24 abril – Peçamos
ao Senhor que nos ilumine para fazermos a sua Vontade. (L 194). São Jose Marello
João 20,19-31
- Que a paz esteja com
vocês!
Em seguida lhes mostrou
as suas mãos e o seu lado. E eles ficaram muito alegres ao verem o Senhor.
Então Jesus disse de novo: - Que a paz esteja com vocês! Assim como o Pai me
enviou, eu também envio vocês.
Depois soprou sobre
eles e disse: - Recebam o Espírito Santo. Se vocês perdoarem os pecados de
alguém, esses pecados são perdoados; mas, se não perdoarem, eles não são
perdoados.
Acontece que Tomé, um
dos discípulos, que era chamado de "o Gêmeo", não estava com eles
quando Jesus chegou. Então os outros discípulos disseram a Tomé: - Nós vimos o
Senhor! Ele respondeu: - Se eu não vir o sinal dos pregos nas mãos dele, e não
tocar ali com o meu dedo, e também se não puser a minha mão no lado dele, não
vou crer! Uma semana depois, os discípulos de Jesus estavam outra vez reunidos
ali com as portas trancadas, e Tomé estava com eles. Jesus chegou, ficou no
meio deles e disse: - Que a paz esteja com vocês! Em seguida disse a Tomé: -
Veja as minhas mãos e ponha o seu dedo nelas. Estenda a mão e ponha no meu
lado. Pare de duvidar e creia! Então Tomé exclamou: - Meu Senhor e meu Deus!
- Você creu porque me
viu? - disse Jesus. - Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram!
Jesus fez diante dos
discípulos muitos outros milagres que não estão escritos neste livro. Mas estes
foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E
para que, crendo, tenham vida por meio dele."
Para este segundo domingo de Páscoa as leituras bíblicas nos
induzem a aprofundar um pouco mais os efeito concretos da ressurreição de
Jesus. Quase poderíamos ver uma interessante contraposição entre o que nos
conta a primeira leitura (Atos 4,32-35) e o testemunho tão humano e simples do
Evangelho (João 20,19-31). Esta espécie de contraposição tem sua razão de ser
precisamente se pensamos no percurso gradual que os discípulos tiveram que
realizar até alcançar as etapas mais altas e maduras de sua fé na ressurreição
de Jesus. Poderíamos dizer que a fé é algo que vai entrando gradualmente na
consciência daquele que crê, ou seja, a consciência vai se abrindo gradualmente
ao crescimento da fé.
Depois da morte de Jesus, a comunidade sente-se com medo,
insegura e indefesa diante das represálias que pode ter contra eles os chefes
judeus. Encontra-se em uma situação de temor paralela a do antigo Israel no
Egito quando os israelitas eram perseguidos pelas tropas do faraó; e, como
esteve aquele povo, os discípulos estão também na noite em que o Senhor irá
tirá-los da opressão. João narra o encontro do túmulo vazio por Madalena, no
amanhecer do primeiro dia da semana. A seguir apresenta as tradições de
aparições: primeiramente à própria Madalena e, ao anoitecer deste primeiro dia
da semana, aos discípulos reunidos a portas fechadas. A mensagem de Maria
Madalena, sem embargo, não os libertou do temor. Não basta ter a notícia do
sepulcro vazio; só a presença de Jesus pode dar-lhes segurança no meio da
hostilidade do mundo. Porém, tudo se encaminha a partir do momento que Jesus -
que é o centro da comunidade – aparece de fato no centro, como ponto de referência,
fonte de vida e ponto de unidade.
No Evangelho da primeira aparição de Jesus Ressuscitado,
encontramos a história de Tomé, que é também a história das comunidades de João
e das nossas comunidades, porque Tomé duvidou que o Senhor estivesse com eles,
e, em nossos dias, diante de tantas dificuldades, medos e incertezas na vida de
fé em nossas comunidades, nós também chegamos a pensar que Jesus não está conosco.
Será que ele ressuscitou mesmo? Será que enquanto ressuscitado caminha com as
comunidades? Então por que não aparece de uma vez e resolve tudo o que está
errado
Há, portanto, duas coisas no
Evangelho de hoje que não podemos perder de vista: o fato dos apóstolos estarem
fechados por medo das autoridades judaicas, e o caso da aparente falta de fé de
Tomé. João nos apresenta o encontro do Senhor ressuscitado com Tomé, que se
nega a acreditar que seus companheiros tivessem tido a experiência do
Ressuscitado, que lhes tinha mudado a forma de ver o mundo, tornado mais
humanos e mais sensíveis à realidade que vivia seu povo naqueles momentos
históricos.
Talvez o episódio de Tomé tenha sido acrescentado para dizer
que os que não viram Jesus não são inferiores às testemunhas oculares. O
importante mesmo é a fé e o compromisso com o projeto de Jesus. A figura de
Tomé está simbolizando todos aqueles cuja fé não é pura, não nasce da
experiência de amor da comunidade, mas depende de milagres, de sinais
extraordinários. Mas Tomé dá um testemunho bonito: «Meu Senhor e meu Deus».
É a maior profissão do 4o Evangelho. Ele vê Jesus como Senhor e como Deus. É
Deus que exaltou seu Filho Jesus e o colocou onde estava, no princípio, junto
de Deus, como Senhor da Glória com igual dignidade com o Pai (cf. 5,18 e
10,33). Tudo termina com a única bem-aventurança no Evangelho de João: «Felizes os que não viram e
creram».
