24 novembro - Quem não sabe submeter seu ponto de vista e deixar-se guiar, muitas vezes errará e cairá miseravelmente; e, por causa da teimosia em não se reconhecer culpado, o demônio não permitirá que se arrependa e, de abismo em abismo, o levará à perdição. (S 358). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Lucas 19,45-48
Naquele tempo, 45Jesus entrou no Templo e
começou a expulsar os vendedores. 46E disse: “Está escrito:
‘Minha casa será casa de oração’. No entanto, vós fizestes dela um antro de
ladrões”. 47Jesus ensinava todos os
dias no Templo. Os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os notáveis do povo
procuravam um modo de matá-lo. 48Mas não sabiam o que
fazer, porque o povo todo ficava fascinado quando ouvia Jesus falar.
Os profetas de Israel lutaram para que o culto no
Templo de Jerusalém não fosse apenas uma pratica desencarnada. A expulsão dos
vendedores do Templo é enraizada na tradição profética.
O Templo é um lugar de encontro com Deus, e não uma
cova de assaltantes, quer dizer, um lugar onde se comercializa com os dízimos e
com a fé dos pobres. Expulsar os mercadores do Templo é um chamado ao
verdadeiro culto na justiça e misericórdia, que é o que Deus quer e não um
culto ao dinheiro.
Para seus contemporâneos, esta postura de Jesus constituiu um desafio aos
costumes estabelecidos, inclusive ao próprio Estado, por isso buscavam matá-lo.
No dia de hoje, o evangelho nos convida a
encher-nos de zelo e energia pelo reino de Deus, e a sermos capazes de expor as
contradições que existem em nossa vida e na sociedade em que vivemos.
Na nossa vida, nem tudo é o Reino de Deus e muitas coisas estão em contradição
com ele. Para esses obstáculos, que não nos deixam ver claramente o reino de
Deus, devemos dirigir nossa atenção e nossa ação testemunhal.
Os quatro evangelistas nos narram a entrada de Jesus no templo e a imediata
expulsão de quem havia feito do santuário um mercado . Sem dúvida, cada
evangelista narra o episódio ressaltando aquilo que mais lhe interessa. O que
dá menos detalhes é Lucas, mas nem por isso é carente de sentido e valor
teológico o pouco que diz.
Pode-se entender, pela disposição da matéria
empregada por Lucas, que Jesus realiza uma etapa final de seu ministério em
Jerusalém e precisamente a “purificação” do templo é sua primeira ação
ministerial em sua última etapa. Jesus, para despeito de muitos, não chega a
enfrentar o poder político (uma grave decepção para aqueles que pensavam num
messias político e militar, e entre eles está Judas, membro do partido dos
zelotas), tampouco chega diretamente a informar-se sobre o cronograma do culto
e dos sacrifícios – outra decepção para quem esperava um messias cultual apegado
às normas e meticulosidades dos sacrifícios.
Tampouco se dirige ao grupo de legalistas, escribas, doutores da lei e fariseus para estudar um plano de exame sobre o rigor da lei. Outra decepção, desta vez, para quem esperava um messias que exigisse ponto por ponto o rigor da lei. Jesus vai direto ao templo e ali assume um papel completamente profético.
O substrato desta ação de Jesus é encontrado em Isaías 56,7, que considera que o santuário é casa de oração e como tal deve ser tido em Jeremias 7,1-15 onde o profeta indignado reclama que o templo seja utilizado para o que foi feito.
É importante destacar que no gesto (profético) que Jesus acaba de realizar, são desmascaradas as demais instituições de Israel. O templo como estrutura e como instituição concentrava há muito tempo três poderes: o político-administrativo, o econômico-produtivo e o religioso.
Poderíamos acrescentar-lhe um quarto poder: o militar, embora num sentido não muito amplo. Possuía um corpo policial, mas não um exército como tal, mas seu forte era a defesa.
Agora, o que era verdadeiramente grave e que constituía o pano-de-fundo da denúncia feita por Jesus é que o sistema que rege desde o templo até toda a nação israelita é garantido e respaldado pela religião.
Tudo o que o Templo ordenasse ou dispusesse era “vontade” de Deus, era como se Deus mesmo o houvesse ordenado. Trata-se então de uma religião que maneja conforme seu desejo o nome de Deus. Esta sim é que é a religião que Karl Marx, séculos mais tarde, iria definir como “ópio do povo”.
A ação de Jesus joga por terra toda pretensão de
poder de domínio dos dirigentes judeus instalados nas estruturas do templo e
cobertos com o manto da religião.
Esta primeira ação de Jesus em Jerusalém é coerente com tudo o que ensinou na Galiléia e pelo caminho até Jerusalém, é como um arremate final a todo um ministério consagrado a defender com palavras e com ações os verdadeiros valores do reino.
Jesus se havia metido nada menos que na boca do lobo, os “sumo sacerdotes” (poder religioso), os letrados (especialistas em leis e na Escritura) e o mesmo os notáveis (lei e poder econômico) tentavam acabar com ele, mas não podiam fazer nada porque o povo inteiro o escutava, pendente de seus lábios (v.47-48).
Jesus não é dos que “atiram a pedra escondem a mão”. Acaba de protagonizar um ato de aberta provocação aos dirigentes de seu povo e, sem dúvida, continua lá, ensinando ao povo, tentando abrir sua consciência e seus olhos para que vejam o tipo de dirigentes que tem.
Seguramente, aquele gesto serviu para muitos ensinamentos e o povo permanecia muito atento ao que ele dizia. Ou seja, pendente de sua doutrina. Por um breve tempo, brevíssimo, o templo como símbolo religioso serviu para o que devia servir sempre: para gerar, desencadear atitudes com força de libertação; espaço de encontro com a Palavra viva que não oprime nem subjuga, que convida à vida, não que apaga a vida. Chegará o dia em que nossos templos e centros de culto também servirão para isso?
Reflexão Apostólica:
Jerusalém era a meta da longa
marcha de Jesus. Aí, o Templo constituía seu ponto final. Por quê? Porque o
Templo, na religião judaica, era o lugar da morada de Deus no meio do povo.
Para Jesus, é a casa do Pai. E, como Filho, é para a casa do Pai que ele se
dirige.
O Mestre decepcionou-se com o que viu: o Templo fora transformado num antro de
exploradores inescrupulosos, que se serviam do espaço sagrado para enriquecer,
lançando mão dos mais vis artifícios de exploração. Na mais total impunidade, e
com a cobertura dos sacerdotes, davam a impressão de estar prestando um grande
serviço aos peregrinos. Situação, porém, insuportável para Jesus!
A expulsão dos vendedores e compradores teve a finalidade de fazer o Templo
recobrar sua verdadeira função: ser casa de oração, portanto, lugar de encontro
com o Pai e reabastecimento espiritual, espaço de vivência da fraternidade e da
igualdade. Enquanto “casa”, seria o espaço do encontro dos filhos de Deus.
Uma vez purificado, o Templo tornou-se lugar privilegiado da pregação de Jesus.
Ao ouvi-lo, o povo ficava extasiado, e se apinhava ao seu redor. Agora, sim,
voltara a ser casa do Pai, onde o Filho se sente à vontade para falar das
coisas de Deus. Os projetos malévolos dos sacerdotes e dos escribas não o
intimidavam. Afinal, enquanto Filho, aquele lugar lhe pertencia.
A meditação de hoje nos desperta dois pontos bastante interessantes e comuns
nos dias de hoje: a ganância e a inveja. Quando Jesus nos fala no evangelho de
São Lucas: "Está escrito: 'Minha casa será casa de oração. No entanto, vós
fizestes dela um antro de ladrões'"; é possível imaginar uma
tristeza no rosto deste homem santo, bondoso e piedoso que, ao ver pessoas
necessitadas sendo humilhadas e exploradas.
Ele demonstra-se indignado com os poderosos e comerciantes da época, não muito
diferentes de alguns atuais, que querem obter ganhos ilícitos por causa das
ambições desmedidas.
Estas pessoas acabam por profanar o templo de Deus, transformando-o em antro de
perdição: ladrões que não utilizam o templo para orar, mas para explorar os
outros; sumos sacerdotes e mestres da Lei que deveriam pregar o amor, mas
planejam o assassinato do Filho de Deus, impulsionados pela inveja da sabedoria
e carisma de Jesus, pois todos ficavam fascinados ao ouvir suas palavras e
também admiravam seus gestos.
Assim como Jesus entrou no templo de Jerusalém e de lá expulsou os vendedores
que faziam da casa de Deus um lugar de “comércio”, Ele também se dispõe a
entrar no nosso coração e nos ajudar a expulsar de lá os ladrões que tentam
roubar a nossa vida das mãos de Deus. Somos nós mesmos quem na maioria das
vezes permitimos que os “ladrões” invadam as áreas mais nobres do nosso ser.
Por meio dos nossos pensamentos, da nossa memória, imaginação, da nossa
afetividade e da nossa vontade nós consentimos em que os inimigos penetrem e se
apossem do nosso coração. Assim sendo, nós demolimos o altar do Senhor, nos
afastamos do Seu convívio, perdemos o contato com Ele e ficamos a mercê dos
salteadores e ladrões.
A nossa casa também é casa de oração e não de comércio. A nossa alma geme por
causa da fome que nós sentimos, e, muitas vezes ela expressa isso, através da
impaciência, da irritação, da revolta. O motivo de tudo isso, é que nós
transformamos a casa de Deus em morada de “bandidos” que nos levam para o mal.
Mas Jesus deseja fazer uma varredura dentro de nós e, para isso, Ele pede
passagem.
Só Ele poderá fazer essa obra em nós com o poder do Seu Espírito. Portanto,
peçamos ao Senhor que nos envie o Paráclito, o Advogado, o Purificador da nossa
alma para reacender em nós o zelo, o fervor, o ardor, com o fogo do Seu Amor.
Só assim os inimigos, ladrões e salteadores serão banidos da nossa vida. “Vem
Espírito Santo, vem fazer obra nova em meu coração, retirar o que está velho em
mim, traz Salvação.”
Você quer que Jesus expulse também os “ladrões” do seu coração? Peça a Ele!
Quais são os salteadores que tentam tirar você da intimidade com Deus? A sua
casa é uma casa de oração? Você cultiva o zelo, o ardor, o fervor pela oração?
Como está a sua oração pessoal? Ela tem feito você crescer?
Propósito:
Espírito purificador, tira do meu coração toda sorte de
maldade e de egoísmo, que o tornam indigno de ser morada de Deus.
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