23/11
– São Clemente I (O 4° Papa)
Com grande alegria e veneração
lembramos a vida do quarto Papa que governou, no primeiro século,
a Igreja Romana. São Clemente I assumiu a Cátedra de Pedro, depois de Lino,
Anacleto e com muito empenho regeu a Igreja de Roma dos anos 88 até 97.
Sobressai
no seu pontificado um documento de primeira grandeza, fundamental a favor
do primado universal do Bispo de Roma: a carta aos Coríntios, escrita
no ano de 96.
Perturbada
por agitadores presumidos e invejosos, a comunidade cristã de Corinto
ameaçava desagregação e ruptura.
São
Clemente escreve-lhe então uma extensa carta de orientação e pacificação, repassada
de energia persuasiva, recomendando humildade, paz e obediência à hierarquia
eclesiástica já então definida nos seus diversos graus:
Bispos, Presbíteros e Diáconos.
Esta
sua intervenção mostra que Clemente, para além de Bispo de Roma,
sentia-se responsável e com autoridade sobre as outras Igrejas.
E
saliente-se que, nessa altura, vivia ainda o Apóstolo São João, o que
nos permite concluir que o Primado não foi de modo algum uma ideia
meramente nascida de circunstâncias favoráveis, mas uma convicção clara
logo desde o início. Se assim não fosse, nunca São Clemente teria ousado
meter-se onde, por hipótese, não era chamado.
João,
como Apóstolo de Cristo, era sem dúvida uma figura venerável. Mas era
ao Bispo de Roma, como sucessor de São Pedro, que competia o governo
da cristandade.
Uma
tradição, que remonta ao fim do século IV, afirma que São Clemente
terminou sua vida com o martírio. Seu nome ficou incluído no Cânon Romano
da Missa.
São
Clemente I, rogai por nós!
Leitura do santo Evangelho segundo São Lucas 20,27-40
Naquele tempo, 27aproximaram-se de Jesus
alguns saduceus, que negam a ressurreição, 28e lhe perguntaram:
“Mestre, Moisés deixou-nos escrito: se alguém tiver um irmão casado e este
morrer sem filhos, deve casar-se com a viúva a fim de garantir a descendência
para o seu irmão. 29Ora, havia sete irmãos.
O primeiro casou e morreu, sem deixar filhos. 30Também o segundo 31e o terceiro se casou
com a viúva. E assim os sete: todos morreram sem deixar filhos. 32Por fim, morreu também a
mulher. 33Na ressurreição, ela
será esposa de quem? Todos os sete estiveram casados com ela”.
34Jesus respondeu aos
saduceus: “Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se, 35mas os que forem
julgados dignos da ressurreição dos mortos e de participar da vida futura, nem
eles se casam nem elas se dão em casamento; 36e já não poderão morrer,
pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram.
37Que os mortos
ressuscitam, Moisés também o indicou na passagem da sarça, quando chama o
Senhor ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. 38Deus não é Deus dos
mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele”. 39Alguns doutores da Lei
disseram a Jesus: “Mestre, tu falaste muito bem”. 40E ninguém mais tinha
coragem de perguntar coisa alguma a Jesus.
Meditação:
Jesus desmoraliza os saduceus, apresentando o cerne
das Escrituras: Deus é o Deus comprometido com a vida. Ele não criou ninguém
para a morte, mas para a aliança consigo para sempre. A vida da ressurreição
não pode ser imaginada como cópia do modo de vida deste mundo.
A propósito de uma pergunta capciosa dos seus adversários que negavam a
ressurreição dos mortos, Jesus procura fazer-lhes compreender que, no mundo
novo da ressurreição, as coisas estão fora e acima do nosso modo de pensar
terreno.
A ressurreição dos mortos pertence já a esse “mundo
que há-de vir” para além da morte, em que Deus vive como Deus de vivos, como
Ele Se tinha revelado no episódio da sarça ardente, ao apresentar-Se a Moisés
como Deus dos que tinham vivido antes, mas que para Ele são sempre vivos, Ele
“o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacob”.
Os saduceus, grandes proprietários de terras,
formavam a elite dos sacerdotes (20,27-40). Não acreditavam na ressurreição, e
propõem a Jesus um caso difícil, para mostrar que é absurdo crer na
ressurreição.
Jesus retifica a questão, mostrando que a vida da
ressurreição não deve ser concebida como mera cópia da vida na dimensão
presente. E os mortos ressuscitam? Referindo-se à célebre forma “Deus de
Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó”, Jesus mostra que, sendo Deus dos vivos e
da Vida, também Abraão, Isaac e Jacó devem estar vivos com ele.
