20 junho – Seja qual for o caminho pelo qual o Senhor nos conduza, se lhe
formos sempre fiéis, nos encontraremos um dia no Paraíso, onde teremos
acumulado numerosos merecimentos e glória, e tanto mais nos regozijaremos e nos
deliciaremos em Deus, quanto menos tivermos desfrutado de suas consolações aqui
na terra. (S 359). São Jose Marello
Marcos
4,35-41
"Naquele dia, de tardinha, Jesus disse
aos discípulos:
- Vamos para o outro lado do lago.
Então eles deixaram o povo ali, subiram no barco
- Mestre! Nós vamos morrer! O senhor não se importa com isso?
Então ele se levantou, falou duro com o vento e disse ao lago:
- Silêncio! Fique quieto!
O vento parou, e tudo ficou calmo. Aí ele perguntou:
- Por que é que vocês são assim tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?
E os discípulos, cheios de medo, diziam uns aos outros:
- Que homem é este que manda até no vento e nas ondas?!"
Meditação:
A barca no meio da tempestade tem sido freqüentemente considerada
como uma alegoria da Igreja. E esta imagem adquire todo o seu sentido na atual
conjuntura da Igreja no mundo.
Do mesmo modo que os discípulos, a Igreja abandonou as multidões
levando Jesus consigo. E hoje em dia se encontra isolada em suas instituições
seculares e pela proa tem uma profunda tempestade.
Também os que foram chamados correm o risco de isolar-se apesar de
sua própria disciplina, de sua fé, de sua consagração; e isto, por sua vez, é
uma grande desordem. A solução? Recorrer aos poderes de Deus? Ao poder de sua
palavra ameaçadora? Apelar simplesmente para o sobrenatural?
Talvez; mas então se corre o risco de ter que ouvir que nos digam:
Ainda não tendes fé? Porque a fé não deve empurrar-nos a utilizar a segurança
das instituições eclesiais ou clericais, mas a contemplar Jesus morto e
ressuscitado; a comprometer-se com a própria morte... e voltar à margem para
misturar-se com o povo.
Por causa do medo, a Igreja se isola; em virtude da fé, recusa-se
trazer à tona seus próprios problemas. Mas o lugar da verdade é para a Igreja o
mundo; não outro.
O evangelho de hoje nos apresenta Jesus no término de um dia de trabalho. O
capítulo quatro do evangelho de Marcos inicia mostrando Jesus ensinando as
multidões às margens do mar de Galileia.
Tantas eram as pessoas que iam escutá-lo que teve de entrar numa
barca para falar dali, ensinar aos seus seguidores por meio de parábolas. (Mc
4,1-3).
Podemos imaginar que depois de um dia anunciando o Reino de Deus,
Jesus esteja cansado ao ponto de querer se retirar com seus amigos mais
íntimos.
É por
isso que ele entra na barca e dorme! É um cansaço feliz, e como uma criança
descansa no colo do Pai a quem buscou servir ao longo deste dia, (Sl 130).
Mas
antes de dormir, Jesus disse claramente para onde queria ir: «Vamos para o
outro lado do mar», ou seja, vão atravessar o mar de Galileia para ir à terra
dos pagãos a continuar sua missão.
Ele
quer continuar sua missão, é ciente que veio ao mundo para "pregar o Reino
de Deus" (Mc 1,38-39), e essa paixão pelo projeto de Deus o queima por
dentro e o movimenta a ir ao encontro das pessoas nas diferentes situações e
lugares onde estão.
Esta
barca que se dirige às terras pagãs, levando Jesus e seus discípulos, é uma
imagem muito bonita da Igreja missionária hoje. Ela também, possuída pela mesma
paixão e zelo missionário de Jesus, atravessa diferentes mares para ir ao
encontro dos homens e mulheres para lhes comunicar a boa notícia do reino de
Deus.
Quais
são os mares que a comunidade cristã hoje está atravessando para dar
continuidade à missão de Jesus?
Ousamos
sinalizar algumas travessias como exemplo, sabendo que existem muitas outras.
