09 abril – Lembra-te de buscar o
segredo da tua eloqüência na caridade. (L 23) São Jose Marello
João 20,1-9
"Domingo bem cedo, quando ainda estava escuro, Maria Madalena foi
até o túmulo e viu que a pedra que tapava a entrada tinha sido tirada. Então
foi correndo até o lugar onde estavam Simão Pedro e outro discípulo, aquele que
Jesus amava, e disse: - Tiraram o Senhor Jesus do túmulo, e não sabemos onde o
puseram!
Então Pedro e o outro discípulo foram até o túmulo. Os dois
saíram correndo juntos, mas o outro correu mais depressa do que Pedro e chegou
primeiro. Ele se abaixou para olhar lá dentro e viu os lençóis de linho; porém
não entrou no túmulo. Mas Pedro, que chegou logo depois, entrou. Ele também viu
os lençóis colocados ali e a faixa que tinham posto em volta da cabeça de
Jesus. A faixa não estava junto com os lençóis, mas estava enrolada ali ao
lado. Aí o outro discípulo, que havia chegado primeiro, também entrou no
túmulo. Ele viu e creu. (Eles ainda não tinham entendido as Escrituras
Sagradas, que dizem que era preciso que Jesus ressuscitasse.) E os dois voltaram
para casa."
Meditação:
Neste Evangelho, são interessantes alguns detalhes: Pedro e João, diante do relato das mulheres, correm ao sepulcro, mas João chega primeiro. Seria aqui o amor do “discípulo amado” a mostrar-se mais forte e dinâmico, por isso correu mais?
Diz o evangelho que João, porém, não entrou no sepulcro. Seria esperar e respeitar a primazia do Príncipe dos Apóstolos? Pedro então chega, como diz o evangelho, vê os detalhes do sepulcro vazio e nele entra. Em seguida, entra também João, que “vê” e “crê”.
A revelação de que “João vê e crê” seria uma virtude do “discípulo amado”? Como os dois discípulos de Emaús, Pedro e João não tinham também, ainda, compreendido as Escrituras.
Com grande liberdade, o evangelista João reinterpreta as tradições das comunidades que o antecederam, dando maior realce à dimensão universal da missão de Jesus, com uma abordagem diferenciada das tradições judaicas.
João ousa ultrapassar as próprias fronteiras das categorias do Antigo
Testamento. Daí o caráter simbólico com que ele aborda as narrativas daquelas
tradições, às quais recorrem, com freqüência, os evangelhos sinóticos,
principalmente Mateus e Lucas.
Depois de ter vivido quarenta dias, a Quaresma, sem cantar Aleluia, neste
domingo de Ressurreição com todos os nossos irmãs e irmãos cristãos somos
convocados a proclamar com alegria "Aleluia, o Senhor Ressuscitou,
Aleluia"!
Nossa fé na Ressurreição de Jesus, causa de nossa alegre esperança, porque a vida venceu a morte, se baseia na fé dos primeiros e primeiras discípulos/as de Jesus que reconheceram ressuscitado ao crucificado!
Porque ninguém viu a ressurreição, o agir ressuscitador de Deus, age no
silêncio e no segredo e na intimidade de seu seio regenerador.
A comunidade cristã foi percebendo e compreendendo aos poucos, pela ação do
Espírito, que seu Mestre tinha ressuscitado e continuava vivo no meio deles.
Invadiu-os a certeza de que Deus tinha resgatado Jesus da morte, confirmando a
veracidade e o valor de sua vida, palavra, de sua Causa. Deus está do lado de
Jesus, do lado dos crucificados.
Nessa experiência fundante da primeira comunidade, se baseia a força
missionária da Igreja que através dos séculos continua proclamando "O
Senhor Ressuscitou, verdadeiramente, aleluia!".
As primeiras palavras do evangelho de hoje "No primeiro dia da
semana", nos remetem ao relato da criação do livro do Gênesis, desta
maneira são João nos quer situar diante de uma nova criação: a ressurreição.
Ela foi o ato supremo da criação, a maior obra de Deus.
Como e onde percebemos a ressurreição de Jesus? Somos comunicadores,com
nossa fragilidade e pequenez, com nossa vida e palavra que a vida, o amor
vencem a morte?
É importante levar em conta que tanto Maria Madalena como Pedro e o discípulo
amado simbolizam a comunidade cristã, e o processo que ela faz para perceber e
acreditar na Ressurreição de Jesus.
Em Maria Madalena vemos uma comunidade que ainda está sofrendo pela morte
chocante de Jesus, por isso o evangelho frisa que ainda estava escuro, quando
ela foi ao sepulcro.
Podemos imaginar os sentimentos de dor e desorientação dessa mulher, que seguiu
com tanto amor àquele que a tinha libertado, devolvido sua dignidade e dado
sentido à sua vida.
O amor corajoso desta mulher a Jesus, leva-a a ir sozinha ao sepulcro,
mostrando, assim, a busca da comunidade cristã ansiosa de vida e de amor que,
sem saber como será possível, espera que a morte não seja a última palavra.
Ela se dirige ao lugar onde tinha sido colocado o corpo morto de seu Mestre, o
túmulo. E vê que ele está vazio, porque Deus não aceitou a morte de seu filho
amado.
Mas o túmulo vazio por si só é um sinal ambíguo, sujeito a várias
interpretações. É um sinal que fala a todos e leva a refletir na possibilidade
da ressurreição. É um convite à fé, mas não leva ainda a fé.
Nesta perícope de João, o verbo ver é citado quatro vezes. É a través dos diferentes
"ver" de Maria Madalena, Pedro e o discípulo amado, ou seja, da
comunidade, que se mostra o processo que ela faz para passar desde a dor da
morte à fé na ressurreição.
As palavras de Maria Madalena aos discípulos mostram claramente que ela pensa
que tinham roubado o corpo do Senhor. Esse é o primeiro impacto que sacode a
comunidade, e a faz reagir.
Por isso os dois discípulos saem correndo, o discípulo que leva o apelido do
amado de Jesus, que esteve com ele na cruz, chega primeiro e: "
Inclinando-se, viu os panos de linho no chão, mas não entrou". Ele percebe
que há sinais de vida, mas ainda não alcança a plena compreensão do que
aconteceu.
Num gesto de reconhecimento, Pedro deixa que ele entre primeiro no túmulo. E
Pedro "viu os panos de linho estendidos no chão e o sudário que tinha
sido usado para cobrir a cabeça de Jesus..."
Por que o evangelista tem tanta preocupação em descrever como estavam os panos
que cobriam o corpo e rosto de Jesus?
Talvez para fazer lembrar que ali esteve verdadeiramente o corpo morto de Jesus
e o fato de que os panos se encontrem tão ordenadamente dobrados mostra que não
foram ladrões quem levaram o corpo.
Finalmente o discípulo amado entra no túmulo e ele "viu e acreditou"!
A fé do discípulo amado sofre um salto qualitativo. No lugar onde jazia morto
seu mestre amado, os olhos de sua fé se abrem e consegue compreender que Jesus
está vivo! Ressuscitou!
Essa fé nova que tem o discípulo amado é dom da graça de Deus, que lhes concede
acreditar que Deus tirou do sepulcro da morte o seu Filho, ressuscitou-o!
Por isso nosso futuro está aberto, podemos ser sempre homens e mulheres de
esperança, porque, com a ressurreição de Jesus, entrou na nossa história o
sorriso de quem venceu a morte e goza das primícias de uma vida nova, o sorriso
da esperança!
A fé no Ressuscitado nos impulsiona a ir ao encontro dos crucificados de hoje,
nos colocar a seu lado, para partilhar com eles este sorriso, a certeza alegre
que Deus está vivo no meio de nós, ressuscitando, libertando da morte e fazendo
uma nova criação.
Olhemos ao nosso redor. Somos capazes de reconhecer a ação de Deus
ressuscitando seu povo? Onde? Nossa vida comunica esse sorriso de esperança que
brota da fé no Ressuscitado?
Reflexão Apostólica:
Maria Madalena deu a notícia: “tiraram o Senhor do
túmulo e não sabemos onde o colocaram”. Nós imaginamos qual não deve ter sido a
surpresa dos discípulos quando chegaram ao túmulo de Jesus.
Jesus já os havia advertido e anunciara o que iria lhe acontecer, porém eles
estavam como que cegos. Mesmo diante de tantas evidências, de tantos sinais
eles ainda não tiveram o entendimento completo. Estavam agora em busca do corpo
de Jesus. Procuravam um morto, mas Jesus estava vivo. A surpresa transformou-se
em alegria depois que eles viram Jesus.
Assim acontece também conosco: facilmente perdemos Jesus de vista. Mesmo que
tenhamos começado cedo a buscar a Jesus às vezes nos perdemos Dele porque O
procuramos fora de nós, nos túmulos do mundo, nas dúvidas sobre os
acontecimentos, na incredulidade em vista das coisas que nos acontecem
inesperadamente.
Entretanto, Jesus está perto, muito perto, fazendo parte da nossa vida, acompanhando a nossa história e sabendo o porquê e o para que de todas as coisas.
Se nossa fé reproduz realmente a fé de Jesus (sua visão da vida, sua opção
diante da história, sua atitude diante dos pobres), será tão conflitiva como o
foi na pregação dos apóstolos ou na vida mesma de Jesus.
Se, no entanto, reduzimos a ressurreição de Jesus a um símbolo universal da
vida pós-morte, ou à simples afirmação de uma vida para além da morte, ou a um
fato físico-histórico que ocorreu há vinte séculos. Então essa ressurreição
fica esvaziada do conteúdo que teve em Jesus e já não diz nada a ninguém, nem
irrita os poderes deste mundo, mas chega até a desmotivar ou desmobilizar o
seguimento e o compromisso pala Causa de Jesus.
O importante não é crer em Jesus, mas crer como Jesus. Não é ter fé em Jesus,
mas ter a fé de Jesus: sua atitude diante da história, sua opção pelos pobres,
sua proposta, sua luta decidida, sua Causa.
Crer lucidamente em Jesus na América Latina, ou neste Continente “cristão”,
onde a noticia de sua ressurreição já não irrita a tantos que invocam seu nome
para justificar inclusive as atitudes contrarias às de Jesus, implica voltar a
descobrir o Jesus histórico e o sentido da fé na ressurreição.
Crendo com essa fé de Jesus, as “coisas de cima” e as da terra não são já duas
direções opostas, nem sequer distintas.
As “coisas de cima” são da Terra Nova que está enxertada já aqui embaixo. É
preciso fazê-la nascer no doloroso parto da História, sabendo que nunca será
fruto adequado de nossa planificação, mas dom gratuito daquele que vem.
Buscar as “coisas de cima” não é esperar passivamente que soe a hora escatológica
(que já soou na ressurreição de Jesus), mas tornar realidade em nosso mundo o
Reinado do Ressuscitado e sua Causa: Reino de vida, de Justiça, de Amor e de
Paz.
Compreender e vivenciar isso na própria existência é fundamental. E, como
somente o amor se mostra capaz de fazer amanhecer completamente o dia da
ressurreição, dissipando as trevas da morte, amar é fundamental.
Seguidores do Ressuscitado, somos chamados a amar sem medida, recordando que,
segundo as palavras e o exemplo do Mestre, não existe maior amor do que dar a
vida pelos outros.
O Domingo da Ressurreição é o primeiro dia
da nova criação, inaugurada por Jesus com a entrega da própria vida e com sua
vitória sobre a morte.
Com sua ressurreição, Jesus nos abriu as portas para a grande aventura de continuar hoje sua missão, semeando vida com a doação da própria vida, de tal modo que a Deus eternize também a nossa, planificando-a com sua graça.
Portanto, devemos deixar os nossos maus
momentos na cruz e também os momentos ruins dos nossos irmãos que chegam até
nós. Devemos amá-los. Se amarmos a Deus, amaremos os nossos irmãos. Como podemos
nos chegar diante de Deus e pedir perdão, se nós não perdoamos os nossos
irmãos?
Coisas do passado sempre são trazidas ao presente. Como alguns têm boa memória para os erros dos irmãos e péssima memória para a mudança dos seus irmãos.
Pare de se prender nos erros do passado. Olhe para o verde que pode brotar no coração do seu irmão. Assim como ressuscitou com Cristo e é nova criatura também o seu irmão é em Cristo e com Cristo uma nova criatura!
Abandone seus pecados antes que eles contaminem totalmente você. Abandone o rancor, antes que ele o incite à raiva e contenda.
Entregue a Deus a sua ansiedade antes que ela o iniba de caminhar com fé. Dê a Deus os teus momentos ruins. Se você deixar com Deus os teus momentos ruins, só sobrarão bons momentos e então Cristo terá ressuscitado em você.
Se Cristo ressuscitou em você, já não é você que vive. Mas é Cristo que vive em no seu corpo e se Cristo vive em você, em você tudo é santo, porque está envolvido pela luz d’Aquele que Verdadeiramente Ressuscitou.
Que a celebração da Páscoa, a maior das festas, a aliança definitiva e eterna entre Deus e a humanidade, renove em nós um amor como o de Jesus, capaz de se doar, de perdoar, de vencer a morte e ressurgir para a vida definitiva.
Propósito: Viver, em plenitude, a Ressurreição.
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