16 abril - Nossa boca esteja sempre repleta dos louvores de Deus, começando aqui na terra o hino de louvor e de ação de graças que esperamos continuar eternamente no Céu. (S 355). São Jose Marello
João 20,19-31
- Que a paz esteja com
vocês!
Em seguida lhes mostrou
as suas mãos e o seu lado. E eles ficaram muito alegres ao verem o Senhor.
Então Jesus disse de novo: - Que a paz esteja com vocês! Assim como o Pai me
enviou, eu também envio vocês.
Depois soprou sobre
eles e disse: - Recebam o Espírito Santo. Se vocês perdoarem os pecados de
alguém, esses pecados são perdoados; mas, se não perdoarem, eles não são
perdoados.
Acontece que Tomé, um
dos discípulos, que era chamado de "o Gêmeo", não estava com eles
quando Jesus chegou. Então os outros discípulos disseram a Tomé: - Nós vimos o
Senhor! Ele respondeu: - Se eu não vir o sinal dos pregos nas mãos dele, e não
tocar ali com o meu dedo, e também se não puser a minha mão no lado dele, não
vou crer! Uma semana depois, os discípulos de Jesus estavam outra vez reunidos
ali com as portas trancadas, e Tomé estava com eles. Jesus chegou, ficou no
meio deles e disse: - Que a paz esteja com vocês! Em seguida disse a Tomé: -
Veja as minhas mãos e ponha o seu dedo nelas. Estenda a mão e ponha no meu
lado. Pare de duvidar e creia! Então Tomé exclamou: - Meu Senhor e meu Deus!
- Você creu porque me
viu? - disse Jesus. - Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram!
Jesus fez diante dos
discípulos muitos outros milagres que não estão escritos neste livro. Mas estes
foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E
para que, crendo, tenham vida por meio dele."
Para este segundo
domingo de Páscoa as leituras bíblicas nos induzem a aprofundar um pouco mais
os efeito concretos da ressurreição de Jesus. Quase poderíamos ver uma
interessante contraposição entre o que nos conta a primeira leitura (Atos
4,32-35) e o testemunho tão humano e simples do Evangelho (João 20,19-31). Esta
espécie de contraposição tem sua razão de ser precisamente se pensamos no
percurso gradual que os discípulos tiveram que realizar até alcançar as etapas
mais altas e maduras de sua fé na ressurreição de Jesus. Poderíamos dizer que a
fé é algo que vai entrando gradualmente na consciência daquele que crê, ou
seja, a consciência vai se abrindo gradualmente ao crescimento da fé.
Depois da morte de
Jesus, a comunidade sente-se com medo, insegura e indefesa diante das
represálias que pode ter contra eles os chefes judeus. Encontra-se em uma
situação de temor paralela a do antigo Israel no Egito quando os israelitas
eram perseguidos pelas tropas do faraó; e, como esteve aquele povo, os
discípulos estão também na noite em que o Senhor irá tirá-los da opressão. João
narra o encontro do túmulo vazio por Madalena, no amanhecer do primeiro dia da
semana. A seguir apresenta as tradições de aparições: primeiramente à própria
Madalena e, ao anoitecer deste primeiro dia da semana, aos discípulos reunidos
a portas fechadas. A mensagem de Maria Madalena, sem embargo, não os libertou
do temor. Não basta ter a notícia do sepulcro vazio; só a presença de Jesus
pode dar-lhes segurança no meio da hostilidade do mundo. Porém, tudo se
encaminha a partir do momento que Jesus - que é o centro da comunidade –
aparece de fato no centro, como ponto de referência, fonte de vida e ponto de
unidade.
No Evangelho da
primeira aparição de Jesus Ressuscitado, encontramos a história de Tomé, que é
também a história das comunidades de João e das nossas comunidades, porque Tomé
duvidou que o Senhor estivesse com eles, e, em nossos dias, diante de tantas
dificuldades, medos e incertezas na vida de fé em nossas comunidades, nós
também chegamos a pensar que Jesus não está conosco. Será que ele ressuscitou
mesmo? Será que enquanto ressuscitado caminha com as comunidades? Então por que
não aparece de uma vez e resolve tudo o que está errado
Há,
portanto, duas coisas no Evangelho de hoje que não podemos perder de vista: o
fato dos apóstolos estarem fechados por medo das autoridades judaicas, e o caso
da aparente falta de fé de Tomé. João nos apresenta o encontro do Senhor
ressuscitado com Tomé, que se nega a acreditar que seus companheiros tivessem
tido a experiência do Ressuscitado, que lhes tinha mudado a forma de ver o
mundo, tornado mais humanos e mais sensíveis à realidade que vivia seu povo
naqueles momentos históricos.
Talvez o episódio de Tomé
tenha sido acrescentado para dizer que os que não viram Jesus não são
inferiores às testemunhas oculares. O importante mesmo é a fé e o compromisso
com o projeto de Jesus. A figura de Tomé está simbolizando todos aqueles cuja
fé não é pura, não nasce da experiência de amor da comunidade, mas depende de
milagres, de sinais extraordinários. Mas Tomé dá um testemunho bonito: «Meu Senhor e meu Deus».
É a maior profissão do 4o Evangelho. Ele vê Jesus como Senhor e como Deus. É
Deus que exaltou seu Filho Jesus e o colocou onde estava, no princípio, junto
de Deus, como Senhor da Glória com igual dignidade com o Pai (cf. 5,18 e
10,33). Tudo termina com a única bem-aventurança no Evangelho de João: «Felizes os que não viram e
creram».
É difícil chegar à fé
na ressurreição, para nós como para Tomé. Ele não teve necessidade de «meter o
dedo», e no entanto teve de ver com os seus olhos; mas é graças a ele que Jesus
pronuncia a sua última bem aventurança: «Felizes
os que embora não vendo acreditarão!». Os destinatários destas palavras
somos nós os leitores do Evangelho, aquele «sinal escrito» capaz de suscitar a
fé que conduz a «viver no Nome de Jesus», na salvação. Somos, portanto,
chamados a experimentar a bem aventurança de quem vê Jesus com os olhos da
comunidade cristã, reunida no dia do Senhor e na escuta da Palavra de Deus
contida nas Escrituras Santas: de fato a comunidade e as Escrituras atualizam
para nós a ação do Espírito Santo, enquanto são vivificadas por Ele. A
comunidade e as escrituras interagem com o Espírito, criando uma circulação de
vida que está no coração da liturgia eucarística: o Espírito vivifica a igreja
tornando-a corpo de Cristo, e ressuscita as páginas de todas as Escrituras
tornando-a Palavra vivente de Deus, testemunha do Senhor ressuscitado.
A ressurreição de
Jesus é o marco central da fé cristã. No entanto, essa boa notícia só chegou
até nós, graças ao testemunho ocular daqueles que disseram«VIMOS O
SENHOR!» É alicerçado
nesse testemunho que nós também cremos que o Senhor está vivo. Assim, somos
imensamente felizes, mesmo sem tê-lo visto. Que a Eucaristia alimente cada vez
mais a nossa fé no Ressuscitado.
A paz que nos foi dada
por Jesus Cristo, através daqueles homens reunidos no Cenáculo, é a paz
consoladora, a paz ativa que constrói pontes, a paz daqueles que lutam e
reativam os laços de justiça a fraternidade próprios de uma humanidade que é
chamada a viver em fraternidade. É esta paz que nos cabe construir hoje, tanto
tempo depois daquele acontecimento escondido em uma sala fechada em Jerusalém,
mas que continua a ser incessantemente dada pelo Pai a cada um de Seus filhos.
Jesus não promete a
paz do comodismo, mas pelo contrário, envia os seus discípulo na missão árdua
em favor do Reino, mas promete o Shalom,
pois ele nunca abandonará quem procura viver na fidelidade ao projeto de Deus.
Jesus soprou sobre os discípulos, como Deus fez (é o mesmo termo) sobre Adão
quando infundiu nele o espírito de vida; Jesus os recria com o Espírito Santo.
Normalmente imaginamos
o Espírito Santo descendo sobre os discípulos em Pentecostes, mas aquilo era a
descida oficial e pública do Espírito para dirigir a missão da Igreja no mundo.
Para João, o dom do Espírito, que da sua natureza é invisível, flui da
glorificação de Jesus, da sua volta ao Pai. O dom do Espírito neste texto tem a
ver com o perdão dos pecados.
Tomemos
de novo as passagens dos Atos e do Evangelho e analisemos o relato evangélico
como ponto de partida do necessário processo da fé e a ação até chegar ao
relato dos Atos, assumindo-o como ponto de chegada. À luz destas passagens,
analisemos a experiência de fé e de vida de nossa comunidade. A experiência de
Jesus ressuscitado vem a ser a experiência da unidade e a de não excluir o
irmão. Deus é Pai de todos os que assumem o projeto de vida, proposto para a
humanidade por meio de Jesus.
E
como último ponto da nossa reflexão, o Evangelho nos coloca a importância de
vivermos e participarmos da comunidade porque ela é o único local onde podemos
fazer a experiência do Senhor Ressuscitado. Quando deixamos de freqüentá-la,
como ocorreu com Tomé, que não foi na celebração do domingo, acabamos ficando
incrédulos e o desânimo poderá nos abater, porque o pecado cega-nos a alma e o
coração e passamos a enxergar apenas os erros do nosso irmão, não nos dando
conta de que Jesus Ressuscitado caminha conosco e vai à nossa frente!
Para finalizar, façamos
uma avaliação pessoal:
«Felizes os que não viram e creram».
Quais são os fundamentos de minha fé? Por que creio? Apóia-se minha fé em
argumentos racionais?
Paz para vós. Tenho paz, paz profunda, Shalom?
Vivo minha religião buscando milagres
em meu favor, ou me dedicando ao serviço dos outros e da comunidade?
Com o coração sincero
e aberto ao influxo do Espírito, dirijamos nossa súplica ao Pai. Rezemos para
que se estabeleça a paz em nosso mundo.
Oração: Deus de misericórdia infinita, que
reanimas a fé de vosso povo com a celebração anual das festas pascais: acolhei
o nosso coração dividido por causa de tantos temores e dúvidas; transformai-o
em coração íntegro, capaz de sentir como próprios os sofrimentos e alegrias dos
irmãos e irmãs. Aumentai em nós os dons de vossa graça para que compreendamos
melhor que sois verdadeiramente Pai e doador da Vida, que nos recomendaste
acolher e incrementar a vida, e que a Vida finalmente triunfará. Pai, abri
todas as portas que nos mantêm fechados no medo e na insegurança, para que
consigamos ir ao encontro do mundo a ser evangelizado. Guardai-nos do pecado e
fazei de nós um instrumento de vossa paz e de vosso amor. Ajudai-nos a observar
vossos mandamentos. Maria, Mãe de Cristo e nossa paz, que no Calvário recebeu o
seu testamento de amor, nos ajude a ser testemunhas e apóstolos da sua
misericórdia infinita. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do
Espírito Santo. Amém!
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