29 novembro - Sejamos sempre humildes, mesmo nas boas obras, porque, às vezes, começamos um trabalho com reta intenção, mas lentamente se introduz um pouco de amor próprio, de vaidosa satisfação, e lá se vai a reta intenção. (S 231). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo
São Marcos 13,33-37
"Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Cuidado! Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento. É como um homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada um sua tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando.
Vigiai, portanto,
porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de
madrugada ou ao amanhecer. Para que não suceda que, vindo de repente, ele vos
encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: Vigiai!”"
Meditação:
A Comunidade judaica, e volta do exílio, enfrenta um grande desafio: reconstruir os fundamentos da nação, da cidade e do Templo. Não era uma tarefa fácil. A maioria dos exilados já se havia organizado na Babilônia e em outras regiões do império caldeu.
A maior parte dos que havia chegado da Judéia cinquenta anos antes já havia
morrido e os descendentes não sentiam grande nostalgia pela terra de seus pais.
Os profetas convidavam continuamente o povo a reconhecer os erros
que haviam conduzido à ruína, porém, a maior parte dos exilados ignorava os
mediadores de Javé. Alguns tomaram a peito o projeto de reconstruir a
identidade, as instituições e a vida da nação.
Contudo, não contaram inicialmente com muito apoio. Parecia uma ideia louca e
desnecessária: para que voltar a Jerusalém se já não havia remédio…
O mesmo ocorre às vezes conosco: vivemos da nostalgia, da saudade
do passado, porém não nos comprometemos em transformar a realidade do presente.
Lembramos de outros tempos em que se vivia melhor, porém não
resgatamos os valores que tornam possível uma convivência humana justa e
equitativa.
Jesus faz a seus discípulos uma recomendação que hoje nos surpreende: manter-se
despertos. É o oposto do que nós faríamos. Porém, ele tem razão.
Se cada um de nós estamos estonteados pelas preocupações mais
supérfluas, o perigo é ver passar a hora apropriada para realizar a missão que
Jesus nos encomenda.
Jesus, no evangelho, nos ensina a estar alerta contra os que crêem que os
ensinamentos cristãos são algo supérfluo.
O evangelho deve ser proclamado onde seja necessário, deve ser
colocado onde seja visto, deve ser colocado ao alcance de todos.
Nossa missão é fazer do evangelho uma lâmpada que ilumine o
caminho da vida e nos mantenha em atitude de vigilância.
A interpretação que se dava a estes textos do evangelho que apontam para o
futuro ou para a escatologia esteve quase sempre revestida de um sabor
apocalíptico e de temor: o Senhor havia estabelecido um prazo que poderia
acabar em qualquer momento, imprevisivelmente, pelo qual necessitávamos estar
preparados para um juízo surpreendente e castigador que o Senhor poderia abrir
em qualquer momento contra nós.
"Que a morte nos surpreenda confessados". Este medo funcionou durante
muito tempo, durante tantos séculos, como durou uma imagem mística de Deus,
excessivamente calcada pela imagem do soberano feudal, que dispõe
despoticamente sobre seus acólitos.
O medo da condenação eterna, tão impregnado na sociedade cristã medieval e
barroca, fez com que a "greve de confessionários" pudesse ser, em
determinados momentos, uma arma afiada pelo clero contra as classes altas, por
exemplo, por parte dos missionários defensores do povo contra os conquistadores
espanhóis, donos de escravos.
Provoca risos pensar na eficácia que uma tal "greve de
confessionários" poderia ter hoje em dia...
A estrela da "vida eterna", o dilema salvação /
condenação eternas, brilhava com sua potência indiscutível no firmamento da
cosmovisão do homem da mulher pré-modernos...
Porém, são tempos idos. Seria um erro enfocar o comentário aos evangelhos, como
o que lemos hoje, nessa perspectiva, pensando que nossos contemporâneos ainda
são pré-modernos...
O estado de alerta, o olhar atento ao futuro que convida ao
adoçamento ou à rotina.... sim, é uma categoria e uma dimensão do homem e da
mulher modernos. Se o interpretarmos como "esperança", a pertença da
mensagem ainda é mais vigente.
Que pode significar "advento" para a sociedade atual? Como nome de um
tempo litúrgico significa bem pouco e não haveria de lamentar-se muito nem
gastar pólvora inutilmente, pois qualquer dia - talvez mais rápido do que se
imagina - a Igreja mude o esquema dos ciclos da liturgia, que clama a gritos
por uma renovação.
O que importa não é o tempo litúrgico, mas o Advento mesmo, o
"Advenimento" - pois é isso que significa a palavra - o "noch
nicht Sein", como diria Ernest Bloch, aquilo cuja forma de ser consiste em
"não ser ainda, porém em vias de chegar a ser"...
Ateu como era, Bloch construiu todo seu poderoso edifício
filosófico sobre a base da utopia e da esperança e apresentou em belas e
inesquecíveis páginas a grandeza heroica do santo e do mártir ateu, capaz de
dar a vida pela esperança...
Egling, na mesma linha do ateísmo, dizia: "O mais real do
real, não é a realidade mesma, mas suas possibilidades...".
Depois dos anos 90, estamos em um tempo de "desfalecimento utópico".
Com o triunfo do neoliberalismo e a derrota das utopias (não "das ideologias",
algumas das quais continuam ainda vivas), a cultura moderna - ou melhor,
pós-moderna - castiga o pensamento esperançado e utopista. O ser humano
moderno-pós-moderno está sobressaltado. Já não acredita em "grandes
relatos".
Foi-nos imposta uma cultura anti-utópica, anti-messiânica, a-escatológica, sem
esperança, apesar do brilho sedutor dos produtos da indústria mundial do
entretenimento; por trás desse atrativo sedutor do entretenimento, temos a
imagem de um ser humano em jejum de toda esperança, que transcenda minimamente
o "carpe diem" ou o "desfrute a vida".
Que advenimento ("advento") espera o homem e a mulher contemporâneos?
Como viver o advento em uma sociedade que não espera nenhum
"advenimento"? Desde já, não reduzindo o advento a um "tempo
litúrgico", ou a um tempo pré-natal… Como assim?
A Advenimento que os cristãos esperam não é só o do Natal… nem sequer é "o
céu"… Mas o Reino! Não é outro mundo… é este mesmo mundo… Porém,
"totalmente outro"!
Os cristãos não podem inculturar - se de todo nesta cultura
anti-utópica e sem "grandes relatos", porque somos filhos da grande
Utopia da Causa de Jesus, e temos o "grande relato" do Projeto de
Deus…
Poderíamos não celebrar o advento, porém não podemos deixar de nos dar as mãos,
juntamente com os mártires e santos ateus (sobram poucos) e com os homens e
mulheres da terra, de qualquer religião do planeta, para trabalhar
denodadamente pelo Advenimento do Novo Mundo.
Cada vez aparece mais claro: criar um Mundo Novo, fraterno e solidário, sem
impérios nem instituições transnacionais ou mundiais exploradoras dos pobres, o
que Jesus chamou "malkuta Javé", Reino de Deus, porém dito com
palavras e fatos deste já terceiro milênio. Esse é o Advenimento que esperamos,
o sonho que nos resta sonhar, o que nos faz estar "alerta".
Reflexão Apostólica:
Somos administradores do reino de Deus aqui
na terra. Somos seus empregados, cada um com sua tarefa.
O dono
da casa nos entregou a sua casa e espera de cada um de nós a realização daquilo
que nos foi confiado. Ele pode chegar a qualquer hora do dia ou da noite.
“Dormir”
seria desperdiçar tempo, recusar oportunidades, ficar na penúria, “deixar a
Banda passar e não segui-la”. Não podemos nos acomodar pensando que ainda
teremos muito tempo para ser vivido.
O tempo
urge, a fila anda e cada minuto da nossa existência é precioso para que
possamos trabalhar a fim de realizar as obras que o Senhor espera receber das
nossas mãos.
O
Senhor espera de nós obras concretas de misericórdia e de amor. Ele nos motiva
e nos dá condições para que isto aconteça.
A sua
Palavra é um farol que ilumina a nossa inteligência e nos direciona para que
tudo saia a contento.
Se,
realmente, nós vivenciarmos os ensinamentos de Jesus, nós, com certeza,
estaremos preparados para nos apresentar na presença do Senhor que virá.
Portanto, não durmamos porque o dia já vem clareando.
Como
você está na sua vida: na janela somente vendo a banda passar? O que falta
para você seguir na Banda do Senhor? Você tem consciência de que Deus
espera de você a sua parte? Que parte será essa?
Propósito:
Nosso Deus e nosso Pai, ao começar um novo Advento, nós te pedimos que avives a nossa fé, fortaleças nossa esperança e consolides nosso amor, de modo que possamos celebrar, com verdadeira alegria, o nascimento de Jesus Cristo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário