03 abril -
Ah! pobre juventude, tão abandonada e descuidada; pobre geração em crescimento,
deixada por demais à própria sorte e ainda muito caluniada ou, pelo menos,
duramente julgada em tuas leviandades e em tua generosidade desregrada, naquela
necessidade de ação mal desenvolvida, com afetos mal orientados, razão pela
qual, sem culpa totalmente tua, te afastas do caminho reto! Pobre juventude!
Rezemos mui particularmente por ela. (L 29). São José
Marello
João 8,1-11
Jesus disse:
- Pois eu também não condeno você. Vá e não peque mais! "
Meditação:
Este texto ‘incômodo do Evangelho teve uma histórica difícil: é omitido em
vários códices antigos, e é deslocado em outros. Há mesmo quem pense que o
autor não seja João, mas Lucas, dado o seu estilo e a mensagem muito semelhante
à “parábola do pai misericordioso” (ver Lucas 15), no Evangelho do 14 passado),
com vários personagens: a mulher, no papel do filho mais novo; os escribas e os
fariseus em linha com o filho mais velho; e Jesus que entra perfeitamente no
papel do Pai. Tal possibilidade é sublinhada também por um autor moderno:
“Texto insuportável, que falta em vários manuscritos. A consciência moral e
também a consciência religiosa dos homens não pode admitir que Cristo se recuse
a condenar a mulher... Foi surpreendida em flagrante delito; cometeu um dos
pecados mais graves que Lei conheça... Cristo confunde os acusadores
recordando-lhes a universalidade do mal: também eles, espiritualmente, são
adúlteros; também eles, de um ou de outro modo atraiçoaram o amor. ‘Quem
estiver sem pecado...’ Ninguém está sem pecado, e ele conclui dizendo: «Vai, e
não voltes a pecar»: uma frase que abre um futuro novo” (Ollivier Clément).
Este texto evangélico constitui uma página intensa de metodologia missionária
para o anúncio, a conversão, a educação à fé e aos valores da vida. O amor gera
e regenera a pessoa, torna-a livre; Jesus educa ao amor vivido na liberdade e
na gratuidade. Somente com estas condições se compreende porque devemos deixar
cair as pedras que trazemos nas mãos para atirar contra os outros. O fato que
sejam os mais velhos quem começa a ir embora (v. 9) revela neles um sentido de
culpa, de vergonha, mostra que entenderam a lição? Enfim, fica bem claro que
quem luta pela igualdade de oportunidades entre a mulher e o homem, seja qual
for o contexto específico, encontra em Jesus um precursor ideal, um pioneiro e
um aliado.
Vemos, neste
Evangelho que os líderes da igreja, traiçoeiros, com hipócrita
manifestação de respeito, com fingida reverência, que encobria uma trama
astutamente urdida para Sua ruína, trouxeram uma mulher, arrastada por eles,
apanhada em adultério, e ela estava apavorada. Eles a acusaram de ter violado a
lei de Moisés que dizia que uma mulher apanhada em adultério deveria ser
apedrejada. E perguntou a Jesus o que Ele dizia do caso.
"Se Jesus absolvesse a mulher, seria acusado de desprezar a lei de Moisés.
Se a declarasse digna de morte, poderia ser acusado aos romanos como alguém que
pretendia autoridade que unicamente a eles pertencia."
A saída de Jesus diante do
espinhoso dilema apresentado pelos doutores da lei não podia ser mais inteligente
e clara: quando todos esperavam por uma resposta que o comprometesse, Jesus os
leva, a eles próprios, a darem a solução, de acordo com sua própria consciência
e justiça.
Se a morte era a pena prevista
para a pecadora, poderiam começar o castigo, mas sob a condição de que o
aplicassem somente aqueles que não tivessem pecado. Mas os ouvintes se foram
retirando, um a um, começando pelos mais velhos até o último.
Todos os acusadores se retiram,
deixando claro a qualidade de suas consciências; somente fica a mulher ao lado
de Jesus, que age com ela de forma incrivelmente compreensiva e misericordiosa.
Poder-se-ia dizer que aquela
mulher “voltou a nascer”; libertou-se das mãos de pecadores talvez piores do
que ela, mas também ficou libertada em sua consciência por Jesus, que somente
podia transmitir-lhe a vida, o amor, a misericórdia e o perdão divinos.
Os desvios ou faltas de nossos
semelhantes nunca podem ser motivo para condená-los; essas atitudes nos devem
recordar que talvez sejam mínimos se os compararmos com os nossos, e que,
portanto, tanto eles como nós necessitamos do amor e da misericórdia divinos. A
posição de Deus para com o pecado é a rejeição, mas para com o pecador é o
perdão e a restauração.
Reflexão Apostólica:
Mais uma vez Jesus mostra que a pessoa humana está acima de qualquer lei. Os homens não podem julgar e condenar, porque nenhum deles está isento de pecado. O próprio Jesus não veio para julgar, pois o Pai não quer a morte do pecador, e sim que ele se converta e viva.
Cristo é aquele que «sabe o que há no homem» (cf.Jo 2, 25), no homem e na mulher. Conhece a dignidade do homem, o seu valor aos olhos de Deus. Ele mesmo, Cristo, é a confirmação definitiva deste valor. Tudo o que diz e faz tem o seu cumprimento definitivo no mistério pascal da redenção.
O comportamento de Jesus a respeito das mulheres, que encontra ao longo do caminho do seu serviço messiânico, é o reflexo do desígnio eterno de Deus, o qual, criando cada uma delas, a escolhe e ama em Cristo (cf. Ef 1, 1-5)… Jesus de Nazaré confirma esta dignidade, recorda-a, renova-a e faz dela um conteúdo do Evangelho e da redenção, para a qual é enviado ao mundo…
Jesus entra na situação concreta e histórica da mulher, situação sobre a qual pesa a herança do pecado. Esta herança exprime-se, entre outras coisas, no costume que discrimina a mulher em favor do homem, e está enraizada também dentro dela.
Deste ponto de vista, o episódio da mulher «surpreendida em adultério» (cf. Jo 8, 3-11) parece ser particularmente eloquente. No fim Jesus lhe diz: «não tornes a pecar»; mas, primeiro ele desperta a consciência do pecado nos homens … Jesus parece dizer aos acusadores: esta mulher, com todo o seu pecado, não é talvez também, e antes de tudo, uma confirmação das vossas transgressões, da vossa injustiça «masculina», dos vossos abusos?
Esta é uma verdade válida para todo o gênero humano… Uma mulher é deixada só, é exposta diante da opinião pública com «o seu pecado», enquanto por detrás deste «seu» pecado se esconde um homem como pecador, culpado pelo «pecado do outro», antes, co - responsável do mesmo. E, no entanto, o seu pecado escapa à atenção, passa sob silêncio…
Quantas vezes a mulher paga pelo próprio pecado mas paga ela só e paga sozinha! Quantas vezes ela fica abandonada na sua maternidade, quando o homem, pai da criança, não quer aceitar a sua responsabilidade? E ao lado das numerosas «mães solteiras» das nossas sociedades, é preciso tomar em consideração também todas aquelas que, muitas vezes, sofrendo diversas pressões, inclusive da parte do homem culpado, «se livram» da criança antes do seu nascimento. «Livram-se»: mas a que preço?
Todos nós conhecemos a história da mulher adúltera e ficamos sempre na mesma ideia: Jesus acolheu a pecadora que fora surpreendida em flagrante adultério. Todos já sabiam que ela teria que ser apedrejada, segundo a lei de Moisés. Estava escrito e não poderia ser diferente, mas Jesus nem precisou argumentar muito nem debater com os acusadores.
Somente com o gesto de escrever no chão e de falar aos circunstantes: “quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”, conseguiu com que o povo se afastasse, a começar pelos mais vividos, mais experientes.
Nós pensamos que somente adultera o homem ou a mulher que trai um ao outro. Olhamos para os “adúlteros” e as “adúlteras” públicos e nos sentimos superiores a eles (as) porque não fazemos o mesmo. Porém, existe o adultério espiritual, quando negamos a Deus a origem da nossa criação, quando damos ouvidos de mercador aos Seus mandamentos, quando recusamos a Jesus o Seu Senhorio e prevaricamos em busca de outros deuses para tentar preencher o nosso vazio espiritual.
Jesus falou para todos de uma maneira bem clara: “quem não tiver pecado”, isto é, quem não for pecador atire a primeira pedra. O pecado, seja ele qual for é uma traição a Deus.
Somos, sim, homens e mulheres adúlteros e necessitados de misericórdia. Precisamos ter consciência disso. Quando Jesus escreveu no chão Ele estava pensando também em nós!
Com quem você tem traído a confiança de Deus? Qual o seu menor pecado? Será que o pecado tem tamanho? Como você se sente no seu dia a dia diante das suas injustiças?
Propósito:
«A conversão nunca é de uma vez para sempre, mas é um processo, um caminho interior de toda a nossa vida. Este itinerário de conversão evangélica certamente não pode limitar-se a um período particular do ano: é um caminho de cada dia, que deve abraçar toda a existência, todos os dias da nossa vida. Nesta óptica, para cada cristão e para todas as comunidades eclesiais, a Quaresma é a estação espiritual propícia para se treinar com maior tenacidade na busca de Deus, abrindo o coração a Cristo. Santo Agostinho certa vez disse que a nossa vida é uma única prática do desejo de nos aproximarmos de Deus, de nos tornarmos capazes de deixar entrar Deus no nosso ser». (Bento XVI)
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