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novembro - Quando estamos conversando, devemos prestar atenção para
responder à altura, mas o nosso coração deve estar sempre unido a Deus. (S
198). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São João 18,33b-37
"Pilatos chamou Jesus e
perguntou-lhe: “Tu és o rei dos judeus?”
Jesus respondeu: “Estás dizendo isto por ti mesmo, ou outros te disseram isto
de mim?”
Pilatos falou: “Por acaso sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te
entregaram a mim. Que fizeste?”
Jesus respondeu: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste
mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas
o meu reino não é daqui”.
Pilatos disse a Jesus: “Então tu és rei?”
Jesus respondeu: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto:
para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha
voz”."
Meditação:
Dizer
“Cristo Rei” é quase uma redundância, pois Cristo, que significa Messias, já
supõe o significado de ser ungido Rei. A repetição, porém, enfatiza e endossa o
desejo de realçar o atributo do poderio absoluto, que mais caracteriza sua
pessoa divina, expresso também pelo título de Senhor, outrossim, releva o múnus
régio de Jesus.
A Liturgia de hoje nos ajuda a conhecer a natureza da realeza de Jesus, cujo
reinado não é deste mundo (Jo 18,36) e que, por isso, não faz concorrência aos
reinos terrestres. Aliás, durante seu ministério público, Jesus foge quando
querem fazê-lo rei (Jo 6,15), evitando dar à sua missão messiânica um cunho
político e terreno.
No entanto, Jesus é Rei. Ele mesmo o afirma diante de Pilatos em
circunstâncias, humanamente falando, pouco régias (Jo 18,37).
Cabe
a Paulo comentar alguns dos aspectos desta realeza: Jesus é o único mediador da
Salvação de toda a criação; em Jesus todas as coisas encontram seu acabamento e
consistência; por Ele todos os homens têm acesso a Deus Pai, participando da
única família de Deus; é Ele o primogênito de toda a criação, a imagem do Deus
invisível, cujo desígnio criador e salvador depende dele; é Ele o Redentor que
reconcilia com seu sacrifício os homens, e, vencendo a morte, é elevado à
direita de Deus, constituindo-se também primogênito dentre os mortos;
finalmente, Ele é também a Cabeça do corpo que é a Igreja, que conquistou com
seu sangue como propriedade ou povo que lhe pertence para realizar a sua
vontade (Cl 1,15-20; Ef 1,20-23).
Em um mundo que se descristianiza e se seculariza, como expressar ainda o
direito que Jesus tem de reinar? Como manifestar tal direito quando há
batizados que se empenham e se responsabilizam pela História, sem nenhuma
referência a Jesus e a seu Evangelho?
A
resposta, que é dada pelo conjunto da Pastoral exercida pela Igreja, é o
próprio sentido da Solenidade de hoje. Os autênticos cristãos confessam ser
Jesus o Senhor, por conseqüência, querem que Ele tenha seu espaço de influência
na História que ajudam a construir.
Vivendo
o sacerdócio régio comum a todos os batizados, os fiéis cristianizam o mundo,
iluminando a consciência dos homens, libertando-a da escravidão do pecado,
tornando-os aptos a descobrirem a beleza de Cristo.
As
sociedades com suas estruturas quando são fermentadas por genuínos cristãos
descobrem espaços contínuos para o estabelecimento do humanismo integral.
Onde
Cristo chega pela vivência dos fiéis, descortina-se um véu de esperança para o
drama humano do sofrimento e da finitude.
Pilatos, já
informado da situação, pergunta diretamente a Jesus: “Tu és o rei dos judeus?”.
Jesus responde com outra pergunta, indaga ao interrogador qual é a origem dessa
acusação que, neste ponto, se converte em aclamação. Pilatos não está
interessado em estabelecer nenhum tipo de vínculo com Jesus, contudo, segundo a
forma como o evangelista João conduz o fio do relato, a realeza de Jesus acaba
sendo proclamada não por seus patrícios mas pelos pagãos.
Indiretamente, Jesus responde de modo afirmativo à primeira pergunta de
Pilatos, mas presta um esclarecimento que certamente nem Pilatos nem seus
acusadores podem entender: “meu reinado”, ou também “minha realeza não é deste
mundo”, mas deve ser entendida “não ao modo ou à maneira deste mundo”.
E a explicação continua: “Se minha realeza fosse ao estilo desta realidade,
teria sido defendido por meu exército e não teria caído nas mãos dos judeus”.
Mas Pilatos quer uma resposta mais clara, um sim ou um não, e mais uma vez
interroga: “Então, tu és rei?”. De novo, São João põe nos lábios de um pagão a
expressão que confirma a realeza de Jesus. Pilatos o disse e assim é. Mas, em
seguida, Jesus corrige a característica dessa realeza: “para isso vim, não para
dominar nem para infundir terror, mas para servir a verdade”.
Assim, pois, o evangelista deixa claro em que consiste a dimensão messiânica e
real de Jesus. Não se trata de um rei ao estilo dos reinos temporais, mas ao
estilo do que já se havia entrevisto no Antigo Testamento: a entrega, o serviço
ao projeto do Pai, que é, antes de tudo, a justiça. Isso é a verdade para João,
o projeto do Pai encarnado em Jesus.
Infelizmente, com o correr do tempo, usou-se de subterfúgios com o conteúdo
desse interrogatório, especialmente a resposta de Jesus sobre a origem de sua
realeza.
Algumas
correntes cristológicas, que subsistem até hoje, defendem uma dimensão
“espiritual” do reino de Jesus. Conforme isso, “meu reino não é deste mundo”
desconecta Jesus e seu Evangelho de todo compromisso e de todo o contato com a
ordem temporal, dessa realidade concreta em que vivemos, e o transfere para um
mundo “espiritual”.
Mundo, para João, é uma forma sintética de referir-se a tudo o que contradiz o
projeto divino, e que pode equiparar-se ao que ele deseja descrever também com
a expressão “trevas” em oposição à “luz”.
Assim,
pode-se entender “meu reino não é deste mundo”, como “não é desses reinos que
se opõem ao querer de Deus” e, nesse sentido, Jesus realizou toda a sua ação,
não contradisse em nada a vontade do Pai.
Como me posiciono a respeito das ideologias e tendências que pretendem
manipular a figura de Jesus, como se Ele fosse um chefe monárquico? Em meu
trabalho apostólico, reforço essa ideologia ou a descarto? Com base em quais
passagens da Escritura, sustento minha posição?
Reflexão Apostólica:
O que significa
aclamar Cristo como Rei? Escutá-lo, obedecê-lo, amá-lo.
Escutar Cristo, Rei da verdade - Pilatos
tinha ouvido falar da realeza de Cristo, mas não está satisfeito. Quer ouvir da
sua própria boca, uma proclamação real.
Jesus concorda, se proclama abertamente Rei.
A resposta “Tu o dizes” é um modo de dizer, em aramaico, a língua falada
por Cristo: o que me perguntas é totalmente certo, tua afirmação sobre se sou
rei é verdadeira. Sou Rei; mais ainda, para isso nasci.
Este rei não se apresenta como um ditador. A
base de seu reinado está na verdade. “Vim para dar testemunho da verdade”.
Cristo Rei não se apresenta a nós como um ser autoritário, que deprecia ou pisa
na liberdade do homem e exige um seguimento cego.
Ele nos criou livres, e sempre respeitará
nossa liberdade. Quer que decidamos aderir a Ele tal como somos, encontrando
nesta generosa adesão a entrega à verdade, à Verdade.
Obedecer a Cristo, Rei do amor - Temos diante de nós um Rei, um soberano,
diante dele temos que tomar uma atitude de escuta e obediência.
Na idade média, os pobres lavradores se
colocavam a serviço de um senhor feudal. Viam nele um protetor para suas vidas,
uma força em quem apoiar, e não temiam renunciar uma parte da sua liberdade e
bens contando que garantissem proteção e cuidado.
Agora, diante de Deus devemos nos aproximar
como de um grande Rei, que nos oferece proteção e cuidado, que venceu o mundo,
o demônio, o mal; devemos nos colocar confiadamente a seu serviço, escutando
sua palavra e colocando-a em prática. Em grego escutar e obedecer se diz com um
mesmo verbo: hypakuo.
No fundo, é uma mesma ação: o que escuta,
aceitando a grandeza dessa Palavra, não pode fazer nada menos que obedecer.
Sabe que ali está o melhor para Ele, o que
lhe dá força e vigor, e por isso obedece com confiança, não como a um senhor
feudal, mas sim como a um Pai que nos ama.
Amar Cristo Rei - A terceira atitude que devemos cultivar diante deste Rei
Universal é a de louvá-lo. Não estamos diante de um rei qualquer, diante de um
homem que, como nós, morrerá. Estamos diante de um Rei muito especial, um Rei
que nos criou do nada, que nos mantém vivos, que nos amou a ponto de morrer
crucificado por cada um de nós.
É um Rei que morreu por seus servos, que nos
acompanha dia e noite, que ficou perto de nós na Eucaristia, que quer
transformar nosso coração na comunhão.
A atitude diante deste Rei, portanto, não
pode se limitar a uma escuta fria, nem a uma mera obediência. Devemos chegar ao
amor.
Amar quem tem nos amado. A partir desta
perspectiva se entende a atitude destes mártires que preferiram entregar a vida
a negar Cristo Rei. São homens e mulheres loucos, sim, loucos de amor por
Cristo, o louco de amor pelo homem.
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