16 outubro - Tudo se vai
desenvolvendo pela corrente do tempo, e o tempo está nas mãos de Deus. (L 25).
São Jose Marello
Leitura
do santo Evangelho segundo São Lucas 18,1-8
Naquele
tempo, 1Jesus contou
aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e
nunca desistir, dizendo: 2“Numa cidade
havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. 3Na mesma
cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: ‘Faze-me justiça
contra o meu adversário!’
4Durante muito tempo, o juiz se
recusou. Por fim, ele pensou: ‘Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum. 5Mas está viúva
já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha agredir-me!’”
6E o Senhor acrescentou: “Escutai o que
diz este juiz injusto. 7E Deus, não
fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai
fazê-los esperar?
8Eu vos digo que Deus lhes fará justiça
bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar
fé sobre a terra?”
Meditação:
A Igreja oprimida pode esperar com toda a segurança
que sua oração será ouvida. Ela é, com efeito, a comunidade dos eleitos de
Deus. Acerca deles Deus já demonstrou sua misericórdia, pois precisamente
escolheu aqueles que menos títulos podiam invocar para o serem.
Neles, o Senhor ama a imagem de seu Filho, o
Eleito, o Ungido de Deus. Embora a oração dos eleitos não seja ouvida
imediatamente e eles tenham que perseverar suportando a opressão e o
sofrimento, podem conseguir novo ânimo pensando na sorte do Eleito, do Filho e
Ungido de Deus.
Jesus não recebe, sem a cruz, o título de Eleito. É manifestado como Eleito quando na Transfiguração se proclama seu caminho da glória através da cruz; com este título é indicado Cristo na cruz, porque parece impossível aos judeus que o Eleito fosse um crucificado. Jesus é o Escolhido porque pela salvação chega até a glória. O caminho do Eleito deve ser escolhido também pelos eleitos.
Lucas, em seu Evangelho, dá um destaque especial a
três temas: a revelação da misericórdia de Deus, a denúncia do escândalo da
divisão da sociedade em ricos e pobres, e a importância da oração. Em relação a
este último tema, várias vezes ele narra momentos de oração de Jesus e
apresenta duas singelas parábolas que revelam a importância da oração.
Nesta parábola de hoje, de compreensão simples, os personagens são uma viúva e
um juiz iníquo que não respeitava homem algum. Ela mostra como os pequenos e
excluídos, injustiçados, devem clamar a Deus por seus direitos, lutando pela
implantação da verdadeira justiça.
A ideia central da parábola é que os discípulos devem orar sempre e sem
desfalecer, com muita perseverança. Para ilustrar esta ideia, Jesus usa como exemplo
a casa de uma mulher viúva e desamparada que se apresenta uma e outra vez
diante de um juiz, caracterizado como injusto, porque não temia a Deus nem aos
homens. Depois de ser muito importunado, o juiz decide fazer justiça à viúva
para não ser importunado.
A mulher é caracterizada pela sua insistência:
nunca para de ir ao juiz pedir que lhe seja feita justiça. Mas Jesus não chama
a atenção sobre a insistente viúva, mas sobre o juiz.
A oração é uma prática presente em todas as
religiões. É um dos momentos de encontro com Deus. Com Jesus aprendemos, de
maneira simples, como orar. A sentença final nos desafia a mantermos viva a
nossa fé.
O ponto central da parábola não está colocado na perseverança da súplica, mas
na segurança de que esta será atendida. Isso nos mostra a maneira como Deus
procede diante de nossas preces. Se aquele juiz perverso abandonou seu egoísmo
pelas preces de uma viúva, quanto mais nos atenderá Deus, que é um Pai bondoso.
No fundo, temos o exemplo da misericórdia e do amor de Deus que nos acolhe.
Jesus nos interroga pela imagem que temos de Deus e nossa confiança em sua ação
misericordiosa. Tratemos de responder a ela com sinceridade.
Essa parábola faz par com a Parábola do amigo importuno (Lc 11,5-13), e
também ensina a necessidade de oração paciente, persistente e perseverante.
Ambas se harmonizam em sua estrutura, embora tenham sido proferidas em
circunstâncias diferentes.
Em ambas existe um raciocínio baseado no contraste completo e infinito entre Deus e o homem, e a evidência de que o Senhor cede aos argumentos e persuasão dos santos.
Portanto, as duas parábolas são estreitamente semelhantes por fazerem a mesma comparação e o mesmo contraste entre o que esperamos da natureza humana, mesmo imperfeita, e o que podemos esperar de Deus. Ambas nos conduzem à mesma conclusão que Deus não falha para conosco, como os amigos fazem às vezes.
Na parábola do juiz duro de coração e insensível, ele é apresentado como um homem sem princípios. Ele não temia a Deus nem tinha consideração pelos homens. Uma viúva da mesma cidade fora tratada injustamente por um inimigo e veio a ele pedir justiça. Embora a sua causa fosse justa, ele não deu atenção ao seu caso. Mas ela persistiu, voltando sempre com o mesmo pedido, até que finalmente o juiz decidiu fazer-lhe justiça, não porque ele se importasse com a justiça, mas simplesmente para livrar-se daquela viúva que o importunava tanto.
Não houve outro motivo que o fizesse agir a não ser esse. Grandes contrastes são apresentados aqui! Arrogância e impotência extremas — e, no entanto, a impotência venceu no final. Quando procuramos dividir a parábola temos: A Viúva Importuna, O Juiz Injusto, O Juiz Divino e Justo.
Viúva importuna.
As viúvas têm um lugar de destaque na Bíblia. Na época de nosso Senhor eram, até certo ponto, desprezadas, e constituíam presa fácil para qualquer homem que não tivesse princípios. Eram pobres e, portanto, não tinham alguém para protegê-las e resgatá-las. Sua única esperança era recorrerem aos que administravam a justiça para que interviessem a seu favor. Quase sempre despertavam pena e, por isso, a sua impotência em defender-se era reconhecida com misericórdia pela lei judaica. “A nenhuma viúva afligireis” (Êx 22,22-24; Dt 10,18; 24,17). A religião pura inclui o cuidado para com as viúvas em sua aflição (Tg 1,27).
Não nos foi revelado qual era a sua causa urgente. Ela fora injustiçada e
buscava apenas justiça na questão com o seu adversário. O juiz era insensível
e não tinha pena; no entanto, a viúva “ia ter com ele” — “vinha continuamente”
(Lc 18,3), como devemos ir ao trono da graça se o nosso pedido inicial não for
atendido. Insistia tanto que, finalmente, o juiz sem coração cedeu e resolveu
atendê-la, “para que enfim não volte, e me importune muito”. Os discípulos
provavelmente riram, quando ouviram esse toque de humor. Bem, a sua
persistência prevaleceu e, no final, conseguiu do relutante juiz a justiça de
que precisava e merecia.
Juiz iníquo. A conduta desse juiz testifica “A desorganização e corrupção generalizadas da justiça que prevaleciam sob o governo da Galiléia e Peréia na época”. Não há dúvida de que o caso que Jesus apresentou aqui tenha sido extremo. Porém havia representantes da lei cuja consciência estava morta.
O que temos aqui era um homem que não tinha Deus. Ele não era religioso e nem mesmo humanitário. Nunca se preocupava com Deus ou com os homens. Cuidava apenas de si mesmo. Como judeu ele agia em contradição à lei, a qual decretava que se estabelecessem juízes nas cidades, em todas as tribos, e proibia rigorosamente juízos distorcidos, acepção de pessoas ou subornos (Dt 16,18-19). Esse juiz era descaradamente corrupto. Ele justificou a viúva somente porque o importunava e ele não queria ser molestado fisicamente.
A característica notável dessa parábola, a essa altura, é que o juiz viu a si mesmo da mesma maneira que Cristo se referiu a ele. Jesus disse sobre ele: “Certo juiz que não temia a Deus nem respeitava o homem”.
Levado a agir por causa da persistência da viúva, lemos que o juiz “disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens”. Disse consigo! Esse juiz injusto não pensava em Deus nem na viúva —apenas em si mesmo, preocupado em não ser forçado a fazer o que quer que fosse. Esse homem tinha prostituído uma posição privilegiada.
Juiz divino e justo. Examinando como nosso Senhor
aplicou essa sua parábola, torna-se surpreendente que ele tenha comparado os
negócios de Deus não com os de um bom homem, mas com os de um homem mau e sem
Deus, e essa característica apenas dá ainda mais poder à parábola.
Há um contraste muito grande entre tudo o que o juiz era e o que Deus não é. Tudo o que Deus é, o juiz não era. Deus é exatamente o oposto em caráter a tudo o que o juiz era.
Quando dividimos o ensinamento da parábola em partes menores, temos, primeiramente, a boa vontade de Deus em ouvir e responder aos pedidos dos que lhe pertencem. “Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que os faça esperar?”
Por causa da soberania e onisciência de Deus, ele responde às orações segundo a sua própria vontade. Ele se restringe à “perfeição do seu próprio Ser e pela permissão humana”. A expressão “fazer justiça”, referindo-se ao juiz injusto, e aqui a Deus, significa a efetivação de sua vingança, não no sentido de vingança, mas de justificação ou justiça. Quando tratados injustamente, os seus eleitos podem estar certos de que ele os justificará.
“Clamam de dia e de noite” expressa a mesma ideia da ordem do Senhor sobre “o dever de orar sempre”. Se o injusto juiz, por fim, reagiu ao lamento da viúva simplesmente para se ver livre dela, não responderá Deus, que é completamente justo, às orações dos que lhe pertencem, que trabalham debaixo da injustiça e opressão?
Se um simples sentimento egoísta prevaleceu sobre o homem perverso, muito mais ainda os santos podem esperar de Deus. Se a importunação e a perseverança da viúva finalmente prevaleceram, muito mais ainda essas virtudes prevalecerão com relação a Deus.
Se estivermos bem com Deus, saberemos que da mesma forma que ele nos elegeu, também nos fará justiça e nos responderá. Podemos esperar um tratamento melhor da parte de um Deus de amor, do que de um juiz sem coração.
“Ainda que os faça esperar”. O juiz suportou por muito tempo a viúva e, às vezes, Deus parece também estar indiferente às nossas petições. Santa Mônica orou por mais de trinta anos pela salvação de seu filho Agostinho, até que ele se converteu.
Muitas vezes a interferência humana é o maior obstáculo para que as nossas orações sejam respondidas. Além disso, um dos propósitos da oração que Deus demora a atender, é a fortificação da nossa fé e da nossa paciência. Não sabemos o tempo e os caminhos de Deus. “Ele tudo fará” (SI 37,5).
Deus não tem que acordar no meio da noite; ele também
não é egoísta; ele não se nega a ajudar de forma abundante. Quando
aparentemente Deus segura a reposta aos pedidos de seus filhos, ele faz isso
com sabedoria e amor.
“Quando, porém, vier o Filho do homem, achará fé na terra?” Aqui o Senhor retorna à mensagem profética do capítulo anterior. Quando ele voltar para destruir toda a injustiça do mundo, será que encontrará ainda alguma fé na terra? Com Certeza! Haverá muita fé depositada em objetos falsos.
A fé entregue aos santos será um artigo raro. Nosso dever supremo, apesar de toda oposição e tribulações, é manter a fé —” tende fé em Deus” (Mc 11,22-24).
Concluímos que a viúva não prevaleceu por causa de sua eloqüência ou por sua elaborada petição. Suas palavras foram poucas, somente seis: “Faz-me justiça contra o meu adversário”.
Seu clamor foi curto e explícito. Ele nada disse sobre a sua condição como viúva, sua família ou sua opinião sobre o juiz iníquo, tudo que ela queria era justiça contra o seu adversário.
Deus nos assegura que ouve e responde nossas orações e isso deve nos incentivar a pedir insistentemente. Os elos da corrente que nos ligam ao céu e traz o céu até a terra, são os elos das nossas orações.
Reflexão Apostólica:
A oração perseverante dos eleitos oprimidos não
deixa de ser ouvida. Deus lhes faz justiça prontamente, sem demora. Logo ajuda
a seus eleitos e chega a ação salvadora de Deus, a qual consiste na nova
presença de Jesus.
Quem não persevera na oração com fé, nunca poderá ver realizados os seus pedidos e os seus desejos. A perseverança da nossa oração revela a nossa humildade diante de Deus e faz com que sejamos fiéis ao que nos propomos. Sabemos que somos impotentes, mas podemos desejar coisas impossíveis, porque confiamos na justiça de Deus.
Por isso, a persistência das nossas reivindicações nos torna firmes e nos faz
ter convicção e fé na promessa de Jesus de que tudo quanto pedirmos ao Pai, em
Seu nome será atendido.
Do contrário, demonstramos orgulho e prepotência quando, porque ainda não fomos
atendidos (as), nós desistimos dos nossos desejos e anseios e damos prova de
que não temos fé nas promessas divinas.
Deus sabe o tempo e a hora de nos dar aquilo que nós suplicamos, porém, a nossa
firmeza e persistência será uma prova de que realmente o nosso coração anseia
ardentemente por aquilo que nós pleiteamos.
Ele faz justiça aos seus escolhidos, e, se assim nos consideramos, precisamos
dar o nosso testemunho para que a chama da fé não se apague no coração da
humanidade.
O que você tem pedido a Deus é realmente o que o seu coração anseia? Será que
você tem convicção da necessidade das suas reivindicações? Você seria capaz de
continuar pedindo por isso a vida?
Propósito:
Pai, faze-me pobre e simples diante de ti, de modo que
minhas súplicas sejam atendidas, pois jamais deixas de atender a quem se volta
para ti na humildade de coração.
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