24 novembro - Quem não sabe submeter
seu ponto de vista e deixar-se guiar, muitas vezes errará e cairá
miseravelmente; e, por causa da teimosia em não se reconhecer culpado, o
demônio não permitirá que se arrependa e, de abismo em abismo, o levará à
perdição. (S 358). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Lucas 21,12-19
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 12“Antes que estas coisas
aconteçam, sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos
na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome. 13Esta será a ocasião em
que testemunhareis a vossa fé. 14Fazei o firme propósito
de não planejar com antecedência a própria defesa; 15porque eu vos darei
palavras tão acertadas, que nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater.
16Sereis
entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles
matarão alguns de vós. 17Todos
vos odiarão por causa do meu nome. 18Mas vós não perdereis
um só fio de cabelo da vossa cabeça. 19É permanecendo firmes
que ireis ganhar a vida!”
Meditação:
Jesus continua falando do tempo que vai transcorrer
entre a sua ressurreição e a concretização plena da história. Fala dos
sofrimentos que a comunidade terá que atravessar. Prediz o cárcere e a
perseguição. Distingue entre os poderes dos judeus (sinagoga) e os romanos
(reis e governadores). Os discípulos fiéis serão levados ante esses tribunais.
O centro da passagem faz referência ao testemunho. Os discípulos entregues às
autoridades darão testemunho público. Mas Jesus os adverte: não há necessidade
de preparar a defesa, porque o Espírito Santo lhes inspirará as palavras para a
defesa.
Aqui está uma boa síntese da Igreja dos primeiros tempos. Ela se caracterizou pelo conflito e pela perseguição. Ainda que muitos a tenham renegado, outros tantos permaneceram fiéis até o martírio cruel.
A perseguição e o martírio foram uma constante na história da Igreja. O sangue dos mártires é semente de cristãos comprometidos e radicais ao evangelho de Jesus.
Graças a essa fidelidade e radicalidade, a comunidade eclesial pode resistir e
subsistir ao longo de mais de vinte séculos de história. Quem assume o projeto
de Jesus deve estar disposto a ser entregue à justiça desse mundo. Mas temos a
firme certeza de que o Espírito continua assistindo aos fiéis crentes que dão
testemunho de fidelidade radical ao Mestre.
Jesus Cristo, o Filho de Deus, Aquele no qual nós cremos e seguimos, disse muito claramente e de várias maneiras que aqueles que o seguirem serão perseguidos. Atenção, não que eles podem ser perseguidos, mas que o serão decerto.
Eis algumas das suas palavras a tal propósito: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós” (Mt 5,11-12)
A perseguição e o sofrimento do discípulo são tidos
por Jesus como sinais premonitórios do fim. O testemunho de seu Nome atrairia
de tal forma a ira dos inimigos que estes lançariam mão de toda sorte de
maldade contra os seguidores do Mestre. Sofrimento, perseguição, prisões,
acusações na sinagoga, morte e ódio era o que lhes aguardava.
Até mesmo, a perseguição por parte dos próprios familiares. Tudo isso, por causa da fidelidade ao Mestre Jesus. Era preciso, pois, avivar neles a chama da perseverança. Tarefa desafiadora!
Não obstante isso, nos momentos mais difíceis os discípulos receberiam a ajuda divina, de forma que não precisariam preparar a própria defesa. Receberiam, também, uma sabedoria tão sublime, capaz de levá-los a convencer seus adversários.
Além da perseverança, os discípulos necessitarão de uma grande fé em Deus. “Nem um só cabelo cairá de vossa cabeça” - garante Jesus ao grupo dos discípulos, facilmente contamináveis pelo medo.
A luta, afinal de contas, é do Mestre. Os discípulos são unicamente seus mediadores. O Pai os protege, preservando-os do mal, porque é o Senhor. Ninguém como Deus tem nas mãos a vida dos discípulos, e, por conseguinte, tem o poder de livrá-los do mal.
Os verdadeiros cristãos sempre foram perseguidos em qualquer época e lugar que tenham vivido. Algumas vezes a perseguição será mais forte outras vezes menos forte, mas a perseguição haverá sempre.
No meio das perseguições, permaneçamos firmes na fé
não negando o Senhor, sabendo que, como disse o Senhor Jesus, com a vossa
perseverança ganhareis as vossas almas (Lc 21,19).
Lembremo-nos destas palavras de Paulo: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há-de ser revelada” (Rom. 8,18), e também destas: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós cada vez mais abundantemente um eterno peso de glória; não atentando nós nas coisas que se vêem, mas sim nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, enquanto as que se não vêem são eternas” (2Cor. 4,17-18).
Estas palavras são de grande consolação, pois fazem perceber como após o sofrimento, a nós, cristãos, nos espera a glória, uma eterna glória, diante da qual os sofrimentos são coisa pouca. Certo, o sofrimento, justamente porque é um sofrimento, faz-nos sofrer de várias maneiras, mas, aliás, é justo que nós soframos porque também Jesus Cristo sofreu muito por nós.
Por que não haveríamos nós de sofrer por amor do seu Nome? Além disso, as aflições cooperam para o nosso bem porque, como diz Paulo, produzem em nós paciência (Rm. 5,3) e a paciência cumpre perfeitamente a obra de Deus em nós (Tg 1,2-4).
Portanto, não murmuremos contra Deus no meio das aflições, mas oremos encomendando as nossas almas ao fiel Criador, fazendo o bem (Tg 5,13 e 1Pd. 4:19).
Não desanimemos, portanto, é normal, justo e útil aquilo que nos sucede. Alegremo-nos de sermos julgados dignos de ser menosprezados e perseguidos pelo Nome de Jesus.
Reflexão Apostólica:
O texto que hoje refletimos
faz referências às condições em que viveu a comunidade de Lucas após a
destruição de Jerusalém. A maioria das comunidades padeceu com maior
intensidade a oposição das sinagogas e a campanha de desprestígio que iniciaram
os seus difamadores.
Apesar da adversidade, eles
viram a situação como uma ocasião especial para dar testemunho de Jesus e para
anunciar a Boa Nova nos lugares de mais conflitos.
Os cristãos não divinizaram o
estado ou o sistema jurídico. Valorizaram o ser humano acima da diferenças
étnicas, religiosas e sociais. Este modo de ver e sentir a vida os levou a
inevitáveis confrontos com os defensores do sistema vigente.
Para os romanos, o estado era
divino e o sistema administrativo e financeiro participava desse caráter
sagrado. O centro da vida humana era a solidez do império.
Por sua vez, os judeus neste período consideravam que o sistema legal como a máxima expressão da divindade. Acreditavam no descanso sabatino como a máxima expressão da piedade religiosa. Desta maneira, Roma e judeus consideravam que o estado ou o sistema religioso estivesse acima do valor das pessoas e das comunidades.
O evangelho continua mostrando as implicações reais que tem o seguimento de Jesus. Para quem assumiu o projeto de Jesus é imprescindível ter a consciência de que contrasta com as sociedades que costumamos construir, baseadas no poder de alguns e na exclusão da maioria.
Colocar este modelo ao lado do projeto igualitário do Evangelho se chocará de frente, certamente, com aqueles que se vêem privilegiados pelas estruturas injustas.
Os seguidores de Jesus serão entregues às sinagogas para ser julgados pelo poder religioso, e lançados aos cárceres para ser julgados pelo poder civil, “reis e governadores”, pois a proposta de Jesus é plena de novidade e transformadora tanto no âmbito da fé como no social.
Não se pode entender o
cristianismo sem esta dupla dimensão que implica renovar uma relação pessoal
com Deus, com os irmãos e a mudança social segundo os valores do Evangelho.
No Evangelho de hoje, Jesus nos ensina a enfrentar os “reis e governadores” deste mundo dando um testemunho coerente com a nossa fé. Portanto, as ocasiões em que somos desafiados a dar depoimento da nossa fidelidade são oportunidades que temos para pôr em prática os ensinamentos evangélicos.
Assim sendo, não precisamos nos preocupar nem nos atemorizar diante dos fatos que exigem de nós uma reação, porque Ele próprio nos aconselha: “ Fazei o firme propósito de não planejar com antecedência a própria defesa;”
Se dizemos que temos fé, mas
nos preocupamos e perdemos noites de sono fazendo cálculos de como iremos nos
defender das intempéries da vida e do serviço do reino, nós estamos justamente
sendo infiéis à Palavra de Deus que nos exorta à confiança e ao abandono.
Apesar do nosso pecado, apesar na nossa fragilidade e vulnerabilidade Jesus nos dá a esperança de vitória. A Sua Palavra é garantia para nós. Porém, isso não implica em que não sejamos perseguidos, mas nos garante a nossa defesa nos momentos de aflição. Ele mesmo preanuncia o que nós podemos sofrer aqui na terra.
Você já entende que os
momentos de dificuldade são as ocasiões em que você poderá testemunhar a sua
fé? Você tem feito isto? Você costuma fazer cálculos de como irá defender-se na
hora da perseguição? Em quem você confia nos momentos de tribulação? Você
acredita na ação do Espírito Santo em você?
As palavras de Jesus no Evangelho são um antídoto contra qualquer tentação de triunfalismo fácil: mesmo sabendo que Deus é o soberano da História e seu reino é de justiça, "antes de tudo isto, tentarão pegá-los e os perseguirão, entregando-lhes às sinagogas e levando-os diante dos reis e governadores por causa do seu nome". Não se trata de um triunfo fácil, mas de uma esperança que requer a resistência dos santos e santas.
Aqui, da mesma forma que em Mt 28,20 (Eu estarei convosco todos os dias até o
fim do mundo) . Jesus afirma que não nos deixará sozinhos, mas nos dará "o
Espírito da Verdade" (Jo 16,13) e nos dará uma eloqüencia que sai do
coração e uma sabedoria tal que não poderá ser vencida por nossos
adversários.
A grande preocupação e o empenho estimulante dos discípulos de Jesus é a
proclamação de seu nome. Com a perseguição, abrem-se portas para dar testemunho
a favor do Mestre. Os cristãos da comunidade primitiva de Jerusalém, que se vêm
forçados a abandonar a cidade para salvar suas vidas, levam o Evangelho a
regiões da Judéia e da Samaria.
Os fiéis perseguidos não estão à mercê de seus perseguidores: não estão abandonados a seu poder e arbítrio. Deus olha por sua Igreja perseguida e estende sobre ela sua mão.
Também se aplica aqui o refrão do Senhor “Não se perderá nem um cabelo de sua cabeça...” Tira-se a vida de alguns, mas graças à providência protetora de Deus muitos saem ilesos dos casos mais difíceis. Pedro é libertado milagrosamente do cárcere, e Paulo, não obstante tantas hostilidades e perseguições, leva adiante seu importante trabalho missionário.
O tempo da Igreja é tempo de perseguição. E se prolonga. A redenção total se inicia com a vida do Filho do Homem, mas não tem sua realização máxima iminente. Requer-se paciência, constância e perseverança, submissão ao que impõe a perseguição e foi decretado por Deus.
Propósito:
Pai, dá-me uma fé profunda que me possibilite perseverar
nos momentos de dificuldade, sem abrir mão da tarefa que recebi: levar adiante
o projeto de Jesus.
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