25 fev –
“Sunt bona mixta malis”. Há coisas que satisfazem os gostos humanos, misturadas
com outras que parecem más, se a razão não busca a sua luz na
fé. (L 167). SÃO JOSÉ MARELLO
EVANGELHO DO DIA
Marcos 10,1-12
Naquele
tempo, 1Jesus foi para o território da Judeia, do outro lado do rio
Jordão. As multidões se reuniram de novo em torno de Jesus. E ele, como de
costume, as ensinava. 2Alguns fariseus se aproximaram de Jesus.
Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua
mulher.
3Jesus perguntou: “O que Moisés vos
ordenou?” 4Os fariseus responderam: “Moisés permitiu escrever uma
certidão de divórcio e despedi-la”. 5Jesus então disse: “Foi por
causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. 6No
entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. 7Por
isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. 8Assim,
já não são dois, mas uma só carne. 9Portanto, o que Deus uniu, o
homem não separe!”
10Em casa, os discípulos fizeram, novamente,
perguntas sobre o mesmo assunto. 11Jesus respondeu: “Quem se
divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a
primeira. 12E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com
outro, cometerá adultério”.
Meditação:
Jesus
está na jurisdição de Herodes, que tinha tomado por esposa Herodiades esposa do
seu irmão e que por isso causara a morte de João Batista. De repente os
conhecedores da lei de Moises insurgem contra Jesus e lhe fazem uma pergunta.
Só que desta vez sobre o divórcio. Talvez na tentativa de aprovar a atitude de
Herodes e condenarem João por ter defendido a indissolubilidade do matrimônio.
De fato, naquele tempo, a questão do
divórcio e novo casamento era motivo de grandes debate entre as duas escolas rabínicas
de Shammai e Hillel. Mas também vemos na pergunta dos fariseus mais uma
tentativa de assassinato do que uma mera questão.
Desencadeou-se a polêmica em torno do assunto do divórcio proposto pelos
fariseus, e Jesus dá atualidade ao mandamento inquebrantável do amor do casal:
o que Deus uniu o homem não separe.
No Novo Testamento, existem três passagens principais que lidam com divórcio e
novo casamento: Mat. 19:1-9, Mar. 10:1-12 e I Cor. 7:10-40.
Jesus faz distinção entre a intenção original de Deus na criação e a lei (Dt
24,1) que foi escrita “por causa da dureza do vosso coração“.
O enfoque dessa passagem de Marcos é realmente novo casamento e não divórcio.
Ao exprimir seu pensamento a respeito do matrimônio, Jesus denunciava uma
injustiça cometida contra as mulheres, procurando prevenir seus discípulos a
não praticá-la.
A Lei mosaica era explícita no tocante ao divórcio. Lê-se no Deuteronômio:
“Quando um homem se casa com uma mulher e consuma o matrimônio, se depois ele
não gosta mais dela, por ter visto nela alguma coisa inconveniente, escreva
para ela um documento de divórcio e o entregue a ela, deixando-a sair de casa,
em liberdade“. A Lei previa o caso de sucessivos repúdios da mulher.
Portanto, ela ficava sob a tutela do marido
e dependia de seu humor. Bastava um pequeno deslize, ou algo que desagradasse o
marido, para ser repudiada. Uma situação de evidente injustiça, no parecer de
Jesus, com a qual não podia pactuar.
Por isso, ele saiu em defesa das mulheres com dois argumentos: O primeiro
referia-se ao questionamento da Lei. O divórcio consistia numa espécie de
concessão divina à mesquinhez humana. Não podendo suportar algo superior, Deus
se contentava em permitir aos homens algo inferior. Mas Jesus estava ali para
defender a verdadeira vontade divina. O segundo consistiu em mostrar que o
divórcio é impossível, considerando o texto bíblico: Eis agora aqui, disse o
homem, o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher,
porque foi tomada do homem.
Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe
para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne (Gênesis
2,23-24), que lhe serve de fundamento. Portanto, Se é verdade que marido e
mulher formam uma só carne, como é possível falar em divórcio? Não sejas
teimoso, teimosa. Repudiando o teu marido ou tua mulher, tu te desfazes de uma
parte de ti mesmo.
Hoje em dia é comum que muitos casais busquem o matrimônio não pela vivência
sacramental do Deus que abençoa e santifica o amor do casal, mas como um de
tantos eventos sociais cujos protocolos se converteram em exigências.
Certamente, ainda numerosos casais procuram
permanecer unidos no matrimônio até que a morte os separe, mas numerosos outros
usam o matrimônio como instrumento para conseguir um visto, uma herança, um
status social, ou, simplesmente, para não ficar sozinhos.
Fator importante na crise de casais, tanto
dos unidos pela matrimônio como dos que estão fora dele, é o medo de que o amor
se extinga e leve cada um a tomar seu próprio caminho.
Jesus é enfático na exigência que lança a
seus seguidores: o casal buscar nas relações o que é realmente essencial e
transcendente: a vivência do amor de duas pessoas unidas no sacramento do
matrimônio, união que, não obstante as dificuldades, continua se recriando apesar
do transcurso do tempo na vivência renovada da doação de um ao outro.
Reflexão Apostólica:
O
matrimonio é o sacramento do amor e expressa a presença viva de Deus no meio de
quem deseja compartilhar suas vidas, unificadas por um amor mutuo.
Tal relação
se fundamenta no conhecimento profundo das duas pessoas, na ruptura dos
estreitos limites do egoísmo para dar espaço à partilha, à amizade, ao afeto,
ao encontro íntimo dos corpos; por isso Jesus recorda aos fariseus o elemento
essencial da união matrimonial: ser uma só carne, um só ser, uma só pessoa.
Ser “um só” significa que os dois são responsáveis por manter vivo o primeiro
amor; significa que são iguais, que não há um mais importante que o outro, mas
que cada um, com sua própria identidade, forma parte indispensável deste
projeto de amor.
Portanto, o divorcio é a conseqüência de não compreender o sentido original do
matrimonio, de possuir um “coração de pedra” incapaz de amar a Deus, que é o
próximo por excelência, de não abrir o coração ao perdão, à ternura e a
misericórdia para com o outro. É necessário um “coração de carne” para que o
amor conjugal seja forte e indissolúvel.
O Evangelho de hoje nos induz a uma reflexão e aprofundamento do nosso
compromisso matrimonial. Vivemos um tempo em que o matrimônio tornou-se mais um
evento social do que um compromisso assumido pelos cônjuges.
Algumas
pessoas se casam já condicionadas a uma separação, se surgirem dificuldades que
não as façam felizes. Aquele que procura apenas sua felicidade no casamento
certamente sofrerá muitas decepções, porém, aquele que procura fazer seu
parceiro/a feliz, esse terá muito maior probabilidade de ser feliz.
Deus nos
dá plena liberdade de escolhermos a nossa parceria, não nos impõe nenhuma
condição, por isso a nossa escolha deve ser definitiva e devemos nos esforçar
ao máximo para honrarmos o compromisso assumido. São Tiago já nos alerta em sua
carta, "que o vosso sim seja sim, e o
vosso não, não".
É na família abençoada pelo sacramento matrimonial que devemos exercer, em
primeiro lugar, as recomendações deixadas por Jesus Cristo, que são a
disponibilidade ao serviço e a evangelização. Essa é a receita para a união
duradoura e eterna que se espera do casamento.
Se um dia,
a vida em comum se tornar inviável, apesar do nosso empenho em concretizá-la,
lembremos da advertência de Jesus "Quem se divorciar de sua mulher e casar
com outra, cometerá adultério contra a primeira. E se a mulher se divorciar de
seu marido e casar com outro, cometerá adultério".
Que o
Senhor guie nossos matrimônios e os mantenha unidos no amor que se torna
sacramento de modo tão essencial nessa fusão que permite a um homem e a uma
mulher não ser já dois, mas um só.
Propósito:
Pai, que os casais
cristãos, unidos pelo sacramento do matrimônio, saibam reconhecer e realizar o
mistério de comunhão que os chama a viver.
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