23 abril - Rezemos, e
rezemos muito! Os tempos se tornam cada vez mais turvos e escabrosos. Os
interesses individuais e particulares devem ceder lugar aos interesses gerais
da mãe Igreja. (L 31). São Jose
Marello
Lucas 24,13-35
"Naquele mesmo
dia, dois dos seguidores de Jesus estavam indo para um povoado chamado Emaús,
que fica a mais ou menos dez quilômetros de Jerusalém. Eles estavam conversando
a respeito de tudo o que havia acontecido. Enquanto conversavam e discutiam, o
próprio Jesus chegou perto e começou a caminhar com eles, mas alguma coisa não
deixou que eles o reconhecessem. Então Jesus perguntou: - O que é que vocês
estão conversando pelo caminho? Eles pararam, com um jeito triste, e um deles,
chamado Cleopas, disse: - Será que você é o único morador de Jerusalém que não
sabe o que aconteceu lá, nestes últimos dias? - O que foi? - perguntou ele.
Eles responderam: - O
que aconteceu com Jesus de Nazaré. Esse homem era profeta e, para Deus e para
todo o povo, ele era poderoso em atos e palavras. Os chefes dos sacerdotes e os
nossos líderes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. E a
nossa esperança era que fosse ele quem iria libertar o povo de Israel. Porém já
faz três dias que tudo isso aconteceu. Algumas mulheres
do nosso grupo nos deixaram espantados, pois foram de madrugada ao túmulo e não
encontraram o corpo dele. Voltaram dizendo que viram anjos e que estes
afirmaram que ele está vivo. Alguns do nosso grupo foram ao túmulo e viram que
realmente aconteceu o que as mulheres disseram, mas não viram Jesus.
Então Jesus lhes disse:
- Como vocês demoram a entender e a crer em tudo o que os profetas disseram!
Pois era preciso que o Messias sofresse e assim recebesse de Deus toda a
glória. E começou a explicar todas as passagens das Escrituras Sagradas que
falavam dele, iniciando com os livros de Moisés e os escritos de todos os
Profetas.
Quando chegaram perto
do povoado para onde iam, Jesus fez como quem ia para mais longe. Mas eles
insistiram com ele para que ficasse dizendo: - Fique conosco porque já é tarde,
e a noite vem chegando.
Então Jesus entrou para
ficar com os dois. Sentou-se à mesa com eles, pegou o pão e deu graças a Deus.
Depois partiu o pão e deu a eles. Aí os olhos deles foram abertos, e eles
reconheceram Jesus. Mas ele desapareceu. Então eles disseram um para o outro: -
Não parecia que o nosso coração queimava dentro do peito quando ele nos falava
na estrada e nos explicava as Escrituras Sagradas?
Eles se levantaram logo
e voltaram para Jerusalém, onde encontraram os onze apóstolos reunidos com
outros seguidores de Jesus. E os apóstolos diziam: - De fato, o Senhor foi
ressuscitado e foi visto por Simão!
Então os dois contaram
o que havia acontecido na estrada e como tinham reconhecido o Senhor quando ele
havia partido o pão."
Meditação:
As comunidades estão assustadas, desalentadas e com dúvidas em seus corações. Como se transforma a vida destas comunidades? Caminhando com Jesus, escutando a explicação das Escrituras, abrindo as portas de sua casa a um peregrino e compartilhando a mesa com Ele. Então se abrem suas mentes e se descobre que já no caminho lhes ardia o coração.
Há muitos meios para conhecer Jesus, mas há um que é a síntese de todos: a
fração do pão, símbolo da entrega da vida. Jesus ressuscitado se deixa
experimentar compartilhando sua vida, assim como antes de sua morte.
A comunidade de crentes compreende que Jesus de Nazaré não desapareceu misteriosamente, mas que continuava tendo um corpo, que agora pertencia à comunidade, que deveria se alimentar e cuidar do crescimento e do cumprimento de sua missão.
Nós estamos sedentos de alguém que compartilhe nossas vidas. Como andamos no
sentido missionário, de vida fraterna, de amar e de partilha em nossas
comunidades? Somos de fato testemunhas de Jesus ressuscitado?
O evangelho de hoje nos fala do episódio muito conhecido da aparição de Jesus
aos discípulos de Emaús. Lucas escreve por volta dos anos 80 da nossa era para
as comunidades da Grécia que em sua maioria eram formadas por pagãos
convertidos.
Os anos 60 e 70 foram muito difíceis. Houve a grande perseguição de Nero no ano
64. Seis anos depois, no ano 70, Jerusalém foi totalmente destruída pelos
romanos. Em 72, em Massada, no deserto de Judá, houve o massacre dos últimos
judeus rebeldes.
Naqueles anos, os apóstolos, testemunhas da ressurreição, estavam desaparecendo. Começava-se a sentir o cansaço da caminhada. Onde encontrar força e coragem para não desanimar? Como descobrir a presença de Jesus nesta situação tão difícil?
A narração da aparição de Jesus aos discípulos de Emaús quer ser uma resposta a
estas perguntas angustiantes. Lucas quer ensinar às comunidades como
interpretar a Escritura para poder descobrir a presença de Jesus na vida.
Jesus encontra os dois amigos num contexto de medo e de falta de fé. As forças
da morte, a cruz, tinham matado neles a esperança. Era a situação de muitas
pessoas na época de Lucas, e é também a situação de muitas pessoas também em
nossos dias.
Jesus se aproxima e caminha com eles, escuta a conversa e pergunta: "O que
ides conversando pelo caminho?" A ideologia dominante, isto é, a
propagando do governo e da religião oficial da época, impede de ver. "Nós
esperávamos que ele fosse libertar Israel".
Qual é hoje a conversa das pessoas que sofrem? O primeiro passo é este:
aproximar-se das pessoas, ouvir sua realidade, perceber seus problemas; ser
capaz de fazer perguntas que ajudem as pessoas a olhar a realidade com um olhar
mais crítico.
Jesus usa a Bíblia e a história das pessoas para iluminar o problema que fazia
sofrer os dois amigos, e para esclarecer a situação que eles estavam vivendo.
Utiliza-as também para inseri-los no projeto de Deus que passava por Moisés e
pelos profetas.
Assim os ajuda a entender que a história não tinha saído do controle de Deus.
Jesus não usa a Bíblia com um doutor que sabe tudo, mas como um companheiro que
vem ajudar os amigos a lembrar o que tinham esquecido.
Jesus não reforça o complexo de ignorância, mas procura despertar nelas a
memória: "Como seis sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os
profetas falaram!
Será que o cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?" O
segundo passo é este: com a ajuda da Bíblia, favorecer nas pessoas a sabedoria
que já existe nelas, e transformar a cruz, sinal de morte, em sinal de vida e
de esperança. O que lhe impedia de caminhar, agora torna-se força e luz na
caminhada. Como realizar isso hoje?
A Bíblia, em si, não abre os olhos. Só faz arder o coração; o que abre os olhos
e faz ver, é a fração do pão, o gesto comunitário da partilha, a celebração da
Ceia.
Na hora em que os dois reconhecem Jesus, eles renascem e Jesus desaparece.
Jesus não se apropria do caminho dos amigos. Não é paternalista.
Ressuscitados, os discípulos são capazes de caminhar sozinhos.
É preciso saber criar um ambiente de fé e de fraternidade, de celebração e de partilha, onde possa agir o Espírito Santo. É ele quem nos faz descobrir e experimentar a Palavra de Deus na vida e nos ajuda a entender o sentido das palavras de Jesus (Jo 14,26; 16,13).
Os dois revigoram sua coragem e voltam a Jerusalém, onde continuam ativas as
mesmas forças de morte que tinham matado Jesus e tinham matado as esperanças
deles.
Agora tudo mudou. Jesus está vivo, então nele e por ele encontra-se um poder
maior do poder que o matou. Esta experiência os faz ressuscitar! Realmente,
mudou tudo.
Existe a volta e não a fuga! Fé e não incredulidade! Esperança e não desespero!
Consciência crítica, e não fatalismo diante do poder! Liberdade e não opressão!
Numa palavra: vida e não morte! Em lugar da péssima notícia da morte de Jesus, a Boa Nova de sua Ressurreição! Os dois experimentam a vida e vida em abundância! (Jo 10,10). Sinal que o Espírito de Jesus age neles!
Os dois disseram: "Nós esperávamos, mas...!" Você já viveu uma
situação de desânimo que o levou a dizer: "Eu esperava,
mas...!"? Como você lê, usa e interpreta a Bíblia? Nunca sentiu arder
o coração em ler e meditar a Palavra de Deus? Como você pratica a Escuta da
Palavra? Você lê a Bíblia sozinho (a) ou faz parte de um grupo bíblico?
Reflexão Apostólica:
Quantas vezes Jesus continua caminhando conosco sem que o
reconheçamos? Provemos da Bíblia e da eucaristia, e veremos como se abrirão
nossos olhos e reconheceremos o Mestre.
Estamos no tempo Pascal que se estende por 7 semanas, do domingo
de Páscoa à Festa de Pentecostes. É o mais belo e vibrante tempo de todo o
calendário litúrgico da Igreja. Por Ele, ela nos convida, através dos
testemunhos das Escrituras e de testemunhas oculares a fortalecermos nossa
adesão pessoal ao motivo maior de nossa fé: a RESSURREIÇÃO DE CRISTO.
De fato, diz Paulo: "Se
Cristo não tivesse ressuscitado, a nossa fé seria vã e os nossos pecados não
poderiam ser perdoados; a nossa esperança seria limitada apenas a esta vida e
seríamos os mais infelizes de todos os homens." (1Cor
15,17-19)
Neste domingo Jesus volta a aparecer a dois discípulos que
caminhavam de Jerusalém para seu povoado chamado Emaús. Como dissemos, as
aparições do Ressuscitado 3 dias depois de sua morte têm esse caráter de
CONFIRMAR A FÉ dos apóstolos e discípulos e lhes reunir em torno de si
para proclamarem a todos os povos que a morte foi vencida pela vida, que a
escravidão deu lugar à liberdade, que o pecado foi suplantado pela graça.
Essa passagem é exclusiva de Lucas e é bastante possível, conforme confirmação
de inúmeros estudiosos, que os fatos originais tenham sido reelaborados pelo
evangelista no intuito de servir como catequese para ajudar as pessoas
iniciadas à fé cristã.
Seja como for, isso não invalida e nem tampouco diminui a veracidade da
aparição de Jesus VIVO aos dois discípulos, pelo contrário: Lucas aproveita
essa verdade para ensinar e fortalecer a fé dos primeiros catecúmenos da
Igreja.
Um curioso e inteligente paralelismo entre essa passagem e a estrutura da
celebração da Missa (composta de dois grandes momentos, a saber, Liturgia da
Palavra e Liturgia Eucarística) faz supor na comunidade de Lucas uma
experiência de vida eucarística precedida pelo ensino da Palavra ministrado
pelos Apóstolos.
Basicamente a passagem de hoje é o que vivemos em cada domingo em nossas
igrejas: Jesus reparte conosco, na Liturgia da Palavra, o pão da Palavra e na
Liturgia Eucarística, o pão Eucarístico (seu próprio corpo e sangue sob a forma
aparente do pão e do vinho). Assim, podemos nós também senti-lo VIVO e PRESENTE
em nossas vidas como o sentiram os discípulos de Emaús.
O fato de Jesus simular que ia mais adiante revela-nos duas verdades sobre Ele
em nossas vidas:
1. Jesus QUER FICAR CONOSCO
2. Mas não força a entrada. QUER QUE O CONVIDEMOS!
Ele é maravilhosamente respeitoso de nossa liberdade. Não deseja que ninguém o
aceite contra a vontade, por mais que deseje participar de nossa vida! Sabe que
só seremos realmente FELIZES quando lhe dermos o nosso SIM, quando lhe
CONVIDARMOS para ficar conosco.
Os discípulos reconhecem isso, o convidam e Ele prontamente aceita. A noite
naquela região desértica era cheia de perigos: animais selvagens e ladrões eram
as maiores preocupações para os viajantes, principalmente se estivessem à pé;
sem falar no frio que poderia chegar a 10 graus abaixo de zero.
Os discípulos, ao longo daquelas agradáveis horas de caminhada com aquele
estranho, sentem que podem confiar nele, sabem que existe algo a mais e estão
gratos pela atenção, sabedoria e revelações sobre a pessoa do Cristo com eles partilhada.
Nutrem estima por aquela pessoa que conheceram a pouco tempo e sua educação
alicerçada na hospitalidade não permite que deixem aquele irmão continuar sua
jornada durante a noite.
Jesus anda conosco, mas por vezes, quando chega a "noite de nossa
alma", esquecemo-nos de convidá-lo para ficar conosco e o deixamos de
fora.
Quantas vezes temos medo de situações com as quais não sabemos lidar na vida
familiar, em nossa atividade profissional ou na comunidade eclesial e ao invés
de buscarmos nele nossa força, o deixamos de lado e tentamos resolver as coisas
pela nossa própria cabeça, sem a direção e a luz de sua presença.
Ele quer nos ajudar! Ele está pronto a entrar em nossas vidas e assumir o controle nesses momentos mais difíceis, mas aguarda nosso convite para poder entrar e ficar conosco.
Enquanto a Sagrada Escritura faz arder o coração, a Eucaristia acaba com a
incapacidade de enxergar! É como uma cura através de dois remédios.
No momento em que os discípulos reconhecem Jesus, sua aparência física já não é
mais necessária. Tampouco adiantaria que Jesus aparecesse hoje em carne e osso
a quem já acredita plenamente nele. Na verdade, Ele continua querendo que o
enxerguemos nas Escrituras (principalmente em nosso próximo) e na Eucaristia.
O coração dos discípulos se enche de alegria, sua alma de ânimo, seus corpos
cansados de novo vigor pela grande notícia que tinham que levar aos demais. Por
isso saem naquela mesma hora e voltam para Jerusalém.
Devem ter chegado muito tarde, mas nem o frio, nem a escuridão, nem as armadilhas que poderiam encontrar no caminho são capazes de lhes causar alguém temor e isso porque levam dentro de si a LUZ do Ressuscitado e a certeza de que Ele os acompanha. Quando o discípulo está acompanhado por seu mestre não lhe pode invadir nenhum temor.
Aqueles que, sem esperança, tinham abandonado a comunidade para voltar à suas vidinhas medíocres, agora, revigorados pelo Senhor, são congregados por Ele. Jesus é o ponto de união, pedra fundamental da Igreja que nasce. Ele é o centro para o qual tudo converge!
Que maravilhosas lições tiramos desta passagem:
1. Jesus caminha conosco
2. Quer participar de nossa vida
3. Espera que o convidemos par tomar posse de nosso coração
4. Nos reúne em torno dele como comunidade eclesial
5. Se dá a conhecer pela Palavra e pela Eucaristia
Que o Senhor está conosco, todo o tempo, bem o sabemos. Contudo, é nos momentos
mais difíceis, quando estamos mais desanimados, tristes, frustrados, sentindo o
peso da dor de nossa imperfeita condição, sem nenhuma esperança de solução para
uma determinada situação, que Ele se achega ainda mais (lembro-me aqui do
bonito poema "PEGADAS NA AREIA").
Como é difícil enxergá-lo. Nos é muito mais fácil louvá-lo e agradecê-lo quando
tudo vai bem, mas quando estamos diante de situações complicadas, onde o mundo
parece desabar sobre nossas cabeças, se torna tão complicado reconhecermos que
Ele está ao nosso lado, pedindo para assumir o controle.
Achamos que temos condições de tudo empreender e de tudo fazer acontecer, mas
nos esquecemos que, fora algumas poucas coisas, sobre todo o resto não temos
nenhuma influência. Temos que parar de nos dar tanta importância, achando que
tudo depende de nós. Falácia!
Ele caminha conosco e está interessado que o enxerguemos e que a Ele dediquemos
nossas vidas; todo o resto nos será acrescentado.
Temos essa coragem? Temos a coragem de abrir nosso coração e convidá-lo a entrar e comandar nossas decisões?
Propósito: Estar atento/a para ouvir os passos do Ressuscitado ao meu lado, para ouvi-lo na sua Palavra e encontrá-lo na Eucaristia
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