23 - Que o nosso Santo
Patriarca obtenha de Deus para todos, as graças mais necessárias.
(L 205). São José Marello
Jesus e a
samaritana. - Jo 4,5-42
Chegou,
pois, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da propriedade que Jacó
tinha dado a seu filho José. Havia ali a fonte de Jacó. Jesus, cansado da
viagem, sentou-se junto à fonte. Era por volta do meio-dia. Veio uma mulher da
Samaria buscar água. Jesus lhe disse: “Dá-me de beber!” Os seus discípulos
tinham ido à cidade comprar algo para comer. A samaritana disse a Jesus: “Como
é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?”
Jesus respondeu: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te diz:
‘Dá-me de beber’, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva”. A mulher disse:
“Senhor, não tens sequer um balde, e o poço é fundo; de onde tens essa água
viva? Serás maior que nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual bebeu ele
mesmo, como também seus filhos e seus animais?” Jesus respondeu: “Todo o que
beber desta água, terá sede de novo; mas quem beber da água que eu darei, nunca
mais terá sede, porque a água que eu darei se tornará nele uma fonte de água
jorrando para a vida eterna”. A mulher disse então a Jesus: “Senhor, dá-me
dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem tenha de vir aqui tirar água”.
[...] A mulher disse-lhe: “Eu sei que virá o Messias (isto é, o Cristo); quando
ele vier, nos fará conhecer todas as coisas”. Jesus lhe disse: “Sou eu, que
estou falando contigo”. Nisto chegaram os discípulos e ficaram admirados ao ver
Jesus conversando com uma mulher. Mas ninguém perguntou: “Que procuras?”, nem:
“Por que conversas com ela?”. A mulher deixou a sua bilha e foi à cidade,
dizendo às pessoas: “Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não
será ele o Cristo?” [...] Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram em Jesus
por causa da palavra da mulher que testemunhava: “Ele me disse tudo o que eu fiz”.
[...]
MEDITAÇÃO
O Evangelho
de hoje (Jo 4,5-42), quase um capítulo inteiro, é tirado do Quarto Evangelho e,
portanto, tem que ser interpretado levando em conta as características do
Evangelho de João - entre eles, o uso de símbolos (pessoas, eventos, coisas e
números) e de “mal-entendidos” para dar oportunidade para uma explicação mais
profunda sobre a pessoa e missão de Jesus. O capítulo é tão denso, que é
impossível fazer jus ao seu conteúdo numa curta reflexão.
O evangelho de João é pródigo em longos diálogos de Jesus.
Dentre eles, um dos mais belos é este diálogo com a mulher samaritana. A
admirável forma poética do diálogo está tecida com inúmeros fios de simbolismo.
Deste modo, João Evangelista, “o teólogo”, sabia expor a
doutrina de Cristo em trechos vivos com diálogos e detalhes que convidam a
penetrar sempre fundo nos mistérios de Jesus, impregnando cada um sua vida com
suas mensagens redentoras.
O texto nos apresenta Jesus como a fonte de onde jorra a vida
eterna. Ao entrarmos em contato íntimo com essa Rocha que é Jesus, somos
conduzidos a uma profunda revisão de vida que tem como ponto de apoio o mais
profundo da consciência. Ao tomar dessa água, todas as coisas se transformam.
No encontro com a samaritana, Jesus desenvolve uma pedagogia
catequética: da sua sede, passa a água que Ele próprio oferece; começa por ser
apenas um judeu, para passar a ser um profeta, o Messias e, finalmente, o
Salvador do mundo. Jesus espera, também, o mesmo percurso de fé de cada um de
nós; espera que O encontremos nas pequenas circunstâncias da vida para O
escutarmos, e encontrando-O e reconhecendo-O como Salvador do mundo O possamos
anunciar publicamente, para ajudar outros a percorrer a mesma vivência pessoal
de fé.
A Samaritana,
quantas dezenas ou centenas de vezes tinha ido àquele poço! Uma vez, sucede
algo de novo – o encontro com Jesus –, que causa uma reviravolta na sua vida.
Pode-nos acontecer algo de semelhante, em pleno quotidiano!
