17 abril - A comunhão da oração, depois da Eucaristia, é o ponto
de fé mais consolador da oração do Creio. Todos os demais nos fazem temer:
este, ao contrário, coloca em nossas mãos um meio poderoso para fazer
violência, por assim dizer, à misericórdia de Deus. (L 7). São Jose Marello
Leitura do Evangelho João 3, 1-8
Naquele tempo, 1Havia alguém dentre
os fariseus, chamado Nicodemos, um dos chefes dos judeus. 2À
noite, ele foi se encontrar com Jesus e lhe disse: “Rabi, sabemos que vieste
como mestre da parte de Deus, pois ninguém é capaz de fazer os sinais que tu
fazes, se Deus não está com ele”. 3Jesus respondeu: “Em
verdade, em verdade, te digo: se alguém não nascer do alto, não poderá ver o
Reino de Deus!” 4Nicodemos perguntou: “Como pode alguém nascer,
se já é velho? Ele poderá entrar uma segunda vez no ventre de sua mãe para
nascer?” 5Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, te digo: se
alguém não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de
Deus. 6O que nasceu da carne é carne; o que nasceu do Espírito
é espírito. 7Não te admires do que eu te disse: É necessário
para vós nascer do alto. 8O vento sopra onde quer e ouves a sua
voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim é também todo aquele
que nasceu do Espírito”.
Reflexão
* O
evangelho de hoje traz uma parte da conversa de Jesus com Nicodemos. Nicodemos
aparece várias vezes no evangelho de João (Jo 3,1-13; 7,50-52; 19,39). Ele era
uma pessoa de certa posição social. Tinha liderança entre os judeus e fazia
parte do supremo tribunal chamado Sinédrio. No evangelho de João, ele
representa o grupo de judeus que eram piedosos e sinceros, mas que não chegavam
a entender tudo que Jesus fazia e falava. Nicodemos tinha ouvido falar dos
sinais, das coisas maravilhosas que Jesus realizava, e ficou impressionado.
Ele quer
conversar com Jesus para poder entender melhor. Ele era uma pessoa estudada que
pensava entender as coisas de Deus. Ele esperava o Messias com o livrinho da
lei na mão para verificar se o novo anunciado por Jesus estava de acordo. Jesus
faz perceber a Nicodemos que a única maneira para alguém poder entender as
coisas de Deus é nascer de novo! Hoje acontece a mesma coisa.
Alguns são como Nicodemos: só aceitam como novo aquilo que está de acordo com
as suas próprias ideias. O que não estiver de acordo é recusado como sendo
contrário à tradição. Outros se deixam surpreender pelos fatos e não têm medo
de dizer: “Nasci de novo!”
* João
3,1: Um homem, chamado Nicodemos
Pouco antes
do encontro de Jesus com Nicodemos, o evangelista falava da fé imperfeita de
certas pessoas que só se interessavam pelos milagres de Jesus (Jo 2,23-25).
Nicodemos era uma destas pessoas. Tinha boa vontade, mas a sua fé ainda era
imperfeita. A conversa com Jesus vai ajudá-lo a perceber que deve dar um passo
a mais para poder aprofundar sua fé em Jesus e em Deus.
* João
3,2: 1ª pergunta de Nicodemos: tensão entre o velho e o novo
Nicodemos
era um fariseu, pessoa de destaque entre os judeus e com um bom raciocínio. Ele
foi encontrar Jesus de noite e lhe diz: “Você vem da parte de Deus como
um mestre, pois ninguém é capaz de fazer os sinais que você faz!” Nicodemos
opina sobre Jesus a partir dos argumentos que ele, Nicodemos, tem dentro de si.
Isto já é um passo importante, mas não basta para conhecer Jesus.
Os sinais que
Jesus faz podem despertar a pessoa e produzir nela um interesse. Podem gerar
curiosidade, mas não geram entrega nem fé. Não fazem ver o Reino de Deus
presente em Jesus. Para isto é necessário dar mais um passo. Qual é este passo?
* João
3,3: Resposta de Jesus: “Tem que nascer de novo!”
Para que
Nicodemos possa perceber o Reino presente em Jesus, ele terá que nascer de
novo, do alto. Quem tenta compreender Jesus só a partir dos seus próprios
argumentos, não consegue entendê-lo. Jesus é maior. Enquanto Nicodemos fica só
com o catecismo do passado na mão, não vai poder entender Jesus. Ele terá que
abrir mão de tudo.
Terá que
deixar de lado suas próprias certezas e seguranças e entregar-se totalmente.
Terá que fazer uma escolha entre, de um lado, manter a segurança que lhe vem da
religião organizada com suas leis e tradições e, do outro lado, lançar-se na
aventura do Espírito que Jesus lhe propõe.
* João
3,4: 2ª pergunta de Nicodemos: Como é possível nascer de novo?
Nicodemos
não dá o braço a torcer e torna a perguntar com certa ironia: “Como uma
pessoa pode nascer sendo já velha? Poderá entrar uma segunda vez no seio de sua
mãe e nascer?” Nicodemos tomou as palavras de Jesus ao pé da letra e,
por isso, não entendeu nada. Ele deveria ter percebido que as palavras de Jesus
tinham um sentido simbólico.
* João
3,5-8: Resposta de Jesus: Nascer do alto, nascer do espírito
Jesus
explica o que quer dizer: nascer do alto ou nascer de novo. É “nascer
da água e do Espírito”. Aqui temos uma alusão muito clara ao batismo.
Através da conversa de Jesus com Nicodemos, o evangelista nos convida a fazer
uma revisão do nosso batismo.
Ele relata
as seguintes palavras de Jesus: “O que nasceu da carne é carne. O que
nasceu do Espírito é Espírito”. Carne significa aquilo que
nasce só das ideias nossas. O que nasce de nós tem o nosso tamanho. Nascer do
Espírito é outra coisa! O Espírito é como o vento. “O
vento sopra onde quer e você ouve o seu ruído, mas você não sabe de onde vem
nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do espírito” O
vento tem, dentro de si, um rumo, uma direção.
Nós
percebemos a direção do vento, por exemplo, no vento Norte ou vento Sul, mas
não conhecemos nem controlamos a causa a partir da qual o vento se movimenta
nesta ou naquela direção. Assim é o Espírito. “Ninguém é senhor do
Espírito” (Ecl 8,8). O que mais caracteriza o vento, o Espírito, é a
liberdade. O vento, o espírito, é livre, não pode ser controlado. Ele age sobre
os outros e ninguém consegue agir sobre ele. Sua origem é
mistério, seu destino é mistério. O barqueiro deve, primeiro, descobrir o rumo
do vento. Depois, deve colocar as velas de acordo com este rumo. É o que
Nicodemos e todos nós temos de fazer.
* Uma
chave para entender melhor as palavras de Jesus sobre o Espírito Santo
A língua
hebraica usa a mesma palavra para dizer vento e espírito.
Como dissemos, o vento tem, dentro de si, um rumo, uma direção:
vento Norte, vento Sul. O Espírito de Deus tem um rumo, um projeto, que já se
manifestava na criação. O Espírito estava presente na criação sob a forma de
uma ave pairando sobre as águas do caos (Gn 1,2). Ano após ano, ele renova a
face da terra e coloca a natureza em movimento através da sequência das
estações (Sl 104,30; 147,18). Este mesmo Espírito está presente também na
história. Fez recuar o Mar Vermelho (Ex 14,21) e trouxe as codornizes para o
povo comer (Nm 11,31).
Esteve com
Moisés e, a partir dele, se distribuiu nas lideranças do povo (Nm 11,24-25).
Tomava posse dos líderes e os levava a realizar ações libertadoras: Otoniel (Jz
3,10), Gedeão (Jz 6,34), Jefté (Jz 11,29), Sansão (Jz 13,25; 14,6.19; 15,14),
Saul (1Sm 11,6), e Débora, a profetisa (Jz 4,4). Esteve presente no grupo dos
profetas e agia neles com força contagiosa (1Sm 10,5-6.10). Sua ação nos
profetas produziu inveja nos outros, mas Moisés reagiu: “Oxalá todo o povo
fosse profeta e recebesse o Espírito de Javé!” (Nm 11,29).
* Ao longo
dos séculos cresceu a esperança de que o Espírito de Deus orientasse o Messias
na realização do projeto de Deus (Is 11,1-9) e descesse sobre todo o povo de
Deus (Ez 36,27; 39,29; Is 32,15; 44,3). A grande promessa do Espírito
transparece de várias maneiras nos profetas do exílio: a visão dos ossos secos,
ressuscitados pela força do Espírito de Deus (Ez 37,1-14); a efusão do Espírito
de Deus sobre todo o povo (Jl 3,1-5); a visão do Messias-Servo que será ungido
pelo Espírito para estabelecer o direito na terra e anunciar a Boa Nova aos
pobres (Is 42,1; 44,1-3; 61,1-3). Eles vislumbram um futuro, em que o povo,
cada vez de novo, renasce pela efusão do Espírito (Ez 36,26-27; Sl 51,12; cf.
Is 32,15-20).
* O
evangelho de João usa muitas imagens e símbolos para significar a ação do
Espírito. Como na criação (Gn 1,1), assim o Espírito desceu sobre Jesus “como
uma pomba, vinda do céu” (Jo 1,32). É o começo da nova criação! Jesus
fala as palavras de Deus e nos comunica o Espírito sem medida (Jo 3,34). Suas
palavras são Espírito e vida (Jo 6,63). Quando Jesus se despediu, ele disse que
ia enviar um outro consolador, um outro defensor, para ficar conosco. É o
Espírito Santo (Jo 14,16-17).
Através da
sua paixão, morte e ressurreição, Jesus conquistou o dom do Espírito para nós.
Através do batismo todos nós recebemos este mesmo Espírito de
Jesus (Jo 1,33). Quando apareceu aos apóstolos, soprou sobre eles e
disse: “Recebei o Espírito Santo!” (Jo 20,22). O Espírito é
como água que jorra de dentro das pessoas que creem em Jesus (Jo 7,37-39;
4,14). O primeiro efeito da ação do Espírito em nós é a reconciliação: “Aqueles
a quem vocês perdoarem os pecados serão perdoados; aqueles aos quais retiverem,
serão retidos” (Jo 20,23). O Espírito nos é dado para que possamos
lembrar e entender o significado pleno das palavras de Jesus (Jo 14,26;
16,12-13). Animados pelo Espírito de Jesus podemos adorar a Deus em qualquer
lugar (Jo 4,23-24). Aqui se realiza a liberdade do Espírito de que fala São
Paulo: “Onde há o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2Cor 3,17).
4) Para um
confronto pessoal
1. Como você
costuma reagir diante das novidades que se apresentam? É como Nicodemos ou
aceita a surpresa de Deus?
2) Jesus
compara a ação do Espírito Santo com o vento (Jo 3,8). O que esta comparação
nos revela sobre a ação do Espírito de Deus na minha vida? Você já passou por
alguma experiência que lhe deu a sensação de nascer de novo?
*
Neste texto do Evangelho de hoje, temos a conclusão do diálogo de Jesus com
Nicodemos. O evangelista João recorre ao simbolismo da serpente de bronze (cf.
Nm 21,9) – a qual, pela fé, libertava das mordidas mortais das serpentes do
deserto para aplicá-lo à fé em Jesus, pelo qual se tem a vida eterna. Este
diálogo com Nicodemos é um convite à conversão. Coloca em confronto as duas
opções: aquele que crê e aquele que não crê, aquele que pratica o mal e ama as
trevas e aquele que pratica a verdade e se aproxima da luz.
Jesus
rejeitava, muitas vezes, aqueles que tentavam segui-lo. A um jovem rico que
buscava o seu conselho, ele replicou com palavras tão fortes que o homem foi
embora entristecido, não disposto a seguir Jesus a tão alto preço. A um
importante líder religioso, Nicodemos, que tinha vindo louvando Jesus, o Senhor
respondeu abruptamente: Você tem que nascer de novo, se
quiser ao menos ver o reino de Deus! Jesus pintava francamente as
dificuldades em segui-lo e rejeitava todos os que tentavam fazê-lo de forma
inadequada. Jesus pregou sobre o tema: “Não pode ser meu discípulo”, discutindo
abertamente a necessidade de calcular o custo antes de embarcar na vida de
discípulo.
Não era
porque Jesus não quisesse seguidores. Ele veio ao mundo para buscar e salvar os
perdidos. Ele estava profundamente comovido pelas multidões perdidas e ansiava
pela sua conversão. Mas Jesus sabia que não seria fácil para os homens segui-lo
e que eles estariam inclinados a enganarem-se a si mesmos, pensando que eram
discípulos, quando não eram. O Senhor nunca deixou de declarar francamente o
que a conversão real exige.
A troca
de palavras entre Jesus e Nicodemos, neste Evangelho de hoje, é fascinante.
Nicodemos era um chefe religioso. Ele veio a Jesus, louvando seus ensinamentos
e milagres. É difícil saber o que se passava na mente de Nicodemos, enquanto
falava. Talvez estivesse esperando louvor, uma posição na administração de
Jesus ou um voto de confiança pela obra que ele mesmo estava fazendo, como
mestre em Israel. Mas a resposta surpreendente de Jesus foi: “Nicodemos, você
precisa começar tudo de novo, se quiser entrar no reino de Deus.” Seja o que
for que Nicodemos estivesse esperando, não era isto! A resposta de Jesus
significava que toda a religião de Nicodemos, toda a sua atividade no ensino,
toda a sua posição no judaísmo, eram sem valor, em relação ao domínio de Deus.
Nós também precisamos ver que toda a nossa religião e nossa própria grandeza
nada valem. As realizações do passado nada representam. Precisamos recomeçar
tudo novamente para sermos capazes de entrar num relacionamento com Deus.
Mas para
isso basta olhar para o que Jesus ensinou! Para Ele é loucura começar um
projeto sem entender primeiro o que será exigido para terminá-lo. Ele ilustrou
com a ideia de um homem que começou a construir uma torre, mas loucamente
esqueceu de fazer um orçamento para determinar se teria fundos para
completá-la, e assim teve que parar no meio do projeto. A verdadeira conversão
necessita de um cuidadoso exame do estilo de vida que Deus espera do
convertido.
O
arrependimento, que é essencial à verdadeira conversão, envolve morte ao
pecado. A Bíblia o compara à morte e ressurreição de Cristo. Tem que haver uma
mudança de estilo de vida radical. A Bíblia usa termos como matar o velho homem
e revestir-se com o novo, e descreve com minúcias as mudanças exatas que
precisam ser feitas. Maus hábitos — embriaguez, imoralidade sexual, ira,
ganância, orgulho, etc. — precisam ser eliminados da própria vida, ao passo que
devem ser acrescentados o amor, a verdade, a pureza, o perdão e a humildade.
Este é o resultado do arrependimento.
Muitas
pessoas tentam ser convertidas e converter outras, sem arrependimento. Elas
ensinam um cristianismo indolor, que não exige sacrifício. Elas salientam as
emoções, a felicidade e as bênçãos, porém pensam pouco sobre as mudanças reais
que a conversão exige na vida diária da pessoa. Entendamos isto claramente: Não
há conversão sem transformação. Aquele que creu e foi batizado, aquele que até
mesmo foi aceito numa igreja e participa fielmente das atividades religiosas,
mas que não se arrependeu, não é salvo. O arrependimento é um compromisso
sério, determinado, para mudar sua própria vida.
Para
tomar parte realmente na Ceia do Senhor, a pessoa precisa de nascer de novo, no
poder a água e do Espírito Santo. Ela precisa executar o ato certo, pelo motivo
certo. A pessoa precisa ser um discípulo fiel.
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