27 janeiro -
O
demônio cumpre o seu dever quando nos tenta, e nós, o nosso, quando recorremos
a Deus.(S 172). São Jose Marello
Marcos 4,26-34
Naquele
tempo, 26Jesus disse à multidão:
“O Reino de Deus é
como quando alguém espalha a semente na terra. 27Ele vai dormir e acorda, noite
e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso
acontece.
28A terra, por si
mesma, produz o fruto: primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por
fim, os grãos que enchem a espiga. 29Quando as espigas estão maduras, o homem
mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou”.
30E Jesus continuou:
“Com que mais poderemos comparar o Reino de Deus? Que parábola usaremos para
representá-lo? 31O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado
na terra, é a menor de todas as sementes da terra. 32Quando é semeado, cresce e
se torna maior do que todas as hortaliças, e estende ramos tão grandes, que os
pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra”.
33Jesus anunciava a
Palavra usando muitas parábolas como estas, conforme eles podiam compreender.
34E só lhes falava por meio de parábolas, mas, quando estava sozinho com os
discípulos, explicava tudo.
Meditação:
A semente que germina e cresce por si mesma exprime
a ação de Deus que comunica amor e vida a todos, suplantando os poderosos deste
mundo que semeiam a fome e a morte. A segunda parábola, da inexpressiva semente
que se transforma em uma árvore acolhedora dos pássaros, exprime que a fé dos
discípulos, desprezível diante do mundo, pode gerar o mundo novo de
fraternidade e paz. A prática e o ensino de Jesus são caminho e luz.
Marcos mostra Jesus como Mestre do Reino ensinando
às multidões desde a barca de Pedro (4,1). Seu ensino é na base de parábolas ou
exemplos. A parábola é uma narração que sob o aspecto de uma comparação, está
destinada a ilustrar o sentido de um ensino religioso.
Quando todos os detalhes têm um sentido e
significado real, a parábola se transforma
Porém no NT Jesus usa frequentemente as parábolas
especialmente como parte de seu ensino do Reino dos Céus, para iluminar certos
aspectos do mesmo. No dia de hoje temos duas pequenas parábolas, a primeira
própria de Marcos e a segunda compartida por Mateus (13, 21+) e Lucas (13,
18).
Na parábola da semente, Jesus indica que o Reino
tem uma força intrínseca que independe dos trabalhadores. Na segunda que o
Reino, minúsculo nos tempos de Jesus, expandir-se-á de modo a se estender pelo
mundo inteiro. Vejamos versículo por versículo as palavras de Jesus.
E dizia: assim é o Reino do Deus, como se um
homem lançasse a semente sobre a terra (26). Que significa Reino de Deus? No AT
Jahvé, o Deus de Israel, era o verdadeiro rei e seu reino abrangia todo o
Universo.
Os juízes eram praticamente os seus representantes.
Por isso, o seu profeta Samuel, último juiz, escutou estas palavras: Não é a ti
que te rejeitam, mas a mim, porque não querem mais que eu reine sobre eles (I
Sam 8, 7).
A partir de Davi o reino de Deus tem como
representante um rei humano, mas a experiência terminou em fracasso, e o reino
de Deus acabou por ser um reino futuro escatológico como final dos tempos e transcendente,
como sendo Deus mesmo o que seria ou escolheria o novo rei.
Esse reino está chegando e tem seu representante na
pessoa de Jesus e dos apóstolos. Nada tem de material ou geográfico, e é
formado pelos que aceitam Jesus como Senhor, caminho, verdade e vida.
Por isso dirá Jesus que o reino está dentro de
vocês. A Igreja fundada por Jesus é a parte visível desse reino, que não é como
os do mundo, mas tem sua base em servir e não em ser servido (Lc 22, 27).
O oposto do amor, que é serviço no reino é o amor
ao dinheiro ( Mt 6, 24), de modo que podemos afirmar que o dinheiro é o
verdadeiro deus deste mundo.
A primeira comparação que revela como atua o Reino
é esta parábola de Jesus, facilmente entendida como tipo, e que finalmente
veremos como protótipo nas observações.
E durma e se levante noite e dia; e a semente
germine e cresça de um modo que ele não tem conhecido. É importante unir este
versículo ao anterior para obter o sentido completo da parábola.
O agricultor faz sua vida independente e a semente
nasce e cresce sem ter nada que ver com o agricultor fora o fato de ser semeada
por ele no início.
