31 janeiro - Por
que fugir da luta, sabendo que é o nosso legado? Ou sofrer ou morrer, diziam os
santos; e nós digamos, pelo menos: ou trabalhar ou morrer! (S 30). São Jose
Marello
Marcos
5,1-20
Naquele
tempo, 1Jesus e seus discípulos chegaram à outra margem do mar, na região dos
gerasenos. 2Logo que saiu da barca, um homem possuído por um espírito impuro,
saindo de um cemitério, foi a seu encontro. 3Esse homem morava no meio dos
túmulos e ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com correntes. 4Muitas vezes
tinha sido amarrado com algemas e correntes, mas ele arrebentava as correntes e
quebrava as algemas. E ninguém era capaz de dominá-lo. 5Dia e noite ele vagava
entre os túmulos e pelos montes, gritando e ferindo-se com pedras. 6Vendo Jesus
de longe, o endemoninhado correu, caiu de joelhos diante dele 7e gritou bem
alto: “Que tens a ver comigo, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Eu te conjuro por
Deus, não me atormentes!” 8Com efeito, Jesus lhe dizia: “Espírito impuro, sai
desse homem!” 9Então Jesus perguntou: “Qual é o teu nome?” O homem respondeu:
“Meu nome é ‘Legião’, porque somos muitos”. 10E pedia com insistência para que
Jesus não o expulsasse da região. 11Havia aí perto uma grande manada de porcos,
pastando na montanha. 12O espírito impuro suplicou, então: “Manda-nos para os
porcos, para que entremos neles”. 13Jesus permitiu. Os espíritos impuros saíram
do homem e entraram nos porcos. E toda a manada — mais ou menos uns dois mil
porcos — atirou-se monte abaixo para dentro do mar, onde se afogou. 14Os homens
que guardavam os porcos saíram correndo e espalharam a notícia na cidade e nos
campos. E as pessoas foram ver o que havia acontecido. 15Elas foram até Jesus e
viram o endemoninhado sentado, vestido e no seu perfeito juízo, aquele mesmo
que antes estava possuído por Legião. E ficaram com medo. 16Os que tinham
presenciado o fato explicaram-lhes o que havia acontecido com o endemoninhado e
com os porcos. 17Então começaram a pedir que Jesus fosse embora da região deles.
18Enquanto Jesus entrava de novo na barca, o homem que tinha sido endemoninhado
pediu-lhe que o deixasse ficar com ele. 19Jesus, porém, não permitiu.
Entretanto, lhe disse: “Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo
o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti”. 20E o homem foi embora e
começou a pregar na Decápole tudo o que Jesus tinha feito por ele. E todos
ficavam admirados.
MEDITAÇÃO
Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes
tudo o que o Senhor fez por ti, em sua misericórdia (Mc 5, 19)
Eu vou tentar lhe explicar essa história dos porcos que se afogaram no
mar. Uma manada de porcos se perdeu. A economia daquelas famílias ficou
arruinada. Resultado: o povo daquela região mandou Jesus embora.
E o que tinha acontecido? Jesus chegou a uma região já fora do seu país,
uma região de pagãos. Era do outro lado do mar da Galileia. Jesus e os
discípulos chegaram lá de barco. Veio ao encontro deles um homem possuído por
um espírito impuro, que vivia no cemitério apavorando o povo do lugar. Ele se
incomodou com a presença de Jesus. E Jesus deu ordens para que saísse daquele
homem. Na verdade, eram muitos demônios e se chamavam Legião e pediram para
entrar nos porcos. Havia muitos porcos por ali. Jesus libertou o homem e os
porcos desceram de ladeira abaixo e se jogaram no mar. O povo do lugar não
gostou do resultado e expulsou Jesus de suas terras.
Jesus está numa região de pagãos, logo tem porco por ali, na imaginação
do povo da Bíblia. Você lembra que os hebreus não comiam porco e não criavam
porco de jeito nenhum. Porco, para eles, era um sinal de coisa ruim, de gente
que vivia longe da fé no Deus vivo. Era símbolo dos pagãos, uma fonte de
impureza. Lembra a parábola do filho pródigo? O jovem judeu que terminou no
fundo do poço, empregou-se como cuidador de porcos. Foi a máxima humilhação.
Mais do que uma história, a narração quer mostrar o significado da ação
libertadora de Jesus também fora do povo de Deus. Para isso, os dados da
narração podem ter ficado um tanto inflacionados. Quem conta um conto, sempre
aumenta um ponto. Nessa narração de São Marcos, a manada de porcos tinha mais
ou menos uns dois mil porcos. A quantidade de porcos e o tanto de demônios –
Legião – são elementos para sublinhar como o estrangeiro está possuído pelo mal,
na mentalidade dos hebreus e dos seguidores de Jesus.
A primeira coisa que o texto está anunciando é que a ação
salvadora de Jesus vai além do povo de Israel, atravessa as suas fronteiras e
chega ao estrangeiro, aos pagãos. A segunda coisa é que a ação
de Jesus que liberta o homem de todas as amarras e opressões não é bem recebida
por todo mundo. Uma sociedade má reage contra Jesus, expulsa-o. Por
exemplo, libertar pessoas das drogas. Os narcotraficantes ficam furiosos, é uma
ameaça à sua economia. Libertar pessoas do analfabetismo político, tem gente
que desaprova, porque se beneficia da desinformação das pessoas. Denunciar a
prostituição de meninas e meninos: a rede que se beneficia desse tipo de
exploração reage, fica no prejuízo. Apoiar a luta do povo sem teto ou sem
terra, motivo de suspeita por parte de quem se faz de surdo à gritante
desigualdade social do país. É o que está dito no texto de hoje. A população
pagã daquela região viu-se prejudicada no triste fim da manada de porcos.
Preferia que os demônios continuassem oprimindo aquele homem que morava no
cemitério, que continuassem mandando naquela terra. ‘Educadamente’, pediram
para Jesus se retirar de suas terras.
A terceira lição do texto de hoje é maravilhosa. Aquele homem liberto
tornou-se um discípulo, uma testemunha do amor de Deus em sua região. Ele
começou a pregar na Decápole, em toda aquela região pagã, sobre o que Jesus
tinha feito por ele.
Mensagem
Jesus foi a uma região pagã e ali encontrou um homem possuído pelo
demônio. Ele o libertou. Os espíritos maus se apossaram dos porcos e a manada
se jogou no mar e se afogou. A ida de Jesus àquela região estrangeira demonstra
o seu compromisso missionário com todos, não somente com o seu povo. Para o
povo hebreu, porco era uma marca das regiões pagãs, consideradas impuras.
Contando esse fato sobre a ida de Jesus a uma terra estrangeira, era natural
que aparecesse porco na história. É claro que essa não é uma narração
jornalística. O sentido é o que importa. Os pormenores podem não ser exatos. A
reação das pessoas daquele lugar à ação de Jesus é a reação ao bem que se faz.
Quem faz o bem, quase sempre encontra resistência. E a atitude do homem liberto
é uma grande lição para nós. Ele tornou-se uma testemunha viva da obra
redentora de Jesus, na sua própria região.
Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes
tudo o que o Senhor fez por ti, em sua misericórdia (Mc 5, 19).
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