Jesus toma a sério aquela mulher que, como nós tantas vezes,
começa por tentar desconversar, trivializar a problemática profunda que lhe
envolve a alma. Mas Jesus é hábil na aproximação, sabe provocar e conduzir o
diálogo. Toma Ele a iniciativa, escuta, estimula o desabafo, pergunta o que já
sabe, faz com que a mulher enfrente a verdade que liberta. Sedenta de
felicidade, a Samaritana bebe, a tragos, a progressiva descoberta do Messias
(que Se lhe revela como tal, a ela!). Saciada a sua sede, transforma-se ela
própria em fonte, atrai outros a Jesus. Beber a felicidade do encontro com
Jesus Cristo! Ser fonte que jorra a notícia de que Ele, só Ele, é
verdadeiramente o Salvador do mundo! Por causa do testemunho da mulher,
os samaritanos acolheram Jesus, e muitos creram nele e chegaram à profissão de
fé em Jesus como o Salvador do mundo (vv. 39-42).
O texto
mostra bem como a proposta de Jesus para os seus seguidores é inclusiva - a
mulher representa os que são excluídos, por motivo de pobreza, gênero, raça ou
religião. Jesus não aceita a exclusão de quem quer que seja. Até os discípulos
se chocaram quando encontraram Jesus dialogando com a mulher, pois as suas
cabeças ainda trabalharam com os conceitos de “puro e impuro”, de “eles e nós”.
Jesus veio para acabar com essas divisões, muitas vezes criadas em nome da
religião e de Deus, com conseqüências desastrosas. O contato com a fonte de
água viva nos impulsiona para a criação de comunidades alternativas, baseadas
na vivência de solidariedade, paz e justiça, na dinâmica do Reino de Deus.
Aqui
encontramos o convite para querer conhecer “o dom de Deus” e “Aquele” que pede
de beber. Duas realidades que se identificam e que exigem um trabalho de
“reconhecimento” do mesmo “dom” através de compromissos bem delineados.
São variados
os caminhos que permitem este novo conhecimento e reconhecimento. Por muito
esforço que façamos, estaremos sempre a sublinhar a importância de realidades
já conhecidas a que deveremos dar sentido novo. Jesus é a revelação de que Deus
está presente em todos os valores de todos os povos e culturas, conferindo uma
dimensão de eternidade a todo ato de amor que promove a vida.
Voltemos ao
texto que nos acompanhou nesta reflexão. O convite de Cristo a conhecer o “dom”
de Deus foi acolhido pela samaritana e muitos outros Lhe pediram que ficasse
com eles. Ele ficou dois dias e eles quiseram “ficar com Ele”. O resultado foi
que acreditaram não só por causa da Palavra dita. Chegaram a uma experiência
pessoal “Nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é realmente o Salvador do mundo”.
Vamos ensinar
o caminho da Fonte Inesgotável para todos aqueles que têm sede de justiça, de
fraternidade e de amor. O mundo inteiro precisa saber desta verdade: Jesus, a
Água Viva, é a verdadeira Paz e está presente no meio de nós! Poderia haver
notícia melhor? Quem foi "fonte" para mim? A quem devo "puxar
pela manga", para lhe transmitir a Boa Nova?
Exemplo: "Pai – perguntou o filho –
quanto ganhas por hora? Que coisas perguntas, filho, tão impróprias – respondeu
o pai. Nem tua mãe sabe disso e eu nem me preocupo com a hora. Sei o que ganho
no mês. -Mas pai, eu quero saber quanto é o preço de tua hora. -Vá dormir,
filho, e não me aborreças com tuas impertinências. Mas uma vez o filho na cama
fez a mesma pergunta e o pai ficou inquieto e resolveu saber o porquê da mesma.
Fez os cálculos e foi ao encontro do filho. Após um beijo o pai disse: Mais ou
menos 10 reais. O pequeno então pediu: Pai, dá-me cinco porque eu tenho
poupados mais outros cinco e quero te pagar para ter uma hora de conversa
contigo. A conversa da Samaritana suscitou esta pequena anedota, porque nos
dias de hoje falta conversa. Não só entre amigos, entre marido e mulher, mas
também entre pais e filhos para nos aproximarmos mais deles e entendermos
melhor as repostas que eles querem dar aos problemas da vida."
Oremos: Pai, em Jesus, tu nos destes um dom
precioso. Dá-me a graça de reconhecê-lo e acolhê-lo, cheio de fé, e deixar
minha vida ser transformada por Ele que tem sempre feito com amor a Sua
vontade: nisto consistia sua força! Percebo que eu também quando cumpro de
gosto sua vontade, fico sereno e cheio de vigor. Obrigado, ó Senhor, por seu
exemplo; cumpra-se em mim aquilo que o Senhor quer!
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