quarta-feira, 10 de maio de 2023

Evangelho do dia 10 de maio quarta feira 2023

 10 maio - A alma de Maria é um conjunto (complexo) de todas as perfeições, uma harmonia doce e agradável das virtudes mais lindas, de modo que, ao contemplá-la, nos sentamos estimulados a amá-la e a imitá-la. (S 235). São Jose Marello

João 15,1-8

 ""Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, ele corta; e todo ramo que dá fruto, ele limpa, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra que vos falei. Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim, como eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim, nada podeis fazer. Quem não permanecer em mim será lançado fora, como um ramo, e secará. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados. Se permanecerdes em mim, e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos.""  

 O texto de hoje inicia a seção do quarto evangelho que tem os trechos que mais se aproximam aos discursos da vida pública de Jesus nos Sinóticos. Aqui temos um exemplo raro duma parábola em João – a da vinha e dos ramos, uma metáfora que expressa o amor íntimo entre Jesus e os seus discípulos. Em contraste, o seguinte segmento (15,18-16,4) vai tratar do ódio do mundo para com os seus seguidores. O evangelho nos apresenta mais uma auto -proclamação de Jesus: "Eu sou a videira...". Com a imagem do agricultor, da videira e seus ramos, Jesus realça a plena comunhão com ele e com o Pai, a que somos chamados.

 No Antigo Testamento, frequentemente se retrata Israel como a vinha (ou videira) escolhida de Deus, que ele tem cuidado com muito amor, mas que deu frutas amargas. Na primeira parte de João, vimos como Jesus substitui as instituições e festas judaicas; agora ele se manifesta como a vinha do Novo Israel. Se ficarem unidos a ele, os cristãos darão somente frutos que agradarão ao vinhateiro – o Pai. No Antigo Testamento Deus muitas vezes ameaçava podar ou até desenraizar a vinha improdutiva. Embora a vinha do Novo Israel não falhará, sempre haverá ramos secos a serem tirados e queimados.

 Na base deste texto está a imagem da videira e da vinha como símbolo do povo de Deus, Israel. Diversos textos do Antigo Testamento falam da videira referindo-se ao povo e a Deus como seu agricultor. Talvez quem expresse melhor a relação entre a videira-povo e Deus agricultor é onde se resume a história da relação desse povo com Deus nestes termos: “Pois bem, a vinha de Javé dos exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a sua plantação preciosa. Deles esperava o direito, mas o que produziram foi a transgressão; esperava a justiça, mas o que apareceu foram gritos de desespero”. Chama a atenção que Jesus se defina a si mesmo como videira verdadeira. Em outras partes do evangelho se define como luz verdadeira ou como verdadeiro pão do céu.

 Jesus é a Videira, o tronco, a Cabeça da Igreja; e nós somos seus ramos, seus membros. É a realidade da Igreja fundada Nele e por Ele, para trazer de volta a humanidade para Deus.  Além de ser uma comunidade de fé, de esperança e de amor, Cristo a constituiu sobre a terra como um "organismo visível", para levar a humanidade toda a Deus. Ao mesmo tempo ela é uma Assembleia visível e uma Comunidade espiritual; uma só realidade, ao mesmo tempo humana e divina.

 Esse mistério pode ser comparado ao mistério da Encarnação do Verbo, como diz o Concílio: "Pois, assim como a natureza assumida pelo Verbo divino lhe serve de órgão vivo de salvação, a Ele indissoluvelmente unido, de modo semelhante a estrutura social da Igreja serve ao Espírito de Cristo, que a vivifica, para fazer produzir o seu corpo místico".

 É o mesmo que São Paulo ensina aos Efésios: "É por Ele [Cristo] que todo o Corpo - coordenado e unido por conexões que estão a seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que lhe é própria - efetua esse crescimento, visando à sua plena edificação na caridade".

 Jesus quis dotar a Sua comunidade de uma estrutura que permanecerá até a consumação do Reino de Deus. Como toda sociedade formada de homens e mulheres, Cristo sabia que sem uma hierarquia, ela jamais poderia subsistir.

 A família tem necessidade do cabeça, o marido; a cidade precisa de um prefeito; o Estado precisa de um governador; o país precisa ter o seu presidente. É conhecido o provérbio que diz: "Dois capitães afundam um navio". Isto é verdade também para a Igreja, por ser ela formada de pessoas humanas.

 Antes de tudo o Senhor quis escolher os Doze, com Pedro como o seu Chefe; a cabeça visível. “Designou doze entre eles para ficar em sua companhia. Ele os enviava a pregar, com o poder de expulsar os demônios. Escolheu estes Doze: Simão a quem pôs o nome de Pedro...".

 Em primeiro lugar Jesus confiou o Reino de Deus aos Apóstolos: "Eu, pois, disponho do Reino a vosso favor assim como o meu pai o dispôs a meu favor, para que comais e bebais à minha mesa no meu Reino e vos senteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel".

 Com Jesus começa uma nova humanidade. Desta nova humanidade-videira participam os ramos-seguidores na medida em que estejam unidos e identificados com a videira e deem frutos. Isto é, cumpram sua missão de amar sem medida. O ramo que não se converte em nova criatura, modelado à imagem e estilo de Jesus, isto é, o que não responde à vida que recebe de Jesus e não a comunica a outros, não serve para nada. Ao negar-se a amar e não fazer caso ao Filho–videira verdadeira, se coloca sob a reprovação de Deus.

 O ramo que não dá fruto é aquele que pertence à comunidade, porém não responde ao Espírito, o que come o pão, porém não se assemelha a Jesus. Ao que dá fruto o Pai a poda, fazendo-o que elimine os fatores de morte que estejam nele, fazendo-o cada vez mais autêntico e mais livre, e aumentando, deste modo, sua capacidade de entrega e eficácia.

 Jesus exorta a seus discípulos a renovarem sua adesão a ele, olhando o fruto que hão de produzir. A união com Jesus não é algo automático nem ritual. Pede a decisão pessoal, à iniciativa dos discípulos responde a fidelidade de Jesus (eu permanecerei convosco). Esta união mútua entre Jesus e os seus, vistos aqui como grupo, é a condição para a existência da comunidade, para seu crescimento e para que produza fruto. Os discípulos não terão verdadeiro amor ao ser humano sem o amor a Jesus, e sem amor ao ser humano não há fruto possível.

 O ramo não tem vida própria e, portanto, não pode dar fruto por si; necessita da seiva, ou seja, o Espírito comunicado por Jesus. Interromper a relação com Ele significa desligar-se da fonte da vida e reduzir-se à esterilidade. Permanecendo em Jesus, ele próprio permanecerá no discípulo, em comunhão de amor com o Pai. É o dom da vida eterna ao discípulo, a qual não lhe será tirada.

 A participação em Jesus representa querer conformar-se a Ele. Esta é a sublimidade da realidade espiritual cristã, ou seja, a vivência plena de um cristocentrismo que leva o homem a ser visto e interpretado inteiramente à luz do mistério de Cristo.

 “Todos os homens são chamados a essa união com Cristo, que é a luz do mundo; dele viemos, para ele vivemos, a ele nos dirigimos”. Aliás, o próprio Jesus asseverou: “Eu sou a videira e vós os ramos” e a ordem do Pai foi esta: “Este é o meu filho amado, escutai-O”. Jesus Cristo vive em seus epígonos e alarga o espaço dentro do coração de cada um, fazendo-o disponível a acatá-lo e a amá-lo.

 A Bíblia sempre insiste que o fruto que Deus quer é a prática da justiça e solidariedade. Este tema perpassa a Bíblia toda, tanto no Antigo como no Novo Testamentos. Mas os cristãos somente poderão dar este fruto agradável se ficarem unidos a Jesus, pois “sem mim, nada poderão fazer”. Mais uma vez volta-se à ideia que é pelos frutos que se conhece a árvore. Com uma das piores distribuições de renda no mundo, com uma das maiores concentrações de terras nas mãos de poucos, com índios e sem-terra marginalizados, com tanta gente sofrida, talvez muita coisa tenha que ser podado pelo Pai, para que realmente sejamos a verdadeira videira na vinha do Senhor. Sem dúvida, há muita coisa realmente boa acontecendo nas comunidades cristãs do Brasil, bem como na sociedade civil em geral, mas o teste mesmo é a construção duma sociedade baseada na princípios de justiça, fraternidade e solidariedade e não no lucro, competitividade e na lei da selva.

 Até há pouco tempo, um dos sentimentos mais comuns em todas as camadas da sociedade era a da impotência. Parecia que éramos sem forças diante do rolo opressor do sistema hegemônico, do neo - liberalismo, da globalização, das forças do mercado. A arrogância estadunidense, confiante na força das suas armas e no poderio econômico, podia ter reforçado este sentimento. Seria fácil cairmos na tentação de desistir da luta para melhorar a sociedade, pois os resultados parecem ínfimos. Por isso urge cada vez mais ficarmos unidos a Jesus, na oração e no compromisso, a ele que parecia também um derrotado, mas que teve a vitória final na Ressurreição. Se sem ele, nada podemos fazer, o contrário é também verdade – com ele tudo podemos! Talvez não de maneira que gostaríamos, mas sem dúvida como co - construtores com ele do Reino de Deus.

 As dificuldades enfrentadas pelos movimentos populares em favor do excluídos e pelos setores mais comprometidos das Igrejas, os sofrimentos dos mártires da caminhada e das suas famílias, são podas – mas podas que darão mais fruto ainda. Como as forças opressoras do Império Romano aliadas às elites do judaísmo não conseguiram matar o projeto de Jesus, nem as forças opressoras de hoje conseguirão matar o crescimento do Reino entre nós — uma vez que fiquemos unidos a Ele, e entre nós, pois “sem mim, nada poderão fazer”!

 Recentemente, aprendemos a fazer um enxerto e compreendemos como é íntima e absolutamente imprescindível a seiva da planta mãe. Todavia a árvore vai desenvolver-se a partir do enxerto. O sucesso do enxerto não depende muito da sua qualidade, nem depende só da qualidade da receptora, depende sobretudo da qualidade da relação que se estabelece entre as duas. A planta que é enxertada tem de ser colocada dentro da planta receptora, totalmente envolvida e estreitamente unida. Penso que a figura do enxerto é muito significativa pois o Senhor nos oferece a possibilidade de viver com a força da sua seiva.

 Oração: Pai, reforçai nossa união com vosso Filho Jesus, de quem dependemos para produzir os frutos que esperais de nós. Ajudai-nos a permanecer nos ensinamentos de Jesus e transformá-los em ações concretas.

 

 

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