17 agosto - Saber coordenar
todos os nossos pensamentos, todos os nossos afetos, todas as nossas energias
numa ideia fixa: viver nessa ideia, apaixonarmo-nos por ela, sublimarmo- nos
nela. (L 9). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Mateus 20,1-16a
"Jesus disse:
- O Reino do Céu é como
o dono de uma plantação de uvas que saiu de manhã bem cedo para contratar
trabalhadores para a sua plantação. Ele combinou com eles o salário de costume,
isto é, uma moeda de prata por dia, e mandou que fossem trabalhar na sua
plantação. Às nove horas, saiu outra vez, foi até a praça do mercado e viu ali
alguns homens que não estavam fazendo nada. Então disse: "Vão vocês também
trabalhar na minha plantação de uvas, e eu pagarei o que for justo."
- E eles foram. Ao
meio-dia e às três horas da tarde o dono da plantação fez a mesma coisa com
outros trabalhadores. Eram quase cinco horas da tarde quando ele voltou à
praça. Viu outros homens que ainda estavam ali e perguntou: "Por que vocês
estão o dia todo aqui sem fazer nada?"
- "É porque
ninguém nos contratou!" - responderam eles.
- Então ele disse:
"Vão vocês também trabalhar na minha plantação."
- No fim do dia, ele
disse ao administrador: "Chame os trabalhadores e faça o pagamento,
começando com os que foram contratados por último e terminando pelos
primeiros."
- Os homens que
começaram a trabalhar às cinco horas da tarde receberam uma moeda de prata cada
um. Então os primeiros que tinham sido contratados pensaram que iam receber
mais; porém eles também receberam uma moeda de prata cada um. Pegaram o
dinheiro e começaram a resmungar contra o patrão, dizendo: "Estes homens
que foram contratados por último trabalharam somente uma hora, mas nós
agüentamos o dia todo debaixo deste sol quente. No entanto, o pagamento deles
foi igual ao nosso!"
- Aí o dono disse a um
deles: "Escute, amigo! Eu não fui injusto com você. Você não concordou em
trabalhar o dia todo por uma moeda de prata? Pegue o seu pagamento e vá embora.
Pois eu quero dar a este homem, que foi contratado por último, o mesmo que dei
a você. Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com o meu próprio
dinheiro? Ou você está com inveja somente porque fui bom para ele?"
E Jesus terminou,
dizendo:
- Assim, aqueles que
são os primeiros serão os últimos."
Meditação:
Após abordar o tema do desprendimento face à ambição das riquezas, Mateus insere uma parábola narrativa, que é de sua exclusividade, dentro do lema: "os últimos serão o primeiros, e os primeiros serão os últimos", que não se adapta bem à parábola.
Ela é dirigida às comunidades de judeo-cristãos que estavam em conflito com as sinagogas. Os judeus das sinagogas rejeitavam aqueles que aderiram ao cristianismo e ameaçavam expulsá-los de seu convívio.
Eles não admitiam que, no cristianismo, os pagãos se considerassem eleitos de Deus, assim como eles próprios se consideravam, conforme sua tradição do Primeiro Testamento.
A parábola
de hoje nasce da realidade agrícola do povo da Galiléia. Era uma região rica,
de terra boa, - mas com o seu povo empobrecido, pois as terras estavam nas mãos
de poucos, e a maioria trabalhava ou como arrendatários ou como “bóia-fria”
como diríamos hoje.
Embora a
cena situe-se na Galiléia de dois mil anos atrás, bem poderia ser o Brasil da
atualidade. Apresenta uma situação de trabalhadores braçais desempregados, não
por querer, mas “porque ninguém nos contratou” (v.7).
Talvez haja
uma diferença, comparando com a situação de hoje - na parábola, o salário
combinado era uma moeda de prata, um denário, que na época era o suficiente
para o sustento diário duma família - o que nem sempre se verifica hoje.
O dono de uma vinha chamou trabalhadores para a colheita. A uns chamou pela
manhã, outros ao longo do dia e outros, ainda, no fim do dia. A todos, compromete-se
com o mesmo pagamento.
