06 maio - À imitação de
São João, conservemo-nos sempre unidos a Maria, nossa afetuosa Mãe; sejamos
devotos e fiéis a ela, ouçamos assiduamente as suas palavras e façamos dela a
Rainha de nossos corações. (S 343). São
José Marello
Naquele tempo disse Jesus
aos seus discípulos: “Quando, porém, vier o Defensor que eu vos enviarei da
parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de
mim. E vós, também, dareis testemunho, porque estais comigo desde o começo. Eu
vos disse estas coisas para que vossa fé não fique abalada. Sereis expulsos das
sinagogas, e virá a hora em que todo aquele que vos matar, julgará estar
prestando culto a Deus. Agirão assim por não terem conhecido nem ao Pai, nem a
mim. Eu vos falei assim, para que vos recordeis do que eu disse, quando chegar
a hora.”
MEDITAÇÃO
Através
de nossa reflexão de hoje podemos chegar à conclusão de que a tarefa de
evangelizar não está isenta de dificuldades. Consiste em dar testemunho de
Jesus no meio do sistema do mundo injusto, ou o que é igual, em aderir-se a seu
estilo de vida. O seguidor de Jesus não está só nesta tarefa, pois conta com o
Espírito como protetor, Espírito de Verdade e de Amor.
“Estar
com Jesus desde o princípio” significa aceitar como norma toda a vida de Jesus,
sem separar o Jesus ressuscitado, do Jesus terrestre. Considerar somente o
Jesus glorioso é uma tentação espiritualista que leva a prescindir do
compromisso. Jesus os previne para evitar sua deserção no futuro. Poderia
parecer-lhes inexplicável e incompreensível ver-se combatidos pelas
instituições religiosas. Deste modo, tão duramente reflete o evangelista João a
tensão entre a sinagoga e a Igreja, entre o judaísmo e o cristianismo. Sua
situação será extremamente dura, pois a instituição religiosa considerará que
perseguir ao seguidor de Jesus equivale a prestar culto a Deus; os seguidores
de Jesus serão marginalizados pelos que se chamam representantes de Deus e
intérpretes de sua vontade, chegando até a dar-lhes a morte, crendo com isso
dar culto a Deus.
"O
Paráclito (Consolador), que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da
verdade, que procede do Pai, dará testemunho de mim. E vós dareis testemunho,
porque estais comigo desde o começo".
Numa
primeira leitura o texto parece conter alguma ambigüidade. Cristo enviará o
Consolador, mas o Consolador será enviado “da parte do Pai”, o espírito da
verdade “que procede do Pai”, afirma Jesus. Na realidade esta dualidade já
estava presente no verso 26 do capítulo anterior. Em João 14:26 quem envia o
Consolador é o Pai; em João 15:26 quem envia o Consolador é Jesus. Como
explicar esta aparente contradição?
Já
vimos que o espírito de Cristo é também o espírito de Deus. Ambos compartilham
o mesmo pneuma (espírito). Veja estas afirmações de Cristo: “Tudo quanto o Pai
tem é meu...”; “...para que possais saber e compreender que o Pai está em mim e
eu nele.”; “Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim?”. Estes
versos nos dizem que tudo o que o Pai tem, também pertence ao Filho. Tudo!
Inclusive o seu próprio espírito (pneuma). É por esta razão que Cristo está no
Pai e o Pai está no Filho, pois são um em espírito, ou seja, compartilham o
mesmo pneuma. Portanto, não há contradição entre João 14:26 e João 15:26.
Cristo envia o seu pneuma e o Pai faz o mesmo.
Sem
medo de errar, com convicção de que o Pai e o Filho compartilham do mesmo
espírito, reafirmamos que: espírito de Deus = espírito de Cristo. Como
conseqüência, podemos afirmar que quando Deus envia o seu espírito, Cristo
também envia o seu espírito, pois não há diferença entre espírito de Cristo e
espírito de Deus.
Os
Doze tinham sido escolhidos por Jesus para serem seus representantes e
revelarem a mensagem do evangelho. O Espírito Santo iria equipá-los para esta
obra. Ele lhes lembraria o que Jesus disse a eles e os guiaria em toda a
verdade de modo que eles pudessem testificar de Jesus.
Uma
das funções do Espírito da Verdade é a de dar testemunho de Jesus. Sua ação em
favor dos discípulos consiste em convencê-los da veracidade da pessoa e dos
ensinamentos do Mestre. O conteúdo do seu testemunho será o próprio Jesus.
Tal
testemunho faz-se perceptível na própria ação dos discípulos. Pelo fato de o
Espírito manter sempre viva no coração deles a imagem de Jesus, estão em
condições de mostrar a todos a verdade do Filho de Deus, que veio armar sua
tenda no meio da humanidade carente de salvação. A ação do Espírito da Verdade
predispõe os discípulos a enfrentar a perversidade do mundo, sem se intimidarem.
Afinal, a missão deles consistirá em levar a luz de Cristo para quem caminha
nas trevas do erro e da mentira. Move-os a esperança de que a humanidade
marcada pelo pecado acolha a palavra de Jesus para ser salva.
Jesus
adverte aos seus que as instituições religiosas adoram a um deus que aceita
como culto a morte do ser humano (e mais, aproxima-se a hora em que todo aquele
que lhes der morte julgue oferecer culto a Deus). Se esse é seu deus, a
instituição religiosa é homicida por essência. De fato, seus maiores
representantes decretaram a morte de Jesus e a da comunidade, representada por
Lázaro.
Jesus
liberta os discípulos do respeito às instituições religiosas. Por trás de sua
impressionante fachada esconde-se uma falsidade, pois não conhecem o Pai, quer
dizer, não conhecem a Deus. O deus a quem oferecem culto não é o verdadeiro,
pois não está a favor das pessoas: é a antítese do que se manifesta em Jesus.
Jesus
não facilitou, não pintou o quadro cor de rosa para conseguir adeptos. Ele foi
realista e objetivo, foi transparente e rigoroso. A verdade em amor acima de
tudo. Muitas vezes as multidões e os dignatários da religião ou do poder
político econômico não gostaram. Mesmo assim Ele não alterou uma vírgula o seu
discurso e o compromisso dos que queriam segui-lo. Falou com propriedade e
autoridade porque Ele sabe do que falou.
Sob
o impacto do ódio dos poderosos do mundo, os discípulos não estarão sós. Jesus,
ausentando-se em sua presença sensível, enviará o Espírito da Verdade. É a
continuidade do confronto entre a vida e a morte, já experienciado por Jesus.
Nessa dinâmica de vida e morte, estará presente o Defensor.
A
luz do Espírito do Senhor está sobre nós, pelo que nos ungiu para evangelizar
aos pobres; enviou-nos para proclamar libertação aos cativos e restauração da
vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos. Testemunhar a luz do
Espírito da Verdade choca aqueles que, nas trevas da mentira, fazem seus
injustos projetos de dominação e acumulação de riquezas. Foi o que João
ensinou, ao escrever: “Sabemos que permanecemos em Deus e ele permanece em nós,
pois nos deu de seu Espírito”. Ora se pela participação do Espírito nós nos
tornamos participantes da natureza divina insensato será dizer que o Espírito
pertence à natureza criada e não à de Deus.”.
O
testemunho do Espírito supõe do discípulo total discernimento e docilidade para
acolhê-lo, pois ele o recebe em meio a hostilidades que, muitas vezes, o
impedem de captar com clareza a moção do bom Espírito. Por outro lado, o mau
espírito, encarnado nos adversários, busca inculcar-lhe dúvidas a respeito da
pessoa de Jesus, e da credibilidade de suas palavras. Só com muito
discernimento e disposição para deixar-se guiar pelo Espírito, é possível
manter-se fiel a Jesus.
Deus
não impõe. Realiza e propõe. Faz o que não está ao nosso alcance realizar e deixa
a cada um de nós o veredicto face às evidências expressas. É o Seu amor que nos
persegue, que contende conosco, que nos desarma, que pacientemente nos
questiona.
Hoje
é a própria palavra amor que tem sido pervertida: Fazer amor é fazer sexo. Deus
criou o sexo e, ao contrário do que se pretende passar, biblicamente não é
pecado, nem sequer o fruto proibido ou a raiz do pecado original. Como tudo o
resto, é para ser vivido e expresso dentro dos valores da fidelidade e do
compromisso, ou seja, dentro do valor do amor.
Quem
somos nós para lhe dar um conselho? Mas aceite uma simples sugestão: leia os
Evangelhos e peça a Deus que lhe dê entendimento para compreender o que ali se
encontra exposto, mesmo se você tem algumas dúvidas sérias acerca da Sua existência.
Deus compreende o nosso coração e conhece a sinceridade e honestidade dos que
não crendo estão receptivos às evidências que estão na base da fé.
Olhando
para dentro de nossas comunidades, vemos muitos cristãos medrosos e pouco
provocados pelo evangelho. Em outras palavras: são cristãos que não incomodam o
mundo. Não bastasse o desinteresse, os cristãos ainda não maravilham o mundo,
como lemos na 1a leitura desta celebração. Somos interrogados pela vida: — Por
que será que os cristãos do século XXI são ainda pouco afoitos em testemunhar a
fé que receberam no Batismo?
O
Século XXI, marcado pela necessidade de múltiplas mudanças e transformações,
requer uma nova atitude perante variados assuntos que vão desde a comunidade
internacional, até ao coração de cada homem e mulher.
Numa
sociedade em que a disparidade das religiões e dos seus deuses mostram por um
lado a incapacidade de o homem através da sua mente ver Deus e por outro lado a
rebeldia do homem em humildemente não reconhecer a sua necessidade de um
revelação que lhe venha de fora e de cima, que ele não merece mas que tem que
receber com gratidão, não com uma mente fechada, mas averiguadora; precisamos
de Alguém que nos mostre quem Deus é dentro das nossas limitações, mas que
simultaneamente as rompa e nos leva para além do que nós conseguimos por nós
mesmos ver e discernir.
Numa
sociedade em que os valores, os direitos, por um lado conseguem reunir consensos,
mas por outro lado está provada a incapacidade coletiva e individual de a eles
corresponder efetivamente, precisamos de alguém que não se limite ao que
merecemos e nos remeta para uma forma de ser e de estar que dependa da graça
(favor imerecido), em que não recebemos em função dos méritos, das qualidades e
capacidades, mas, todos por igual, face ao amor incondicional.
Cada
um encontra o que quer encontrar? E nós que encontramos o que não procurávamos,
e encontramos o que não queríamos encontrar? Encontramos porque sempre ali
esteve, vimos porque vendo não negamos que víramos, porque ouvindo não dissemos
que outros se enganaram e mentiram! Cremos porque é absurdo deixar de crer.
Cremos porque não crer é dizer que a História mente, que a verdade não existe
ou só existe a de não existir. Cremos porque é impossível negar que a luz
brilha. Cremos porque a vida se nos tornou luminosa, porque é impossível querer
voltar ás cavernas, ao silêncio, às algemas, à escuridão da noite da morte, do
acaso, do absurdo, do nada, do sem sentido. Cremos porque a inteligência a isso
nos impele. Cremos porque nos é impossível não crer.
Cremos
na divindade do Espírito Santo, “presente em nós”, como sendo uma pessoa que
retém o mal no mundo incrédulo; que na pregação do evangelho testifica da
verdade do mesmo; que Ele é o poder operador no novo nascimento; que na hora da
conversão Ele entra na vida do cristão; que Ele sela, batiza, enche, guia,
ensina, convence, santifica e ajuda o crente. Cremos também que o fruto do
Espírito é o amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade,
fidelidade, mansidão, domínio próprio; e que não as manifestações sensacionais
são provas da presença do Espírito Santo.
Por
isso, como “templos do Espírito Santo”, somos convidados a viver segundo este
mesmo Espírito. Assim, seguindo a Jesus, como cristãos, devemos ter uma vida segundo
este Espírito, que é justamente o contrário da vida que o mundo nos oferece. E
viver segundo o Espírito é na verdade viver de conformidade com os critérios e
perspectivas de Deus, obedientes aos ensinamentos de Jesus Cristo.
Oração: Pai, que o testemunho
do Espírito cale fundo em nossos corações e seja acolhido com discernimento e
docilidade, de modo a consolidar nossa fé no Senhor Jesus. Vinde, Espírito
Santo! Lavai-nos no Sangue precioso de Jesus, purificai todo o nosso ser,
quebrai toda a dureza dos nossos corações e destruí todo o ressentimento,
mágoa, rancor, egoísmo, maldade, orgulho, soberba, intolerância para que
possamos testemunhar, livremente, a luz do Espírito da Verdade. Por Cristo,
nosso Senhor. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário