15 novembro - Ser perseverante num princípio determinado e
realizá-lo com desvelo e ardor, não é o mesmo que enfurecer-se e exaltar-se
desmesuradamente. (L 207). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Mateus 25,14-30
"O Reino dos Céus é também como um homem que ia viajar... Chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens: a um, cinco talentos, a outro, dois e ao terceiro, um... O servo que havia recebido cinco talentos... lucrou outros cinco... o que havia recebido dois lucrou outros dois. Mas aquele que havia recebido um só... escondeu o dinheiro do seu senhor. ... o senhor voltou e foi ajustar contas com os servos. Aquele que havia recebido cinco talentos entregou-lhe mais cinco, dizendo: 'Senhor... Aqui estão mais cinco que lucrei'. O senhor lhe disse: 'Parabéns, servo bom e fiel!..'.. o que havia recebido dois talentos disse: 'Senhor... Aqui estão mais dois que lucrei'. O senhor lhe disse: 'Parabéns...'; aquele que havia recebido um só talento disse: 'Senhor... fiquei com medo e escondi o teu talento no chão...'. O senhor lhe respondeu: 'Servo mau e preguiçoso!... Então devias ter depositado meu dinheiro no banco, para que, ao voltar, eu recebesse com juros... Em seguida, o senhor ordenou: '...quanto a este servo inútil, lançai-o fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes!'."
Meditação:
Esta longa parábola de Mateus tem um enredo que causa estranheza. Nela encontramos alguma semelhança com fatos da vida real, característicos de uma sociedade oportunista de mercado e lucro. Por sua complexidade pode-se perceber que, a partir de um dito de Jesus, sofreu acréscimos ao ser transmitida.
Mateus a insere no discurso escatológico de Jesus para estimular à operosidade
as suas comunidades vacilantes e inertes, à espera da uma parusia que tardava.
Não basta estar preparado, esperando passivamente a manifestação de Jesus. É
preciso arriscar e lançar-se à ação, para que os dons recebidos frutifiquem e
cresçam. Jesus confiou à comunidade cristã a revelação da vontade de Deus e a
chave do Reino. No julgamento, ele pedirá contas por esse dom. A comunidade o
repartiu e o fez crescer, ou o escondeu dos homens?
Tudo o que nós recebemos de Deus vem na medida certa, de acordo com a nossa
capacidade, nem mais nem menos do que poderíamos receber. Portanto, cabe a cada
um de nós assumirmos os talentos que dele recebemos com humildade e
perseverança, pois seremos cobrados pelo que auferimos.
Às vezes nos subestimamos e entendemos que não possuímos dons como as outras
pessoas e nos negamos a perceber qual a aptidão que nos foi presenteada por
Deus. Neste caso estamos enterrando o talento, pois não queremos assumi-lo por
falsa modéstia, por preguiça, por comodismo e até por orgulho.
Aquele (a) que se acha muito pequeno (a) e, por isso, se encosta e se acomoda
está cometendo um erro incorrigível. Será tirado dele (a) até o dom que ele (a)
tinha inclinação para fazer prosperar e não o fez porque não o colocou
Achar-se
Não se pode esquecer o principio de proporcionalidade ao interpretar a parábola
de hoje. O viajante dá a cada um "segundo sua capacidade", segundo a
medida de suas possibilidades e não segundo sua ambição ou sua incapacidade de
assumir as responsabilidades. Ao ler esta parábola nos damos conta de que nossa
atitude não é a de dar mais, mas de pedir mais.
Não temos uma oração de ofertas, mas sim de
petições. Queremos mais, mas fazemos muito pouco com aquilo que já temos.
Deixamos-nos arrastar pela lógica do consumo, do acúmulo, do ter. A parábola
nos propõe um desafio ao nos perguntar o que fazemos com o que recebemos e que
podemos dar.
A parábola não diz que quem já dá tem que dar mais,
mas que cada um tem que compartilhar de acordo com suas possibilidades. Alguns
darão mais porque receberam mais; outros darão menos porque produziram menos,
mas todos os que dão devem oferecer cem por cento de suas possibilidades. Dar é
questão de atitude generosa e não de posse egoísta.