Deste modo Paulo pode afirmar: Eu plantei, Apolo
regou; mas era Deus quem fazia crescer. Aquele que planta nada é; aquele que
rega nada é; mas importa somente Deus, que dá o crescimento (1 Cor 3, 6-7).
Assim, a continuação dirá Jesus: Pois por si mesma a terra frutifica
primeiramente a erva, depois a espiga, depois o trigo pleno na espiga.
Quando, porém, tiver aparecido o fruto, rapidamente
ele envia a foice porque tem aparecido a ceifa. Não há nada a comentar a não
ser que o trabalho do agricultor. Vemos como se reduz a semear e ceifar. A
terra e a semente fazem o resto.
E dizia: a que compararíamos o Reino do Deus, ou em
que parábola o assemelharíamos? Parece que Jesus medita antes de afirmar ou
escolhe uma comparação apropriada.
Seu estilo é de chamar a atenção dos ouvintes, um
simples recurso oratório que indica por outra parte uma memória viva dos
ouvintes e não uma posterior reconstrução. É possível que estas palavras formem
parte do método de ensino de Jesus.
Como com a semente da mostarda, a qual quando sendo
semeada na terra é a menor de todas as sementes sobre a terra. A mostarda é uma
planta da família da couve ou repolho, de grandes folhas, flores amarelas e
pequenas sementes, que tem duas espécies principais: branca e preta. A branca
chega até atingir
A mais comum é a branca não tão ardente como a
preta, precisamente por sua maior facilidade em recolher os frutos. E quando
está semeada surge e se torna maior do que todas as hortaliças e produz galhos
grandes de modo que podem, sob sua sombra, as aves do céu habitar. Temos visto
como chegam até 3 ou
E com muitas parábolas semelhantes falava a eles a
palavra do modo que podiam ouvir. Temos aqui uma discriminação feita sem saber
a razão de por que foi escolhida por Jesus.
Os discípulos tinham ocasião de saber o significado
verdadeiro das comparações, por vezes não muito claras para o ouvinte geral. O
caso mais evidente é o do semeador e os diversos terrenos em que a semente cai.
O público em geral podia ficar com a idéia de que a
semente da palavra era recebida de formas mui diversas pelos ouvintes, mas a
razão destas diferenças só era explicada aos que, interessados, perguntaram
junto aos doze pela explicação da mesma (Mc 4, 13-20).
O encontro com a palavra é um dom de Deus, mas a
resposta à mesma depende da vontade e do interesse de cada um. A explicação
correspondente sempre a receberá quem esteja interessado em saber a verdade.
Na primeira destas parábolas do dia de hoje temos a
exposição de como o Reino se expande com uma força que não depende dos homens,
mas do próprio Deus. Poderíamos dizer que descreve a força interna do Reino.
Na segunda parábola encontramos a visão externa do
Reino. Seu crescimento seria espetacular desde um pequeno grupo insignificante
como é a semente da mostarda que se parece com a cabeça de um alfinete, até uma
árvore que nada tem a invejar os carrascos da Palestina.
Uma certeza é evidente: o Reino é uma realidade que
não se pode ignorar. Em que consiste? Jesus não revela sua essência, mas devido
ao nome estamos inclinados a afirmar que o Reino como nova instituição é uma
irrupção da presença de Deus na História humana, que seria uma revolução e uma
conquista, não violenta, mas interior do homem, e que deveria mudar a religião
em primeiro lugar e as relações sociais em segundo termo.
Numa época em que revoluções externas e lutas pelo
poder estavam unidas a uma teocracia religiosa era perigoso anunciar a natureza
verdadeira do Reino. Daí que só as externas qualidades do Reino tenham sido
descritas e de modo a não levantar reações violentas. O reino sofrerá violências,
mas não será o violentador (Mt 11, 12).
Se quisermos apurar as coisas, poderíamos atribuir
ao Reino uma universalidade que não tinha a Antiga aliança. Mas isto é esticar
as coisas além do estado natural das coisas e da narração de hoje no evangelho
de Marcos.
Reflexão Apostólica:
As duas parábolas
do evangelho de hoje são estímulo e fortalecimento da esperança nas
comunidades. O lavrador aplica-se com esforço à semeadura e ao cultivo de sua
plantação. Porém, a vida que se desenvolve a partir da semente é obra de Deus.
E uma insignificante semente já tem certa grandiosidade, revelada com o tempo.
Os sistemas
opressores defendem o progresso que os beneficia, mas sacrifica o povo e a
natureza. Contudo, estas parábolas das sementes revelam o projeto do Reino de
Deus de resgatar a vida sobre a terra.
Tal projeto parece
frágil diante dos poderes deste mundo. Todavia, seu desabrochar e crescimento,
como obras de Deus, não serão tolhidos por ninguém. O Reino de Deus é o
banquete da celebração da vida plena para todos, a qual se vai manifestando até
atingir a plenitude.
As religiões
querem se sentir com todo poder e auto-suficientes, crendo que a tarefa da
salvação está nelas e, pior ainda, afirmam que fora delas não há salvação. Mas
Deus age com outros parâmetros. O que nos recorda a parábola de hoje é que as
plantas crescem pela força da terra e não pelo poder do semeador. Esta grande
comparação é aplicada por Jesus ao Reino.
Quer dizer, o Reino é obra de Deus. Para conseguir entender esta grande lição
que sai da alma de Jesus, primeiro temos que perceber que Deus, ao assumir a
dimensão humana, não tem medo de impulsionar, desde esta dimensão, sua grande
obra de divinização da humanidade. O evangelho deixa claro que, é Deus e não os
instrumentos de nenhuma instituição, quem torna possível que o Reino cresça.
Da pequenez, Deus faz que uma realidade tão majestosa como o Reino aconteça. O
Reino é a simplicidade, a humildade, o resgate do irmão, a inclusão dos que são
diferentes, a dignificação do pobre. Por isso o Evangelho o expressa com o
símbolo do grão de mostarda. A Igreja será cada vez mais parecida ao Reino se
nos voltarmos às pequenas comunidades, sementes de uma nova maneira de ser
Igreja e de ser cristão.
O reino de Deus é
como uma semente que é lançada no nosso coração por meio da mensagem que Jesus
Cristo veio nos trazer. Quando nós acolhemos a Palavra de Deus com a
consciência de que é Ele próprio quem nos fala e nos oferece salvação e
conversão, começa a acontecer em nós o processo de germinação e fecundação do
reino de Deus, uma vida nova que iremos oferecer ao mundo.
É Deus quem no
nosso próprio coração vai fazendo brotar a Sua mentalidade sem que nem nós
mesmos percebamos. A cada dia, mais e mais nós vamos ficando plenos do Espírito
Santo, que opera em nós e, por isso, os nossos valores vão mudando, as nossas
concepções, nossos pensamentos e as nossas ações vão se afeiçoando aos
ensinamentos de Jesus.
Isto significa que
o reino de Deus cresce dentro de nós de mansinho, silenciosamente, de tal
maneira que um dia nós estamos tão cheios de alegria, paz e felicidade que não
dá mais para conter, por isso, é imperioso que o levemos ao mundo às outras
pessoas que ainda não tiveram a mesma experiência. É o momento da colheita!
O reino de Deus
também se manifesta em nós quando, mesmo que ainda nem entendamos a Sua
Palavra, nós experimentamos apenas uma gotinha do Seu amor e da Sua
misericórdia.
Às vezes, em
momentos de sofrimento, de dificuldades, de provação, o terreno do nosso
coração fica mais acessível para acolher o amor de Deus. E, assim acontece como
a semente de mostarda que é a menor de todas, mas é capaz de crescer tornar-se
uma grande árvore e abrigar os pássaros do céu.
Quando a terra do
nosso coração acolhe a semente da Palavra e do Amor de Deus e nós a deixamos
germinar nós teremos como conseqüência, uma vida frutuosa, plena de abundante
utilidade.
Mesmo que tenhamos
pouca fé, Deus vai realizando em nós o grande milagre do amor. E ninguém que
haja sido tocado pelo Amor de Deus, poderá ficar estagnado, infeliz e descrente.
A Palavra de Deus
nos fará ser árvore que dá abrigo a muitas pessoas e a nossa luz brilhará nas
trevas do mundo. Assim nós haveremos de sair semeando a semente do amor por
onde passarmos.
Você tem notado o
crescimento do reino de Deus em você? Quais as mudanças que aconteceram em
você? Você se sente mais feliz, hoje do que antes? Você já está sendo
árvore que dá sombra? Você se sente amado (a) por Deus?
Propósito:
Pai, dá-me sensibilidade para perceber teu Reino
acontecendo no meio de nós, aí onde lutamos para a construção de uma sociedade mais
humana e fraterna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário