19 junho - Também nas coisas do espírito saibamos contentar-nos com
o que Deus crê seja melhor conceder-nos, sem nos apegar demasiadamente ao
fervor sensível ou ambicionar consolações espirituais. (S 359). SÃO JOSÉ MARELLO
Lucas 9,18-24
- Quem o povo diz que eu sou?
Eles responderam:
- Alguns dizem que o senhor é João Batista; outros, que é Elias; e
outros, que é um dos profetas antigos que ressuscitou.
- E vocês? Quem vocês dizem que eu sou? - perguntou Jesus.
Pedro respondeu:
- O Messias que Deus enviou.
Então Jesus proibiu os discípulos de contarem isso a qualquer pessoa. E
continuou:
- O Filho do Homem terá de sofrer muito. Ele será rejeitado pelos
líderes judeus, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da Lei. Será morto
e, no terceiro dia, será ressuscitado.
Depois disse a todos:
- Se alguém quer ser meu seguidor, que esqueça os seus próprios
interesses, esteja pronto cada dia para morrer como eu vou morrer e me
acompanhe. Pois quem põe os seus próprios interesses em primeiro lugar nunca
terá a vida verdadeira; mas quem esquece a si mesmo por minha causa terá a vida
verdadeira."
Meditação:
Jesus pergunta aos discípulos: "Quem dizem que eu sou"? A afirmação de Pedro: Tu és o Cristo de Deus", e que faz a diferença entre fé autêntica e adesão a Jesus fruto de uma veneração a ele, como homem e profeta extraordinário. Ele ensina, cura, expulsa demônios... e isso o revela como sendo o esperado de Israel.
O fato de Pedro declarar Jesus como o “Cristo de Deus” mostra que ele é um genuíno discípulo. Por isso mais tarde será escolhido para confirmar seus irmãos na fé. Nós também precisamos cultivar uma identidade forte, que nos permita viver a fé e atrair outras pessoas para Jesus e seu reino.
A pergunta é dirigida a cada um de nós pessoalmente: Quem é, afinal Jesus? Cada
um deve dar a sua resposta para si mesmo.
O Evangelho de hoje pode ser dividido em três partes: 1. A confissão messiânica
de Pedro (vv. 18-21); o primeiro anúncio da Paixão (v. 22); Lucas omitiu a
reprimenda que Jesus dirige a Pedro, quando este, diante do anúncio da Paixão,
se opõe a ela; 3. As condições para o seguimento de Cristo (vv. 23-24).
Lucas é o único que nota significativamente a oração de Jesus que precede a
confissão de messianidade e o anúncio da Paixão (v. 18). Como a figura do
Messias na mente dos apóstolos estava permeada de triunfalismos terrenos, Jesus
os educa nesse grande mistério do Reino: sua própria Paixão e Morte (v. 22).
Continua finalmente uma passagem que nos recorda o discurso apostólico de
Mateus 10: condições que Jesus pede a seus seguidores: abnegação,
disponibilidade absoluta e sofrimento afetivo (vv. 23-24).
Se queremos seguir Jesus, temos que aceitar suas condições e entendê-las como
ele as entende. Negar-se a si mesmo equivale a “não ter nada que ver” com a
pessoa da qual se renega. Negar-se a si mesmo é descentrar-se, não ser já o
centro de seu próprio projeto. É colocar a vida inteira a serviço do outro,
neste caso, o projeto de Jesus. A isto Jesus o chama a perder a vida por ele. E
quem consegue realizar isto, “ganhará”, salvará sua vida. A condição que põe
Jesus para segui-lo não pretende tirar valor, mas orientar nossas energias e
valores para a construção do Reino que ele iniciou negando-se, também ele, a si
mesmo, para cumprir em tudo a vontade do Pai.
Em que consiste carregar a cruz? Acaso é supor tudo sem reclamar como se toda
contrariedade fosse mandada por Deus mesmo? É submeter-se à dor
pela dor, como se a dor fosse um valor em si mesmo? Se a entendemos assim, não
tem nada que ver com a condição que Jesus coloca para que sigamos seus passos.
Jesus quer dizer que todos os discípulos têm que estar dispostos a viver da
mesma maneira que ele viveu, mesmo sabendo que este estilo de vida pode
acarretar a perseguição e talvez a morte. Essa é a cruz de Jesus e também deve
ser a nossa. Não inventamos cruzes à maldade, não as buscamos nem nos
preocupemos demais por elas. Sigamos os passos de Jesus e outros colocarão as
cruzes em nossos ombros, antes mesmo que o pensemos.
Negar-se a si mesmo é carregar a cruz equivale a fazer seu, cada um de nós, o
caminho de Jesus. Ele se negou a tomar o poder, a forca e a fama como meios
para servir e salvar os homens. Jesus escolheu o único caminho que conduz ao
coração do homem: a solidariedade com todos os excluídos da terra.
Este foi o caminho de Jesus e este tem que ser nosso caminho se queremos estar
com ele e segui-lo. Tentar seguir Jesus no comodismo, na falta de compromisso,
no pacto com os poderosos, ainda que possa parecer muito razoável, é um caminho
falso. É “pensar como os homens e não como Deus”
O amor a Jesus leva a quem queira segui-Lo, aprender a viver não para si
próprio senão para os demais. É um estilo de vida diferente marcado pelo
serviço, pelo amor até o extremo.
É uma proposta que vai em contracorrente com a mentalidade individualista e narcisista de nossa época, mas, sem dúvida, responde perfeitamente ao ideal de felicidade e realização que todo ser humano deseja alcançar. Vale a pena colaborar com essa utopia!
Reflexão Apostólica:
É o caso da
perícope de hoje: “Certo dia, Jesus estava rezando num lugar retirado”, e por
mais que a oração seja uma experiência pessoal, o evangelho nos mostra sua
dimensão comunitária: “os discípulos estavam com ele”.
Foi nesse estar
com Jesus, olhar como ele rezava, se relacionava com o Pai, que os discípulos
sentiram o desejo de participar de sua oração, de rezar com e como Ele: “Senhor
ensina-nos a rezar” (Lc 11, 1b).
Pode ser essa nossa petição enquanto refletimos este evangelho: “Senhor ensina-nos a rezar?”, e porque não ser esta oração o “mantra”, a nossa “música de fundo” ao longo de toda esta semana?
Olhando para Jesus e seus discípulos/as, descobrimos que o jeito que ele teve
para despertar neles/as a vontade de rezar, foi ele mesmo fazer a experiência
da oração, ele mesmo rezar!
Destacamos aqui a
força do testemunho. Hoje em dia as pessoas, os/as jovens vão querer rezar ao
Deus de Jesus, se conhecerem cristãos/ãs que gostem de rezar. As crianças vão
querer conhecer e “falar” com “Papai do céu” se encontrarem em sua família,
pais, irmãos/ãs que vivem com naturalidade a relação com Deus.
A oração é uma experiência de comunhão, de relação com Deus, a quem Jesus chama de Pai. Por isso, quando os/as discípulos/as pedem que Ele lhes ensine a rezar, sua resposta é apresentar-lhes ao Pai e seu projeto de vida.
Foi o que depois a
comunidade cristã traduziu na oração do Pai-Nosso. Mas é importante entender
que ela não é uma “fórmula” de oração, mas a expressão que condensa um estilo
de vida marcada pela relação com Deus Pai e seus filhos e filhas. É a oração do
Reino de Deus.
Quando rezamos, o que fazemos? Relacionamos-nos com o Outro, ou repetimos frases de cor?
O evangelista nos
surpreende com a pergunta de Jesus: “Quem dizem as multidões que eu sou?”. Mas,
podemos nos perguntar: que tem isso a ver com o momento de oração que foi
apresentado antes na perícope?
Tem tudo a ver! A oração como relação com Jesus, com Deus, é um instante de diálogo, no qual Jesus se dá a conhecer, fala-nos ao coração, e como amigo se apresenta dia a dia.
A oração assim
entendida não é só um momento do dia, estende-se a todo o dia, a oração é o
coração da amizade com Jesus que cresce e se desenvolve no seguimento.
E esse seguimento alimenta o conhecimento da pessoa de Jesus. Nas palavras de Sobrino, é no seguimento de Jesus que conhecemos quem ele é de verdade.
Por isso, a resposta que Pedro dá é, sem dúvida,
fruto de todo um tempo de convivência com Jesus, e nesse estar com ele (isso é
a oração) descobriu, por obra do Espírito quem ele era: “O Messias de
Deus”.
As palavras que Lucas coloca nos lábios de Jesus são um chamado de atenção à comunidade para não parar na sua caminhada atrás dos passos do Mestre.
Outra idéia forte no evangelho de Lucas é a do
caminho e, sobretudo, o caminho a Jerusalém. A vida de Jesus está marcada por
essa caminhada ou subida a Jerusalém, que ele faz decididamente (cfr. Lc 9,
51).
O Messias, o Ungido de Deus que Lucas nos apresenta, aquele que vem libertar o povo da escravidão (Lc 4, 18-21) é aquele que passa pela cruz e vive a ressurreição. Ou seja, caminho da libertação é criado, gerado na cruz e ressurreição de Jesus de Nazaré.
Se esse é o caminho do Mestre, não é diferente para
sua comunidade que quer também ela servir o Reino de Deus, ser instrumento de
libertação e vida eterna para os diferentes povos da terra.
As palavras de Jesus no final deste texto são bem claras a respeito: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga”.
Mas é importante entender que o seguimento de Jesus
não é um exercício de força de vontade, de ascese, como muitas vezes foi entendido.
Ela está presente nessa caminhada, mas só porque antes se conheceu a força do
amor, a importância e riqueza da amizade com Jesus.
E porque se quer seguir a esse Amigo e continuar seu projeto de vida, seus seguidores/as são capazes de renunciar até mesmo à sua própria vida, para que outros/as a tenham em abundância.
Diferente de Marcos, Lucas acrescenta que a cruz
tem que ser abraçada cada dia, isto é, o evangelista não está falando da última
cruz da vida, e sim daquela que se vive diariamente, realizada, desde as
pequenas coisas, em uma vida de solidariedade, doação de si, amor ao
próximo...
Como perderemos nossa vida por Jesus? Como "renegaremos a nós mesmos"
para seguir a Jesus? Transformando nossa vida num dom aos irmãos. O estudante
que ajuda um colega em dificuldade; o esposo que ajuda a mulher na limpeza da
casa; o voluntário que dedica o seu tempo para ajudar os doentes, os idosos...
estão cumprindo o conselho de Cristo. E aqueles que assim escolhem "perder
sua vida" pelos irmãos necessitados também ressuscitarão, já nesta vida, e
experimentarão uma alegria que os fará encontrar-se cada vez mais consigo
mesmo.
Procuro pagar o mal com o bem? Se as pessoas observarem meu comportamento,
poderão deduzir que sou um cristão? Entendo que a morte de meu tempo, lazer ou
descanso para ajudar os outros é fonte de vida? o conselho de Cristo. E aqueles
que assim escolhem "perder sua vida" pelos irmãos necessitados também
ressuscitarão, já nesta vida, e experimentarão uma alegria que os fará
encontrar-se cada vez mais consigo mesmo.
Propósito:
Espírito do Messias solidário e servidor, não me
deixes nutrir esperanças vãs de um messianismo glorioso e mundano, que não
corresponde à opção do Senhor Jesus.
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