15 fev - Realizando as obras de Deus em silêncio, sem confiar nos homens e nem em nós mesmos, mas cheios de esperança nos auxílios sobrenaturais, tudo se encaminhará para o bem. (L 95). São Jose Marello
Marcos
8,14-21
"Os discípulos
haviam esquecido de levar pão e só tinham um pão no barco. Jesus chamou a
atenção deles, dizendo:
- Fiquem alertas e
tomem cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes!
Aí os discípulos
começaram a dizer uns aos outros:
- Ele está dizendo
isso porque não temos pão.
Jesus ouviu o que
eles estavam dizendo e perguntou:
- Por que vocês estão
discutindo por não terem pão? Vocês não sabem e não entendem o que eu disse?
Por que são tão duros para entender as coisas? Vocês têm olhos e não enxergam?
Têm ouvidos e não escutam? Não lembram dos cinco pães que eu parti para cinco
mil pessoas? Quantos cestos cheios de pedaços vocês recolheram?
Eles responderam:
- Doze.
Jesus perguntou outra
vez:
- E, quando eu parti
os sete pães para quatro mil pessoas, quantos cestos cheios de pedaços vocês
recolheram?
Eles responderam:
- Sete.
Então Jesus
perguntou:
- Será que vocês
ainda não entendem?"
Meditação:
O
evangelho de ontem falava do desentendimento entre Jesus e os fariseus. O
evangelho de hoje fala do desentendimento entre Jesus e os discípulos e deixa
ver claramente que o “fermento dos fariseus e de Herodes” (religião e governo),
tinha penetrado tão profundamente no pensamento dos discípulos que lhes impedia
de ouvir a Boa Nova.
Hoje,
Jesus alerta os discípulos: “Fiquem
alertas e tomem cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de
Herodes!”. Eles não entenderam as palavras de Jesus. Pensavam que
lhes falava assim porque tinham esquecido de comprar o pão. Jesus fala uma
coisa e eles entendem outra. Este ‘conflito’ era o resultado da insidiosa
influência do “fermento dos fariseus” na cabeça e na vida dos discípulos.
Diante desta quase total falta de percepção nos discípulos, Jesus faz uma série
de perguntas rápidas, sem esperar uma resposta.
Perguntas
fortes que apontam muitas coisas sérias e revelam uma total incompreensão por
parte dos discípulos. Também se parece incrível, os discípulos chegaram ao
ponto que não havia diferença entre eles e os inimigos de Jesus.
Antes
Jesus tinha ficado triste vendo a “dureza do coração” dos fariseus e dos
herodianos (Mc 3,5). Agora, os próprios discípulos têm o “coração endurecido”
(Mc 8, 17).
Antes,
“os de fora” (Mc 4, 11) não entendiam as parábolas, porque “tendo olhos não
vejam, e tendo ouvidos não entendam” (Mc 4,12). Agora, os próprios discípulos
não entendem mais nada, porque “têm olhos, mas vêem, têm ouvidos, mas não
entendem” (Mc 8,18).
A
imagem do “coração endurecido” lembra a dureza do coração do povo do AT que se
afastava sempre do caminho traçado por Deus. Lembra, também, o coração
endurecido do faraó que oprimia e perseguia o povo (Ex 4,21; 7,13; 8,11.15.28;
9,7...).
A
expressão “têm olhos e não vêem, ouvem, mas não entendem” lembra não só as
pessoas sem fé, criticada por Isaías (Is 6,9-10), mas também os adoradores dos
falsos deuses, dos quais o salmo diz: “têm olhos e não vêem, ouvidos e não
ouvem” Sl 115, 5-6).
As
duas perguntas finais de referem à multiplicação dos pães: Quanto cestos
recolheram na primeira vez? Doze! E a segunda? Sete! Como os fariseus, também
os discípulos, apesar de terem colaborado ativamente na multiplicação dos pães,
não chegam a entender o significado. Jesus acaba dizendo: “E vós ainda não
entendeis!”
O
jeito com que Jesus faz estas perguntas, uma após a outra, quase sem esperar a
resposta, parece um corte. Revela um choque muito grande. Qual é a causa deste
choque? A causa do choque entre Jesus e os discípulos não era por maldade
deles.
Os
discípulos não eram como os fariseus. Estes últimos não entendiam, porque neles
havia maldade. Serviam-se da religião para criticar e condenar Jesus (Mc
2,7.16.18.24; 3,5.22-30).
Os
discípulos eram gente boa. Não tinham maldade. Porque, apesar de serem vítimas
do “fermento dos fariseus e dos herodianos”, não lhes interessava defender o
sistema dos fariseus e dos herodianos contra Jesus. Então, qual era a causa? A
causa do confronto entre Jesus e os discípulos tinha a ver com a esperança
messiânica.
Entre
os judeus havia uma enorme variedade de esperanças messiânicas. De acordo com
as diferentes interpretações das profecias, havia pessoas que esperavam um
Messias Rei (Mc 15,9.32).
Outros,
um Messias Santo ou Sacerdote (Mc 1,24). Outros, um Messias Guerreiro
subversivo (Lc 23,5; Mc 15,6; 13,6-8). Outros um Messias Doutor da Lei (Jo
4,25; Mc 1,22.27). Outros, um Messias Juiz (Lc 3,5-9; Mc 1,8). Outros, um
Messias Profeta (6,4; 14,65).
Parece
que ninguém esperasse um Messias Servidor, anunciado pelo profeta Isaías (Is
42,1; 49,3; 52,13). Eles não imaginavam de considerar a esperança messiânica
como serviço do povo de Deus à humanidade. Cada um, de acordo com os próprios
interesses e segundo a própria classe social, esperava o Messias, querendo
reduzi-lo à própria esperança.
Por
isso, o título Messias, de acordo com a pessoa ou a posição social, podia
significar coisas bem diferentes. Havia uma grande confusão de idéias! E
exatamente nesta postura de Servidor está a chave que acede uma luz na
escuridão dos discípulos e os ajuda a se converter. Só aceitando o Messias como
Servo Sofredor de Isaias, eles serão capazes de abrir os olhos e de entender o
Mistério de Deus em Jesus.
O fermento de Herodes e dos fariseus impede aos discípulos de entender a Boa
Nova. Hoje, a propaganda da tevê nos impede de entender a Boa Nova de Jesus?
Reflexão
Apostólica:
Costumo dizer que das vezes que fiquei decepcionado a ponto de
“chutar o balde”, 80% das vezes foram com pessoas que eu definitivamente não
esperava. Em uma grande parcela desses momentos, eram amigos muito próximos,
maduros e sem motivo algum aparente.
Surge então a pergunta: quem nunca se decepcionou com alguém de
sua comunidade (padres, coordenadores, parceiros), do trabalho, da faculdade ou
da sua família?
Muitas vezes em nossas comunidades destinamos tempo, forças
e até recursos econômicos em situações que não respondem às exigências do
Evangelho; é importante estar atentos aos sinais do Reino.
Jesus deixa transparecer esse novo suspiro, dessa vez pelos que o
acompanham. Cronologicamente não conseguimos precisar quanto tempo Jesus
convivia com eles quando houve esse diálogo. Um ano, dois, três anos.. Não
sabemos, mas depois de tantas experiências e profundos ensinamentos
partilhados, como ainda podiam se comportar como se estivessem no inicio do
convívio de um relacionamento.
A amizade entre pessoas cresce à medida que existe cumplicidade
mútua. Jesus trazia a tona que havia “cumplicidade” por sua parte desde o
começo. Demonstrava claramente a vontade de vê-los crescer, mudar,
amadurecê-los e prepará-los para a eminência da sua ausência. Talvez
justificasse assim a tristeza nas palavras que se seguiram durante o diálogo.
Se assim podemos dizer, e talvez isso nos afague, só nos
decepcionam de verdade aqueles de quem muito esperamos!
“(…) Quando fordes presos, não vos
preocupeis nem pela maneira com que haveis de falar, nem pelo que haveis de
dizer: naquele momento ser-vos-á inspirado o que haveis de dizer. Porque não
sereis vós que falareis, mas é o Espírito de vosso Pai que falará
Engraçado é que, por vezes, dizemos que esquecemos o que nos
aconteceu, mas realmente esquecemos? Como lidamos com as limitações dos outros?
Qual é o nível de comprometimento que uma discussão ou desentendimento pode
levar? Quantas brigas surgiram da vontade de AMBOS em ir à MESMA DIREÇÃO,
no entanto cada um DO
SEU JEITO?
Qual é hoje para nós o fermento dos fariseus e de Herodes? O que
significa hoje para mim ter um “coração endurecido”?
Um ditado índio americano diz que dentro de cada um existem dois
lobos, um bom e um ruim; que diariamente se digladiam para ver quem sairá
vencedor. A sabedoria revela que logrará êxito aquele que for alimentado
diariamente. O lobo “bom” é alimentado de fé, esperança, paz, perdão,
objetividade, coerência, discernimento, amor, (…); Deus nos nutre de maravilhas
incomensuráveis, mas deixa facultativo alimentar ou não, aceitar ou não.
Apesar de próximos a Jesus, os apóstolos, talvez pelo medo,
receio, incompreensão, angústia (alimento do outro lobo) não aceitavam por
completo essa CUMPLICIDADE com que viam, conviviam e ouviam. Andavam com Ele,
mas ainda tinham seus próprios passos, suas próprias decisões.
Mesmo caminhando a procura de Deus, devemos nos nutrir diariamente
do que é bom. Nossa fé se fortalece na dificuldade, nos revés e inclusive no
desânimo, na decepção, na tristeza. Se O abandonamos facilmente na presença da
primeira brisa, precisamos refletir a nossa cumplicidade nessa amizade.
Sejamos cúmplices do amor de Deus e quanto às decepções com os
outros… Continuemos andando!!!
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