08 FEVEREIRO - Coragem,
coragem, o tempo urge. Ai de nós se nos encontrarmos desprovidos para o dia da
batalha! (L 26). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Marcos 7,1-13
"Alguns fariseus e alguns mestres da Lei que tinham vindo de Jerusalém reuniram-se em volta de Jesus. Eles viram que alguns dos discípulos dele estavam comendo com mãos impuras, quer dizer, não tinham lavado as mãos como os fariseus mandavam o povo fazer. (Os judeus, e especialmente os fariseus, seguem os ensinamentos que receberam dos antigos: eles só comem depois de lavar as mãos com bastante cuidado. E, antes de comer, lavam tudo o que vem do mercado. Seguem ainda muitos outros costumes, como a maneira certa de lavar copos, jarros, vasilhas de metal e camas.)
Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram a Jesus:
- Por que é que os seus discípulos não obedecem aos ensinamentos dos antigos e comem sem lavar as mãos?
Jesus respondeu:
- Hipócritas! Como Isaías estava certo quando falou a respeito de vocês! Ele escreveu assim:
"Deus disse: Este povo com a sua boca diz que me respeita, mas na verdade o seu coração
está longe de mim.
A adoração deste povo é inútil, pois eles ensinam leis humanas como se fossem mandamentos de Deus."
E continuou:
- Vocês abandonam o mandamento de Deus e obedecem a ensinamentos humanos.
E Jesus terminou, dizendo:
- Vocês arranjam sempre um jeito de pôr de lado o mandamento de Deus, para seguir os seus próprios ensinamentos. Pois Moisés ordenou: "Respeite o seu pai e a sua mãe." E disse também: "Que seja morto aquele que amaldiçoar o seu pai ou a sua mãe!" Mas vocês ensinam que, se alguém tem alguma coisa que poderia usar para ajudar os seus pais, mas diz: "Eu dediquei isto a Deus", então ele não precisa ajudar os seus pais. Assim vocês desprezam a palavra de Deus, trocando-a por ensinamentos que passam de pais para filhos. E vocês fazem muitas outras coisas como esta."
Meditação:
Temos aqui um longo texto de contestação das observâncias
judaicas. O questionamento é sobre a lei de pureza no comer com mãos impuras. A
resposta de Jesus é abrangente, removendo o mérito das leis de pureza e das
demais tradições opressoras. Abandonam a lei de Deus, lei do amor, pelas
tradições dos homens, isto é, tradições ideologizadas, criadas para garantir
interesses pessoais.
A intenção dos fariseus era descobrir se, na formação dada por Jesus a seus discípulos, ele os incitava à não-observância da Lei. A fama do Mestre havia chegado à capital onde se supunha que a prática da religião fosse irrepreensível. Pelo que se dizia dele, parecia que seu ensinamento não se enquadrasse nos padrões religiosos da época, e suas orientações rompiam com o sistema religioso estabelecido.
Quem tinha se aproximado do Mestre com o intuito de desmascará-lo, acabou sendo desmascarado por ele. Tudo começou com a crítica feita aos discípulos: Por que se sentam à mesa sem antes terem lavado cuidadosamente as mãos?.
Jesus pôs-se a demonstrar como a tradição considerada exemplar era, em última
análise, caduca, e podia ser inescrupulosamente manipulada. Exemplo disso era a
forma desumana como muitos mestres da Lei e fariseus “piedosos” tratavam seus
pais, distorcendo a Lei, a ponto de interpretá-la a seu favor. A impiedade era,
assim, acobertada por uma falsa piedade. O Mestre Jesus procurava evitar que
seus discípulos fossem contaminados por esta mentalidade.
É muito grave quando Deus não apenas faz advertências a respeito da conduta do
seu povo, mas o acusa da gravidade de suas escolhas.
Quando Jesus diz que ‘vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens’ está apontando o núcleo inspirador de atitudes comprometedoras de um povo que se apresenta como religioso, guardião da prática religiosa correta.
No entanto, desloca, friamente, e com uma convicção
inquestionável, a Deus do seu lugar insubstituível de centro da vida dos que
crêem. Nada é tão grave. Nada é tão grave quando o coração humano e sua
inteligência passam a ser a única medida correta de arbitragem do que é certo e
do que é errado.
Os resultados são arbitrariedades e insolências, impiedades
e maldades que eliminam tudo e todos os que não se localizam no enquadramento
estreito desta pretensão humana.
O absurdo deste procedimento alcança o ápice de pretender envolver a Deus, colocando-se ao seu redor, como os conterrâneos religiosos de Jesus fizeram com Ele, certos de sua condição moral questionável, para apresentar questionamentos de tal modo a assumirem o próprio lugar de Deus quando o julga e aos seus como incorretos, desrespeitosos e sem autoridade.
O centro da questão para a disputa estabelecida com Jesus Mestre, fruto da
posição pretensiosa assumida pelos fariseus e mestres da lei, é o fato de os
discípulos de Jesus comer sem lavar as mãos.
A tradição incluía abluções rituais. Havia um escrúpulo de
se ter tocado coisas impuras antes da refeição com o conseqüente risco de
contaminação.
