10 maio - A alma de Maria é um conjunto (complexo) de todas as perfeições, uma harmonia doce e agradável das virtudes mais lindas, de modo que, ao contemplá-la, nos sentamos estimulados a amá-la e a imitá-la. (S 235). São Jose Marello
João 15,1-8
No Antigo
Testamento, frequentemente se retrata Israel como a vinha (ou videira)
escolhida de Deus, que ele tem cuidado com muito amor, mas que deu frutas amargas.
Na primeira parte de João, vimos como Jesus substitui as instituições e festas
judaicas; agora ele se manifesta como a vinha do Novo Israel. Se ficarem unidos
a ele, os cristãos darão somente frutos que agradarão ao vinhateiro – o Pai. No
Antigo Testamento Deus muitas vezes ameaçava podar ou até desenraizar a vinha
improdutiva. Embora a vinha do Novo Israel não falhará, sempre haverá ramos
secos a serem tirados e queimados.
Na base deste texto
está a imagem da videira e da vinha como símbolo do povo de Deus, Israel.
Diversos textos do Antigo Testamento falam da videira referindo-se ao povo e a
Deus como seu agricultor. Talvez quem expresse melhor a relação entre a videira-povo
e Deus agricultor é onde se resume a história da relação desse povo com Deus
nestes termos: “Pois bem, a vinha de Javé dos exércitos é a casa de Israel, e
os homens de Judá são a sua plantação preciosa. Deles esperava o direito, mas o
que produziram foi a transgressão; esperava a justiça, mas o que apareceu foram
gritos de desespero”. Chama a atenção que Jesus se defina a si mesmo como
videira verdadeira. Em outras partes do evangelho se define como luz verdadeira
ou como verdadeiro pão do céu.
Jesus é a Videira, o
tronco, a Cabeça da Igreja; e nós somos seus ramos, seus membros. É a realidade
da Igreja fundada Nele e por Ele, para trazer de volta a humanidade para
Deus. Além de ser uma comunidade de fé, de esperança e de amor, Cristo a
constituiu sobre a terra como um "organismo visível", para levar a
humanidade toda a Deus. Ao mesmo tempo ela é uma Assembleia visível e uma
Comunidade espiritual; uma só realidade, ao mesmo tempo humana e divina.
Esse mistério pode
ser comparado ao mistério da Encarnação do Verbo, como diz o Concílio:
"Pois, assim como a natureza assumida pelo Verbo divino lhe serve de órgão
vivo de salvação, a Ele indissoluvelmente unido, de modo semelhante a estrutura
social da Igreja serve ao Espírito de Cristo, que a vivifica, para fazer
produzir o seu corpo místico".
É o mesmo que São
Paulo ensina aos Efésios: "É por Ele [Cristo] que todo o Corpo -
coordenado e unido por conexões que estão a seu dispor, trabalhando cada um
conforme a atividade que lhe é própria - efetua esse crescimento, visando à sua
plena edificação na caridade".
Jesus quis dotar a Sua
comunidade de uma estrutura que permanecerá até a consumação do Reino de Deus.
Como toda sociedade formada de homens e mulheres, Cristo sabia que sem uma
hierarquia, ela jamais poderia subsistir.
A família tem
necessidade do cabeça, o marido; a cidade precisa de um prefeito; o Estado
precisa de um governador; o país precisa ter o seu presidente. É conhecido o
provérbio que diz: "Dois capitães afundam um navio". Isto é verdade
também para a Igreja, por ser ela formada de pessoas humanas.
Antes de tudo o
Senhor quis escolher os Doze, com Pedro como o seu Chefe; a cabeça visível. “Designou
doze entre eles para ficar em sua companhia. Ele os enviava a pregar, com o
poder de expulsar os demônios. Escolheu estes Doze: Simão a quem pôs o nome de
Pedro...".
Em primeiro lugar
Jesus confiou o Reino de Deus aos Apóstolos: "Eu, pois, disponho do Reino
a vosso favor assim como o meu pai o dispôs a meu favor, para que comais e
bebais à minha mesa no meu Reino e vos senteis em tronos para julgar as doze
tribos de Israel".
Com Jesus começa uma
nova humanidade. Desta nova humanidade-videira participam os ramos-seguidores
na medida em que estejam unidos e identificados com a videira e deem frutos.
Isto é, cumpram sua missão de amar sem medida. O ramo que não se converte em
nova criatura, modelado à imagem e estilo de Jesus, isto é, o que não responde
à vida que recebe de Jesus e não a comunica a outros, não serve para nada. Ao
negar-se a amar e não fazer caso ao Filho–videira verdadeira, se coloca sob a
reprovação de Deus.
O ramo que não dá
fruto é aquele que pertence à comunidade, porém não responde ao Espírito, o que
come o pão, porém não se assemelha a Jesus. Ao que dá fruto o Pai a poda, fazendo-o
que elimine os fatores de morte que estejam nele, fazendo-o cada vez mais
autêntico e mais livre, e aumentando, deste modo, sua capacidade de entrega e
eficácia.
Jesus exorta a seus
discípulos a renovarem sua adesão a ele, olhando o fruto que hão de produzir. A
união com Jesus não é algo automático nem ritual. Pede a decisão pessoal, à
iniciativa dos discípulos responde a fidelidade de Jesus (eu permanecerei
convosco). Esta união mútua entre Jesus e os seus, vistos aqui como grupo, é a
condição para a existência da comunidade, para seu crescimento e para que
produza fruto. Os discípulos não terão verdadeiro amor ao ser humano sem o amor
a Jesus, e sem amor ao ser humano não há fruto possível.
O ramo não tem vida
própria e, portanto, não pode dar fruto por si; necessita da seiva, ou seja, o
Espírito comunicado por Jesus. Interromper a relação com Ele significa
desligar-se da fonte da vida e reduzir-se à esterilidade. Permanecendo em
Jesus, ele próprio permanecerá no discípulo, em comunhão de amor com o Pai. É o
dom da vida eterna ao discípulo, a qual não lhe será tirada.
A participação em
Jesus representa querer conformar-se a Ele. Esta é a sublimidade da realidade
espiritual cristã, ou seja, a vivência plena de um cristocentrismo que leva o
homem a ser visto e interpretado inteiramente à luz do mistério de Cristo.
“Todos os homens
são chamados a essa união com Cristo, que é a luz do mundo; dele viemos, para
ele vivemos, a ele nos dirigimos”. Aliás, o próprio Jesus asseverou: “Eu sou a videira e vós os ramos” e
a ordem do Pai foi esta: “Este é o meu filho amado, escutai-O”. Jesus
Cristo vive em seus epígonos e alarga o espaço dentro do coração de cada um,
fazendo-o disponível a acatá-lo e a amá-lo.
A Bíblia sempre
insiste que o fruto que Deus quer é a prática da justiça e solidariedade. Este
tema perpassa a Bíblia toda, tanto no Antigo como no Novo Testamentos. Mas os
cristãos somente poderão dar este fruto agradável se ficarem unidos a Jesus,
pois “sem mim, nada poderão fazer”. Mais uma vez volta-se à ideia que é pelos
frutos que se conhece a árvore. Com uma das piores distribuições de renda no
mundo, com uma das maiores concentrações de terras nas mãos de poucos, com
índios e sem-terra marginalizados, com tanta gente sofrida, talvez muita coisa
tenha que ser podado pelo Pai, para que realmente sejamos a verdadeira videira
na vinha do Senhor. Sem dúvida, há muita coisa realmente boa acontecendo nas
comunidades cristãs do Brasil, bem como na sociedade civil em geral, mas o
teste mesmo é a construção duma sociedade baseada na princípios de justiça,
fraternidade e solidariedade e não no lucro, competitividade e na lei da selva.
Até há pouco tempo, um dos sentimentos mais comuns em todas as camadas da sociedade era a da impotência. Parecia que éramos sem forças diante do rolo opressor do sistema hegemônico, do neo - liberalismo, da globalização, das forças do mercado. A arrogância estadunidense, confiante na força das suas armas e no poderio econômico, podia ter reforçado este sentimento. Seria fácil cairmos na tentação de desistir da luta para melhorar a sociedade, pois os resultados parecem ínfimos. Por isso urge cada vez mais ficarmos unidos a Jesus, na oração e no compromisso, a ele que parecia também um derrotado, mas que teve a vitória final na Ressurreição. Se sem ele, nada podemos fazer, o contrário é também verdade – com ele tudo podemos! Talvez não de maneira que gostaríamos, mas sem dúvida como co - construtores com ele do Reino de Deus.
As dificuldades
enfrentadas pelos movimentos populares em favor do excluídos e pelos setores
mais comprometidos das Igrejas, os sofrimentos dos mártires da caminhada e das
suas famílias, são podas – mas podas que darão mais fruto ainda. Como as forças
opressoras do Império Romano aliadas às elites do judaísmo não conseguiram
matar o projeto de Jesus, nem as forças opressoras de hoje conseguirão matar o
crescimento do Reino entre nós — uma vez que fiquemos unidos a Ele, e entre
nós, pois “sem mim, nada
poderão fazer”!
Recentemente,
aprendemos a fazer um enxerto e compreendemos como é íntima e absolutamente
imprescindível a seiva da planta mãe. Todavia a árvore vai desenvolver-se a
partir do enxerto. O sucesso do enxerto não depende muito da sua qualidade, nem
depende só da qualidade da receptora, depende sobretudo da qualidade da relação
que se estabelece entre as duas. A planta que é enxertada tem de ser colocada
dentro da planta receptora, totalmente envolvida e estreitamente unida. Penso
que a figura do enxerto é muito significativa pois o Senhor nos oferece a possibilidade
de viver com a força da sua seiva.
Oração: Pai,
reforçai nossa união com vosso Filho Jesus, de quem dependemos para produzir os
frutos que esperais de nós. Ajudai-nos a permanecer nos ensinamentos de Jesus e
transformá-los em ações concretas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário