04 OUTUBRO – No
segredo se forma o herói, tal como desabrocha a semente na natureza. (L 23) . São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo
São Lucas 10,25-37
"Um mestre da Lei se levantou e, querendo encontrar alguma prova contra Jesus, perguntou:
- Mestre, o que
devo fazer para conseguir a vida eterna?
Jesus respondeu:
- O que é que as
Escrituras Sagradas dizem a respeito disso? E como é que você entende o que
elas dizem?
O homem respondeu:
- "Ame o
Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças e
com toda a mente. E ame o seu próximo como você ama a você mesmo."
- A sua resposta
está certa! - disse Jesus. - Faça isso e você viverá.
Porém o mestre da
Lei, querendo se desculpar, perguntou:
- Mas quem é o meu
próximo?
Jesus respondeu
assim:
- Um homem estava
descendo de Jerusalém para Jericó. No caminho alguns ladrões o assaltaram,
tiraram a sua roupa, bateram nele e o deixaram quase morto. Acontece que um
sacerdote estava descendo por aquele mesmo caminho. Quando viu o homem, tratou
de passar pelo outro lado da estrada. Também um levita passou por ali. Olhou e
também foi embora pelo outro lado da estrada. Mas um samaritano que estava
viajando por aquele caminho chegou até ali. Quando viu o homem, ficou com muita
pena dele. Então chegou perto dele, limpou os seus ferimentos com azeite e
vinho e em seguida os enfaixou. Depois disso, o samaritano colocou-o no seu
próprio animal e o levou para uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte,
entregou duas moedas de prata ao dono da pensão, dizendo:
- Tome conta dele.
Quando eu passar por aqui na volta, pagarei o que você gastar a mais com ele.
Então Jesus
perguntou ao mestre da Lei:
- Na sua opinião,
qual desses três foi o próximo do homem assaltado?
- Aquele que o socorreu!
- respondeu o mestre da Lei.
E Jesus disse:
- Pois vá e faça a
mesma coisa."
Meditação:
Lucas aborda aqui o tema da "vida eterna", que será
novamente abordado no episódio do homem rico que interroga Jesus (Lc 18,18-23).
Respondendo ao doutor da Lei, Jesus afirma que se tem a vida
eterna no amor a Deus e ao próximo. E o meu próximo é aquele do qual me
aproximo para socorrê-lo em suas necessidades.
O Evangelho de hoje nos leva a ocupar-nos ainda sobre a Igreja, a
refletirmos sobre um de seus principais âmbitos: a caridade, o amor.
Escreve Bento XVI na sua encíclica Deus Caritas est número
20: “o amor do próximo, radicado no amor de Deus, é um dever antes de mais para
cada um dos fiéis, mas o é também para a comunidade eclesial inteira, e isto a
todos os seus níveis: desde a comunidade local passando pela Igreja particular
até à Igreja universal na sua globalidade. A Igreja também enquanto comunidade
deve praticar o amor”.
O Papa ainda continua na mesma encíclica no número 22: “A Igreja
não pode descurar o serviço da caridade, tal como não pode negligenciar os
Sacramentos nem a Palavra”. Os outros dois âmbitos de vida que não podem faltar
na Igreja, de fato, juntamente com a caridade, são a liturgia e a catequese.
O melhor testemunho que a Igreja pode dar a quem observa de fora é
o exercício da caridade. A parábola do bom samaritano (que lemos hoje) no curso
da história nunca deixou de interpelar a consciência dos fiéis em Cristo; e, em
nossos dias atuais mais do que nunca. Para evitar o perigo de passar sem levar
seriamente em consideração este tema, examinamos o trecho evangélico desde o
princípio.
Logo no início, o Evangelho nos lembra antes de tudo que o
problema da caridade é uma questão religiosa. O doutor da lei, esperto nas
questões teológicas, cita o duplo mandamento do amor, a Deus e ao próximo, mas
o faz depois de ter interrogado Jesus sobre a eternidade: “Mestre, o que devo
fazer para herdar a vida eterna?”
Sobre o seu destino eterno qualquer um se lança totalmente. Este é
o poder da religião. A busca da própria felicidade pessoal, porém, não pode se
separar do amor, amor para com Deus e amor para com o próximo. Será feliz para
sempre, quem desde agora tiver começado a amar Deus e os outros que como ele
são irmãos em Cristo.
O doutor da lei conhecia as indicações que Deus tinha dado por
boca de Moisés e a contra-pergunta de Jesus (o que está escrito na lei?) que o
convidava a dar sozinho a resposta, e, de fato, ele não erra o veredicto: é
preciso amar a Deus com todo o coração, com toda a alma e com toda a força e
com toda a inteligência e ao próximo como a si mesmo.
Encontra assim confirmada a reflexão do livro do Deuteronômio,
sempre a obra de Moisés que diz: “Este mandamento que hoje te dou não é difícil
demais nem está fora do teu alcance.
Não está nem no céu, para que possas dizer: 'Quem subirá ao céu
por nós para alcançá-lo? Nem está do outro lado do mar, para que possas alegar:
'Quem atravessará o mar por nós para apanhá-lo? Ao contrário, esta palavra está
bem ao teu alcance, está em tua boca e em teu coração, para que a possas
cumprir.
Então será só uma questão de boa vontade? Podia parecer que sim se
não fosse a sucessiva pergunta do doutor da lei que nos coloca de
sobreaviso (quem é o meu próximo?).
Sem a ajuda da graça de Cristo é impossível cumprir perfeitamente
o mandamento do amor de Deus e do próximo. De fato, entre as boas intenções e
as realizações práticas há um abismo.
