14 ABRIL - Qualquer outro meio de defesa pode tornar-se arma de
ofensa quando não sabemos fazer uso prudente dele: mas este da oração humilde e
perseverante não falha nunca. (L 33). São Jose Marello
João 21,1-14
Naquele tempo, Jesus apareceu de novo aos discípulos, à beira do
mar de Tiberíades. A aparição foi assim: Estavam juntos Simão Pedro, Tomé,
chamado Dídimo, Natanael de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e outros
discípulos de Jesus. Simão Pedro disse a eles: “Eu vou pescar”. Eles
disseram: “Também vamos contigo”. Saíram e entraram na barca, mas não pescaram
nada naquela noite. Já tinha amanhecido, e Jesus estava de pé na margem. Mas os
discípulos não sabiam que era Jesus. Então Jesus disse: “Moços, tendes alguma
coisa para comer?” Responderam: “Não”. Jesus disse-lhes: “Lançai a rede à
direita da barca, e achareis”. Lançaram, pois, a rede e não conseguiam puxá-la
para fora, por causa da quantidade de peixes. Então, o discípulo a quem Jesus
amava disse a Pedro: “É o Senhor!” Simão Pedro, ouvindo dizer que era o Senhor,
vestiu uma roupa, pois estava nu, e atirou-se ao mar. Os outros discípulos
vieram com a barca, arrastando a rede com os peixes. Na verdade, não estavam
longe da terra, mas somente a cerca de cem metros. Logo que pisaram a terra,
viram brasas acesas, com peixe em cima, e pão. Jesus disse-lhes: “Trazei alguns
dos peixes que apanhastes”. Então Simão Pedro subiu ao barco e arrastou a
rede para a terra. Estava cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e,
apesar de tantos peixes, a rede não se rompeu. Jesus disse-lhes: “Vinde comer”.
Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar quem era ele, pois sabiam que era
o Senhor. Jesus aproximou-se, tomou o pão e distribuiu-o por eles. E fez a
mesma coisa com o peixe. Esta foi a terceira vez que Jesus, ressuscitado dos
mortos, apareceu aos discípulos.
Reflexão – “fazer diferente”
Pela terceira vez, Jesus ressuscitado dos mortos apareceu aos
Seus discípulos, agora, não somente como uma visão ou uma aparição transitória,
mas de uma forma participativa. Os discípulos que haviam voltado para a mesma
vida que tinham antes de encontrarem Jesus, estavam tristes e acabrunhados,
pois “Não pescaram
nada naquela noite e
já tinha amanhecido”. No entanto, de repente, Jesus vem ao
encontro deles e lhes manda fazer tudo diferente. As palavras de Jesus lhes
deram ânimo e coragem e eles obedeceram. Por isso, viram o milagre mais uma vez
acontecer. Hoje, também, Jesus está muito perto de nós à beira da nossa vida,
nos pede de comer e nos manda lançar a rede de outro modo, de um jeito novo, do
contrário do que sempre temos feito. Se prestássemos mais atenção às palavras
de Jesus, verificaríamos que elas são palavras de vida, de ensinamentos, de
alguém que participa e compartilha conosco.
“Lançai a rede à direita da
barca!”
A rede para nós poderá significar a nossa atenção, o nosso zelo,
o nosso ideal de vida, a nossa maneira de pensar e de agir. Todos nós, mesmo
conhecendo Jesus, somos tentados a fazer as coisas sempre do mesmo jeito, não
gostamos de mudanças, pois estamos apegados (as) às nossas raízes, ao que
aprendemos desde criança. Dessa maneira, não conseguimos também evoluir como
pessoas comprometidas com o seguimento de Cristo, pois não obedecemos às Suas
ordens de mudança. Jesus, agora, também quer nos ensinar a pescar o
alimento para a nossa alma, e nos orienta de uma maneira completamente
inovadora, como devem ser as nossas ações, nossas ideias e nosso modo de viver. Por isso Ele
também nos diz, “Vinde
comer!” Jesus, que sempre fez questão de alimentar-se com os
Seus discípulos e de ensiná-los a repartir o pão, também quer compartilhar
conosco da Sua Palavra e nos dar de comer do Seu próprio Corpo e Sangue do
mesmo jeito que fez com os apóstolos.
– Você também tem aprendido com
Jesus a pescar de um jeito diferente? – O que você precisa fazer
diferente? – Pergunte a Jesus qual o lado certo para você lançar a sua rede?
– Peça para que Ele lhe mostre a vida nova, o novo jeito de viver e
ser feliz! – Você tem certeza de que está fazendo as coisas da maneira que
Jesus quer? – O que mudou nas suas ideias e ações depois que encontrou Jesus?
O evangelista João nos
apresenta, no final de sua obra, um dos mais lindos e emotivos relatos de
aparição do Ressuscitado (Jo 21,1-14): Aos discípulos que já não se encontram
em Jerusalém porque fugiram da repressão, Jesus se lhes aparece como sinal de
que ainda seu projeto continua vigente e é de vital importância para os seres
humanos e que sua morte não significou um fracasso. A princípio, parece que sua
lembrança havia desaparecido; depois, quando o descobrem, se surpreendem
grandemente. Quem descobre que se trata de Jesus é precisamente João, o
discípulo amado. A aparição de Jesus faz renascer a fé de seus discípulos, faz
com que recuperem o tempo perdido e comecem a pensar como irão se organizar
novamente; entendendo que nesse momento, estão dedicando sua vida unicamente
para manter sua subsistência.
O Ressuscitado
aparece a seus discípulos num dia comum e eles não o reconhecem apesar de Jesus
ter-lhes falado. Alguns dos apóstolos estiveram pescando durante toda a noite,
como fazem tantos pescadores mundo afora, e voltam com as redes vazias. Entre a
bruma do amanhecer, já perto da praia, ouvem e vêem um desconhecido que lhes
pergunta pela pesca. Tendo dado uma resposta desanimada, recebem a sugestão de
novamente lançar as redes ao outro lado da barca, com tanto êxito que quase não
podiam arrastá-las, depois de apanhar uma enorme quantidade de peixes. É a
pesca milagrosa que são Lucas havia relatado como um episódio pré-pascal, no
contexto da vocação dos primeiros discípulos (Lc 5,1-11), e que aqui, no 4o.
evangelho, aparece como um milagre pós-pascal num contexto também vocacional:
os apóstolos na barca, as redes, a pesca abundante, são símbolos tradicionais
da tarefa evangelizadora da igreja ao longo de todos os séculos.
Quando o
desconhecido da praia é identificado pelos apóstolos, e quando se reúnem com
ele, encontram já a comida preparada: o fogo, o pão, o peixe assado. Jesus lhes
convidou para comer dos peixes, cuja pesca havia sido muito abundante.
Posteriormente, os gestos e as palavras pronunciadas dão a sensação de que
estivesse fazendo alusão à eucaristia, pela forma de partilhar a refeição
unidos: Jesus tomou o pão e distribuiu-o por eles. E fez a mesma coisa com o
peixe. O Ressuscitado reitera os gestos da eucaristia: partir o pão e reparti-lo.
Acontece que a igreja se reúne ao redor do Senhor ressuscitado, a sua
eucaristia, para ser enviada a pescar nos mares do mundo. Pescar filhos e
filhas de Deus, que queiram servir aos demais como a irmãos, que queiram dar
testemunho do amor de Deus a todos os seres humanos.
A metáfora da pesca
foi sempre na comunidade cristã um motivo continuo de reflexão. Lembra a
primeira experiência da Galiléia quando os primeiros discípulos receberam o
chamado e se começou a formar o primeiro grupo de discípulos e discípulas. Após
a ressurreição Jesus convoca a comunidade e a alimenta, dando-lhe força para
prosseguir com a tarefa apostólica. A tarefa que nessa época lhes havia encomendado
continua crescendo sob a direção e apoio do Mestre. Eles o reconhecem ao compartilhar
a refeição do trabalho diário.
Deste modo, o
evangelho de João junta dois motivos que, apesar de sua distância no tempo,
concentram todas as verdades que os cristãos haviam compreendido por sua
experiência pessoal e comunitária no ressuscitado. João não se contenta com
esta lembrança e faz uma segunda referência à época quando foi escrito o
evangelho ao nomear o peixe e o pão. O peixe havia se convertido no símbolo do
cristianismo no final do primeiro século. Os cristãos viviam em pequenas comunidades
quase no anonimato. A cruz ainda não havia ganhado seu lugar como símbolo da
redenção. Os cristãos, então, apelavam aos símbolos do evangelho como o pastor
de ovelhas, o pescador e o peixe. A palavra peixe na língua grega era utilizada
como acróstico do anúncio fundamental dos primeiros cristãos. Com esta palavra
comunicavam os aspectos essenciais do mistério de salvação.
Para renascer, a
comunidade cristã haverá de ser animada por Jesus e seu Espírito, que se
tornarão manifestos em cada ato comunitário. Jesus, a pedra fundamental,
rejeitada por muitos e aceita por tantos, continua caminhando com sua
comunidade nas tarefas do dia-a-dia e realizando gestos de partilha e
solidariedade. O renascimento da Igreja deixa de ser então um capricho ou um
simples esforço humano: é uma obra de Deus mesmo, que nos tira da vida
ordinária em que estamos, nos sacode, para fazer-nos entender e assumir nosso
papel no plano de Deus, o projeto que Jesus nos apresentou. A Igreja é fruto do
querer de Deus que contradiz os interesses humanos para colocar o Ressuscitado
na alma daqueles que o seguem, fazendo com que se sintam irmãos de verdade.
Estas festas pascais
que estamos celebrando não podem ficar só nas aleluias. Devem despertar em nós
um intenso desejo de comunicar a outros a nossa fé, nossa alegria, o gozo de
saber que fomos salvos em nome de Jesus e convocados ao redor da ceia fraterna
para testemunhar no mundo a possibilidade de todos poderem viver como irmãos.
Por isso, sabendo que não há outro nome debaixo do céu pelo qual podemos ser
salvos, invoquemos o nome do Senhor Jesus sobre cada um dos nossos irmãos que
luta pela vida.
Oração:
Senhor
Jesus, nossa única esperança, também nós, muitas vezes, nos descobrimos de mãos
vazias; recebei o pouco que temos e somos e, em troca, dai-nos a vossa própria
vida. Que a Sua presença reforce a comunhão com nossos irmãos e irmãs de fé, a
fim de podermos atrair para Vós muitas outras pessoas de boa vontade. A Vós o
louvor e a bênção pelos séculos dos séculos. Amém.
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