20 novembro - Ter cuidado com as palavras que se dizem parece pouca coisa, mas ao invés é uma grande virtude. (S 197). São Jose Marello
Leitura
do santo Evangelho segundo São Lucas 18,35-43
35Quando Jesus se aproximava de Jericó, um cego estava sentado à
beira do caminho, pedindo esmolas. 36Ouvindo a multidão
passar, ele perguntou o que estava acontecendo. 37Disseram-lhe que Jesus
Nazareno estava passando por ali. 38Então o cego gritou:
“Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” 39As pessoas que iam na
frente mandavam que ele ficasse calado. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de
Davi, tem piedade de mim!”
40Jesus parou e mandou que levassem o cego até ele. Quando o cego
chegou perto, Jesus perguntou: 41“Que queres que eu faça
por ti?” O cego respondeu: “Senhor, eu quero enxergar de novo”. 42Jesus disse: “Enxerga,
pois, de novo. A tua fé te salvou”. 43No mesmo instante, o cego
começou a ver de novo e seguia Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo o
povo deu louvores a Deus.
Meditação:
Segundo
a narração de São Marcos, Jesus encontra-se em viagem rumo a Jerusalém,
deixando atrás de si Cesaréia de Filipe, ao norte da Galileia. Como nunca
perdia um só segundo nem oportunidade, Ele aproveitará esse percurso para ir
instruindo seus discípulos, a fim de torná-los aptos à grande missão que lhes
caberá, uma vez fundada a Igreja. Ao iniciar-se essa caminhada, uma grande
multidão se junta aos discípulos, sempre desejosa de assistir a mais algum
milagre, ou de ouvir as maravilhas transbordantes dos lábios do Mestre. Como
primeiro ato desse trajeto, está a cura de um cego.
E
por que Marcos e Lucas fazem referência a um só cego? Uma boa maioria dos
exegetas opina ser provável que os cegos eram dois, conforme Mateus indica, mas
um deles devia ser muito conhecido, a ponto de Marcos tê-lo posto em cena com
seu nome próprio.
Quanto
ao lugar onde se teria dado o milagre, as explicações, se bem que diversas,
visam fazer uma aproximação entre os Evangelistas, concluindo em favor de um
único acontecimento.
Quase
nunca faltam a essas cenas evangélicas os aspectos carregados de cores,
característicos do Oriente. Os costumes, marcados por um temperamento
borbulhante e nada retraído, se refletem tanto na atitude do cego Bartimeu como
na reação da multidão contra os gritos dele.
A
cegueira, quer seja física, quer espiritual, é um mal indolor. A perda da
vista, apesar de nos impedir de nos guiarmos nos espaços físicos segundo nossas
próprias deliberações e usando de nossa autonomia, inclina-nos à humildade e
submissão aos outros, a confiar em seu auxílio. Por isso, quando bem aceita,
ela pode ser um excelente meio de santificação. Muito pelo contrário, a
cegueira espiritual priva-nos de elementos fundamentais para nossa salvação -
como são as misericórdias que desprezamos - e nos faz correr terríveis riscos,
enquanto acumulamos as iras de Deus.
A
Bartimeu lhe faltava um dos elementos essenciais para enriquecer-se, por isso
caiu inevitavelmente na pobreza passando a viver de esmolas. Ao cego de Deus,
entretanto, é possível fazer fortuna; porém, debaixo deste ponto de vista, é
ele ainda mais digno de pena: quando se fecharem definitivamente para a luz do
dia seus olhos carnais, os espirituais de imediato se abrirão, mas quão tarde
será, para ele, ver a grande dimensão de sua real miséria em todo o seu horror.
E, tomara, não seja essa a hora do desespero.
Se
ao analisar-me, com toda a honestidade de consciência, não encontrarei no fundo
de minha alma alguma sombra onde a luz do sobrenatural não chega, um ou outro
refolho onde não penetra a voz de Deus? Esse é o momento de eu imitar o pobre
Bartimeu. O próprio Jesus continua aqui, nos tabernáculos das igrejas. Por que
não aproveitar uma ocasião para d’Ele me aproximar e pedir-Lhe o milagre? Devo
temer a Jesus que passa e não volta, e bradar continuamente, porque Ele ouve
melhor os desejos abrasados.
