SANTA
ÁGUEDA
05
fevereiro - No entusiasmo do nosso zelo, devemos pensar em não perder a coragem se nos defrontarmos
com os obstáculos repentinos que nos fazem recordar, num instante, o quanto
somos miseráveis. (L 31). SÃO JOSE MARELLO
São Marcos 6,30-34
Os apóstolos voltaram e contaram a Jesus tudo o
que tinham feito e ensinado. Havia ali tanta gente, chegando e saindo, que
Jesus e os apóstolos não tinham tempo nem para comer. Então ele lhes disse:
- Venham! Vamos sozinhos para um lugar deserto a fim de descansarmos
um pouco.
Então foram sozinhos de barco para um lugar deserto. Porém
muitas pessoas os viram sair e os reconheceram. De todos os povoados, muitos
correram pela margem e chegaram lá antes deles. Quando Jesus desceu do barco,
viu a multidão e teve pena daquela gente porque pareciam ovelhas sem pastor. E
começou a ensinar muitas coisas.
Meditação:
Todos nós, cada qual a sua
maneira, somos chamados a dar uma resposta frente a uma pergunta fundamental: Quem
é Jesus? Marcos também se depara com este questionamento. Sua comunidade,
que vivia um momento difícil e conturbado da história de Israel - o período
anterior à grande guerra de 70 - esperava um Jesus glorioso, revestido de
poder. Acreditavam que Ele logo viria e acabaria com as suas dificuldades. Para
isto, era necessário que apenas orassem.
O evangelho de hoje nos dá uma boa pista
de como respondermos à inquietação apresentada. Vamos ao texto:
Lembremo-nos de que esta narração deve estar ligada
aos textos anteriores e posteriores, para que possamos compreender melhor seu
sentido. Antes dela, Mc 6,6-13, já se diz que Jesus havia enviado os discípulos
à missão para fazer o que Ele faz, trazendo vida e esperança aos pobres e
marginalizados.
A ação dos discípulos faz com que aqueles que viviam
afastados da sociedade, discriminados e excluídos por esta, devido a uma lógica
de poder e de pureza, sejam novamente trazidos ao centro (curam enfermos).
Para aqueles que se encontram divididos ou em
situação de divisão, eles trazem a unidade possibilitadora de voltar a ser
criativo (expulsam demônios), fazendo-os o centro do projeto de Deus,
tornando-se eles também discípulos e profetas do mestre, que denunciam estas
mesmas situações de corrupção, injustiça e marginalização. Devolvesse-lhes o
direito a ser gente, ter esperanças e serem protagonistas da história (Mc
6,13).
Em contraste a este panorama Mc 6,14-29, apresenta
um banquete do poder. Este banquete, que alimenta alguns sobre a fome de
muitos, traz a morte e a injustiça. Mata-se um dos líderes do povo tentando
matar sua esperança: João Batista. E agora, quem será o novo líder?
A pericote seguinte começa a delimitar o modelo
da liderança de Jesus e a maneira como podemos identificá-lo. O versículo 30
começa nos informando que os discípulos contam a Jesus o que haviam realizado
(Mc 6,13).
Pegando a frase do Evangelho: "viu
a multidão e teve pena daquela gente porque pareciam ovelhas sem pastor",
Jesus atrai para si o título de pastor. Este atributo a Jesus, recebe a sua
justificação na observação do evangelista ao interpretar os sentimentos do
coração do Senhor vendo as multidões que O seguiam, Jesus se compadeceu delas,
teve pena.
Mestre desde o início da Sua
missão convida os discípulos, a todos manifestarem aos homens o amor de Deus
por eles. E, em poucas linhas, podemos ter o quadro da vida de Jesus com os
Apóstolos e a multidão do povo: a intimidade do Senhor com o grupo dos Doze em
ordem à formação dos mesmos, a atividade intensa da vida pública de Jesus e dos
Apóstolos, o entusiasmo do povo pelo Senhor, a sua disponibilidade apesar da
fadiga, por fim, os sentimentos profundos de Jesus perante esse povo, errante e
faminto.
É assim que Deus olha para mim
e para ti bem como para toda a tua família e os homens no mundo inteiro. Deus
deseja e quer que todos O procuremos: Havia ali tanta gente, chegando e saindo.
Embora com o desejo e a vontade
de atender a todos, Jesus com os apóstolos ele ressalta a sua necessidade de
descanso, depois as tarefas apostólicas. Para dize que também o missionário
precisa de descanso.
Um tempo de retiro, de
recuperação das energias, de intimidade com Deus. Foi por isso que quando
voltam empolgados com os resultados da missão, a primeira reação do Mestre é
convidá-los para uma retirada, para que possam refazer as forças. Jesus tem
critérios que não correspondem com o grande critério da sociedade nossa – o da
eficácia!
Para ele, os apóstolos não eram
máquinas, mas em primeiro lugar pessoas humanas, que necessitavam de ser
tratados como tais. O trabalho – mesmo o trabalho missionário – não é o
absoluto. Jesus reconhece a necessidade dum equilíbrio entre todos os aspectos
da vivência humana.
Aqui há uma lição para muitos
cristãos engajados hoje – embora devamos nos dedicar ao máximo pelo apostolado,
não devemos descuidar das nossas vidas particulares, da nossa saúde, do cultivo
de valores espirituais, da saúde e do relacionamento afetivo com os outros.
Caso contrário, estaremos
esgotados em pouco tempo, meras máquinas ou funcionários do sagrado, que não
mostram ao mundo o rosto compassivo do Pai, mas que por dentro seremos ocos.
A missão de Jesus deve ser continuada nos
discípulos. A primeira impressão que se tem é a de que se findou a missão.
Faz-se necessário, agora, descansar. Porém, diante de um povo necessitado e
marginalizado pelas autoridades, que estão mais interessadas e preocupadas com
suas leis injustas e ineficazes, com seus rituais sem vida, do que com a
miséria deste povo. Jesus utiliza justamente esta necessidade do povo como
critério de julgamento para o que "pode" ou "não pode" ser
feito. Jesus assume a tarefa de acolhê-los e alimentá-los.
Frente à situação latente de um deserto em que não
se pode viver ou estar só, por estar repleto das necessidades do povo, Jesus
muda de atitude: tem compaixão. Aproxima-se e sente com este povo sua miséria e
desejo. Compreende e rechaça a lógica que o explora e sacrifica, fazendo abrir
os olhos para uma nova possibilidade: a partilha que advém da nova organização
social (Mc 6,35-44).
Fazendo isso Jesus, se mostra como pastor para um
povo sem líder e sem rumo. Esta perspectiva tem valor fundamental para Marcos:
o pastor é aquele que defende a vida de suas ovelhas, está com elas e as dá
identidade própria. Frente a um povo sofrido, oprimido e marginalizado por
falsas lideranças, Jesus se mostra como o verdadeiro líder: aquele que tem por
projeto a igualdade. Como Deus é o bom pastor de Israel, Jesus é o Deus que
caminha conosco.
Nota-se, ainda, que Marcos diz que Jesus ensina (v.
34), porém não nos relata tais ensinamentos. Isto parece indicar que
descobriremos os ensinamentos de Jesus ao olharmos para sua prática: ensinou a
partilhar o pão, para que todos sejam saciados e possa sobrar.... A lógica
atual do mercado prega o comprar, guardar para saciar. A lógica cristã do Reino
deve basear-se justamente no contrário: doar para sobrar.
O banquete da vida é aprendido no encontro com o
mais necessitado, tirando-o desta situação rumo à fraternidade. Não mais
exclusão, injustiça ou marginalização, mas a justiça de Deus: a cada um
conforme a sua necessidade.
Quem come o banquete com Jesus jamais vai querer
sentar-se à mesa com Herodes... Em qual mesa estamos?
Reflexão Apostólica:
Os discípulos de Jesus voltaram
da missão para a qual haviam sido enviados e reuniram-se com Ele para contar
tudo que lhes havia acontecido. Com certeza deviam estar cansados, pois Jesus
convidou-os a descansar com Ele em um lugar deserto. No entanto, a multidão
sedenta os seguia em busca de ajuda.
Jesus teve compaixão deles pois
eram como “ovelhas sem pastor e começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas.”
Apesar de todo cansaço e da hora avançada Jesus motivava os Seus discípulos a
perceberem a necessidade daquele povo que buscava cura, libertação e paz
Hoje também, a multidão precisa
de ajuda e, mesmo sem saber, ela busca alguma coisa que possa preencher o vazio
do seu coração. Somos chamados a enxergar as necessidades dessa multidão e para
isso, Jesus também nos forma.
