domingo, 16 de outubro de 2022

EVANGELHO DO DIA 23 DE OUTUBRO 2022 - 30º DOMINGO DO TEMPO COMUM


 23 de outubro - Nós não conseguiremos conhecer em seus segredos a grande economia da Providência, mas sabemos, com efeito, que a fé realiza todos os dias grandes milagres nas almas. (L 19). São Jose Marello


Leitura do santo Evangelho segundo São Lucas 18,9-14

 Naquele tempo, 9Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros:

10“Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos.
11O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. 12Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’.
13O cobrador de impostos, porém, ficou a distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!’
14Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.

Meditação:

Deus, justo por definição, não pode ser parcial. Contudo, a imparcialidade do Deus da Vida obriga-o a tomar partido por aqueles que a sociedade humana explora, exclui e abandona. Porque, embora pareça incrível, a imparcialidade de Deus busca restabelecer o equilíbrio nas relações humanas.

 O livro do Eclesiástico ou de Sirac (Eclo 35,15-17.20-22), como se denomina em Grego, faz com que ele enfrente uma cultura nova na qual a divindade está completamente alheia à história. Os deuses gregos viviam no limbo impenetrável de seu céu e intervinham no curso dos eventos movidos por caprichos individuais. As nuvens do Olimpo eram como uma porta blindada ao clamor do povo.

 Em Israel, ao contrário, a única coisa que distanciava o povo de seu Deus era o pecado; mas Deus se aproximava e tomava partido pelas vítimas. O pecado afasta do Deus de Israel, mas esse Deus se aproxima dos que são vítimas daquele pecado. Pobres, oprimidos, viúvas, órfãos sabem que seu clamor de justiça não se detém nas opacas nuvens do poder despótico do pecado humano, mas que as atravessa e chega até o Deus-juiz que não tolera a impunidade.

 O salmo (Sl 33/34) torna-se eco da oração do aflito. Não fala aqui um observador imparcial, mas alguém que sofre com a opressão e sabe que sua única esperança é o Deus e Senhor da história. As pessoas que sofrem experimentam a Deus como salvação, libertação e cura. Deus redime a vida dos que confiam nele. Por isso, o canto do atribulado é ao mesmo tempo um lamento e um hino à esperança.

 A 2ª Carta a Timóteo (2Tm 4,6-8.16-18) pode ser considerada como um testamento de Paulo, escrito por seus discípulos. Diante da iminência da morte nas mãos dos verdugos romanos, Paulo manda uma última mensagem à sua comunidade para animá-la a se manter fiel ao testemunho de Jesus e a não se deixar arrastar pelas modas intelectuais ou pelos despotismos que se instalam na burocracia das instituições. A integridade da mensagem está enraizada na fidelidade à experiência histórica de Jesus e à capacidade de atualizá-lo, vencendo os preconceitos das culturas.

 A maior parte das parábolas de Jesus tem como pano de fundo a vida das aldeias da Galiléia e reflete diferentes experiências da vida no campo. Somente umas poucas saem desse marco. Uma delas é a do fariseu e do publicano, situadas no contexto urbano e, mais concretamente, na cidade de Jerusalém: no recinto do templo, o lugar propício para a purificação e a redenção dos pecados.

A influência e a atração do templo ia além das fronteiras da Palestina, como o mostrava claramente a obrigação do pagamento do imposto ao templo por parte dos judeus que não viviam na Palestina. Pagar esse imposto se havia convertido, no tempo de Jesus, em um ato de devoção para com o templo, porque este tornava possível que os judeus manifestassem uma ralação saudável com Deus.

No tempo de Jesus a cobrança de impostos não era feita pelos romanos diretamente, mas indiretamente, atribuindo postos de arbítrio e postos de controle a pessoas das elites urbanas da aristocracia.

Essas elites, contudo, não trabalhavam em postos de arrecadação, elas deixavam a gestão das mesmas a gente simples, que trabalhava a troco de um salário de subsistência. Os arrecadadores de impostos praticavam sistematicamente a pilhagem e a extorsão dos campesinos.  Devido a isto, o povo tinha para com esses cobradores de impostos a mais forte hostilidade, por serem colaboracionistas do poder romano.

A população os odiava e os considerava ladrões. Tão desprestigiados estavam que se pensava que nem sequer podiam obter o arrependimento de seus pecados, pois para isso teriam que restituir todos os bens extorquidos, mais uma quinta parte, tarefa praticamente impossível ao trabalhar sempre com público diferente.

Isto faz pensar que o arrecadador de impostos da parábola era um alvo fácil dos ataques do fariseu, pois era pobre, socialmente vulnerável, virtualmente sem pudor e sem honra, o que é igual, um pária e marginal.

Em sua oração, o fariseu aparece centrado em si mesmo, naquilo que faz. Sabe o que não é: ladrão, injusto ou adúltero; nem tampouco como esse arrecadador, porém não sabe quem é na realidade. A parábola o levará a reconhecer quem é, precisamente não por aquilo que faz (jejuar, pagar o dizimo), mas por aquilo que deixa de fazer (relacionar-se bem com os demais).

O fariseu, além do mais, jejua duas vezes por semana e paga o dizimo de tudo que ganha. Faz inclusive mais do que está mandado na Torá. Porém, sua oração não é tão inocente. O que parece três classes diferentes de pecadores às quais ele alude (ladrão, injusto pecador) pode-se entender como três modos de descrever o arrecadador.

O arrecadador, contudo, reconhece com gestos e palavras que é pecador e nisso consiste sua oração. A mensagem da parábola é surpreendente, pois subverte a ordem estabelecida pelo sistema religioso judaico: há pessoas, que como o fariseu, acredita estar dentro e está fora, e há os que se crêem excluídos e estão dentro.

No relato, o fariseu se apresentou como um justo e agora este justo não é reconhecido; deve haver algo nele que o torne inaceitável aos olhos de Deus. Contudo, o arrecadador, nomeado com o nome de “esse” depreciativo, não é de modo algum desprezível. Que pecado teria cometido o fariseu? Talvez somente um: ter olhado com desprezo para o arrecadador e aos pecadores que ele representa. O fariseu se separa do arrecadador e o exclui do favor de Deus.

Deus, justificando o pecador sem condições, adora um comportamento diametralmente oposto ao que o fariseu lhe atribuía com tanta segurança. O erro do fariseu é o de ser “um justo que não é bom para com os demais”, enquanto que Deus acolhe graciosamente, inclusive o pecador. Esta parábola proclama, portanto, a misericórdia como valor fundamental do reino de Deus.

Com seu comportamento, o arrecadador rompe todas as expectativas e esquemas, desafia a pretensão do fariseu e do templo com seus meios redentores e reclama ser ouvido por Deus, já que não o era pelo sistema do templo e pela teologia oficial, representada pelo fariseu.

Se a interpretação da parábola é esta, então pode-se vislumbrar por que Jesus foi estigmatizado como amigo de arrecadadores e de pecadores e por que foi crucificado finalmente pelas elites de Jerusalém com a ajuda dos romanos e do povo.

Nesta parábola, portanto, se cumpre o que lemos no livro do Eclesiástico: “Deus não é parcial contra o pobre, escuta as súplicas do oprimido, não despreza os gritos do órfão ou da viúva quando repete sua queixa”. Deus está com os que o sistema deixou do lado de fora. Como esteve com Paulo de Tarso, que, apesar de não ter tido quem o defendesse, sentia que o Senhor estava a seu lado, dando-lhe forças.

Reflexão Apostólica

O ato de subir ao templo não é o que tem mais valia dos olhos de Deus, mas sim o sentimento com o qual nós nos dirigimos ao templo para adorá-Lo.

O reconhecimento da nossa limitação e da nossa incapacidade diante do pecado e o acolhimento da misericórdia revelada em Jesus Cristo é o que nos justifica diante do Pai.

 A oração do auto louvação, isto é, da admiração a nós mesmos pelas coisas boas que fazemos ou das coisas ruins que não praticamos é um discurso que não agrada ao Senhor.

Deus sonda os nossos corações e sabe como somos! Ele conhece as nossas misérias, por isso, a oração que proferirmos no silêncio será ouvida e agradável ou não aos Seus ouvidos, na medida da nossa humildade.

A idéia de humildade é muito deturpada pela mentalidade do mundo. Alguns acham que ser humilde é se rebaixar, deixar-se ser pisado, ficar calado diante das injustiças e ser explorado.

 Humilde é o homem ou a mulher que reconhecem a sua limitação e a medida da sua capacidade. Por isso, Deus quer de nós uma oração que parta de um coração contrito, arrependido, humilhado, penitente e dependente do amor de Jesus para ser salvo , porque é Ele quem nos justifica perante o Pai!

O poder pertence a Jesus Cristo, a ação é dele e nós, somos apenas instrumentos em Suas mãos misericordiosas. Se nos “acharmos justos” por nossa conta própria, não precisaremos de defensor, receberemos a nossa própria justiça. 

Como é a sua oração diante de Deus? Você costuma se auto-elogiar? Você reconhece a medida da sua capacidade e da sua incapacidade? Você tem voltado para a casa justificado, ou não? Você tem feito o exame da sua consciência diante do Senhor? Você crer que Jesus vê o seu coração? O que Ele acha de você?

 A oração revestida de tal soberba, de forma alguma pode ser agradável a Deus. Quem se serve dela, terá a humilhação como resposta.

O publicano situa-se no pólo oposto: mantém-se distante, de cabeça baixa, temendo erguer os olhos para os céus, pois tinha consciência de ser pecador, carente da misericórdia e do perdão divino. Sem títulos de grandeza nem provas de virtude, só lhe restava colocar-se, humildemente, nas mãos do Pai.

A oração do humilde toca o coração de Deus e é atendida. Ele vem em socorro de quem sabe reconhecer-se limitado e impotente para se salvar com as próprias forças.

Propósito:

Pai, faze-me consciente de minha condição de pecador, livrando-me da soberba que me dá a falsa ilusão de ser superior a meu próximo e mais digno de me dirigir a ti.



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