Tenhamos
por certo este princípio: sempre que um cego de Deus abraça o caminho da
conversão, “a multidão” tenta dissuadi-lo de prosseguir, fazendo todo o
possível para lhe criar obstáculos. Infelizmente, a essa “multidão” de mundanos
se associa a multidão de seus próprios pecados e paixões, para fazê-lo
silenciar. Também aqui é oportuno imitar a atitude de Bartimeu, ou seja, não
somente não ceder às pressões, como até, pelo contrário, redobrar em ardor,
esperança e desejos. Dessa forma, não tardará a comprovar a realidade da
convicção do Apóstolo: “Tudo posso n’Aquele que me conforta!” (Fl 4, 13).
“Senhor,
que eu veja!”, deve ser o pedido de quem esteja imerso na tibieza e, sobretudo,
de quem é cego de Deus. Bartimeu não pediu a fé, porque já a possuía. Sua
cegueira era simplesmente física. Examinemos nossas necessidades espirituais e
peçamos tudo a Jesus. Sem duvidar, aguardemos até mesmo o milagre, pois Ele nos
assegura: “Tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, eu o farei” (Jo 14, 13).
O
número dos que sofrem de cegueira física, no mundo, é insignificante, em
comparação com os cegos espirituais. A cegueira de coração atinge uma
quantidade assustadora de pessoas em nossos dias. A fé vai se tornando
privilégio de minorias. Há cegos não só nos caminhos da salvação, mas até mesmo
nas vias da piedade. Estes levam uma vida pseudo tranquila, submersos nos
perigos da tibieza; cometem faltas, mas conseguem muitas vezes, através de
inúmeros sofismas, adormecer suas consciências, não experimentando mais os
benéficos remorsos. Confessam- se por pura rotina, comungam sem dar o devido
valor à substância do Sacramento Eucarístico, rezam sem devoção…
Há
cegos entre os que abraçaram o caminho da perfeição, mas deixaram de aspirar a
ela, contentando-se com uma espiritualidade medíocre, esquálida e infrutuosa.
Eles nada fazem para atingi-la, procurando-a onde ela jamais se encontra.
Enfim,
para não ser cego de Deus, é preciso ser puro de coração. Uma das principais
causas da cegueira de nossos dias é a impureza. Nosso Senhor diz no Sermão da
Montanha: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5, 8).
Não se trata exclusivamente da virtude da castidade, mas, muito, da reta
intenção de nossos desejos. Tanto uma quanto a outra vão-se tornando raras a
cada novo dia, nesta era de progressiva cegueira de Deus.
São
essas algumas das razões pelas quais a humanidade necessita voltar-se
urgentemente para a Mãe de Deus, apresentando por meio d’Ela, ao Divino
Redentor, o mesmo pedido de Bartimeu: “Senhor,
eu quero enxergar de novo”.
Reflexão Apostólica:
O caminho que vem do Norte em direção à Jerusalém passa
por Jericó, a cidade mais antiga da Palestina. A cidade era de grande
importância para Jerusalém, porque ali viviam os sacerdotes e os levitas que
serviam no Templo.
Jerusalém estava a um dia de caminho. E quando Jesus
continuou seu caminho, acompanhado por seus discípulos e muita gente que o
seguia, e que iam também participar na celebração da Páscoa, saindo da cidade,
encontrou-se com um mendigo cego, sentado à beira do caminho, pedindo esmolas.
Quando Jesus ia passando, ele grita em alta voz “Jesus,
filho de Davi, tem compaixão de mim!”, mas a multidão o repreende. Somente
chamando a Jesus persistentemente é que atrai a atenção do mestre com seus
gritos que imploram misericórdia. Depois de ser censurado por causa dos gritos,
Jesus o curou, devolvendo-lhe a vista.
O tema central deste relato de cura é a revelação de Jesus como o Messias de
Israel, aquele que abriria os olhos aos cegos. Por isso o cego de Jericó se
dirige a Jesus com o título messiânico de Filho de Davi que voltaremos a
escutar na entrada triunfal em Jerusalém (Lc 19, 38).
Contrasta a atitude do cego com a cegueira dos
discípulos, que o proclamaram Messias de acordo com as suas expectativas, e
apesar das instruções que lhes foram dadas e dos critérios com os quais lhes
corrigiu, todavia não o viam como aquilo que ele é verdadeiramente. O cego crê
na compaixão de Jesus e uma vez curado segue a Jesus como discípulo seu. O
encontro com Jesus transformou a sua vida, não apenas curou sua cegueira
física.
Esta profunda relação entre cura física e cura espiritual
significa que abrir os olhos de um cego leva a abrir o coração à fé. Quando
dizemos que Jesus é a luz do mundo, afirmamos esta possibilidade de conversão
daqueles que o aceitam como o horizonte absoluto de sua vida. Diante da cura do
cego de Jericó o povo reconhece a presença dos dons do Reino e louva a Deus em
ação de graças.
A leitura nos sugere que aquele homem não era um “cego de
nascença”, mas era alguém que havia perdido a visão e não conseguia mais
enxergar. E, que, apesar de não ver, ele estava atento ao que se passava ao seu
redor quando a multidão que acompanhava Jesus passava por ele.
Somos esse cego de Jericó quando nos perdemos de Deus,
nos afastamos da vivência da Sua Lei, estamos mergulhados na escuridão do mundo
e, por isso, não mais enxergamos nem vislumbramos as coisas como antigamente.
No entanto, porém, poderemos ter a nossa visão restaurada
se estivermos atentos (as), à passagem do Senhor. O cego de Jericó não via, mas
ouvia e podia falar, por isso gritou apesar das pessoas mandarem-no calar-se:
“Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” Por causa da sua persistência e
determinação, que são atitudes de fé, Jesus o curou da sua cegueira.
Quando nós tomamos consciência de que estamos equivocados
(as) e que precisamos de conserto, nós também não podemos nos acomodar na
“beira do caminho”.
Para que sejamos curados (as) da nossa cegueira
momentânea ou do nosso entendimento deturpado, nós precisamos também parar para
perceber a passagem de Jesus e gritar como o cego o fez: “Jesus, estamos aqui,
precisamos te ver, precisamos te servir, cura a nossa falta de entendimento,
converte o nosso coração”.
O Senhor vai querer saber de nós o que nós desejamos que
Ele nos faça. “Que queres que eu faça por ti?” A nossa resposta consciente
determinará o grau da nossa fé no poder curador de Jesus.
Não percamos a oportunidade, Jesus Cristo está passando
por aqui, Ele está no meio de nós e traz a bênção que curará a nossa cegueira e
renovará a nossa percepção das coisas do alto.
Você ainda está esperando Jesus passar ou você já percebe
que Ele está perto de você e quer tirar todas as suas dúvidas? Qual é a
sua cegueira: o que você ainda não está entendendo? O que precisa
acontecer para que você saia do comodismo? Você tem medo de que as pessoas
o (a) mandem calar-se ou você tem coragem de gritar por Jesus mesmo que chame a
atenção de todos?
De certo modo, todo o ministério de
Jesus consistiu em ajudar a humanidade a superar a cegueira de que era
vítima. Cegueira do egoísmo, que impede de reconhecer o semelhante como quem
merece afeição. Cegueira da idolatria, que leva o ser humano a trocar Deus pela
criatura e deixar-se tiranizar por ela. Cegueira do pecado, com suas mais
diversas manifestações, cujo resultado é a desumanização da pessoa, reduzindo-a
à mais terrível escravidão.
A súplica do cego de Jericó pode ser a de todo discípulo:
“Senhor, que eu veja!” Sim, o discipulado exige a libertação de todo tipo de
cegueira. Isto só pode ser obra de Jesus. É ele quem possibilita ao discípulo
ter visão e discernimento para fazer as escolhas certas e optar pelos caminhos
mais condizentes com as exigências do Reino.
Contudo, o motor de tudo isto é a fé. No caso do cego de Jericó,
foi a fé que o moveu a implorar misericórdia junto a Jesus. E, também, pela fé
o discípulo é levado a buscar libertação junto a ele. Quanto mais profunda ela
for, tanto mais apurada será a visão do discípulo, ou seja, maior será sua
capacidade de “ver” o que Deus deseja dele.
Propósito:
Pai, infunde em mim uma fé profunda como a do pobre cego,
cujo desejo de ser curado por Jesus levou-o a se abrir para a verdadeira visão
que leva à salvação.
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