Com a pergunta: “Quem é o meu próximo?”, o doutor da lei queria
justificar-se no sentido de perda que se prova diante de uma tarefa genérica e
juntamente árdua (para o judeu, o próximo era um igual a ele somente, outro
judeu).
Assim, “de onde posso começar no amor para com o próximo?” parece
pedir o doutor da lei, “e depois desde que ponto devo chegar?” a resposta de
Jesus é um obra-prima não tanto porque é original e bem construída, mas porque
é a descrição daquilo que ele, Jesus naquele momento estava levando adiante.
O bom samaritano da história de fato é um perfeito auto-retrato do
próprio Senhor. Aquele que Jesus atribui ao samaritano, na realidade, é aquele
que ele Jesus estava para fazer.
Padres e pastores não deixaram escapar a ocasião de esclarecer as
várias correspondências e interpretaram assim o relato.
“A humanidade, criada por Deus, estava em Jerusalém, isto é, na
Paz do paraíso terrestre, lugar da presença de Deus em meio ao povo. Mas o
homem se moveu em busca de uma outra felicidade, para a cidade do pecado, que é
Jericó.
Como acontece para o filho pródigo, este abandono do pai foi
fatal: Satanás, o tentador, que o desnuda do dom da amizade com Deus e o fere
nas suas próprias capacidades humanas; agora, o homem, encontra-se sozinho, é
incapaz de resistir ao mal, e segue destinado à morte pela estrada da história.
O cristão hoje e o levita da Antiga Aliança passam ao
lado desta humanidade, mas é uma passagem ineficaz. Até que vem um samaritano,
justo Cristo Salvador, que ajoelhando-se sobre este homem, o põe sobre a
montaria do animal, a humanidade por ele assumida, para levá-lo ao local – que
é a Igreja, dentro da qual o homem possa reencontrar cura e vida... na espera
do seu retorno! No entanto, ali é possível a sua recuperação mediante as duas
moedas deixadas pelo samaritano, que são a Palavra de Deus e os Sacramentos (na
Igreja Católica).
Fazendo o percurso de Jerusalém (760m de altura) para Jericó (240m
abaixo do nível do mar), que é um percurso de descida já que Jerusalém está (
Na espera desta destinação final, entretanto, nós somos convidados
a tomar lugar na “pensão” terrena que é a Igreja e se nestes ambientes nos
sentimos bem, não devemos nos esquecer daqueles que fora daí padecem e esperam
também o nosso alívio; se pelo contrário, por vários motivos encontramos que
nesta casa que é a Igreja há algo para melhorar, somos convidados a fazer a
nossa parte desde o seu interno, de modo construtivo, superando
as resistências humanas e tornando-nos nós mesmos operadores daquela
caridade da qual sofremos a falta. Também esta é caridade e também na Igreja e
pela Igreja há tanto a se fazer.
O Evangelho termina com um mandamento de Jesus: “Vai e faze a
mesma coisa”.
Comecemos a praticar.
Reflexão Apostólica:
Em qualquer situação que nos encontrarmos, como
necessitados ou como colaboradores somos convocados pelo Senhor a amar o nosso
próximo como a nós mesmos.
Às vezes nós ajudamos às pessoas e as socorremos por
obrigação ou a contra gosto, porém a própria Palavra do Evangelho nos
esclarece: o próximo “é aquele que usou de misericórdia para com ele”.
A misericórdia, então, é o sinal para que nós sejamos “o
próximo” de alguém. Agir com misericórdia é fazê-lo por amor a Deus e acolher a
miséria do outro com o mesmo amor de Deus e não somente com o nosso amor
imperfeito e interesseiro.
Como você costuma agir: como o sacerdote, como o levita,
como o samaritano, como o hospedeiro? Ou você sempre é aquele que desce de
Jerusalém para Jericó, se mete em enrascadas e está sempre precisando que
alguém se aproxime de você? Você já experimentou ser aquele (a) que está
necessitado (a) e espera o socorro de alguém? Quando você ajuda alguma pessoa
você o faz por amor a Deus e com o amor de Deus?
O primeiro a colocar obstáculos no caminho de Jesus é um
teólogo. Este sabe que o amor total a Deus e ao próximo é que leva à vida. Mas,
não basta saber. É preciso amar concretamente.
A parábola do samaritano mostra que o próximo é quem se
aproxima do outro para lhe dar uma resposta às necessidades.
Nessa tarefa prática, o amor não leva em conta barreiras
de raça, religião, nação ou classe social. O próximo é aquele que eu encontro
no meu caminho.
O legista estabelecia limites para o amor: “Quem é o meu
próximo?” Jesus muda a pergunta: ” O que você faz para se tornar próximo do
outro?”
Propósito:
Pai,
dá-me um coração cheio de misericórdia, como o de teu Filho Jesus, pois só
assim terei certeza de estar em comunhão contigo, a caminho da vida eterna.
Salmo 23
1 O Senhor é o meu pastor; nada me
faltará.
2 Deitar-me faz em pastos verdejantes;
guia-me mansamente a águas tranqüilas.
3 Refrigera a minha alma; guia-me nas
veredas da justiça por amor do seu nome.
4 Ainda que eu ande pelo vale da
sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o
teu cajado me consolam.
5 Preparas uma mesa perante mim na
presença dos meus inimigos; unges com óleo a minha cabeça, o meu cálice
transborda.
6 Certamente que a bondade e a
misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do
Senhor por longos dias.
_._,___
Nenhum comentário:
Postar um comentário