Naturalmente,
aqueles que começaram a trabalhar ainda cedo reclamaram ao patrão por ter
recebido o mesmo montante dos outros que trabalharam apenas uma pequena parte
do dia.
Para o
patrão, porém, está feita justiça: pagou a todos conforme o combinado e,
ademais, dispôs daquilo que é seu. Se, aos olhos do empregado que se considera
lesado aquilo era injusto, ao patrão foi apenas um acerto de contas equânime,
dentro dos limites que tinha estabelecido.
Muitas vezes assumimos o papel dos trabalhadores que reclamam por ter
trabalhado tanto enquanto outros que não sofreram as mesmas penas recebem a
mesma recompensa.
Assim o é na
vida civil e na vida cristã. Mas, para Deus, não importa o “tempo de casa” ou
aquilo tudo que já demos: importa com que amor o demos, com que dedicação o
fizemos. Além disso, o Senhor nos dá a Sua graça e esta Ele dispõe como deseja.
Essa é a
aparente contradição: a perspectiva humana entende que o pagamento deve ser
correspondente ao tempo ou à responsabilidade do trabalho. Deus, não. Ele
entende que pode dispor do que é seu e dá a cada um como considera o seu
merecimento.
O texto nos ensina que a lógica do Reino não é a lógica da sociedade vigente.
Na nossa sociedade, uma pessoa vale pelo que produz - logo, quem não produz não
tem valor.
Assim se faz
pouco caso do idoso, aposentado, doente, excepcional. Na parábola, o patrão
(símbolo do Pai) usa como critério de pagamento, não a produção, mas o sustento
da vida - também o trabalhador da última hora precisa sustentar a família, e
por isso recebe o valor suficiente, um denário.
O Reino tem outros valores do que a sociedade do nosso tempo - a vida é o
critério, não a produção. Por isso, quem procura vivenciar os valores do Reino
estará na contramão da sociedade dominante.
O texto nos
convida a imitar o Pai do Céu, lutando por novas relações na sociedade e no
trabalho, baseadas no valor da vida, não na produção e consumo.
Para a
comunidade de Mateus, a parábola tinha mais um sentido. Começavam a entrar pagãos
na comunidade, e muitos cristãos de origem judaica tinham dificuldade em
aceitá-los em pé de igualdade - eram “da última hora”.
Mateus conta
a parábola para ensiná-los que no Reino, experimentado através da comunidade,
não pode haver discriminação entre cristãos de várias origens, por isso “os
últimos serão os primeiros”.
O critério é
a gratuidade de Deus Pai, pois tudo o que temos, recebemos dele, e sendo todos
filhos e filhas amados dele, a comunidade cristã não pode discriminar pessoas,
por qualquer motivo que seja.
O Senhor está sempre a nos convocar para fazer parte do seu reino. Enquanto
aqui vivemos seremos a cada instante convidados para entrarmos em sintonia com
o reino dos céus. Feliz de quem atende ao chamado do Senhor logo cedo na vida,
pois usufruirá de tudo quanto Ele providenciou para que tenhamos uma qualidade
de vida melhor.
Quando nós
aceitamos o convite de Jesus para entrar no Seu reino, tendo-o como Rei e
Senhor da nossa vida, nós também nos tornamos Seus colaboradores para atrair
outros que ainda estão vagando no mundo e não encontraram ainda a verdadeira
felicidade porque não abraçaram a salvação de Jesus.
A recompensa
é a salvação e o Senhor a promete a todos àqueles que a acolherem. Seja em
qualquer hora da nossa vida, até na hora da nossa morte nós teremos a chance de
ganhar o prêmio da vida eterna.
É pela
bondade e misericórdia do Pai que nos enviou Jesus Cristo que nós somos salvos.
Portanto, não façamos questão para sermos os primeiros ou os últimos, o mais
importante é que já estamos dentro do redil do reino de Deus.
Você já
aceitou o convite para trabalhar na vinha do Senhor? Qual é a recompensa que
você espera? Você se incomoda se outros também receberem a mesma recompensa que
você espera? Você deseja que muitos entrem também com você no reino de Deus? O
que você tem feito para que isto aconteça?
Reflexão Apostólica:
As parábolas partem de imagens extraídas da vida real.
Analisando as imagens desta parábola de hoje, vemos que, no cenário, aparecem o
dono da vinha, imagem característica na tradição de Israel, e os trabalhadores
desocupados na praça, cena característica de uma cidade grega.
Estes "desocupados" não eram indolentes, mas curtiam a amargura do
desemprego e da busca de um trabalho para a sobrevivência diária, excluídos
pelo sistema social.
Por um lado, pode-se ver na parábola a expressão da simples generosidade do
proprietário que convocou os operários. Com pena dos últimos, decidiu dar-lhes
o mesmo que aos outros.
Por outro lado, pode-se analisar nestas imagens o significado do trabalho. O
trabalho não é mercadoria que se vende, avaliado pela quantidade da produção
que dele resultou.
O trabalho é o meio de subsistência das pessoas e da família, bem como é
serviço à comunidade, pela partilha de seus frutos. Todos têm direito ao
essencial para a sua sobrevivência.
Na parábola, a todos foi dado o necessário para a sobrevivência de um dia,
independentemente da quantidade de sua produção. A venda do fruto do trabalho
por um salário é uma alienação da dignidade do trabalhador e da trabalhadora.
Temos uma falsa impressão que somos medidos pelas grandiosidade das obras a
qual fomos chamados, mas na verdade parece que esse não é o foco do trabalho ou
do projeto de Deus. “(…) Se invocais como Pai aquele que, sem distinção de
pessoas, julga cada um segundo as suas obras, vivei com temor durante o tempo
da vossa peregrinação“.
Quando Pedro diz: “julga cada um segundo as suas obras”, é preciso discernir e entender que cada um tem a sua por zelar.
Alguns são chamados a liderar multidões como Moisés, Abraão, Isaac, (…), no entanto outros tantos são convocados a zelar por apenas um grupo ou até mesmo de apenas uma única pessoa. O que muda? Qual é a diferença? NADA! NENHUMA!
O zelo dado a uma multidão é o mesmo a ser ofertado a um
grupo reduzido. O pagamento dedicado ao que tem dez anos de caminhada
provavelmente será o mesmo daquele que recentemente se converteu.
Apesar de não combinar com nossa forma social de viver, ou seja, o pagamento proporcional a dificuldade e ao empenho aplicado no processo, essa forma de premiação tem foco no a pessoa e não na grandiosidade do evento.
O que de fato é importante é aceitar o chamado, por mais
simples que seja e fazê-lo acontecer, pois na verdade muita coisa deixa de acontecer
por falta de humildade nossa.
O Deus simples, que escolheu nascer no lugar mais simples e de uma família simples ficará tremendamente satisfeito também com a simplicidade.
Às vezes pode até parecer pouco o que faço (ou fazemos) por minha comunidade, por meu grupo, pelas pessoas que me cercam, mas na verdade é preciso enxergar que pelo menos estou fazendo.
Quanta gente mega capacitada, “doutora” em tantas faculdades e repletos de
tantos dons naturais não aceitam fazer coisas simples como pregar ou palestrar
para pouca gente ou tocar na missa de sua comunidade, visto que sua vocação são
os shows, grandes encontros, eventos, as luzes, os holofotes…
Se não importa o tempo que tenho ou o quanto sou habilidoso num carisma ou dom que Ele me concedeu, o que é que de fato conta para receber mais pelo meu trabalho?
A conversão de cada dia, a fé com que me apego e a humildade que realmente
vivo. Certa vez, um homem, de quem pouco esperavam, conseguiu surpreender
Jesus. Ele foi também, de certa forma, outro operário da última hora.
Empenho, fé e humildade fazem do pequeno e modesto trabalho um grande evento para Deus.
Propósito:
Pai, que eu jamais me
deixe levar pelo espírito de ambição e de rivalidade, convencido de que, no
Reino, somos todos iguais, teus filhos.
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