15 novembro - Ser perseverante num princípio determinado e realizá-lo com desvelo e ardor, não é o mesmo que enfurecer-se e exaltar-se desmesuradamente. (L 207). São Jose Marello
Lucas 18,35-43
"Jesus já estava chegando perto da cidade de Jericó. Acontece que um cego estava sentado na beira do caminho, pedindo esmola. Quando ouviu a multidão passando, ele perguntou o que era aquilo.
- É Jesus de Nazaré que está passando! - responderam.
Aí o cego começou a gritar:
- Jesus, Filho de Davi, tenha pena de mim!
As pessoas que iam na frente o repreenderam e mandaram que ele calasse a boca.
Mas ele gritava ainda mais:
- Filho de Davi, tenha pena de mim!
Jesus parou e mandou que trouxessem o cego. Quando ele chegou perto, Jesus
perguntou:
- O que é que você quer que eu faça?
- Senhor, eu quero ver de novo! - respondeu ele.
Então Jesus disse:
- Veja! Você está curado porque teve fé.
No mesmo instante o homem começou a ver e, dando glória a Deus, foi seguindo
Jesus. E todos os que viram isso começaram a louvar a Deus."
Meditação:
O evangelho de hoje descreve a chegada
de Jesus a Jericó. É a última parada antes de subir a Jerusalém, onde chegará o
“êxodo” de Jesus como ele anunciou em sua Transfiguração (Lc 9,31) e ao longo
de sua caminhada até Jerusalém (Lc 9,44; 18,31-33).
Jesus e os discípulos caminham para Jerusalém, onde ocorrerá o desfecho de seu
ministério com sua pregação entre os peregrinos e a repressão que o levará a
morte de cruz.
Jesus, pressentindo o que ocorreria, já advertira os discípulos por três vezes
(três "anúncios da Paixão" - Lc 9,22; 9,44; 18,32-33). Estes estão
apegados à concepção de que Jesus seria o poderoso messias davídico e Jesus
procurava demove-los desta idéia.
Segundo a narração de São Marcos, Jesus encontra-se em viagem rumo a Jerusalém,
deixando atrás de si Cesaréia de Filipe, ao norte da Galiléia.
Como nunca perdia um só segundo nem
oportunidade, Ele aproveitará esse percurso para ir instruindo seus discípulos,
a fim de torná-los aptos à grande missão que lhes caberá, uma vez fundada a
Igreja.
Ao iniciar-se essa caminhada, uma
grande multidão se junta aos discípulos, sempre desejosa de assistir a mais
algum milagre, ou de ouvir as maravilhas transbordantes dos lábios do Mestre.
Como primeiro ato desse trajeto, está a cura de um cego.
Por que Marcos e Lucas fazem referência a um só cego? Uma boa maioria dos
exegetas opina ser provável que os cegos eram dois, conforme Mateus indica, mas
um deles devia ser muito conhecido, a ponto de Marcos tê-lo posto em cena com
seu nome próprio.
Quanto ao lugar onde se teria dado o milagre, as explicações, se bem que
diversas, visam fazer uma aproximação entre os Evangelistas, concluindo em favor
de um único acontecimento.
Quase nunca faltam a essas cenas evangélicas os aspectos carregados de cores,
característicos do Oriente. Os costumes, marcados por um temperamento
borbulhante e nada retraído, se refletem tanto na atitude do cego Bartimeu como
na reação da multidão contra os gritos dele.
A cegueira, quer seja física, quer espiritual, é um mal indolor. A perda da
vista, apesar de nos impedir de nos guiarmos nos espaços físicos segundo nossas
próprias deliberações e usando de nossa autonomia, inclina-nos à humildade e
submissão aos outros, a confiar em seu auxílio. Por isso, quando bem aceita,
ela pode ser um excelente meio de santificação. Muito pelo contrário, a
cegueira espiritual priva-nos de elementos fundamentais para nossa salvação -
como são as misericórdias que desprezamos - e nos faz correr terríveis riscos,
enquanto acumulamos as iras de Deus.
A Bartimeu lhe faltava um dos elementos essenciais para enriquecer-se, por isso
caiu inevitavelmente na pobreza passando a viver de esmolas.
Ao cego de Deus, entretanto, é possível
fazer fortuna; porém, debaixo deste ponto de vista, é ele ainda mais digno de
pena: quando se fecharem definitivamente para a luz do dia seus olhos carnais,
os espirituais de imediato se abrirão, mas quão tarde será, para ele, ver a
grande dimensão de sua real miséria em todo o seu horror. E, tomara, não seja
essa a hora do desespero.
Esse é o momento de imitar o pobre Bartimeu. O próprio Jesus continua
aqui, nos tabernáculos das igrejas. Por que não aproveitar uma ocasião para
d'Ele me aproximar e pedir-Lhe o milagre? Devo temer a Jesus que passa e não
volta, e bradar continuamente, porque Ele ouve melhor os desejos abrasados.
Tenhamos por certo este princípio: sempre que um cego de Deus abraça o caminho
da conversão, "a multidão" tenta dissuadi-lo de prosseguir, fazendo
todo o possível para lhe criar obstáculos. Infelizmente, a essa
"multidão" de mundanos se associa a multidão de seus próprios pecados
e paixões, para fazê-lo silenciar.
Também aqui, é oportuno imitar a
atitude de Bartimeu, ou seja, não só não ceder às pressões, como até, pelo
contrário, redobrar em ardor, esperança e desejos. Dessa forma, não tardará a
comprovar a realidade da convicção do Apóstolo: "Tudo posso n'Aquele que
me conforta!" (Fl 4, 13).
"Senhor, que eu veja!", deve ser o pedido de quem esteja imerso na
tibieza e, sobretudo, de quem é cego de Deus. Bartimeu não pediu a fé, porque
já a possuía.
Sua cegueira era simplesmente física.
Examinemos nossas necessidades espirituais e peçamos tudo a Jesus. Sem duvidar,
aguardemos até mesmo o milagre, pois Ele nos assegura: "Tudo quanto
pedirdes ao Pai em meu nome, Eu o farei" (Jo 14, 13).
O número dos que sofrem de cegueira física, no mundo, é insignificante, em
comparação com os cegos espirituais. A cegueira de coração atinge uma
quantidade assustadora de pessoas em nossos dias. A fé vai se tornando privilégio
de minorias.
Há cegos não só nos caminhos da
salvação, mas até mesmo nas vias da piedade. Estes levam uma vida
pseudotranqüila, submersos nos perigos da tibieza; cometem faltas, mas
conseguem muitas vezes, através de inúmeros sofismas, adormecer suas
consciências, não experimentando mais os benéficos remorsos. Confessam-se por
pura rotina, comungam sem dar o devido valor à substância do Sacramento Eucarístico,
rezam sem devoção...
Há cegos entre os que abraçaram o caminho da perfeição, mas deixaram de aspirar
a ela, contentando-se com uma espiritualidade medíocre, esquálida e infrutuosa.
Eles nada fazem para atingi- la, procurando-a onde ela jamais se encontra.
Enfim, para não ser cego de Deus, é preciso ser puro de coração. Uma das
principais causas da cegueira de nossos dias é a impureza.
Jesus diz, no Sermão da Montanha:
"Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus" (Mt 5, 8).
Não se trata exclusivamente da virtude da castidade, mas, muito, da reta
intenção de nossos desejos. Tanto uma quanto a outra vão-se tornando raras a
cada novo dia, nesta era de progressiva cegueira de Deus.
São essas algumas das razões pelas quais a humanidade necessita voltar- se
urgentemente para a Mãe de Deus, apresentando por meio d'Ela, ao Divino Redentor,
o mesmo pedido de Bartimeu: "Senhor, que eu veja!"
Reflexão Apostólica:
Quanto vale insistir em algo que queremos muito?
É nítido e notório que nem tudo que desejamos estará facilmente acessível e tão
pouco nossa vida será fácil ao ponto de “darmos ao luxo” colocarmos os pés para
cima e esperar que aconteça o que sonhei, desejei,…
O evangelho de hoje nos apresenta um exemplo bem nítido dessa situação que
abordei, onde um homem cego luta uma batalha desleal: contra o que vive ( a
cegueira) e a indiferença dos que o cercam.
Por viver num mundo de escuridão e sons aquele homem dependia muito do que lhe
dizia aqueles que podiam enxergar. Sua vida era pautada sob os olhos daqueles
que estavam ao seu redor e como é difícil viver esse tipo de vida! Não consegue
ver o que estou falando?
Cada um de nós carrega sobre si suas próprias cegueiras, erros e fragilidades e
como é difícil viver sabendo que elas existem e nos limitam. Quem nunca
encontrou barreiras para buscar um emprego melhor ou pedir um aumento de
salário em virtude da timidez ou do medo? Quem nunca sofreu calado por não
conseguir a palavra certa na hora certa? Se temos tantas cegueiras particulares
que nos impedem de crescer, imagine o quanto é ruim quando os que nos cercam
desistiram de acreditar.
Uma pessoa desacreditada pode fazer outra perder a esperança, mas alguém que
insiste em lutar pode fazer muitos voltar a sonhar.
Tudo isso nos faz perguntar: quanto aos meus sonhos e projetos, ainda acredito
neles? Qual é o seu sonho?
Ambicionamos o que não podemos pagar, sonhamos com coisas improváveis, mas
sonhos são feitos para que tenhamos metas e por mais equivocados que sejam eles
nos movem. Quais são eles?
Muitas vezes sem perceber nossos sonhos são os mesmos que Deus desejava, mas
nem sempre temos tempo e a devida coragem para realizá-los daí caímos na
frustração, no arrependimento, no abatimento… Aquele homem sentado, já havia
perdido a vontade de sonhar e com ela, a esperança também se esvaía. É fato:
muita gente esta nesse momento assim.
Precisamos ter a atitude dele e não desistir mesmo que barreiras surjam.
Abismos ou simples pedras que podem estar mais cegas que nós mesmos, cuja
esperança de algo melhor foi-se à medida que passou a desacreditar em si
próprio. “(…) As pessoas que iam a frente o repreenderam e mandaram que ele
calasse a boca. Mas ele gritava ainda mais”.
Não desista dos seus sonhos… Deus sempre ouve nossos sussurros, imagine nossos
gritos!
Propósito: Enxergar Jesus no meio de nós.
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