23 de outubro - Nós não conseguiremos conhecer em seus segredos a grande economia da Providência, mas sabemos, com efeito, que a fé realiza todos os dias grandes milagres nas almas. (L 19). São Jose Marello
10“Dois homens subiram ao Templo para
rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos.
11O fariseu, de pé, rezava assim em
seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens,
ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. 12Eu jejuo duas vezes por semana, e
dou o dízimo de toda a minha renda’.
13O cobrador de impostos, porém, ficou
a distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no
peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!’
14Eu vos digo: este último voltou para
casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se
humilha será elevado”.
Meditação:
Deus,
justo por definição, não pode ser parcial. Contudo, a imparcialidade do Deus da
Vida obriga-o a tomar partido por aqueles que a sociedade humana explora,
exclui e abandona. Porque, embora pareça incrível, a imparcialidade de Deus
busca restabelecer o equilíbrio nas relações humanas.
A influência e a atração do templo ia além das fronteiras da Palestina, como o
mostrava claramente a obrigação do pagamento do imposto ao templo por parte dos
judeus que não viviam na Palestina. Pagar esse imposto se havia convertido, no
tempo de Jesus, em um ato de devoção para com o templo, porque este tornava
possível que os judeus manifestassem uma ralação saudável com Deus.
No tempo de Jesus a cobrança de impostos não era feita pelos romanos
diretamente, mas indiretamente, atribuindo postos de arbítrio e postos de
controle a pessoas das elites urbanas da aristocracia.
Essas elites, contudo, não trabalhavam em postos de arrecadação, elas deixavam
a gestão das mesmas a gente simples, que trabalhava a troco de um salário de
subsistência. Os arrecadadores de impostos praticavam sistematicamente a
pilhagem e a extorsão dos campesinos.
Devido a isto, o povo tinha para com esses cobradores de impostos a mais
forte hostilidade, por serem colaboracionistas do poder romano.
A população os odiava e os considerava ladrões. Tão desprestigiados estavam que
se pensava que nem sequer podiam obter o arrependimento de seus pecados, pois
para isso teriam que restituir todos os bens extorquidos, mais uma quinta
parte, tarefa praticamente impossível ao trabalhar sempre com público
diferente.
Isto faz pensar que o arrecadador de impostos da parábola era um alvo fácil dos
ataques do fariseu, pois era pobre, socialmente vulnerável, virtualmente sem
pudor e sem honra, o que é igual, um pária e marginal.
Em sua oração, o fariseu aparece centrado em si mesmo, naquilo que faz. Sabe o
que não é: ladrão, injusto ou adúltero; nem tampouco como esse arrecadador,
porém não sabe quem é na realidade. A parábola o levará a reconhecer quem é,
precisamente não por aquilo que faz (jejuar, pagar o dizimo), mas por aquilo
que deixa de fazer (relacionar-se bem com os demais).
O fariseu, além do mais, jejua duas vezes por semana e paga o dizimo de tudo
que ganha. Faz inclusive mais do que está mandado na Torá. Porém, sua oração
não é tão inocente. O que parece três classes diferentes de pecadores às quais
ele alude (ladrão, injusto pecador) pode-se entender como três modos de
descrever o arrecadador.
O arrecadador, contudo, reconhece com gestos e palavras que é pecador e nisso
consiste sua oração. A mensagem da parábola é surpreendente, pois subverte a
ordem estabelecida pelo sistema religioso judaico: há pessoas, que como o
fariseu, acredita estar dentro e está fora, e há os que se crêem excluídos e
estão dentro.
No relato, o fariseu se apresentou como um justo e agora este justo não é
reconhecido; deve haver algo nele que o torne inaceitável aos olhos de Deus.
Contudo, o arrecadador, nomeado com o nome de “esse” depreciativo, não é de
modo algum desprezível. Que pecado teria cometido o fariseu? Talvez somente um:
ter olhado com desprezo para o arrecadador e aos pecadores que ele representa. O
fariseu se separa do arrecadador e o exclui do favor de Deus.
Deus, justificando o pecador sem condições, adora um comportamento
diametralmente oposto ao que o fariseu lhe atribuía com tanta segurança. O erro
do fariseu é o de ser “um justo que não é bom para com os demais”, enquanto que
Deus acolhe graciosamente, inclusive o pecador. Esta parábola proclama,
portanto, a misericórdia como valor fundamental do reino de Deus.
Com seu comportamento, o arrecadador rompe todas as expectativas e esquemas,
desafia a pretensão do fariseu e do templo com seus meios redentores e reclama
ser ouvido por Deus, já que não o era pelo sistema do templo e pela teologia
oficial, representada pelo fariseu.
Se a interpretação da parábola é esta, então pode-se vislumbrar por que Jesus
foi estigmatizado como amigo de arrecadadores e de pecadores e por que foi
crucificado finalmente pelas elites de Jerusalém com a ajuda dos romanos e do
povo.
Nesta parábola, portanto, se cumpre o que lemos no livro do Eclesiástico:
“Deus não é parcial contra o pobre, escuta as súplicas do oprimido, não
despreza os gritos do órfão ou da viúva quando repete sua queixa”. Deus está
com os que o sistema deixou do lado de fora. Como esteve com Paulo de Tarso,
que, apesar de não ter tido quem o defendesse, sentia que o Senhor estava a seu
lado, dando-lhe forças.
Reflexão Apostólica:
O
ato de subir ao templo não é o que tem mais valia dos olhos de Deus, mas sim o
sentimento com o qual nós nos dirigimos ao templo para adorá-Lo.
O
reconhecimento da nossa limitação e da nossa incapacidade diante do pecado e o
acolhimento da misericórdia revelada em Jesus Cristo é o que nos justifica
diante do Pai.
Deus
sonda os nossos corações e sabe como somos! Ele conhece as nossas misérias, por
isso, a oração que proferirmos no silêncio será ouvida e agradável ou não aos
Seus ouvidos, na medida da nossa humildade.
A
idéia de humildade é muito deturpada pela mentalidade do mundo. Alguns acham
que ser humilde é se rebaixar, deixar-se ser pisado, ficar calado diante das
injustiças e ser explorado.
O
poder pertence a Jesus Cristo, a ação é dele e nós, somos apenas instrumentos
em Suas mãos misericordiosas. Se nos “acharmos justos” por nossa conta própria,
não precisaremos de defensor, receberemos a nossa própria justiça.
Como
é a sua oração diante de Deus? Você costuma se auto-elogiar? Você
reconhece a medida da sua capacidade e da sua incapacidade? Você tem voltado
para a casa justificado, ou não? Você tem feito o exame da sua consciência
diante do Senhor? Você crer que Jesus vê o seu coração? O que Ele
acha de você?
O
publicano situa-se no pólo oposto: mantém-se distante, de cabeça baixa, temendo
erguer os olhos para os céus, pois tinha consciência de ser pecador, carente da
misericórdia e do perdão divino. Sem títulos de grandeza nem provas de virtude,
só lhe restava colocar-se, humildemente, nas mãos do Pai.
A
oração do humilde toca o coração de Deus e é atendida. Ele vem em socorro de
quem sabe reconhecer-se limitado e impotente para se salvar com as próprias forças.
Propósito:
Pai, faze-me consciente de minha condição de pecador,
livrando-me da soberba que me dá a falsa ilusão de ser superior a meu próximo e
mais digno de me dirigir a ti.
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