O que você tem feito com os seus dons? Você se acha muito sem expressão,
incapaz de realizar alguma coisa? Não será porque você está confiando somente
em você mesmo (a) e esquecendo-se daquele que lhe deu a vida? Você não acha que
a sua vida já é um dom muito precioso? O que você tem feito dela?
Infelizmente, no passado, o significado desta parábola
foi habitualmente confundido, ou pelo menos muito reduzido. Quando escutamos
falar dos talentos, pensamos imediatamente nos dons naturais de inteligência,
beleza, força, capacidades artísticas. A metáfora é usada para falar de atores,
cantores, comediantes...
O uso não é totalmente equivocado, mas sim secundário. Jesus não pretendia
falar da obrigação de desenvolver os dons naturais de cada um, mas de fazer
frutificar os dons espirituais recebidos dele. A desenvolver os dotes naturais
já nos impulsiona a natureza, a ambição, a sede de lucro. Às vezes, ao contrário,
é necessário frear esta tendência de fazer valer os próprios talentos, porque
pode converter-se facilmente em afã por fazer carreira e por impor-se sobre os
demais.
Os talentos dos quais Jesus fala são a Palavra de Deus, a fé, ou seja, o Reino
que Ele anunciou. Neste sentido, a parábola dos talentos se conecta com a do
semeador. À sorte diferente da semente que ele lançou – que em alguns casos
produz sessenta por cento; em outras, ao contrário, fica entre os espinhos, ou
são comidas pelos pássaros do céu –, corresponde aqui o diferente lucro
realizado com os talentos.
Os talentos são, para nós, cristãos de hoje, a fé e os sacramentos que
recebemos. A palavra nos obriga a fazer um exame de consciência: que uso
estamos fazendo destes talentos? Nós nos parecemos com o servo que os faz
frutificar ou com o que os enterra? Para muitos, o próprio batismo é
verdadeiramente um talento enterrado. Podemos compará-lo a um presente que se
recebeu de Natal e que foi esquecido num lugar, sem nunca tê-lo aberto ou
jogado fora.
Os frutos dos talentos naturais acabam conosco ou, quando muito, passam aos herdeiros;
os frutos dos talentos espirituais nos seguem à vida eterna e um dia nos
valerão a aprovação do Juiz divino: «Muito bem, servo bom e fiel! Foste fiel no
pouco, e por isso eu te darei autoridade sobre o muito: toma parte no gozo de
teu senhor».
Nosso dever humano e cristão não é só desenvolver nossos talentos naturais e
espirituais, mas também de ajudar os demais a desenvolverem os seus.
No mundo moderno existe uma profissão que se chama, em
inglês, talent-scout, descobridor de talentos. São pessoas que sabem encontrar
talentos ocultos – de pintor, cantor, ator, jogador de futebol – e os ajudam a
cultivar seu talento e a encontrar um patrocinador.
Não o fazem de graça, naturalmente, nem por hobby, mas
para ter uma porcentagem em seus lucros, uma vez que se afirmaram.
O Evangelho nos convida a ser talent-scout, «descobridores de talentos», mas
não por amor ao lucro, e sim para ajudar quem não tem a possibilidade de
afirmar-se sozinho.
Propósito:
Pai, transforma-me em discípulo responsável que sabe aproveitar
cada circunstância para fazer frutificar os dons que me concedes, colocando-os
a serviço do meu próximo.
Salmo
23
1 O Senhor é o meu pastor; nada me
faltará.
2 Deitar-me faz em pastos verdejantes;
guia-me mansamente a águas tranqüilas.
3 Refrigera a minha alma; guia-me nas
veredas da justiça por amor do seu nome.
4 Ainda que eu ande pelo vale da sombra
da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu
cajado me consolam.
5 Preparas uma mesa perante mim na
presença dos meus inimigos; unges com óleo a minha cabeça, o meu cálice
transborda.
6 Certamente que a bondade e a
misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do
Senhor por longos dias.
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