Com efeito, o sentido de toda a criação é viver
para Deus, e essa vida não conhece fim. Ruma para a plenitude, sempre. O que
está com Deus está vivo para gozar a vida em abundância.
Os saduceus queriam embaraçar Jesus fazendo perguntas
a partir da prática do levirato (Dt 25.5-6). No livro do Deuteronômio está
ordenado que, no caso de um irmão falecer sem descendência, é a obrigação de um
irmão casar com a viúva para dar o nome à família. Se, nessa prática, uma viúva
casar sucessivamente, de quem será a mulher na ressurreição?
Jesus afirma a ressurreição (vv. 35-37), e
mostra aos saduceus que as instituições pertencentes a esta ordem das coisas
não continuarão pós-ressurreição. Em outras palavras, as instituições terrenas
não continuarão no céu, que é o mundo da justiça plena. O mundo onde está
presente o Reino de Deus. Todas as instituições e poderes são transitórios e
provisórios, ainda.
A continuidade entre o agora e o então está em Deus
e na sua graça. E Jesus faz excursão mais profunda no Pentateuco, lembrando-os
do que Moisés disse a respeito de Deus como o Deus de Abraão, de Isaque e de
Jacó. A ressurreição é contrastada, por isso, pela imposição da morte; pelos
determinismos e fatalismos da cultura, da religião, da política corrompida, nos
sistemas de pensar. A ressurreição é a dádiva da vida e vem de Deus.
Assim, à luz da ressurreição, a vida é vista e vivida sob o poder da graça. Em Lucas a ênfase recai na expressão: “não podem mais morrer” com referência aos filhos da ressurreição.
Reflexão Apostólica:
O Deus de Jesus é o Deus que
ama a vida e a defende, que se faz presente na história humana para conduzi-la
à plenitude, para além do natural, do tempo histórico e dos modos de viver.
Jesus responde sabiamente à pergunta dos saduceus. Sua resposta tem como
fundamento a fidelidade de Deus ao longo da história da salvação, que é doadora
de sentido para todo cristão.
Afirma que para Deus todos vivem, são filhos da ressurreição, pois não a morte,
mas a vida é o destino último do ser humano; uma vida plena e abundante que é
concedida por Deus e confirmada por Jesus em sua ressurreição.
Baseando-se na lei de Moisés, segundo a qual o irmão de um homem falecido sem
descendência deveria se casar com a viúva, os saduceus elaboram uma história
truculenta apenas para desprestigiar Jesus e a fé na ressurreição.
A resposta do Mestre é clara:
depois da ressurreição seremos como anjos; não viveremos segundo as leis deste
mundo, incluindo o casamento. Jesus enfatiza e recalca que os mortos
ressuscitam, porque o Deus em que cremos é o Deus dos vivos e não dos mortos, e
para Ele todos os servos vivem. É um convite de Jesus para que seus discípulos
assumam o compromisso pela vida e rechacem todas as atitudes de morte que
crescem em nosso mundo.
Como todos nós vivemos num
mundo marcado pelo materialismo, cada vez mais somos tentados a fazer da
matéria a causa da nossa felicidade e nos fecharmos nessa realidade para
analisar todas as coisas e, com isso, não somos capazes de ver outros caminhos
para a felicidade ou até mesmo outras condições de vida que Deus pode nos
conceder para o nosso bem, como é o caso da vida eterna.
O erro que os saduceus
cometeram e que aparece no evangelho de hoje é esse: se tornaram tão
materialistas que ficaram incapazes de abrir o próprio coração para a proposta
da vida plena que nos é feita pelo próprio Deus.
Nós, cristãos, somos gestores
da esperança e construtores de soluções de vida. Temos que testemunhar contra a
"cultura da morte" e todas suas manifestações, rechaçá-las, lutarmos
em favor de suas revisões e transformações; isso em fidelidade ao Deus que é
Vida Eterna, fonte universal da vida e que nos enviou seu Filho, que "é a
ressurreição e a vida", para que quem creia nele, ainda que morra tenha a
vida eterna.
Somos chamados como crentes em Jesus a construir projetos que favoreçam, em
todo momento, a vida e a dignidade das pessoas, em especial dos mais
debilitados e necessitados, já que desta maneira é como Deus mesmo se vai
manifestando à humanidade.
Ele nos chama à vida, à fraternidade, e devemos responder da mesma maneira:
sendo testemunhas dessa vida, dessa esperança prometida por Deus na
ressurreição.
Propósito:
Pai, és Deus da vida e Deus dos vivos, e queres todos os
seres humanos em comunhão contigo para sempre. Ajuda-me a viver, já nesta vida,
esta comunhão eterna.
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