10 fev - Que Deus nos inspire e nos assista,
pois ai de nós se formos soldados
despreparados
no campo de batalha. (L 15). São Jose Marello
Marcos 7,24-30
Jesus saiu dali e foi para a região que fica perto da cidade de
Tiro. Ele entrou numa casa e não queria que soubessem que estava ali, mas não
pôde se esconder. Certa mulher, que tinha uma filha que estava dominada por um
espírito mau, ouviu falar a respeito de Jesus. Ela veio e se ajoelhou aos pés
dele. Era estrangeira, de nacionalidade siro-fenícia, e pediu que Jesus
expulsasse da sua filha o demônio. Mas Jesus lhe disse:
- Deixe que os filhos
comam primeiro. Não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo para os
cachorros.
- Mas, senhor, -
respondeu a mulher - até mesmo os cachorrinhos que ficam debaixo da mesa comem
as migalhas de pão que as crianças deixam cair.
Jesus disse:
- Por causa dessa
resposta você pode voltar para casa; o demônio já saiu da sua filha.
Quando a mulher
voltou para casa, encontrou a criança deitada na cama; de fato, o demônio tinha
saído dela.
Meditação:
Os destinatários do evangelho de Marcos são, em sua
maioria, comunidades pagãs, por isso o autor se empenha em mostrar a fé firme e
simples daqueles que não são judeus. A mulher que recorre a Jesus representa
toda essa comunidade que não seria herdeira direta da salvação de Deus. Ela
deveria contentar-se com as “migalhas”, pois a promessa de Deus era unicamente
para o povo judeu.
Jesus, em um primeiro momento, assume esta maneira de compreender a salvação.
Entretanto, a mulher Cananéia, graças à sua fé sincera e forte, faz com que
Jesus realize sinais de salvação em terras pagãs. É importante a confissão de
fé dessa mulher. Ela chama Jesus de “Senhor”, reconhece-o como salvador.
A salvação trazida por Jesus não é privilégio de um povo determinado,
mas é para todos os que acreditam nele e na sua missão, mesmo que sejam
considerados como cães, isto é, estrangeiros. Não é mais a raça e o sangue que
unem as pessoas a Deus, mas a fé em Jesus e no mundo novo e transformado que ele
desperta.
A mulher, protagonista do evangelho, representa uma síntese de todas as
marginalizações possíveis. Antes de tudo é mulher, desde o ponto de vista
religioso é pagã, não aparece um homem que a represente, é estrangeira e tem
uma filha enferma, só falta falarmos que também era pobre e viúva. O quadro é
completo no sentido de uma leitura a partir dos marginalizados. E nesse
contexto nos encontramos com Jesus, que se o analisarmos, bem nos parecerá um
pouco estranho.
Está buscando privacidade para afastar-se da multidão, só quer trabalhar
primeiro pelos seus, os de seu povo e, ademais, é grosseiro no trato com a
mulher, não tem receio em comparar os que não são judeus com os cães, beirando
ao complexo de superioridade.
Vemos um Jesus muito humano, quase "limitadamente humano"
nesta história. Mas a resposta astuta desta mulher o deixa sem outra opção a
não ser conceder-lhe o milagre solicitado em favor da sua filha.
A mulher aceita a resposta de Jesus, mas a discute reivindicando o
direito dos cachorrinhos de comer, ainda que migalhas. Ela se conforma com as
migalhas.
Aquela mulher humilde denuncia, de uma maneira sutil, os preconceitos de Jesus
e reclama seus direitos. E o faz com sua palavra, porque não fica calada diante
da negativa de Jesus.
Aquela mulher evangelizou e deu uma lição a Jesus: a situação social não
pode ser obstáculo para fazer o bem a quem necessita. E Jesus aprendeu e foi
capaz de mudar, foi seu processo de mudança e conversão. Também nisso temos
Jesus como modelo.
O exemplo de fé da mulher pagã nos leva a refletir sobre o tamanho da
nossa confiança de cristãos e cristãs, batizados (as) na força e no poder do
Espírito Santo.
Jesus admirou-se com a fé daquela mulher que se ajoelhara aos seus pés
pedindo simples migalhas para a sua filha doente. A sua fé era tamanha que ela
não se importava de ficar com o que sobrasse dos outros para a sua filha.
Ser filho de Deus e irmão de Jesus Cristo, pela Fé, nos credencia a que,
mesmo reconhecendo a nossa fraqueza e a nossa impotência nós nos apoderemos de
tudo quanto Ele veio nos trazer, isto é, vida e santidade.
Jesus veio nos dar tudo, mas às vezes, nós vivemos à espera apenas de
migalhas. Jesus fez um teste com aquela mulher: na verdade Ele queria dar a ela
a vida plena, mas ela estava se contentando apenas com a cura da sua filha.
Muitas vezes também nós nos bitolamos nos pequenos pedidos quando Ele
nos quer dar muito mais. Porém, precisamos estar conscientes de que não
necessitamos ter a atenção de Jesus voltada somente para nós e os nossos
problemas pessoais.
Muitas vezes, porque estamos servindo a Deus, ou porque oramos muito,
nós queremos a atenção Dele só para nós. Desconfiamos quando a oração não é
feita somente pelas nossas necessidades, queremos prioridade, exigimos muito,
quando Deus pode fazer grandes coisas em nós somente pela nossa fé e confiança
Nele. Aquela mulher não era de dentro da “Igreja”, mas sua súplica foi atendida
por causa da sua humildade e fé no poder de Jesus.