O
respeito e diálogo com as outras religiões para construção de uma ética e
cultura da paz é sem dúvida uma grande viagem que está realizando a Igreja. O
cuidado e defesa dos refugiados e migrantes num mundo global, mas excludente é
outra grande travessia.
Não
podemos esquecer a urgência da Igreja em encontrar uma linguagem adequada,
novas categorias para dialogar com a cultura pós-moderna em continua mudança.
O
evangelista conhecedor das dificuldades que sofre a comunidade dos anos 70 dC,
apresenta uma viagem com tormenta: "Começou a soprar um vento muito forte,
e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já estava se
enchendo de água".
Quais
são as ondas que tentam hoje fazer soçobrar nossa barca?
Talvez
"ondas" de desânimo, de desesperança: somos cada vez menos na
comunidade; o que temos mudado com nosso trabalho? "Ondas" de aburguesamento
e cumplicidade: já fizemos bastante, pobres sempre existiram e existirão.
"Ondas" de fundamentalismo e superioridade: é importante cuidar a
pureza de nossos ritos, liturgias...
Como
os discípulos ao experimentar essas ondas batendo na nossa barca, na nossa
comunidade, sentimos medo. Seria ótimo que seguíssemos seu exemplo e
acudíssemos também nos Jesus.
No seu
desespero, os discípulos foram despertar Jesus, sua fé se confunde com a
recriminação: «Mestre, não te importas que nós morramos?».
Jesus
descansa nos braços do Pai, não porque não sinta a tormenta da travessia, está
na mesma barca, senão porque confia que Deus Pai está com eles cuidando-os na
missão.
Aqui
está a chave do que Marcos quer transmitir aos seus. Quando a comunidade segue
os passos de seu Mestre, vai sofrer perseguições, vai ter dificuldades, vai
vivenciar noites de tormentas, mas Deus é maior que tudo isso.
São
duras as palavras que o evangelista coloca nos lábios de Jesus: «Por que vocês
são tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?», buscando atiçar o fogo da fé de sua
comunidade.
Nossa
fé pode crescer cada vez mais, somos convidados/as a passar de uma fé
desesperada a uma fé plenamente
confiada,
ao ponto de poder dormir mesmo na tormenta da travessia missionária.
Reflexão
Apostólica:
Existem muitas coisas na nossa existência que nos deixam com medo, desde coisas
simples, como o medo de insetos inofensivos, até coisas verdadeiramente
terríveis, que podem em questão de segundos aniquilar a nossa vida, como é o
caso de terremotos ou guerras nucleares.
Além
disso, temos os nossos fantasmas que criamos e que nos metem medo, como por
exemplo o medo de escuro ou de almas do outro mundo.
Existem
pessoas que possuem também um medo muito grande do próprio Deus, e isso
acontece porque não foram capazes de descobri-lo como amor e de buscarem um
relacionamento amoroso com ele, fazendo do próprio Deus um fantasma a mais nas
suas próprias vidas.
Muitas
vezes costumamos usar frases como "estou passando por uma tempestade"
para falar que estamos passando por uma situação difícil e quantas vezes também
dizemos que nossa comunidade esta navegando em "águas tranqüilas" ou
de "vento em popa".
Com isso queremos dizer que o momento não há dificuldades, que tudo vai bem, as
pessoas se entendem e de fora não há maiores ameaças que possam destruir o
espírito comunitário.
É assim que sentimos normalmente a comunidade? Ou tem outras figuras que
explicam melhor o que se passa? Por exemplo: parece que o "barco esta
afundando" ou uma "tempestade" atingiu nossa comunidade, ou
ainda, tem muita "onda brava" querendo nos arrasar.
Que significa isso? Que mar de nossa sociedade está tão cheio de perigos,
ameaças que a gente não consegue mais se defender. Ou que os ventos do espírito
de egoísmo e consumismo invadem tudo. E nós, ficamos com medo ou resistimos com
confiança e coragem? Como sentimos a presença de Jesus que acalma a tempestade?
Propósito: Passar para outra
margem, sair de nós mesmos entrando na dinâmica de Jesus, confiados que
nenhuma tormenta poderá submergir nossa barca porque Jesus viaja conosco.
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