09 julho - Os efeitos da leitura nem sempre são imediatos, o que
nos leva muitas vezes a duvidar do proveito com que lemos. Tenhamos como certo
que tudo o que lemos com convicção e amor fica profundamente gravado em nós e
nunca mais se apaga. (L 5). São Jose
Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Mateus 11,25-30
"Naquela ocasião, Jesus pronunciou estas palavras: "Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e sede discípulos meus, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve"."
A
decisão concreta do Pai em sua revelação suscita expressões de intensa alegria
e agradecimento
A
força do conquistador não pode expressar adequadamente a vontade divina de
realizar a salvação por meio de um Messias que vem para os pobres e que é Ele
mesmo pobre (“humilde e montado num jumentinho”) , capaz de destruir a
prepotência de carros e cavalos e arcos de combate. Os sábios e entendidos não
conseguem captar o sentido dessa inesperada intervenção divina, porque usam sua
ciência como instrumento de dominação. Ao colocar a ciência a serviço dos
próprios interesses, não podem tirar as conclusões a que o saber deveria
conduzi-los. Conseqüentemente, fracassa a sabedoria de tais sábios e
obscurece-se o entender desses peritos. A ciência de deveria ter-lhes servido de
ajuda converteu-se, pela falta de sinceridade, em obstáculo à compreensão do
agir divino.
A
pureza, a limpeza de coração, ausente nesses intelectuais, é apanágio, isto é,
propriedade característica, da vida das pessoas simples. Estes estão
disponíveis a aceitar o “Senhor do céu e da terra”, porque estão abertos a toda
ação divina sem manipulá-la em favor de seus próprios interesses.
O
orgulhoso, o confiado em suas próprias forças não podem entender as obras de
Deus ligadas ao “Filho”. Somente a partir da obediência filial, do reconhecimento
de que nem tudo está permitido, se pode ter acesso ao coração de Deus. Os que
se sentem auto-suficientes devido aos seus bens, cultura e poder, fecham-se
para a revelação de Deus, dado que esta, embora universal, exige uma
compreensão e uma “simpatia” que só pode surgir de uma vida de abertura ao
querer de Deus.
Somente
graças à presença do Espírito Santo é possível descobrir o rosto de Deus nessa
dependência filial de Jesus. A jubilosa constatação dos efeitos produzidos pelo
divino Espírito na vida do cristão - de que fala Rm 8,11 – torna possível uma
existência realizada no âmbito da comunhão divina.
A
íntima união entre o Pai e o Filho, a presença de Deus na atuação de Jesus (“Deus
Conosco”) só pode ser reconhecida graças à presença do Espírito na vida. O
conhecimento de Deus não é tarefa intelectual que brote de um esforço de estudo
nem da aquisição do conhecimento da Lei de que se gloriam os sábios e
entendidos. É fruto de uma experiência filial, nascida na sintonia da própria
vida com a vida de Jesus.
Daqui
o convite a todos os que em seu cansaço e abatimento experimentam suas
carências. O ensinamento manipulador dos sábios é que produziu neles o
sentimento de impotência. A eles se dirige Jesus e os convida a aproximar-se
d’Ele, para encontrarem o descanso superador das fadigas experimentadas.
A
lei proposta pelos sábios e entendidos é uma carga tremendamente onerosa para o
povo. O legalismo farisaico havia convertido a relação com Deus a um conjunto
de preceitos que dificilmente podiam ser cumpridos. Jesus, pelo contrário, sem
diminuir as exigências, propõe aproximação suave a Deus mediante uma vida
semelhante à sua. No reconhecimento filial da atuação divina, no alegre serviço
que brota do reconhecimento de sua atuação no mundo e na história, pode-se
descobrir a atuação reveladora de Deus.
Por
aqui se vê que esta não deriva do conhecimento e esforço que nascem do orgulho
auto-suficiente da própria ciência, mesmo que esta tenha o qualificativo de
ciência religiosa. O conhecimento de Deus é aceitação alegre e espontânea de
sua presença entre os homens por meio da ação salvadora. Somente os que se
abrem a esta presença mediante atitude amorosa de acolhida podem descobrir o rosto
verdadeiro de Deus, que é Pai e nos chama à comunhão de vida
Os
primeiros três versículos do evangelho não têm uma vinculação muito estreita
com o contexto
Essa
oração de louvor de Jesus brotava da sua própria experiência na missão - que
enquanto a sua pessoa, ensinamento e projeto de vida foram rejeitados pela
elite política, econômica e religiosa da época, os pobres e massacrados pelo
sistema o acolheu. A auto-suficiência da elite impediu que ela pudesse
reconhecer a verdade de Jesus. Os pobres, com a sua espiritualidade do Servo de
Javé, conseguiram em grande parte acolhê-lo, mesmo sem compreender inteiramente
a profundeza da sua identidade.
A
narrativa tem ecos da literatura sapiencial e apocalíptica. Dos Sapienciais,
podemos ver reflexos, onde a Sabedoria é personificada. Mas também nos faz
lembrar de textos apocalípticos como Daniel, onde os sábios são incapazes de
decifrar o sentido do sonho de Nabucodonosor, enquanto o humilde Daniel,
confiando na revelação divina, louva a Deus por lhe ter dado a sabedoria e revela
que se trata do Reino fundado pelo próprio Deus. No tempo de Jesus, os sábios
também não conseguiam decifrar os mistérios do Reino de Deus, um dom que é dado
aos humildes. Em Mateus, os pequenos são os discípulos a quem são revelados o
mistério do Reino dos Céus.
Os
versículos 26-28 são importantes, pois afirmam o relacionamento único entre
Jesus e o seu "Abbá", Pai. Aqui, a comunidade mateana expressa a sua
fé em Jesus como Filho Absoluto do Pai Absoluto. É uma de três passagens em
Mateus nas quais Jesus expressa, duma maneira indireta, ter uma relação única
com Deus, seu Pai.
A
imagem do "jugo" era bastante conhecida já no Antigo Testamento. No
judaísmo do tempo de Jesus era usada como imagem da Lei de Deus escrita e oral.
O termo não tinha necessariamente uma conotação de peso ou opressão quando
usado assim. O nosso texto usa a imagem corrente para contrastar a
interpretação farisaica da Lei, que oprimia o povo com exigências casuísticas e
conceitos que excluíam muitos, com a interpretação de Jesus, que não rejeita a
Lei mas lhe devolve o seu sentido original - uma garantia de manter viva na
comunidade o projeto libertador de Javé. O problema não estava na Lei, mas na
sua interpretação. Para os doutores, as práticas externas eram tão exigentes
que ofuscavam o rosto misericordioso de Deus, tornando a vivência religiosa um
pesadelo para muito.
A
interpretação de Jesus não é "light" - é exigente, pois exige uma
vivência de fraternidade, uma luta pela solidariedade e libertação e a rejeição
de todo egoísmo e individualismo. No fundo, é mais exigente do que a dos
fariseus, pois não se esgota em práticas externas, mas num processo infinito de
doação de si. Mas ele garante que este projeto de vida, exigente como for, trará
a alegria do Reino de Deus.
Os
últimos versículos nos levam a rever a nossa reflexão, a nossa interpretação da
Lei de Deus, a nossa prática religiosa. Pois, ao longo da história, muitas
vezes este procedimento nas Igrejas e na evangelização tem sido uma série de
legalismos moralizantes, reduzindo o cristianismo a uma prática externa de
normas, muitas vezes colocando fardos pesados sobre os menos fortes, sem que
fosse oferecido para eles qualquer ajuda para carregá-los.
Frequentemente,
o seguimento de Jesus se reduzia ao cumprimento de leis, ou à vivência duma
moral ou ética, sem a revelação do Deus misericordioso e compassivo, o Deus de
vida. Jesus nos mostra que embora a religião exija leis e moral,
fundamentalmente é uma mística, uma experiência do amor de Deus que nos convida
a assumir o seu jugo como resposta, um jugo que não mata, mas que liberta, que
não esconde o rosto de Deus, mas que traz a alegria do Reino!
O
eterno desígnio de salvar os homens, em e por Cristo, foi revelado e realizado
plenamente pelo Verbo Encarnado, especialmente pelo mistério pascal de sua
morte, ressurreição, ascensão e envio do Espírito Santo. Em Cristo, portanto, a
revelação do mistério de Deus foi perfeita e definitiva, de maneira que já não
haverá nenhuma outra revelação. “Porque em dar-nos, como nos deu, o seu Filho,
que é a sua Palavra, e que não tem outra, tudo nos falou de uma vez nesta só
Palavra.
