17 janeiro –
Quando houvermos compreendido bem que os hábitos virtuosos não são o meio mas o
fim, então não deverá ser motivo de apreensão nem mesmo a lentidão em adquirir
a virtude. Está mais unido a Deus quem se acha em luta constante com as suas inclinações
desordenadas, gemendo em seu coração e implorando humildemente a vitória sobre
elas, do que aquele que já se considera dono de muitas virtudes, e talvez se
esqueça de oferecer ao Senhor um tributo de gratidão proporcional ao seu estado
de vida.(L 88).
Marcos 2,23-28
23Jesus estava passando por uns campos
de trigo, em dia de sábado. Seus discípulos começaram a arrancar espigas,
enquanto caminhavam. 24Então os fariseus disseram a Jesus: “Olha!
Por que eles fazem em dia de sábado o que não é permitido?”
25Jesus lhes disse: “Por acaso,
nunca lestes o que Davi e seus companheiros fizeram quando passaram necessidade
e tiveram fome? 26Como ele entrou na casa de Deus, no tempo
27E acrescentou: “O sábado foi
feito para o homem, e não o homem para o sábado. 28Portanto, o Filho
do Homem é senhor também do sábado”.
Meditação:
Marcos menciona que os discípulos abriam caminho,
arrancando espigas. Em seu evangelho Marcos dá um destaque ao tema do
"caminho" de Jesus. Já Mateus e Lucas explicam que arrancavam espigas
para comer, o que é confirmado na seqüência desta narrativa de Marcos.
Uma das principais observâncias religiosas, em
Israel, era a do repouso sabático. A narrativa da criação em sete dias, no
Livro do Gênesis (2,2-3), ao apresentar o repouso do próprio Deus no sábado, já
é uma indução a esta observância pelo povo. Jesus e seus discípulos são
acusados de desrespeitarem o repouso sabático.
Os inadimplentes com as mais de seiscentas
minuciosas observâncias legais impostas ao povo eram qualificados como
pecadores, obrigados a trazerem ofertas e sacrifícios aos sacerdotes do Templo.
Com seu amor misericordioso e divino, Jesus vem
contrapor-se àqueles chefes religiosos de coração duro e interesseiro que
oprimiam os inocentes. Ao se afirmar maior do que o Templo (Mt 12,6) e Senhor
do sábado Jesus significa que vem superá-los pelo amor que promove a vida.
A lei que Deus imprimiu no nosso coração é a lei do
amor, portanto, o que nos faz mal e prejudica a nossa vida é justamente, o
desamor. Tudo o que não é regido pelo amor e não tem como objetivo a vivência
do amor, não é eficaz para o nosso crescimento.
Toda lei que tira do homem o direito de viver com
dignidade, de prover a sua existência e sobrevivência é maldita e não está
conforme a vontade de Deus.
Jesus quer nos ensinar a colocar a caridade como
lei primeira nas ações da nossa vida. Às vezes nos bitolamos aos preceitos, às
regras e não percebemos que estamos sendo injustos e infratores da Lei de Deus.
Tudo o que o Pai criou, Ele o fez em favor do
homem, objeto do Seu Amor, portanto, dizer que “o sábado foi feito para o homem
e não o homem para o sábado” significa que a nossa sobrevivência e a caridade
conosco mesmos (as) e com os nossos irmãos estão acima das normas que, apesar
de estabelecidas para o homem, muitas vezes se voltam contra o próprio homem.
O homem é a criatura a quem Deus mais tem apreço e
todas as coisas foram criadas para ele, por amor. Jesus é o Senhor de tudo o
que foi criado, e, tudo foi criado por Ele, por amor ao homem.
Os campos de trigo, os rios, os mares, as aves, as
árvores existem para estar à disposição do homem a fim de que este perceba o
olhar e a atenção de Deus para si. Jesus, Senhor da criação, é o Senhor do
sábado, porém, Ele precisa ser também Senhor dos nossos “sábados”, isto é,
daqueles dias em que nós não achamos conveniente servir a alguém ou “perder” o
tempo de lazer ou de trabalho para dar de comer a alguém que está com fome.
O dia de sábado a que Jesus se refere pode ser
também para nós aquele dia que nós destinamos para o nosso deleite, para
curtição, para realizar os nossos planos pessoais e, sem menos esperar somos
convocados para alguma outra missão. Aí nós alegamos a nossa impossibilidade
porque “hoje é sábado” e o sábado está destinado a outras experiências. Neste
caso a lei do amor ficou de lado e imperou em nosso coração a lei do egoísmo e
da indiferença.
Jesus é o Senhor dos “sábados” da sua
vida? Você tem alimentado a alguém necessitado em “dia de
sábado”? Você é capaz de sacrificar um dia de lazer e de descanso para
ajudar a algum discípulo de Jesus? Em Nome de quem você tem feito
caridade? O que você aprendeu mais com esse Evangelho?
Em Marcos se apresenta muito bem a liberdade com
que agiam Jesus e seus discípulos. Não estavam tão apegados às leis, entre elas
a do sábado, que proibia arrancar espigas naquele dia. Isto não violava a lei
de Deus, mas as leis meticulosas dos anciãos.
Jesus lhes dá uma resposta certeira com uma pergunta:
Nunca lestes o que fez Davi, quando se achou em necessidade e teve fome, ele e
seus companheiros? Obviamente que teriam lido sim o que tinha acontecido naquela
passagem do Antigo Testamento, mas não lhes interessava em absoluto.
Se Davi, ao comer dos pães consagrados junto com
seus companheiros, não havia recebido a reprovação de Deus, e fora inocentado
diante daquelas leis, muito menos os discípulos de Jesus seriam condenados
pelos escrúpulos de uns poucos.
Jesus tem bem claro que nem o sábado nem qualquer
lei devem estar acima do ser humano. Quando isto ocorre, surge a injustiça, a
opressão, a desigualdade, que impedem o ser humano de viver como tal.
As leis devem estar a serviço da pessoa, e não
acima dela. Devem servir ao bem de todos, e não para oprimir e escravizar.
O que devemos levar em conta em nossas vidas não é
tanto o que não se pode fazer no Dia do Senhor, mas como poder empregar melhor
esse dia para a glória do Senhor e o bem da humanidade. Trabalhemos para que as
leis e normas estejam sempre a serviço das pessoas, e não contra elas. Isso é
humanidade.
Portanto, do evangelho de hoje, podemos tirar três
lições importantes para nossa vida cotidiana:
1. Que Jesus é o Senhor da Vida;
2. Que a lei não pode ser feita para escravizar o homem;
3. Que a exemplo de Jesus devemos ter coragem de quebrar paradigmas.
Reflexão
Apostólica:
O Evangelho de hoje traz algo que nós
evitamos aprofundar sobre o assunto: Jesus transgrediu alguma regra? Pois é,
Ele se colocou acima da tradicional regra de que o sábado é o dia do descanso.
E isso é um fato que precisamos aprofundar hoje... Será que estamos seguindo
alguma regra que nos impede de seguir a maior de todas as regras?
A
tradicional regra do sábado impunha que ninguém deveria trabalhar neste dia, já
que foi o dia escolhido por Deus, desde a criação do mundo, para o descanso.
Os
judeus levavam isso tão à sério que foram criando regras cada vez mais rígidas
para o sábado. Eles instituíram uma distância máxima que era permitido
caminhar, proibiram o uso de sandálias que precisassem amarrar as correias, e
nem os curandeiros podiam trabalhar, a não ser em caso de risco de morte.
As
regras foram ficando tão estapafúrdias que deixaram de lado a razão e o bom
senso. Jesus chegou para abalar essas regras que desvirtuavam o sentido
original do dia de descanso.
"O
sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado." Com essa
frase Ele resume o que a nova lei, que Ele veio instituir, pensa a respeito do
"dia de descanso".
O
sábado não está acima do nosso dever maior: FAZER O BEM ÀS PESSOAS, DA MESMA
FORMA QUE NÓS GOSTARÍAMOS QUE ELAS NOS FIZESSEM BEM. E nessa
frase, podemos trocar o "fazer o bem" por AMAR, pois esse
é o amor que Jesus quer de nós: o Amor Atitude.
Pensemos
então nas regras que aprendemos a seguir sem pensar, e lembremo-nos que nenhuma
delas está acima da maior de todas: a Regra do Amor.
Propósito:
Pai, ensina-me a ser fiel a ti, vivendo os Mandamentos, sem fanatismo, e sim com a liberdade de quem está em plena sintonia contigo.
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