4 outubro - No segredo se forma o
herói, tal como desabrocha a semente na natureza. (L 23). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Lucas 9,57-62
"Quando Jesus e os discípulos iam pelo caminho, um homem disse a Jesus:
- Eu estou pronto a
seguir o senhor para qualquer lugar onde o senhor for.
Então Jesus disse:
- As raposas têm as suas
covas, e os pássaros, os seus ninhos. Mas o Filho do Homem não tem onde
descansar.
Aí ele disse para outro
homem:
- Venha comigo.
Mas ele respondeu:
- Senhor, primeiro deixe
que eu volte e sepulte o meu pai.
Jesus disse:
- Deixe que os mortos sepultem
os seus mortos. Mas você vá e anuncie o Reino de Deus.
Outro homem disse:
- Eu seguirei o senhor,
mas primeiro deixe que eu vá me despedir da minha família.
Jesus respondeu:
- Quem começa a arar a
terra e olha para trás não serve para o Reino de Deus."
Meditação:
Em Mateus, na passagem paralela a esta, Jesus e os
discípulos preparavam-se para atravessar o mar em direção a Gadara.
A caminhada que Jesus aqui inicia com os discípulos é mais
teológica do que geográfica. Lucas não tem a pretensão de nos descrever os
lugares por onde Jesus vai passar até chegar a Jerusalém.
Seu objetivo é apresentar um itinerário espiritual, ao longo do
qual Jesus vai mostrando aos discípulos os valores do Reino e os vai
presenteando com a plenitude da revelação de Deus.
É o caminho que terá o seu fim na Paixão Morte e Ressurreição do
Mestre. Portanto, trata-se do caminho no qual se vai irromper a salvação
definitiva. Como discípulos, somos exortados a seguir este caminho, para nos
identificarmos plenamente com Jesus.
Este caminho é penoso e exigente. Alias como se costuma dizer: a
rapadura é mole, mas não é mole não!
Lucas apresenta –
através do diálogo entre Jesus e três candidatos a discípulos – algumas das condições para
percorrer, com Jesus, esse caminho que leva a Jerusalém, isto é, que leva ao
acontecer pleno da salvação.
O primeiro diálogo sugere que o discípulo deve despojar-se
totalmente das preocupações materiais: para o discípulo, o Reino tem de ser
infinitamente mais importante do que as comodidades e o bem-estar material: As
raposas têm as suas covas, e os pássaros, os seus ninhos. Mas o Filho do Homem
não tem onde descansar.
O segundo diálogo sugere que o discípulo deve desapegar-se desses
deveres e obrigações que, apesar da sua relativa importância, impedem uma
resposta imediata e radical ao Reino: Deixe que os mortos sepultem os seus
mortos. Mas você vá e anuncie o Reino de Deus.
O terceiro diálogo sugere que o discípulo deve desapegar-se de
tudo, para fazer do Reino a sua prioridade fundamental: nada – nem a própria família – deve adiar e demorar o compromisso com o
Reino: Quem começa a arar a terra e olha para trás não serve para o Reino de
Deus.
Não podemos ver estas exigências como normativas: noutras
circunstâncias, Ele mandou cuidar dos pais ( Mt 15,3-9); e os discípulos – nomeadamente Pedro – fizeram-se acompanhar das esposas
durante as viagens missionárias ( 1 Cor 9,5)
… O que estes ensinamentos pretendem
dizer é que o discípulo é convidado a eliminar da sua vida tudo aquilo que possa
ser um obstáculo no seu testemunho quotidiano do Reino.
Por isso, a nós discípulos de Jesus é proposto que o sigamos no
caminho de Jerusalém. Pois é por ele que chegaremos à salvação, à vida plena.
Trata-se de um caminho que implica a renúncia a nós mesmos, aos
nossos interesses, ao nosso orgulho, e um compromisso com a cruz, com a entrega
da vida, com o dom de nós próprios, com o amor até às últimas consequências.
Graças a Deus que nós temos um Pai paciente, compreensivo e
amoroso, que compreende os nossos medos, lutas e fraquezas.
Ele está sempre pronto a estender-nos a mão, a perdoar e a
aceitar-nos na Sua Igreja. Não porque nós mereçamos ou estejamos aptos, mas porque
Ele é AMOR.
Quando vacilarmos, choremos e arrependamo-nos dos nossos pecados, orando: -
"ajuda, Senhor, a minha falta de fé" (Mc 9:24).
No entanto, e sabendo nós da compreensão e amor do nosso Mestre e Senhor, temos
que olhar firmemente para a Obra, segurar firmemente a rabiça do arado e integrar-nos
no trabalho de Deus.
Não podemos desculpar toda a sorte de cobardia de certos cristãos
formais, pois a vitória só nos advém por segurarmos firmemente o arado e olhar
para Jesus, Autor e Consumador da nossa fé (Hb 12,2).
Não voltar para trás para a corrida dos covardes, dos
medrosos e dos derrotados, dos medíocres, antes mesmo da partida.
Jesus é exigente: quem está com a mão no arado não deve olhar para trás, mas
seguir em frente em resposta ao chamado para a missão.
Reflexão Apostólica:
Quantas vezes nos pegamos dizendo: “Senhor serei fiel, atendei meu pedido” ou “vamos rezar para que Deus possa abençoar nosso encontro”? Repare que nessa
segunda frase existe uma verdade e um medo. Verdade: Precisamos que Deus a nos ungir, que abençoe o local, a situação, que vá a
nossa frente (…); mas revela um
medo implícito. Dá para entender?
Se realmente temos fé falaríamos: “esse encontro (reunião, grupo, família)
é Dele e por Ele será abençoado”. De forma alguma estaríamos mandando em
Deus, mas declarando a autoridade Dele sobre a situação.
Talvez seja o sentimento (ou a falta dele) de “grau de parentesco” que nos impeça de
acreditar. Somos seus filhos e como filhos Ele nos concede a autoridade
de expulsar o mal, mas se não creio nisso, não consigo acreditar; não consigo
ter fé.
A fé é a primeira condição para as coisas acontecerem,
mas o tempo é segunda. A fé precisa resistir ao tempo, mas a modernidade tem
interferido em nossa vocação de esperar.
Aprendemos aos poucos a querer tudo para hoje, mais
tardar, amanhã; aprendemos aos poucos a por condições para servir, para ajudar,
para se entregar…
Existem pessoas que tem a boa vontade em servir mais
ainda carregam seus mortos. Pecados, erros e faltas do passado, que já foram
mortos, ainda são carregados.
Isso é tão nítido nas pessoas que mesmo conhecendo a Deus
ainda são amargas, ranzinzas, briguentas, fofoqueiras e às vezes colocam esses “cadáveres” como condição de continuar o serviço: “Amo a Deus, mas
vocês tem que gostar do jeito que eu sou”. Coisa nenhuma!
Ninguém merece receber nossas pedradas por não termos ainda conseguido
amadurecer na fé.
A vida é um bem comum a todos, o caminho também. Ele é
repleto de flores e pedras, mas o nosso livre arbítrio é que decide o que
levaremos por esse caminho. As flores e as pedras ficam no caminho, pois fazem
parte do caminho de nossa aprendizagem, mas só a levamos conosco se quisermos.
Irmãos difíceis carregam sacolas cheias de pedras, de passados,
de medos, de preceitos, de paradigmas (…) e todas as vezes que
são chamados a seguir uma vida melhor, não conseguem abandonar o peso que
acostumou a carregar durante anos, até mesmo décadas. Sacolas ou mochilas
cheias de pedras me fazem lembrar que Jesus um dia disse:
“(…) Não leveis nem ouro, nem prata, nem dinheiro em vossos cintos, nem mochila para a viagem,
nem duas túnicas, nem calçados, nem bastão; pois o operário merece o seu
sustento” (Mt 10, 9-10).
Talvez, para exercermos melhor nosso ministério de
serviço e em nossas funções no trabalho, na escola, na família, (…) seja imprescindível que não
carreguemos o passado nas costas. É preciso dar um basta
naqueles que dizem que o passado é nossa cruz e que precisamos carregá-lo.
O passado não é nossa cruz, pois como Cristo, ela (cruz)
também nos libertou. A cruz que realmente carregamos são as escolhas e
promessas que fazemos hoje e serão difíceis de se cumprir se além do peso da
cruz tenhamos que carregar as pedras.
Anunciaremos o reino de Deus em nossa vida e na dos que
nos cercam quando:
Tomamos conhecimento que somos filhos e não
escravos;
Abandonamos as pedras e mesmo nos tropeços conseguirmos ver as flores;
Acreditamos, como padre Fábio de Melo canta: “Que Deus me ama e não estou só, que Deus cuida de mim”.
Quando formos decidir algo em nossas vidas e na vida dos nossos, sejamos
convictos (as), custe o que custar.
Propósito:
Pai,
torna-me apto para o serviço do teu Reino, dando-me as virtudes necessárias
para não me desviar do caminho traçado por ti, mesmo devendo pagar um alto
preço por isso.
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