenciado como filho de uma divindade. Por sinal, a
expressão «Filho do Deus vivo», na resposta de Pedro, é outra
exclusividade de Mateus. Em Marcos, a resposta é apenas «Tu és o
Cristo!» (Mc 8,), e em Lucas é «Tu és o Cristo de Deus» (Lc
9,20). Logo, a resposta em Mateus é mais profunda e, sobretudo,
universalista. Ora, o título “Cristo” (ou Messias) correspondia às mais
profundas expectativas do judaísmo, bastante enraizado na comunidade de Mateus,
o que seria um incentivo à preservação da ideologia nacionalista.
Com a expressão «o Filho do Deus vivo», o evangelista ensina que a
messianidade de Jesus não corresponde às expectativas de Israel; trata-se de um
Messias diferente, que não veio apenas para Israel, mas para a inteira
humanidade. A resposta de Pedro compromete a(s) comunidade(s) cristã(s), em
todos os tempos e lugares, a proclamar que Jesus é, de fato, o Cristo, é o
Filho do Deus vivo, ou seja, o seu Deus é o Deus da vida, enquanto os deuses
pagãos cultuados no império romano e até mesmo o Deus oferecido pelo templo de
Jerusalém eram privados de vida, eram agentes de morte, sobretudo para o povo
simples e excluído que era explorado diariamente. Portanto, a convicção de que
Jesus é o Filho do Deus vivo compromete a comunidade a denunciar e desafiar
todos os sistemas religiosos e políticos que não favoreçam a promoção da
liberdade, e da vida plena e abundante para todos.
Jesus aprovou a
resposta de Pedro, por isso o proclamou bem-aventurado: «Feliz és tu,
Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o
meu Pai que está no céu» (v. 17). De agora em diante, até o
versículo 19, o texto passa a ser exclusivo de Mateus. O paralelismo com Marcos
e Lucas só volta no versículo 20, que já não faz parte da seleção escolhida
para a esta liturgia. Considerando que Mateus teve Marcos como fonte para este
episódio, os versículos 17-19 são um acréscimo da sua comunidade como resposta
a necessidades concretas, sobretudo em relação à diferenciação da comunidade
com a sinagoga. A bem-aventurança dirigida a Pedro não é um elogio por um
mérito particular, até porque o conhecimento não é dele, mas do Pai que lhe
revelou. O que Jesus faz, então, é uma constatação: parece que as coisas
começam a funcionar bem na comunidade, pois a voz do Pai está sendo ouvida; e
como o Pai só revela seus desígnios aos pequeninos (Mt 10,21), e Pedro estava
falando a partir do que o Pai lhe revelou, logo ele estava demonstrando adesão
plena ao projeto do Reino, inserindo-se no mundo dos pequeninos! O Reino de
Deus ou dos céus, como Mateus prefere, é um projeto alternativo de mundo que só
tem espaço para quem aceita a condição de pertencer ao mundo dos pequeninos. A
bem-aventurança de Pedro, portanto, consiste em abrir-se à vontade do Pai e
deixar-se conduzir por ela.
Na continuidade,
Jesus declara: «Por isso eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra
edificarei a minha Igreja» (v. 18a). Jesus está declarando que Pedro está
apto a participar da construção da sua comunidade – a Igreja –, por estar
aberto às intuições do Pai. Ao contrário da antiga religião judaica que
precisava de um templo de pedras, a comunidade cristã é uma construção sim, mas
pela sua coesão e unidade, por isso, na sua construção são necessárias pedras
vivas, pessoas de fé. E Pedro foi uma destas pedras escolhidas por Jesus, a
primeira, sem dúvidas. A pedra fundamental da construção é a fé da comunidade.
A força, o equilíbrio e a perseverança da comunidade dependem da solidez da sua
fé. Por isso, é necessário que essa fé seja forte como uma rocha, comparável à
fé que Pedro tinha acabado de professar. É importante esclarecer que Mateus usa
duas palavras gregas muito parecidas para designar Pedro e pedra: (Πέτρος) “Petros” (πέτρα) “petra”. Embora muito próximas, é
possível distingui-las: “Petros”, que foi transformada no nome
próprio Pedro, designa pedra, pedregulho ou tijolo, uma pedra pequena e
removível, uma pedra de construção; “petra”, por sua vez, designa a
superfície rochosa, base ideal para os fundamentos de uma construção segura.
São estas as bases necessárias para a edificação da Igreja enquanto comunidade
do Reino. Portanto, Jesus diz que Pedro (petros) é uma pedra-tijolo da
construção, e a pedra-rocha (petra) é a fé que ele professou, a superfície
rochosa sobre a qual a Igreja é edificada.
A proclamação de
Jesus como Cristo e Filho de Deus é a base da comunidade cristã, a Igreja. Por
sinal, essa é a primeira vez que aparece a palavra igreja (em grego: ἐκκλησία –
ekklesia) no Evangelho de
Mateus, o único
que a emprega, e somente duas vezes (Mt 16,18; 18,17); o
significado da palavra é assembleia convocada, reunião, comunidade. Ao contrário do templo de Jerusalém e dos
templos pagãos que havia na região de Cesaréia de Filipe, construídos sobre
pedras concretas e visíveis e, portanto, passíveis de destruição, a comunidade
cristã não correrá esse risco se for edificada conforme Jesus pensou, ou seja,
tendo a fé por fundamento. Por isso, ele declara: «e o poder do inferno
nunca poderá vencê-la» (v. 18b). Aqui, ele se refere às hostilidades que a
comunidade irá enfrentar em seu longo percurso até a instauração do Reino aqui
na terra, razão da sua existência. O “poder do inferno”, portanto, significa as
forças de morte manifestadas nos diversos sistemas de dominação, tanto
políticos quanto religiosos. A comunidade precisa de uma fé muito consistente
para resistir a tudo isso. Essas forças retardam a concretização do Reino, mas
não impedirão a sua realização. Para superá-las é imprescindível uma fé viva e
comprometida, como a fé de Pedro e Paulo, e de tantos outros irmãos que doaram
a vida pelo Reino.
No último
versículo temos mais uma declaração significativa de Jesus a Pedro e à
comunidade dos discípulos: «Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo
o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra
será desligado nos céus» (v. 19). Mais do que delegando poderes, Jesus
está responsabilizando a comunidade para fazer o Reino dos céus acontecer. No
judaísmo, a imagem das “chaves” correspondia à capacidade de interpretação e
aplicação da Lei pelos rabinos e escribas. Inclusive, o próprio Jesus vai
denunciá-los por terem “fechado” o Reino dos Céus: «Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês fecham o
Reino do Céu para os homens. Nem vocês entram, nem deixam entrar aqueles que
desejam!» (Mt 23,13). As chaves confiadas a Pedro e a toda a
comunidade, portanto, são para abrir o Reino a todas as pessoas, a começar
pelas marginalizadas e sofridas, os pobres, as vítimas das mais variadas formas
de exclusão. Portanto, Mateus não emprega a imagem das chaves como símbolo de
uma instituição, mas como sinal de uma nova relação com Deus. A antiga religião
tinha bloqueado, escondido o rosto desse Deus, mas Jesus dá a chave de acesso a
ele: a vivência das bem-aventuranças (Mt 5,1-12), que são a síntese de toda a
sua mensagem. Logo, a função de “ligar e desligar” representa a
responsabilidade da comunidade, e não propriamente poder. Inclusive, no
discurso sobre a comunidade, essa mesma função será atribuída a toda a
comunidade (Mt 18,18). Isso exige profunda fidelidade da Igreja para viver em
perfeita sintonia com Jesus e o Pai, para que tudo o que essa venha a realizar
e viver seja referendado por eles.
Se a
comunidade/Igreja viver fielmente o Evangelho, sintetizado nas
bem-aventuranças, que são as chaves de leitura de toda a obra de Mateus, e de
acesso ao Reino, não resta dúvidas de que Jesus e o Pai confirmarão as
suas decisões e pleitos lá nos céus. Pedro e Paulo são exemplos
concretos de quem fez essa experiência. Eles abriram o Evangelho ao mundo,
fazendo o mundo abrir-se ao Evangelho.