15 outubro - Sofrer ou morrer! Após ter
experimentado quanto fosse sublime sofrer com Jesus, Santa Teresa descobriu que
morrer era infinitamente mais nobre, porque sinal de união eterna com o Esposo
Divino. (L 232). São José Marello
Ano A
28º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 28º Domingo
do Tempo Comum
A liturgia do 28º
Domingo do Tempo Comum utiliza a imagem do “banquete” para descrever esse mundo
de felicidade, de amor e de alegria sem fim que Deus quer oferecer a todos os
seus filhos.
EVANGELHO
– Mateus 22,1-14
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele
tempo,
Jesus dirigiu-Se de novo
aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo
e, falando em parábolas, disse-lhes:
«O reino dos Céus pode comparar-se a um rei
que preparou um banquete nupcial para o seu filho.
Mandou os servos chamar os convidados para as bodas,
mas eles não quiseram vir.
Mandou ainda outros servos, ordenando-lhes:
‘Dizei aos convidados:
Preparei o meu banquete, os bois e os cevados foram abatidos,
tudo está pronto. Vinde às bodas’.
Mas eles, sem fazerem caso,
foram um para o seu campo e outro para o seu negócio;
os outros apoderaram-se dos servos,
trataram-nos mal e mataram-nos.
O rei ficou muito indignado e enviou os seus exércitos,
que acabaram com aqueles assassinos e incendiaram a cidade.
Disse então aos servos:
‘O banquete está pronto, mas os convidados não eram dignos.
Ide às encruzilhadas dos caminhos
e convidai para as bodas todos os que encontrardes’.
Então os servos, saindo pelos caminhos,
reuniram todos os que encontraram, maus e bons.
E a sala do banquete encheu-se de convidados.
O rei, quando entrou para ver os convidados,
viu um homem que não estava vestido com o traje nupcial.
E disse-lhe:
‘Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?’.
Mas ele ficou calado.
O rei disse então aos servos:
‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o às trevas exteriores;
aí haverá choro e ranger de dentes’.
Na verdade, muitos são os chamados,
mas poucos os escolhidos».
Continuamos em Jerusalém, nos dias que antecedem a Páscoa. Os
dirigentes religiosos judeus aumentam a pressão sobre Jesus. Instalados nas
suas certezas e seguranças, já decidiram que a proposta de Jesus não vem de
Deus; por isso, rejeitam de forma absoluta o Reino que ele anuncia.
O texto que nos é hoje proposto faz parte de um bloco de três parábolas (cf. Mt
21,28-32. 33-43; 22,1-14), destinadas a ilustrar a recusa de Israel em aceitar
o projeto que Deus oferece aos homens através de Jesus. Com elas, Jesus convida
os seus opositores – os líderes religiosos judaicos – a reconhecerem que se
fecharam num esquema de auto - suficiência, de orgulho, de arrogância, de
preconceitos, que não os deixa abrir o coração e a vida aos dons de Deus. O
nosso texto é a última dessas três parábolas.
A crítica do texto mostra que Mateus juntou aqui duas parábolas diferentes: a
parábola dos convidados para o “banquete” (que é comum a Mateus e Lucas, embora
as duas versões apresentem diferenças consideráveis – cf. Mt 22,1-10; Lc 14,15-24)
e a parábola do convidado que se apresentou sem o traje adequado (que é
exclusiva de Mateus – cf. Mt 22,11-14). Originalmente, as duas parábolas teriam
ensinamentos diferentes; mas a temática comum do “banquete” aproximou-as e
juntou-as.
As nossas duas parábolas situam-nos, portanto, no cenário de um “banquete”. Já
dissemos (a propósito da primeira leitura deste domingo) que o “banquete” era,
na cultura semita, o lugar do encontro, da comunhão, do estreitamento de laços
familiares entre os convivas. Além disso, o “banquete” era também a cerimónia
através da qual se confirmava o “status” das pessoas e o seu lugar dentro da
escala social. Quem organizava um “banquete” – por exemplo, por ocasião do
casamento de um filho – procurava fazer uma seleção cuidada dos convidados: a
presença de gente “desclassificada” faria descer consideravelmente, aos olhos
de toda a comunidade, o “status” da família; e, por outro lado, a presença à
mesa de pessoas importantes realçava a importância e a honra da família.
A primeira parábola é a parábola dos convidados para o “banquete”
(vers. 1-10). Apresenta-nos um rei que organizou um banquete para celebrar o
casamento do seu filho. Convidou várias pessoas, mas os convidados recusaram-se
a participar no “banquete”, apresentando as desculpas mais inverosímeis. Mateus
chega a dizer (um dado que não aparece no relato de Lucas) que teriam até
assassinado os emissários do rei… Trata-se de um quadro gravíssimo: recusar o
convite era uma ofensa inqualificável; mas, como se isso não bastasse, esses
convidados indignos manifestaram um desprezo inconcebível pelo rei, matando os
seus servos. O rei enviou então as suas tropas que castigaram os assassinos
(vers. 7. Esta referência não aparece no relato de Lucas… É uma provável interpretação
da destruição de Jerusalém pelos exércitos romanos de Tito, no ano 70. Isso
significa que a versão que Mateus nos dá da parábola é posterior a essa data).
O rei resolveu, apesar de tudo, manter a festa e mandou que fossem trazidos
para o “banquete” todos aqueles fossem encontrados nas “encruzilhadas dos
caminhos”. E esses desclassificados, esse “povo da terra”, que nunca se tinha
sentado à mesa de um personagem importante (com tudo o que isso significava em
termos de comunhão e de estabelecimento de laços de família e de amizade),
celebrou a festa à mesa do rei.
O sentido da parábola é óbvio… Deus é o rei que convidou Israel para o
“banquete” do encontro, da comunhão, d
a chegada dos tempos messiânicos (as bodas do “filho”). Os sacerdotes, os escribas,
os doutores da Lei recusaram o convite e preferiram continuar agarrados aos
seus esquemas, aos seus preconceitos, aos seus sistemas de auto - salvação.
Então, Deus convidou para o “banquete” do Messias esses pecadores e
desclassificados que, na perspectiva da teologia oficial, estavam arredados da
comunhão com Deus e do Reino.
Esta parábola explicita bem o cenário em que o próprio Jesus se move… Ele
aparece, com frequência, a participar em “banquetes” ao lado de gente duvidosa
e desclassificada, ao ponto de os seus inimigos o acusarem de “comilão e
bebedor de vinho, amigo de publicanos e de pecadores” (Mt 11,19; Lc 7,34).
Porque é que Jesus participa nesses “banquetes”, correndo o risco de adquirir
uma fama tão desagradável? Porque no Antigo Testamento – como vimos na primeira
leitura – os tempos messiânicos são descritos com a imagem de um “banquete” que
Deus prepara para todos os povos. Ora, Jesus tem consciência de que, com Ele,
esses tempos chegaram; e utiliza o cenário do “banquete” para expressar a
realidade do Reino (a mesa da festa, do amor, da comunhão com Deus, para a qual
todos os homens e mulheres, sem excepção, são convidados). Para Ele, o
sentar-se à mesa com os pecadores é uma forma privilegiada de lhes dizer que
Deus os acolhe com amor e que quer estabelecer com eles relações de comunhão e
de familiaridade, sem excluir ninguém do seu convívio ou da sua comunidade.
Os líderes de Israel, no entanto, sempre reprovaram a Jesus esse contacto com
os pecadores e os desclassificados… Para eles, os publicanos e as prostitutas,
por exemplo, estavam definitivamente arredadas da comunidade da salvação.
Sentá-los à mesa do “banquete” do Reino é algo de inaudito e que os líderes de
Israel acham absolutamente inapropriado.
É muito provável que, originalmente, a parábola tivesse servido a Jesus para
responder àqueles que o acusavam de ter convidado para o “banquete” do Reino
todo o tipo de desclassificados e de pecadores. Jesus deixa claro que, na
perspectiva de Deus, a questão não é se tal ou tal pessoa tem o direito de se
sentar à mesa do Reino; mas a questão essencial é se se aceita ou não se aceita
o convite de Deus. Na verdade, os líderes de Israel recusaram o desafio de
Deus, enquanto que os pecadores e desclassificados o acolheram de braços
abertos.
Mais tarde, a comunidade cristã irá fazer uma releitura um pouco diferente da
parábola e utilizá-la para explicar porque é que os pagãos acolheram melhor do
que os judeus a Boa Nova do Reino.
A segunda parábola é a parábola do convidado que se apresentou na festa sem o
traje nupcial (vers. 11-14). O rei que organizou o “banquete” mandou, então,
lançá-lo fora da sala onde se realizava a festa.
A parábola constitui uma advertência àqueles que aceitaram o convite de Deus
para a festa do Reino, aderiram à proposta de Jesus e receberam o Baptismo.
Mateus escreve no final do século I (anos 80), quando os cristãos já tinham
esquecido o entusiasmo inicial e viviam instalados numa fé pouco exigente.
Consideravam que já tinham feito uma opção definitiva e que já tinham
assegurado a salvação. Mateus diz-lhes: cuidado, porque não chega entrar na
sala do “banquete”; é preciso, além disso, vestir um estilo de vida que ponha
em prática os ensinamentos de Jesus. Quem foi batizado e aderiu ao “banquete”
do Reino, mas recusou o traje do amor, da partilha, do serviço, da
misericórdia, do dom da vida e continua vestido de egoísmo, de arrogância, de
orgulho, de injustiça, não pode participar na festa do encontro e da comunhão
com Deus. Deus chamou todos os homens e mulheres para participarem no
“banquete”; mas só serão admitidos aqueles que responderem ao convite e mudarem
completamente a sua vida.
Na reflexão, considerar as seguintes questões:
• No nosso texto, a questão decisiva não é se Deus convida ou se
não convida; mas é se se aceita ou se não se aceita o convite de Deus para o
“banquete” do Reino. Os convidados que não aceitaram o convite representam
aqueles que estão demasiado preocupados a dirigir uma empresa de sucesso, ou a
escalar a vida a pulso, ou a conquistar os seus cinco minutos de fama, ou a
impor aos outros os seus próprios esquemas e projetos, ou a explorar o bem
estar que o dinheiro lhes conquistou e não têm tempo para os desafios de Deus.
Vivemos obcecados com o imediato, o politicamente correto, o palpável, o
material, e prescindimos dos valores eternos, duradouros, exigentes, que exigem
o dom da própria vida. A questão é: onde é que está a verdadeira felicidade?
Nos valores do Reino, ou nesses valores efémeros que nos absorvem e nos
dominam?
• Os convidados que não aceitaram o convite representam também
aqueles que estão instalados na sua auto - suficiência, nas suas certezas,
seguranças e preconceitos e não têm o coração aberto e disponível para as
propostas de Deus. Trata-se, muitas vezes, de pessoas sérias e boas, que se
empenham seriamente na comunidade cristã e que desempenham papéis fundamentais
na estruturação dos organismos paroquiais… Mas “nunca se enganam e raramente
têm dúvidas”; sabem tudo sobre Deus, já construíram um deus à medida dos seus
interesses, desejos e projetos e não se deixam questionar nem interpelar. Os
seus corações estão, também, fechados à novidade de Deus.
• Os convidados que aceitaram o convite representam todos aqueles
que, apesar dos seus limites e do seu pecado, têm o coração disponível para
Deus e para os desafios que Ele faz. Percebem os limites da sua miséria e
finitude e estão permanentemente à espera que Deus lhes ofereça a salvação. São
humildes, pobres, simples, confiam em Deus e na salvação que Ele quer oferecer
a cada homem e a cada mulher e estão dispostos a acolher os desafios de Deus.
• A parábola do homem que não vestiu o traje apropriado convida-nos
a considerar que a salvação não é uma conquista, feita de uma vez por todas,
mas um sim a Deus sempre renovado, e que implica um compromisso real, sério e
exigente com os valores de Deus. Implica uma opção coerente, contínua, diária
com a opção que eu fiz no Baptismo… Não é um compromisso de “meias tintas”, de
tentativas falhadas, de “tanto se me dá como se me deu”; mas é um compromisso
sério e coerente com essa vida nova que Jesus me apresentou.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 28º Domingo do Tempo Comum,
procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma
leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação
comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo
de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a
semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
Jesus compara Deus seu Pai a um rei que celebra as bodas do seu filho: nada é
mais belo para a festa, e os convidados são numerosos, mas eles declinam o
convite, encontrando desculpas, algumas que vão até a maltratar e a matar os
que fazem o convite. O rei poderia resignar-se, mas não: é preciso que a sala do
banquete esteja cheia. Tal é a prodigalidade de Deus: parece querer que todos
tenham recebido o convite, «os maus e os bons». Que criticar a este rei e a
este Deus? De se contentar em convidar com o risco de apanhar com recusas? Deus
convida sempre, espera uma resposta: «felizes os convidados para a Ceia do
Senhor».
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