O que você tem suplicado a Jesus para a sua vida? Você se contenta
com as migalhas que sobrarem para você na obra de Deus? Será que Ele não
pode dar a você muito mais ainda? Reveja agora os pedidos que você tem
feito ao Senhor!
Reflexão Apostólica:
Com esta narrativa Marcos dá início a uma série de episódios em
territórios gentílicos, região de Tiro, depois Decápolis e Betsáida, inserindo
também uma narrativa da partilha do pão entre os gentios. Nestas regiões fica
manifesta a acolhida de Jesus pelas populações locais. Fica assim bem
caracterizada a dimensão universal da encarnação como a comunicação da vida
divina a todos os povos e nações.
Aqui, com a linguagem e o estilo do evangelista Marcos, percebe-se como
a confiança e a humildade da mulher siro-fenícia moveu Jesus a atendê-la. Jesus
liberta não somente os corpos adoentados pela situação de exclusão mas também o
espírito submisso às falsas ideologias dos opressores. A humanidade de Jesus é
solidária e partilhada com a nossa humanidade. Deus respeita e acolhe nossas
iniciativas humildes a favor da vida.
A intenção de Marcos é clara: também os pagãos têm direito ao pão da
salvação, porque também eles se beneficiam da piedade do Senhor. A intenção de
Marcos é exortar a comunidade eclesial a abrir as portas ao mundo, pois a
mensagem de salvação é para todos, sem exclusão.
Até o momento de seu encontro com a mulher pagã, provavelmente Jesus não
tinha ainda plena consciência de sua missão universal: como judeu que era,
seguia ainda as normas da educação e instrução de seus compatriotas.
Foi preciso o aparecimento inesperado (mais inesperado, por certo, na
versão de Mateus que na de Marcos) de uma pagã, para impulsionar Jesus a abrir
o horizonte da consciência que tinha de sua missão e incorporar à sua função
uma perspectiva verdadeiramente missionária.
Seria necessária uma circunstância aparentemente casual para que o
apóstolo Pedro se decidisse, por sua vez, na pessoa do pagão Cornélio, a sair
do reduzido círculo da simples presidência da comunidade judeo-cristã para
chegar até os pagãos.
Fatos como o da cananeia e o de Cornélio manifestam que a missão não é
tão-somente centrífuga: a vocação missionária não procede de um apego à
propaganda ou à difusão, mas do encontro entre o cristão e o incrédulo, entre a
Igreja e o mundo; da acolhida que os primeiros dispensam aos segundos, e da
atitude de escuta em que se colocam para receber antes de dar.
A cananéia manifesta fé, diferente de outras pessoas que viam nele um
fazedor de milagres. A mulher conseguiu ver em Jesus alguém que verdadeiramente
pode trazer a salvação.
Ela foi sincera e breve. O momento não era para usar muitas palavras,
mas para dizer apenas a razão que a levara à presença de Jesus.
“Não é pelo muito falar qie somos ouvidos” (Mat. 6:7). O publicano que Jesus
citou como exemplo, também fez uma oração curta: “ Ó Deus, sê propício a mim
pecador”. (Lucas 18:13). E foi justificado, não pela quantidade de palavras,
mas pela sinceridade.
Foi humilde. O evangelista Marco declara que ela prostrou-se aos pés de Jesus.
Ela estava em público e não se importou com os que a presenciavam naquele seu
gesto de tão profunda humildade.
Foi fervorosa. A mulher cananéia fez a súplica com fé, com a certeza de que
Jesus podia todas as coisas e não deixaria de atender aos rogos de uma mãe que
desejava ardentemente a cura de sua filha. A ciência médica é impotente para
expelir demônios, mas onde termina o limite humano, começa a ação sobrenatural
de Deus na vida dele. Ela sabia que só Jesus poderia valer-lhe naquela
situação.
Ela foi modesta. Limitou-se a pedir a Jesus o que mais necessitava naquele
momento. Nenhuma outra coisa a preocupava mais que a cura de sua filha.
Foi reverente, quando usou a expressão “Filho de Davi”, chamando-o de Rei.
Ela creu. Essa expressão, que talvez pra nós não diga nada, mas para o contexto
dela ( em que todos esperavam a chegado do Messias) estava dizendo: “eu creio
que Tu és o Messias, filho de Davi, enviado por Deus, e que tens poder para
libertar minha filha”.
Mostrou conhecer a misericórdia divina. Reconheceu seu Demérito, mas confiou
nos méritos de Cristo Jesus, quando disse: “Tem misericórdia de mim”.
Foi perseverante. Não obstante o aparente desinteresse do Mestre pelo seu
pedido, ela insistiu, permaneceu perseverante, crendo que seria atendida.
Ficamos pensando porque Jesus não a atendeu logo?
Será porque era gentia? Não!. É porque a conhecendo profundamente, Quis dar-lhe
a oportunidade de publicamente revelar sua grande fé, no imenso poder Dele,
para que hoje nos servisse de lição.
Quando Cristo lhe disse: “Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-los aos
cachorrinhos”, ela disse: “...mas os cachorrinhos também come das migalhas que
caem da mesa de seu Senhor”. Diante disso Jesus disse: “Ó mulher, grande é a
tua fé. Faça-se contigo como queres”. A bíblia diz que desde aquele momento a
filha dela ficou sã.
Será que temos esses predicados da mulher cananéia? Peçamos agora ao
Senhor que nos ajude através de Seu Santo Espírito.
Propósito:
Pai, cria em meu coração uma fé profunda como a da mulher pagã que
demonstrou total confiança
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