13 novembro - Nos nossos tempos, dificilmente nos será pedido o sacrifício da vida como testemunho da nossa fé, mas também para nós está reservada uma bela e gloriosa palma de vitória. (S 352). São Jose Marello
Leitura do santo
Evangelho segundo São Lucas 18,1-8
- Em certa cidade
havia um juiz que não temia a Deus e não respeitava ninguém. Nessa cidade
morava uma viúva que sempre o procurava para pedir justiça, dizendo:
"Ajude-me e julgue o meu caso contra o meu adversário!"
- Durante muito tempo
o juiz não quis julgar o caso da viúva, mas afinal pensou assim: "É
verdade que eu não temo a Deus e também não respeito ninguém. Porém, como esta
viúva continua me aborrecendo, vou dar a sentença a favor dela. Se eu não fizer
isso, ela não vai parar de vir me amolar até acabar comigo."
E o Senhor continuou:
- Prestem atenção
naquilo que aquele juiz desonesto disse. Será, então, que Deus não vai fazer
justiça a favor do seu próprio povo, que grita por socorro dia e noite? Será
que ele vai demorar para ajudá-lo? Eu afirmo a vocês que ele julgará a favor do
seu povo e fará isso bem depressa. Mas, quando o Filho do Homem vier, será que
vai encontrar fé na terra?"
chama de “pai”, para pedir-lhe que “venha a nós o teu reinado”. Desde a noite escura desse mundo, desde a injustiça estrutural, fica cada dia mais duro crer nesse Deus apresentado como onipotente e onipresente, justiceiro e vingador do opressor.
Ou talvez se tenha que cancelar para sempre essa imagem de Deus com tão pouca
base nas páginas do evangelho. Porque, lendo-as, fica a impressão de que Deus
não é nem onipotente nem impassível – ao menos não exerce – mas débil, sofredor,
“padecente”; o Deus cristão se revela mais dando a vida do que impondo uma
determinada conduta aos humanos; marcha na luta reprimida e frustrada de seus
pobres e não na cabeça dos poderosos.
Os discípulos de Jesus, reunidos em comunidades, hoje, são chamados a viverem a
fé e a proclamação da Palavra com perseverança e na justiça (2Tm 3,14-4,2),
rompendo com os falsos valores da sociedade injusta, submissa à ideologia do
poder do dinheiro.
O
cristão, consciente da companhia de Deus em seu caminho para a justiça e a
fraternidade, não deve desfalecer, mas insistir na oração, pedindo força para
perseverar até implantar seu reinado em um mundo onde dominam outros senhores.
Somente a oração poderá manter a esperança.
Deus não nos larga a mão. Pela oração sabemos que Deus está conosco. E isto nos
deve bastar para continuar insistindo sem desfalecer. O importante é a
constância, a tenacidade.
No Antigo Testamento (Ex 17,8-13), temos a contraditória e pouco edificante mistura de fé e violência, em que a oração de Moisés leva à vitória de Josué, que passa a fio da espada os vizinhos amalecitas, cujo território foi ocupado pelos israelitas.
Moisés teve essa experiência. Enquanto orava, com as mãos levantadas no alto do monte, Josué ganhava a batalha; quando as abaixava, isto é, quando deixava de orar, os amalecitas, seus adversários, venciam.
Os companheiros de Moisés, conscientes da eficácia da oração, o ajudaram a não desfalecer, sustentando lhe os braços para que não deixasse de orar. E assim esteve – com os braços levantados, isto é, orando insistentemente – até que Josué venceu os amalecitas. De modo ingênuo o texto ressalta a importância de permanecer na oração, de insistir diante de Deus.
Paulo também recomenda a Timóteo (2Tm 3,14-4,2) que seja constante
permanecendo no aprendizado das Sagradas Escrituras, onde se obtém a verdadeira
sabedoria que, pela fé em Cristo Jesus, conduz à salvação. O encontro do
cristão com Deus deve realizar-se através da escritura, útil para ensinar,
repreender, corrigir e educar na virtude.
Deste modo, estaremos equipados para realizar toda obra boa. O cristão deve
proclamar esta parábola, insistindo a tempo e fora do tempo, repreendendo e
reprovando a quem não o tenha em conta, exortando a todos, com paciência e com
a finalidade de instruir no verdadeiro caminho que se nos mostra nela.
Para quem tem uma mentalidade moderna, que não imagina um Deus como alguém que
está “aí fora” e “aí em cima” dirigindo os acontecimentos deste mundo, a oração
clássica de petição mudou de sentido. Em um primeiro momento, damos menos valor
à oração de petição: descobrimos seu caráter egoísta e sua intenção de
“utilizar a Deus”, “servir-se” dele mais que servi-lo.
Chega o momento em que assimilamos esta situação de estar no mundo sem um “Deus
tapa buracos” e vemos menos sentido em estar recorrendo a ele a cada instante.
Vamos assumindo este estar no mundo “etsi Deus non daretur” (Grotius), como se Deus não existisse. Ou, como disse Bonhoeffer: nós nos sentimos chamados a viver diante de Deus, porém sem deus, um deus que quer nossa responsabilidade adulta.
A oração continua tendo sentido, obviamente, porém outro sentido que o de andar
estabelecendo trocas (“eu te dou para que tu me dês”) com o “deus de lá de
cima” que pode melhorar a saúde ou facilitamos alguma dificuldade do caminho
removendo os obstáculos. A oração é outra coisa, para outra finalidade, e
continua sendo necessária como a respiração.
A oração é uma prática presente em toda a Bíblia e em todas as religiões. No
Segundo Testamento ela assume uma nova dimensão a partir da prática de Jesus em
orar e da oração ensinada aos discípulos, o "Pai-Nosso".
Nos
Evangelhos, particularmente em Lucas, são revelados a importância e os vários
aspectos da oração. A oração é o pedir, com fé, associado ao agir.
Com uma “segunda ingenuidade”, cabe a permissão em uma forma leve (light) de oração de petição, aquela na qual sabemos que não pretendemos realmente uma “troca” com Deus, nem colocá-lo de lado (influir em suas decisões, fazê-lo mudar de atitude), mas simplesmente permitir que nos expressemos diante de Deus e diante de nós mesmos e de nossas inquietações, como um desabafo pessoal, como um modo de colocar nossas preocupações no contexto da vontade de Deus e de consolidar nossa busca de procurar essa vontade.
Sobre a oração de petição e sua necessária consideração já escrevi bastante e o
estudo foi bom. O que nos toca agora é cumprir o nosso dever de casa: ser cada
vez mais e mais consequentes.
Reflexão Apostólica:
O fato
de comparar o Senhor com uma pessoa como esta, põe em relevo o contraste entre
ambos: se até um juiz injusto acaba por fazer justiça àquele que insiste com
perseverança, quanto mais Deus, infinitamente justo e nosso Pai, escutará as
orações perseverantes dos Seus filhos.
É uma
verdade de fé que, sem esta graça, nos achamos em impotência radical de nos
salvarmos e, com maior força de razão, de atingirmos a perfeição.
De nós
mesmos, por melhor uso que façamos da liberdade, não podemos nem dispor-nos
positivamente para a conversão, nem perseverar por tempo notável, nem,
sobretudo perseverar até à morte: Sem mim, diz Jesus a seus discípulos, nada
podeis fazer, nem sequer ter um bom pensamento.
São
muito claros os textos, que nos mostram a necessidade de rezar, se quisermos
alcançar a salvação: É
preciso rezar sempre e nunca descuidar (Lc 18, 1). Vigiai e orai para não cairdes
em tentação (Mt 25, 41). ‘Pedi
e dar-se-vos-á (Mt 7, 7).
A oração
para os adultos é necessária, não somente por ser um mandamento de Deus, como
também por ser um meio necessário para a salvação.
Assim,
torna-se impossível que um cristão se salve sem pedir as graças necessárias
para a sua salvação. Depois do batismo, a oração contínua é necessária ao homem
para poder entrar no céu.
Embora
sejam perdoados os pecados pelo batismo, sempre ainda ficam os estímulos ao
pecado, que nos combate interiormente, o mundo e os demônios que nos combatem
externamente.
Assim,
reconhecemos Deus como único Autor de todos os bens, a fim de que nós
conheçamos que necessitamos de recorrer ao auxílio divino e reconheçamos que
Ele é o Autor dos nossos bens.
No
evangelho de hoje vemos a descrição das duas personagens. O juiz é mau, a
viúva é pobre e sem amparo. O seu único recurso é a perseverança em implorar
justiça. Perseveremos também em nossa oração, nós que tratamos não com um juiz
iníquo, mas com um Pai de misericórdia.
A
razão que o Senhor dá para atender as orações é tríplice: a sua bondade, que
tanto dista da compaixão do juiz; o amor que tem pelos seus discípulos e, por
último, o interesse que estes mostram através da sua perseverança na petição.
A
viúva não desanimou, mas perseverou e foi atendida; perseveremos também nós na
oração e Deus nos atenderá. É, pois, necessário que rezemos com humildade e
confiança. Entretanto, isto só não basta para alcançarmos a perseverança final
e, com ela, a salvação eterna.
Assim
como nunca cessa a luta, assim também nunca devemos deixar de pedir a
misericórdia divina, para não sermos vencidos. Se quisermos, pois, que Deus não
nos abandone, devemos pedir-lhe sempre que nos auxilie.
Fazendo
assim, certamente Ele nos assistirá sempre e não permitirá que nos separemos
dele e que percamos a sua amizade. Procuremos, por isso, rezar sempre e pedir a
graça da perseverança final, bem como as graças para consegui-la.
Creiamos
para orar e para que não desfaleça a fé com que oramos, oremos. A fé faz brotar
a oração, e a oração, enquanto brota, alcança a firmeza da fé.
Porém,
nem todos os homens perseverarão fiéis, mas alguns se afastarão voluntariamente
da fé. É o grande mistério que São Paulo chama de iniquidade e de apostasia
(2Ts 2, 3), e que o próprio Jesus Cristo anuncia noutros lugares (Mt 24,
12-13).
Sabemos que somos impotentes, mas podemos desejar coisas impossíveis, porque confiamos na justiça de Deus. Por isso, a persistência das nossas reivindicações nos torna firmes e nos faz ter convicção e fé na promessa de Jesus de que tudo quanto pedirmos ao Pai, em Seu nome será atendido.
Do contrário, demonstramos orgulho e prepotência quando, porque ainda não fomos atendidos, nós desistimos dos nossos desejos e anseios e damos prova de que não temos fé nas promessas divinas. Deus sabe o tempo e a hora de nos dar aquilo que nós suplicamos, porém a nossa firmeza e persistência será uma prova de que realmente o nosso coração anseia ardentemente por aquilo que nós pleiteamos.
Ele faz justiça aos seus escolhidos, e, se assim nos consideramos, precisamos dar o nosso testemunho para que a chama da fé não se apague no coração da humanidade.
O que você tem pedido a Deus é realmente o que o seu coração anseia? Será que você tem convicção da necessidade das suas reivindicações? Você seria capaz de continuar pedindo por isso a vida toda? Você confia nas promessas de Deus para a sua vida e a da sua família?
O Senhor previne-nos para que, ainda que à nossa volta haja quem desfaleça, nos mantenhamos vigilantes e perseveremos na fé e na oração.
Deus
há de ouvir, finalmente, aos seus eleitos, se eles orarem com fé e
perseverança. Ainda que seja ao cabo de vinte, trinta anos, no fim da vida; que
é isso em relação à eternidade? Mas, infelizmente, a fé vai enfraquecendo, e
com ela a caridade, e sem caridade é impossível a oração.
Propósito:
Pai, faze-me pobre e simples diante de ti, de modo que
minhas súplicas sejam atendidas, pois jamais deixas de atender a quem se volta
para ti na humildade de coração.
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