Esta
revelação foi entregue à Igreja, que é assistida sempre pelo Espírito Santo
para levar, de modo verdadeiro e indefectível, a salvação de Deus a todos os
homens de todos os tempos e culturas. A Igreja não deixou -nem deixará jamais-
de anunciar este mistério, sobretudo pelo ministério do Papa e dos Bispos, como
principais responsáveis. Desta responsabilidade participam também todos os
fiéis cristãos, em virtude da missão profética que receberam de Cristo no
Batismo.
Quando
este anúncio é acolhido, provoca a conversão e a fé. Esta sempre é um dom
gratuito de Deus, mas requer a resposta e colaboração humana de abertura e
acolhida. Ordinariamente, não é possível a fé sem um anúncio explícito dos
conteúdos revelados; só em casos excepcionais, Deus infunde a um adulto
diretamente a fé sem anúncio prévio de seu mistério. De por si o Evangelho
exige primeiro o anúncio explícito do mistério de Deus, e como conseqüência a
sua acolhida, a conversão, a profissão de fé e o Batismo.
A
família cristã, “Igreja doméstica”, de modo privilegiado, participa desta
missão. Enquanto a família é fonte de vida, ela é também a primeira e principal
responsável pela transmissão do mistério do Deus Salvador aos filhos. Assim, os
pais são para seus filhos os autênticos anunciadores de sua fé. Os grandes
santos, de modo geral, nasceram no seio de uma família profundamente cristã. É
um fato que nos países onde a fé foi perseguida durante muito tempo, esta se
conservou e foi transmitida pelo ministério dos pais.
Na
transmissão da fé a seus filhos, a família nem é auto-suficiente nem autônoma.
Ela precisa estar em íntima relação com a Igreja e a escola, que freqüentam
seus filhos. A catequese vivencial, talvez menos sistemática (na família) tem a
necessidade de ser complementada por uma catequese mais sistemática eclesial ou
da escola.
Já
no início do cristianismo, a família cristã aparece como transmissora da fé.
Eram os pais que acolhiam o pedido do Batismo para os filhos. Esta função dos
pais era tão importante que, em seguida, a família se tornou o lugar por
excelência, onde a Igreja transmitia a fé. Continua assim sendo em muitos
países de missão; enquanto em outras nações de grande tradição cristã Europa,
Estados Unidos, Canadá etc, a família perdeu com freqüência este papel, com a
conseguinte deterioração na fé e prática religiosa.
A
recuperação de uma Igreja pujante e evangelizadora passa pela restauração da
família como instituição básica para transmitir a fé. Por isso, em ditos
países, a família cristã tem hoje um urgente campo de ação, sobretudo para com
outras famílias não cristãs ou afastadas da prática religiosa. Os avós, os
filhos e outros familiares cristãos estão urgidos a transmitir a fé aos pais e
parentes pois a família é a primeira e principal transmissora da fé
"[...]
porque eu sou manso e humilde de coração [...]". Estas palavras podem ser
verdadeiras somente na boca de Jesus. O seu coração é o único totalmente
semelhante a aquilo do Pai, é o único que não tem nem uma coisinha de orgulho e
de egoísmo. Nós ao contrário sofremos as pesadas conseqüências das nossas
cobiças, invejas, tensões, ciúmes… aprendendo com Jesus conseguimos nos
libertar e sermos aliviados. A vida de humildade significa para nós, hoje,
fugir de todo tipo de auto-suficiência, contando somente com as suas forças e
capacidades, mas ter o coração totalmente entregue ao Senhor.
Se
estivermos cansados, fatigados sob o peso dos problemas e dificuldades da vida,
vamos àquele que nos dá verdadeiramente o descanso, o Senhor Jesus.
Quantas vezes, diante das dificuldades e lutas de cada dia, vamos procurar
força e consolo em coisas que realmente não nos consolam e nem nos ajudam...
O
importante em nossa vida, é ter o coração atrelado ao Senhor, seguir seus
passos, tomando o seu jugo. Pode ser que no primeiro momento as
exigências de Jesus em nossa vida sejam duras, difíceis e até impossíveis de
serem seguidas. Mas devemos crer que é o único caminho de vida e
salvação. Jesus nos promete que o seu “jugo é suave”, o seu “fardo é
leve”.
Jesus
diz: “Vinde
a mim vós todos que estais aflitos e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei”. –
Que canseiras sinto eu? Qual é a causa: o trabalho pelo Reino, ou meus
interesses pessoais, meus egoísmos? Onde e como busco alívio?
“Eu
te bendigo, Pai, porque revelaste estas coisas aos pequenos”. Poder-se-ia
entender esta frase como afirmação de que Deus fez “revelações especiais” aos
pobres e simples. Mas, a que “coisas” se refere Jesus?
Jesus
não se refere à revelação de “afirmações doutrinais”, de “verdades reveladas”,
e sim a “coisas” do Reino. O Pai revelou as “coisas” do reino às pessoas
simples, aos pobres... Provavelmente, não está falando de nenhum milagre, de
nenhuma revelação positiva. Ele está referindo-se a algo facilmente
comprovável: dada a natureza do reino de Deus, só o vêem com clareza (só
entendem essas coisas) as pessoas simples, os que têm coração de pobre, os que
não deixam o egoísmo obscurecer a transparência do olhar...
“Porque
revelaste estas coisas...”. A palavra de Jesus pode ser ocasião para revisar o
conceito de “revelação”. Em muitos setores do povo cristão, revelação é
entendida como algo quase mágico: uma revelação que vem de fora, do alto,
extrínseca, uma espécie de milagre sobrenatural, cujo conteúdo vem como um
pacote pronto e fechado, alheio a toda participação ou implicação da parte dos
que a recebem. Esta idéia está há muito superada e deve ser abandonada. Qual,
então seria o conceito renovado de revelação?
As
Escrituras ensinam-nos que somos o Corpo de Cristo, que Cristo vive em nós e
nós n'Ele, que aquilo que se faça ao menor de entre nós é a Ele que é feito.
Sobre a Cruz, Ele venceu o poder do pecado e da morte, de uma vez por todas,
suportando o pior dos sofrimentos, sem azedume nem ressentimento. Quando, com
as forças de Cristo, suportamos os nossos sofrimentos do mesmo modo que Ele
suportou os seus, o Senhor serve-se de nós como instrumentos do seu amor
redentor.
O
objetivo do cristão, na doença ou na saúde, é dar glória a Deus mediante nosso
Senhor Jesus Cristo.
Queremos
concluir, elevando nossas preces ao Senhor nosso Deus que nos amou primeiro e
nos convida a amar-nos uns aos outros a exemplo de Jesus, manso e humilde de coração,
que não se cansou de amar até o fim.
Para que a Igreja una seu esforço ao de tantos homens e mulheres de boa vontade, que lutam para conseguir a esperança, a alegria, a paz e o gozo de se sentirem em mãos de Deus Pai...
Por
todos os que vivem a fé como uma obrigação a cumprir: para que se encontrem com
o Jesus vivo, que libera de toda ligadura e sufocação, inclusivamente da lei...
Por
todos os que não têm paz em suas vidas, nem paz com os demais, nem paz com
Deus: para que encontrem a paz que Jesus traz a todos...
Por
todos os governantes, em especial os do Brasil: para que suas palavras e
promessas de serviço à comunidade se traduzam em fatos reais...
Pelos
pobres, os simples, os pequenos: para que tenham parte essencial na construção
do mundo novo, justo e fraterno, que todos desejamos...
Por
todos nós: para que encontremos em Jesus a paz e a alegria que Ele nos traz da
parte do Pai, e Ele nos ajude em nossas fadigas...
Oração: Nós Vos bendizemos, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes grandes coisas aos “sábios e prudentes”, e as revelaste aos pequenos, e vos pedimos, dai que também nós tenhamos um coração de pobre, verdadeiro amor aos pobres e o desprendimento necessário para não nos deixarmos prender por interesses egoístas, de forma que sempre saibamos captar o sentido destas “coisas” que revelais aos simples. Oh Deus, que destes à família cristã a honra e a responsabilidade de transmitir a fé a seus filhos: concedei-lhe vossa fortaleza para que cumpra com fidelidade a tarefa que lhe confiaste. Por Cristo, nosso Senhor.
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