05 maio - Em todas as vossas necessidades, lançai-vos com plena
confiança nos braços de Maria, vossa afetuosa Mãe; porque, embora sejam grandes
os perigos e as tentações, vós havereis de sair sempre vitoriosos. (S 353). São Jose Marello
João 15,9-17 – 05 maio - 6º domingo da Páscoa
"Como meu Pai me ama, assim também eu
vos amo. Permanecei no meu amor. Se observardes os meus mandamentos,
permanecereis no meu amor, assim como eu observei o que mandou meu Pai e
permaneço no seu amor. Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em
vós, e a vossa alegria seja completa. Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos
outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a
vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já
não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor. Eu vos
chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. Não fostes
vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi e vos designei, para dardes
fruto e para que o vosso fruto permaneça. Assim, tudo o que pedirdes ao Pai, em
meu nome, ele vos dará. O que eu vos mando é que vos ameis uns aos outros."
É sempre oportuno recordar que esse capítulo 15, fazendo parte do
chamado “Testamento de Jesus”, assume uma centralidade ímpar para a vida
dos cristãos e cristãs de todos os tempos. Se trata de um ensinamento essencial
para a comunidade permanecer fiel aos propósitos de Jesus, não obstante as
dificuldades e, ao mesmo tempo, para fazer retornar à essência da fé, quando
por ventura se distanciar. É uma resposta para situações de crise,
principalmente, quando a identidade cristã estiver ameaçada, seja por fatores
externos (perseguição), ou internos (autoritarismo, centralização, divisão,
falta de unidade e de amor).
Com a imagem da videira e seus ramos, Jesus exortou simbolicamente os
discípulos a permanecerem unidos a ele; agora, ele deixa a linguagem simbólica
de lado, e fala claramente que a maneira ideal e única para alguém unir-se a
ele é permanecendo no seu amor: “Como meu Pai me amou, assim também eu vos
amei. Permanecei no meu amor” (v. 9). Esse não é um ensinamento teórico ou
abstrato, mas se trata de algo concreto e real, pois ele mesmo deu o exemplo,
amando-os primeiro com um amor inconfundível, igual ao do Pai por ele. O
parâmetro do amor, o exemplo a ser seguido na comunidade não pode ser outro senão
o próprio Cristo, e a comunidade só é autenticamente cristã quando nela são
vividas relações de amor tão intensas quando as de Jesus com o Pai.
É indiscutível que o discípulo se torna “ramo unido à videira” permanecendo no
amor de Jesus. Mas esse amor, para ser verdadeiro, precisa ser manifestado
concretamente, como ele mesmo explica: “Se guardardes os meus mandamentos,
permaneceis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e
permaneço no seu amor” (v. 10). Os mandamentos aos quais Jesus se refere
aqui não são normas nem preceitos, mas é todo o conjunto da sua mensagem e da
sua práxis, o que pode ser resumido pela prática do amor, como ele mesmo faz
(cf. v. 12), mas é sempre oportuno recordar como ele praticou esse amor:
lavando os pés, perdoando, acolhendo, defendendo os humildes e excluídos,
curando feridas, e não julgando nem condenando. Foi com essas atitudes que ele
guardou os mandamentos do Pai, ou seja, fez a sua vontade, e é assim que a
comunidade dos seus seguidores e seguidoras também deve fazer.
O amor vivido e praticado reciprocamente na comunidade tem como primeiro fruto
a alegria: “Eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós e a
vossa alegria seja plena” (v. 11). Não se trata de um simples estado de
exaltação emotiva, e sim da expressão de quem encontrou o verdadeiro sentido da
vida; e o sentido da vida que Jesus experimentou pessoalmente e propõem aos
seus seguidores e seguidoras consiste exatamente na capacidade de entregá-la
por amor, porque nem a morte é capaz de destruir uma vida assim. Por isso, na
comunidade onde se vive realmente o amor de Jesus, a alegria está presente
porque essa atesta a convicção de que o amor do Ressuscitado está sendo vivido.
De mandamentos, Jesus passa a falar de um único mandamento: “Este é o meu
mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (v. 12). Aqui
está a grande síntese de todo o seu ensinamento e, ao mesmo tempo, a
responsabilidade da comunidade: essa não tem outro critério para afirmar sua
pertença a Jesus a não ser o amor praticado reciprocamente entre os cristãos e
cristãs. Por isso, na conclusão ele irá repetir novamente esse imperativo do
amor (cf. v. 17). E esse amor deve ser incondicional e ilimitado, pois tem como
parâmetro o amor de Jesus, e esse, por sua vez, é igual ao amor do Pai. É
importante ainda perceber que Jesus já nem pede que os discípulos lhe amem, até
porque o amor do Pai lhe basta, mas pede que se amem entre si, formando, de
fato, uma comunidade de amor. Ele insiste em colocar-se como parâmetro: o amor
só vale se for como o seu, ou seja, incondicional e intenso, capaz de dar a
vida.
Como parâmetro único de amor para a sua comunidade, Jesus diz o
porquê: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos
amigos” (v. 13), e ele foi capaz disso, por isso fala com autoridade e
propriedade. Além de enfatizar o caráter insuperável do seu amor, aqui ele
acrescenta uma novidade, mostrando que na sua comunidade, se o amor for
realmente levado a sério, as relações serão de amizade: “Vós sois meus
amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (v. 14). Amigo é uma pessoa cara,
dileta, especial, amada gratuitamente, em uma relação de igualdade. Ser amigo
de Jesus é fazer o que ele manda, e o que ele manda é apenas amar como ele
amou. Portanto, nenhum fardo é imposto, mas apenas uma condição: amar à sua
maneira.
Enquanto o Deus da religião oficial era um soberano distante, juiz, vigilante e
vingativo, Jesus interage diretamente com a sua comunidade como um dos membros,
por vontade própria. O evangelista resgata essa dimensão porque percebia que,
aos poucos, o modelo de comunidade proposto por Jesus estava perdendo espaço
para uma estrutura parecida com aquilo que Jesus mais tinha combatido: com
divisões, rivalidades, ritualismos e centralização. Na comunidade cristã,
marcada por amor e igualdade, devem imperar a confiança, a transparência e a
solidariedade.
Em se tratando de um discurso de despedida, não podem falta palavras de envio;
porém, a missão no Quarto Evangelho tem como destinatária primeira a própria
comunidade. Antes de atravessar qualquer fronteira, o amor deve estar bem
enraizado na comunidade. Por isso, Jesus envia, reforçando que é sua a iniciativa
do chamado: “Não fostes vós que me escolheste, mas fui eu que vos escolhi
e vos designei para irdes e para produzirdes frutos e o vosso fruto permaneça.
O que então pedirdes ao meu Pai em meu nome, ele vo-lo concederá” (v. 16).
Como amigos, os discípulos são escolhidos por ele e designados para produzir
frutos perenes de amor e justiça. Assim como já tinha deixado claro na alegoria
da videira, a comunidade de discípulos e discípulas só produz frutos se
permanecer unida a ele, amando como ele amou. Ele envia, mas não confere
nenhuma fórmula ou doutrina para ser ensinada. O objetivo da missão é apenas
produzir frutos permanentes de amor.
Concluindo, Jesus recorda que, para que tudo isso aconteça, há uma condição
indispensável: “Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros” (v.
17). Esse imperativo “amai-vos uns aos outros” é uma espécie de refrão no
Evangelho de hoje, e o deve ser na vida de todos os cristãos e cristãs. Nada
pode substituir o amor entre os seguidores e seguidoras de Jesus. De fato, pode
faltar tudo numa comunidade cristã, menos o amor entre os seus membros. É esse
amor que atesta se a comunidade é realmente cristã, ou seja, se está unida a
Jesus.
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