Assim como fez com os Seus
discípulos Ele também nos atrai a um lugar deserto a fim de nos preparar para
que sejamos pastores (as) das pessoas desanimadas e sem esperança que estão ao
nosso redor.
Com Jesus nós encontramos
refrigério para a nossa alma e aprendemos muitas coisas que nos são úteis,
tanto para a nossa felicidade pessoal como também, comunitária e familiar. Ele
nos ensina a arte de viver melhor em qualquer circunstância enfrentando todas
as dificuldades.
Desse modo nós poderemos ajudar
aquelas pessoas que ainda não O conhecem e não têm ainda intimidade para
ficarem a sós com Ele. Os melhores ensinamentos da nossa vida nós os recebemos
quando passamos por experiências de dor e de sofrimento, com Jesus!
Ser pastor é saber dar
testemunho de fé, de confiança no plano de Deus e, assim, ser luz para o irmão
que também passa por necessidade. Jesus também, hoje, nos leva a descansar,
refrigera as nossas dores e nos consola para que também, possamos ser pastores
que aliviam e que amparam as ovelhas transviadas.
Você se sente pastor (a) de
alguém ou espera que alguém venha pastoreá-lo (a)? Você tem testemunhado
as suas experiências de dor para ajudar a alguém? Jesus já o (a) levou
para o deserto? O que você tem aprendido com Jesus?
Todos os momentos são bons para
evangelizar, Jesus não os desperdiça e inclusive muda o programado para ensinar,
tudo porque se deixa interpelar pela condição das pessoas e por saber o motivo
pelo qual veio. Serve-nos como modelo. O pastoreio era para o povo de Israel um
tema muito importante. Desde Abraão até o rei Davi, muitos dos grandes
personagens tinham sido pastores.
E a imagem do bom pastor estava introduzida na mentalidade do povo. O próprio
Deus era considerado o "pastor de Israel". Pelo descuido de muitos
sacerdotes do templo, de falsos profetas e de mestres que só exploravam o povo
e viviam às custas dos pobres, Deus promete enviar um pastor, como Davi, que
apascentará o povo segundo o coração de Deus.
Esse é Jesus! Como bom pastor, é todo ternura para com seus cordeiros e suas
ovelhas (não tem tempo nem para comer ou descansar), e vai até o extremo quando
se trata de defender o rebanho, pelo qual entrega sua vida. Ser como Jesus, ter
seu perfil e atitudes fez muitas pessoas serem generosas e valentes a ponto de
se lançaram ao mundo para trabalhar pelos que estavam sozinhos, tristes e
abandonados, imitando Jesus e os apóstolos, não tendo tempo sequer para comer
ou descansar. Somos assim?
Como vimos, o texto ressalta a
compaixão de Jesus para com o povo com uma característica específica: era um
povo muito sofrido, rejeitado e desprezado pelos chefes político-religiosos de
então, que nem tinha tempo para comer. E quando ele se retirava, o povo ia
atrás dele. O que atraía tanta gente?
Com certeza não foi em primeiro
lugar a doutrina, nem os milagres, mas o fato de irradiar compaixão, de
demonstrar duma maneira concreta o amor compassivo de Deus. Jesus não teve
“pena” do povo, não teve “dó” dos sofridos. Teve “compaixão”, literalmente,
sofria junto, e tinha uma empatia com os sofredores, que se transformava numa
solidariedade afetiva e efetiva.
Este traço da personalidade de
Jesus desafia as Igrejas e os seus ministros hoje, para que não sejam
burocratas do sagrado, mas irradiadores da compaixão do Pai.
Infelizmente, muitas vezes as
nossas igrejas mais parecem repartições públicas do que lugares do encontro com
a comunidade que acredita no amor misericordioso de Deus e na compaixão de
Jesus!
A frieza humana freqüentemente
marca as nossas atitudes, pregações e cuidado pastoral. Num mundo que exclui
que marginaliza e que só valoriza quem consome e produz o texto de hoje nos
desafia para que nos assemelhemos cada vez mais a Jesus, irradiando compaixão
diante das multidões que hoje como nunca estão como ovelhas sem pastor.
Propósito:
Pai, dá-me as disposições necessárias para
eu realizar bem a missão recebida de Jesus, tendo-o sempre como modelo.
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