É difícil chegar à fé na ressurreição, para nós como para
Tomé. Ele não teve necessidade de «meter o dedo», e no entanto teve de ver com
os seus olhos; mas é graças a ele que Jesus pronuncia a sua última bem
aventurança: «Felizes
os que embora não vendo acreditarão!». Os destinatários destas palavras
somos nós os leitores do Evangelho, aquele «sinal escrito» capaz de suscitar a
fé que conduz a «viver no Nome de Jesus», na salvação. Somos, portanto,
chamados a experimentar a bem aventurança de quem vê Jesus com os olhos da
comunidade cristã, reunida no dia do Senhor e na escuta da Palavra de Deus
contida nas Escrituras Santas: de fato a comunidade e as Escrituras atualizam
para nós a ação do Espírito Santo, enquanto são vivificadas por Ele. A
comunidade e as escrituras interagem com o Espírito, criando uma circulação de
vida que está no coração da liturgia eucarística: o Espírito vivifica a igreja
tornando-a corpo de Cristo, e ressuscita as páginas de todas as Escrituras
tornando-a Palavra vivente de Deus, testemunha do Senhor ressuscitado.
A ressurreição de Jesus é o marco central da fé cristã. No
entanto, essa boa notícia só chegou até nós, graças ao testemunho ocular daqueles
que disseram«VIMOS O SENHOR!» É
alicerçado nesse testemunho que nós também cremos que o Senhor está vivo. Assim,
somos imensamente felizes, mesmo sem tê-lo visto. Que a Eucaristia alimente
cada vez mais a nossa fé no Ressuscitado.
A paz que nos foi dada por Jesus Cristo, através daqueles
homens reunidos no Cenáculo, é a paz consoladora, a paz ativa que constrói pontes,
a paz daqueles que lutam e reativam os laços de justiça a fraternidade próprios
de uma humanidade que é chamada a viver em fraternidade. É esta paz que nos
cabe construir hoje, tanto tempo depois daquele acontecimento escondido em uma
sala fechada em Jerusalém, mas que continua a ser incessantemente dada pelo Pai
a cada um de Seus filhos.
Jesus não promete a paz do comodismo, mas pelo contrário,
envia os seus discípulo na missão árdua em favor do Reino, mas promete o Shalom, pois ele nunca abandonará
quem procura viver na fidelidade ao projeto de Deus. Jesus soprou sobre os
discípulos, como Deus fez (é o mesmo termo) sobre Adão quando infundiu nele o
espírito de vida; Jesus os recria com o Espírito Santo.
Normalmente imaginamos o Espírito Santo descendo sobre os
discípulos em Pentecostes, mas aquilo era a descida oficial e pública do Espírito
para dirigir a missão da Igreja no mundo. Para João, o dom do Espírito, que da
sua natureza é invisível, flui da glorificação de Jesus, da sua volta ao Pai. O
dom do Espírito neste texto tem a ver com o perdão dos pecados.
Tomemos de novo as passagens dos
Atos e do Evangelho e analisemos o relato evangélico como ponto de partida do
necessário processo da fé e a ação até chegar ao relato dos Atos, assumindo-o
como ponto de chegada. À luz destas passagens, analisemos a experiência de fé e
de vida de nossa comunidade. A experiência de Jesus ressuscitado vem a ser a
experiência da unidade e a de não excluir o irmão. Deus é Pai de todos os que
assumem o projeto de vida, proposto para a humanidade por meio de Jesus.
E como último ponto da nossa
reflexão, o Evangelho nos coloca a importância de vivermos e participarmos da
comunidade porque ela é o único local onde podemos fazer a experiência do
Senhor Ressuscitado. Quando deixamos de freqüentá-la, como ocorreu com Tomé,
que não foi na celebração do domingo, acabamos ficando incrédulos e o desânimo
poderá nos abater, porque o pecado cega-nos a alma e o coração e passamos a
enxergar apenas os erros do nosso irmão, não nos dando conta de que Jesus
Ressuscitado caminha conosco e vai à nossa frente!
Para finalizar, façamos uma avaliação pessoal:
«Felizes os que não viram e creram».
Quais são os fundamentos de minha fé? Por que creio? Apóia-se minha fé em
argumentos racionais?
Paz para vós. Tenho paz, paz profunda, Shalom?
Vivo minha religião buscando milagres
em meu favor, ou me dedicando ao serviço dos outros e da comunidade?
Com o coração sincero e aberto ao influxo do Espírito,
dirijamos nossa súplica ao Pai. Rezemos para que se estabeleça a paz em nosso
mundo.
Oração: Deus de misericórdia infinita, que reanimas a fé de vosso povo com
a celebração anual das festas pascais: acolhei o nosso coração dividido por
causa de tantos temores e dúvidas; transformai-o em coração íntegro, capaz de
sentir como próprios os sofrimentos e alegrias dos irmãos e irmãs. Aumentai em
nós os dons de vossa graça para que compreendamos melhor que sois
verdadeiramente Pai e doador da Vida, que nos recomendaste acolher e
incrementar a vida, e que a Vida finalmente triunfará. Pai, abri todas as
portas que nos mantêm fechados no medo e na insegurança, para que consigamos ir
ao encontro do mundo a ser evangelizado. Guardai-nos do pecado e fazei de nós
um instrumento de vossa paz e de vosso amor. Ajudai-nos a observar vossos
mandamentos. Maria, Mãe de Cristo e nossa paz, que no Calvário recebeu o seu
testamento de amor, nos ajude a ser testemunhas e apóstolos da sua misericórdia
infinita. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito
Santo. Amém!
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