A preocupação e a ritualidade assumida se deve a uma
concepção de puro e impuro, segundo critérios muito próprios que chegam às
raias de doentios e até perversos, criando preconceitos e transformando a
vivência religiosa em maldosa consideração dos outros para verificar a quem
condenar ou criar condições de desmoralizações.
Jesus reage à tentativa de desmoralização que buscar aplicar sobre ele. Na verdade, em Israel um Mestre não tinha autoridade se não conseguisse que os seus discípulos obedecessem à risca todos os preceitos e ritos previstos pela prática religiosa.
Certamente, com satisfação, que é o sentimento dos perversos e dos convencidos
de sua oca dignidade moral, os interlocutores de Jesus pensavam ter encontrado
um meio de desmoralização do Mestre e condenação dos seus discípulos.
Este é o único caminho comum e sempre muito explorado dos
hipócritas. Buscam conquistar autoridade e validar suas posições com a
desmoralização dos outros, ainda que seja fruto de suas perversas e obscuras
pretensões.
Jesus chama todos estes de hipócritas. Não são poucos. A
hipocrisia se vence com algo mais que ultrapassa o simples cumprimento de ritos
e normas que encobrem mentiras e interesses pessoais.
Jesus contrapõe a proposta de prática religiosa dos seus conterrâneos. Não é
uma simples contestação dos ritos, menos ainda um desleixo e ou uma atitude de
simplesmente contestar e desconsiderar, como ato de insolência e de
arbitrariedade.
O coração de Deus é misericórdia, amor, sinceridade a toda prova. Deus não usa artimanhas. Quem usa artimanhas não é capaz de amar de verdade. Interessa alcançar os próprios propósitos, mesmo que estes sejam destrutivos e comprometedores do bem de instituições e de pessoas.
Jesus reorienta o sentido da prática religiosa mostrando que
sua essência, para dar vida aos ritos de não deixá-los cair numa complicada
esterilidade, supõe um cuidado especial com o próprio coração.
O discípulo, então, é aquele que nutre no coração uma experiência inspirada nos
sentimentos do coração de Deus. A interioridade é, na verdade, a força
sustentadora da autêntica experiência de fé, de culto a Deus e de sinceridade
no relacionamento com os outros. Jesus pede dos seus discípulos esta construção
e esta conquista.
O discípulo de Jesus não pode descambar na direção da
hipocrisia. Isto só é possível na medida em que o discípulo compreende que o
impuro não é o entra nele vindo de fora, explicou Jesus chamando para perto de
si a multidão. Impuro é o que sai do interior.
Jesus conclui: ‘Todas estas coisas más saem de dentro e são
elas que tornam impuro o homem’. É fácil colocar capaz, roupas e cores que
indicam outras coisas, até nobres.
Passar a limpo a própria interioridade, permanentemente, e escolher sempre o
caminho do amor que resgata, nos recria, nos perdoa e nos reconcilia com Deus.
Outra opção, de que devemos a todo custo fugir, é hipócrita. Isto é, a condição
de um povo que ‘louva com os lábios, mas o coração está longe de Deus’. O nosso
coração como os Apóstolos deve ser verdadeiramente íntimo de Deus.
Reflexão Apostólica:
Quantas vezes lemos esse evangelho, mas como é interessante vê-lo ser novo todo dia.
Vocês já repararam a quantidade de justificações que damos e
temos dado sem ninguém ter pedido? Parece estranho, mas é uma coisa importante
a ser observada hoje.
Um irmão exclama: “você andou sumido”! Reparemos que não é uma
pergunta que ele nos fez, mas rapidamente a justificamos: “Sim! Mas foi por
causa disso e disso”…
Um segundo exemplo: recebendo uma crítica construtiva!
Esse mesmo irmão diz que ficou perfeito o que fizemos, mas
deixamos passar despercebido um ou outro detalhe, que no fim, ninguém viu ou
reparou.
Jesus não incomodava a ninguém, mas era preciso encontrar defeitos
para atacá-lo. As mãos sujas eram a justificativa que precisavam para ocultar
de suas mentes os milagres, os prodígios, os ensinamentos. Para o medíocre não
é preciso muito para tampar os olhos – um dedo basta.
Vale aqui lembrar as pessoas que ainda hoje pegam a Bíblia e
"sorteiam" palavras que lhes agradam. Retiram a mensagem que lhes
convém ou agrada e que muitas vezes pode agredir aos irmãos.
Quem não conhece alguém que parece conhecer a Bíblia de “trás pra
frente” mas usa suas mensagens apenas para justificar seus atos, inclusive os
errados?
Justificar é normal, mas é preciso ter disciplina também quanto a
isso. Sejamos mais humildes às correções e menos "doutores" em algum
assunto, ousemos a jogar novamente a rede.
Não fechemos nossos olhos facilmente. Limpemos constantemente o
que limita nosso olhar.
Propósito: Servir a Deus no serviço aos irmãos e irmãs, na valorização da pessoa humana e promoção da sua dignidade. Ser mais misericordioso (a) para com o meu semelhante, a partir da minha própria casa.
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