27 julho - De nossa parte, façamos sempre a balança pender para o lado da autoridade, e poderemos esperar que Deus, autoridade suprema, de mil modos e em coisas de ordem mais elevada, fará com que a mesma balança penda em favor da nossa causa, sem que outros percebam e, às vezes, até a seu contragosto. (L 225). SÃO JOSE MARELLO
Leitura do santo Evangelho segundo São Mateus 13,10-17
"Os discípulos aproximaram-se e disseram a Jesus: "Por que lhes falas em parábolas?" Ele respondeu: "Porque a vós foi dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não. Pois a quem tem será dado ainda mais, e terá em abundância; mas a quem não tem será tirado até o que tem. Por isto eu lhes falo em parábolas: porque olhando não enxergam e ouvindo não escutam, nem entendem. Deste modo se cumpre neles a profecia de Isaías: 'Por mais que escuteis, não entendereis, por mais que olheis, nada vereis. Pois o coração deste povo se endureceu... Fecharam os seus olhos, para não verem com os olhos, para não ouvirem com os ouvidos, nem entenderem com o coração, nem se converterem para que eu os pudesse curar'. Bem-aventurados são vossos olhos, porque vêem, e vossos ouvidos, porque ouvem! Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que estais vendo, e não viram; desejaram ouvir o que estais ouvindo, e não ouviram."
Meditação:
Uma
das características fundamentais do Mestre é ter e compreender os alvos do seu
ministério de ensino. Jesus, o Mestre dos mestres, tinha esta compreensão e
sabia que tinha de fazer o Pai conhecido dos homens.
Era
necessário que se desse atenção especial aos alunos e para que o aluno fosse o elemento
mais importante, Jesus tinha que se fazer entendido e compreendido por eles e
isto só seria possível se descesse ao nível do aluno, ou seja, se utilizasse um
método a que o aluno estivesse acostumado e de elementos que permitissem que o
aluno entendesse as verdades espirituais a respeito de Deus.
Jesus
tinha de usar as parábolas, pois era o método que, ao mesmo tempo, permitiria
que todo o povo de Israel, que eram os seus potenciais alunos, pudesse ter real
acesso ao conhecimento do Pai, seja pelo fato de que já estavam acostumados a este
método de ensino, seja porque a linguagem empregada permitiria uma fácil
compreensão de todos quantos quisessem aprender.
Jesus
quer que o ensino da sua Palavra se faça de modo claro e acessível a todos os
ouvintes, respeitando-se, pois, as condições culturais, educacionais e sociais
dos ouvintes. Jesus ensinou por parábolas porque o povo de Israel não poderia
ter qualquer desculpa com relação à rejeição do Messias.
Ao
ensinar por parábolas, Jesus ensinava usando de imagens que todos pudessem
compreender. Jesus ensinou por parábolas para mostrar que só não compreende o
Evangelho quem não quer. Suas simples palavras podiam ser perfeitamente
compreendidas por ouvintes sinceros, e torná-los sábios para a salvação.
Ao
ensinar por parábolas, Jesus foi claro, se fazia compreensível a todos, mas
esta compreensão exigia, pelo uso do método das parábolas, uma disposição de
aprendizado por parte dos ouvintes, uma vontade de um maior aprofundamento,
tanto que somente os discípulos, depois de algumas parábolas, demonstravam
interesse em aprender as coisas de Deus e, assim, chegavam a pedir ao Senhor
que lhes explicasse a parábola de forma mais detalhada. Jesus, assim, tinha o
objetivo de mostrar claramente quem tinha e quem não tinha interesse em
conhecer o Pai, em outras palavras, quem, realmente, amava a Deus, a ponto de
não ser mais chamado servo, mas amigo do Senhor (Jo.15:15).
Jesus se expressava por meio de parábolas, ou seja, estórias
inventadas por Ele baseada no dia-a-dia daquele povo. Jesus, sendo Deus, poderia
muito bem falar difícil, usando palavras sábias, mas o povo humilde, o
camponês, os pastores e criadores de gado, não iriam entender quase nada, ou
mesmo nada e, ao contrário, sentindo-se humilhados por aquela forma para eles arrogante
de discursar, iriam virar às costas, e sair talvez reclamando, e não voltariam
mais para ouvir Jesus.
Também nós evangelizadores, por mais estudo que possamos ter, não
convém que usemos palavras difíceis nos nossos discursos, mesmo por que o nosso
público alvo são os humildes, e entre eles estão muitos que não tiveram como
nós, a oportunidade de cursar uma faculdade. Jesus optou pelos pobres, assim
também nós, não vamos ignorar os ricos, mas preparemos a nossa mensagem tendo
em vista os mais simples da sociedade.
Reflexão Apostólica:
Desde sempre verificamos a presença de uma constante
ambigüidade ao direcionarmos o nosso olhar aos que têm usos, costumes, culturas
e religiões diferentes dos nossos.
É possível considerar negativamente tais diferenças, a
ponto de rotular os outros de “bárbaros”, de exóticos e de estranhos. Pela
ótica positiva, os outros continuam sendo “diferentes”, mas entram numa
dimensão de vizinhança e de proximidade.
Diante do “outro” e do “diferente” surgem atitudes
diametralmente opostas: uma leva ao desprezo do outro a ponto de “demonizá-lo”,
considerando-o um inimigo a ser combatido e, portanto, a ser eliminado; outra
“idealiza-o” como se fosse um membro de uma sociedade paradisíaca, onde todos
vivem em perfeita harmonia entre si e com a natureza (que o mito do “bom
selvagem” o diga!).
Ainda hoje, vez por outra, esta ambigüidade vem à tona
com força. Trata-se de uma estranha forma de “miopia” que, no contexto atual de
fanatismos e fundamentalismos, pode afetar também as pessoas, cuja vocação
consiste em descobrir os múltiplos sinais da presença de Deus na história da
humanidade.
Do outro lado, existe uma “visão” mais nítida da
realidade que, apesar de toda complexidade, nasce e se desenvolve a partir de
uma experiência de diálogo e de encontro autêntico com os “outros”. Daí surgem
e se descobrem riquezas e valores surpreendentes: outras maneiras de viver, de
pensar e de se expressar tornam mais significativa a vida de quem estabelece
relações humanas autênticas.
Naturalmente, para que este encontro seja significativo,
é necessário superar obstáculos, bem como o sentimento de superioridade, a
atitude de arrogância, típica de quem pensa possuir a totalidade da verdade, e
toda forma de paternalismo.
Tudo isso encontra um ponto de referência no Evangelho de
hoje, que realça a maneira de olhar do discípulo de ontem e de hoje. Antes de
tudo, o grupo dos discípulos se mistura com a multidão reunida em torno de
Jesus, vendo de perto a sua atividade e ouvindo o seu ensinamento (13,1-3).
Porém, a expressão “a vós foi dado conhecer os mistérios do Reino dos céus” (v.
11), mostra que o relacionamento dos discípulos com Jesus é diferente daquele
da multidão.
Eles têm acesso ao projeto de Deus (= conhecer os
mistérios do Reino), dom que a multidão não tem (a eles não foi dado), pois
eles, não somente vêem em Jesus o que todo mundo vê, mas “enxergam” nele a
presença ativa de Deus. Não por acaso, mais adiante, Jesus os declara
bem-aventurados por terem uma “visão profunda” da realidade, que ultrapassa de
longe as expectativas de “muitos profetas e justos” (13,16-17).
De fato, os discípulos “vêem e enxergam”, constatando pessoalmente
que as antigas promessas proféticas se realizam na atividade e na pregação de
Jesus. Em contraste com a situação dos discípulos, Mateus apresenta a rejeição
da multidão, que vê, mas “não enxerga”, a manifestação de Deus e o seu projeto
de salvação atuando em Jesus.
O que estabelece a diferença entre os discípulos e a
multidão é o relacionamento com Jesus: os discípulos se identificam com a ação
e a mensagem de Jesus, por isso conseguem perceber nele a presença divina, a
ponto de assumirem o “mesmo olhar”; a multidão, ao contrário, não consegue o
mesmo, porque a chave para entrar nesse “conhecimento” foi seqüestrada pelos
doutores da Lei (23,13). Por isso, “vê sem enxergar”, continuando, porém, a
receber o anúncio do Reino através das parábolas.
A mensagem é clara: só quem está envolvido no projeto de
Jesus consegue abrir os olhos para perceber a presença divina na história; quem
permanece fechado na própria auto-suficiência, não só terá uma visão
superficial da realidade, mas ficará como que petrificado diante da perspectiva
de demonizar o “outro” ou de expulsá-lo da história, transformando-o num ser
paradisíaco, irreal e fantástico.
Propósito:
Pai, dobra a dureza do meu coração que me impede de ouvir e compreender a palavra de teu Filho. Faze-me penetrar nos mistérios do Reino escondido nas parábolas.
Seja grato pelo ar que respira, pelo sol e pela chuva; pela lua e pelas
estrelas. |
Agradecer é um gesto nobre, que pode
ser cultivado a qualquer momento. |
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