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setembro - Busca sempre a perfeição em tudo, até nas pequenas coisas. (S 237).
São Jose Marello
Lucas 16,19-31
Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: 19“Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias.
20Um
pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico. 21Ele
queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso,
vinham os cachorros lamber suas feridas.
22Quando
o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico
e foi enterrado. 23Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o
rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado. 24Então
gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo
para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’.
25Mas
Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante a vida e
Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és
atormentado. 26E, além disso, há grande abismo entre nós: por mais
que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí
poderiam atravessar até nós’.
27O
rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, 28porque
eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para
este lugar de tormento’. 29Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e
os profetas, que os escutem!’
30O
rico insistiu: ‘Não, Pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente
vão se converter’. 31Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés,
nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos
mortos”’.
Meditação:
Existe uma suposição de que Jesus queria dizer
através desta parábola que os homens bons e maus recebiam suas recompensas após
a morte, porém esta alegoria contradiz dois princípios:
2º) O sentido de cada parábola deve ser analisado a
partir do contexto geral da Bíblia.
A parábola do rico e Lázaro tem o propósito de
ensinar que o destino futuro fica determinado pelo modo que o homem aproveita
as oportunidades nesta vida.
Em conexão com o contexto da parábola anterior do
administrador infiel. “Se, pois, não vos tornardes fiéis na aplicação das
riquezas de origem injusta, quem vos confiará a verdadeira riqueza?” (Lc
16,11).
Portanto, fica estabelecido que interpretar esta
parábola de forma literal, resultaria em ir contra os próprios princípios
encontrados nas escrituras. Fosse essa história uma narrativa real,
enfrentaríamos, o absurdo de ter que admitir ser o ‘seio de Abraão’ o lugar
onde os justos desfrutarão o gozo, e que os ímpios podem se ver e falar uns com
os outros.
A consequência mais imediata é o esquecimento das mínimas relações de justiça e
da finalidade da vida
O
Estamos ante dois extremos da condição social e religiosa que revelam por onde
vai o querer de Deus. O rico, que conhecia a lei e os profetas, não foi capaz
de assumir uma atitude generosa, solidária e comprometida para dignificar os
pobres que o rodeavam.
Lázaro, em troca, abandonou-se por completo nas mãos de Deus. O pobre recebe
assim ajuda divina e se converte em critério para o julgamento definitivo dos
seres humanos.
A parábola permite ver com clareza a sorte dos egoístas que depositaram toda a
sua confiança na riqueza. O desejo tardio de conversão já não é suficiente para
a própria salvação; por isso sublinha a importância de ler os sinais dos tempos
e escutar a voz de Deus nos profetas e no clamor dos pobres. É aí onde a
bondade e o amor devem tornar-se realidade.
Muitas pessoas apostam que a plenitude da vida e da felicidade se encontra na
riqueza; basta olhar a correria de pessoas por empregos ou negócios que
ofereçam enormes salários, e sempre insatisfeitas com o que vão conquistando.
É a diabólica pedagogia que tem dividido o nosso mundo em milhões de “lázaros”, obrigados a catar lixo, a comer sobejo que caem das mesas dos ricos, ou morrer de fome. Uma pedagogia que, infelizmente, parece ter se transformado em religião no nosso mundo e que é uma das razões dos piores males da humanidade.
O ser rico não é mais um sonho de alguns que ficavam observando a fabulosa vida
que leva quem chegou a ser um “tio patinhas” da vida, mas se tornou uma
verdadeira obsessão, que ameaça cancelar os verdadeiros desejos do coração,
aqueles que Deus inspira e tem como sonho “amar até doar-se em plenitude”.
Infelizmente, parece que é a fábula do momento: uma fábula cultivada de tantas revistas e livros especializados em como “enriquecer juntos”, “o segredo das mentes milionárias” etc, sem por um único momento, pensar que atrás da fachada de luxo e ostentado bem estar, muitas vezes está uma tristeza que é sinal do vazio do coração. Nada pode dar a verdadeira felicidade se não o amor que se faz dom e não posses.
Lucas denuncia o mau uso do dinheiro por parte de alguns à custa da miséria de tantos. Na parábola do homem rico e do miserável Lázaro, Jesus descreve a vida terrena de ambos: os dois extremos da sociedade.
O rico tem um estilo de vida alto, suas roupas são das grifes mais caras, elegantes e luxuosas. Ele usa a sua riqueza para levar uma vida cheia de prazeres. O sentido da vida pra ele é o prazer das coisas materiais. O que o separa do miserável
Lázaro é apenas a porta de sua casa. Ele não acolhe o pobre. Este leva uma vida dura; não só é desprovido de bens, mas se encontra doente e desabrigado. Seu corpo não é coberto de roupas finas, mas de muitas feridas. Ele quer matar sua fome com o sobejo da mesa do rico. Sua companhia são os cães sujos que se aproximam dele para lamber-lhe as feridas. Faminto e doente, vive na sujeira das ruas. Mas, diferentemente do rico, Jesus faz questão de lembrar o seu nome: Lázaro (Deus ajuda). Na extrema pobreza, ele não perde a confiança, mas é convicto de que Deus o ajuda.
Morre o miserável, único instrumento de salvação do rico. Morre também o rico. A morte os torna iguais. Não há como escapar dela. E a este ponto, o destino deles se inverte completamente.
O que é descrito sobre a vida depois da morte dos protagonistas da parábola não quer ser uma descrição precisa da vida eterna; mas quer caracterizar a radical diversidade entre a vida daquele que um tempo foi rico e a do que foi pobre.
Lázaro é levado para o seio de Abraão, para o banquete festivo. Quanto ao rico, dois elementos mostram como mudou a sua situação. Ele que vivia no luxo, agora é rodeado de fogo e grandes tormentos. Ele que tinha a sua disposição comidas finas e bebidas importadas, agora implora por uma simples gota d’água.
Na vida terrena, Lázaro faminto tinha lhe pedido os restos da sua mesa sem receber nada. Agora, é o rico que pede uma gota d’água na ponta do dedo de Lázaro e não pode recebê-la. Tarde demais! O modo no qual empregou sua riqueza e consumou a sua vida o reduziu a uma condição na qual sofre dor e tormento.
O rico reconhece tanto que o modo que conduziu sua vida estava errado que queria que Lázaro fosse avisar aos seus irmãos para mudarem de vida a fim de evitar aquele trágico destino.
Abraão não permite e responde: “Eles têm Moisés e os profetas, que os escutem” Pra evitar esse destino, é necessário escutar a Palavra de Deus, pois ela mostra a vontade de Deus, a orientação para uma vida justa. Nela, é expressa a nossa responsabilidade social com relação aos mais pobres. Mas somente seremos capazes de praticá-la se tivermos um coração bom e aberto.
O coração cego é endurecido pelo egoísmo e não se interessa por Deus nem pelo próximo. Jesus nos convida sempre a tomar consciência dos verdadeiros problemas do mundo e a atuar num empenho cristão, que não se limita a alguma esmola, mas procura ir às causas da desigualdade, das injustiças, com obras de partilha e de solidariedade.
Quantas coisas supérfluas nós temos? Quanto tempo da nossa vida desperdiçamos com coisas inúteis? Quantas coisas podemos fazer pelos mais necessitados e não o fazemos? Ele não nos condena se usarmos coisas materiais boas, o que ele denuncia é se isso significa egoísmo e indiferença para com os nossos irmãos mais necessitados.
Reflexão Apostólica:
Vivemos num mundo onde a falta de sensibilidade diante da dor do outro é cada vez mais generalizada. Urge reagir como cristãos.
Este texto do evangelho de Lucas é a mais expressiva parábola quanto à denúncia da sociedade dividida, de um lado ricos que tudo usufruem e de outro lado pobres privados dos bens necessários à vida digna.
O cenário de fundo, com o juízo final e a condenação do rico e a consolação do pobre aponta para a condenação e a proposta de mudança do sistema sócio-econômico que, hoje, garante a riqueza e o poder de uma minoria, a partir da exploração da maioria excluída, empobrecida e sofredora. Todos, sem exclusões, são convidados a se empenharem nesta mudança, a favor da vida.
As
lições apresentadas nesta parábola são claras e convincentes, porém os justos
ou injustos receberam suas recompensas somente no dia da ressurreição.
O
problema não estava no fato do homem ser rico, mas sim por ser egoísta. A má
administração dos bens concedidos por Deus havia afastado os fariseus e os
Judeus da verdadeira riqueza, que é a vida eterna, esqueceram do segundo
objetivo que se encerra na lei de Deus: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
Este
texto evangélico também é um dos mais fortes na argumentação de que uma vez
tendo morrido, nenhum de nós “tem permissão” de Deus para voltar a este mundo,
nem que seja para dar um bom conselho a um familiar.
Com o exemplo do rico e do pobre Lázaro, Jesus nos revela mistérios da realidade mais presente na nossa vida: a nossa caminhada na terra em direção ao nosso porto final, o céu.
O homem rico tinha tudo aqui na terra, vestia-se bem, comia maravilhosamente e
celebrava isto todos os dias com festas esplêndidas. Assim ele se refestelava
na sua própria “felicidade”.
No entanto, mesmo sabendo da existência do pobre, o rico ignorava a sua
situação, e deixava-o caído à sua porta esperando que alguma coisa lhe sobrasse
quando “a festa” findasse.
Se formos prestar atenção a este quadro, chegamos à conclusão que hoje isto
também acontece na nossa vida guardando as devidas proporções e na medida da
nossa realidade.
O que nós precisamos estar atentos (as) é que assim como o pobre morreu e foi
levado pelos anjos ao seio de Abraão, que é o Céu, o rico também morreu, mas,
“foi enterrado”, como nos revela Jesus. Isto para nós faz uma diferença
incrível, pois nos induzi a meditar sobre a visão que temos em relação ao
morrer e ao depois do morrer.
Se nós tivermos uma idéia da vida só para ser uma experiência terrena, agindo e
reagindo conforme os critérios humanos, com as práticas ditadas pela
mentalidade do mundo, com certeza nós iremos ser “enterrados” (as).
No entanto, se concebermos a idéia de que a nossa vivência na terra é um
passaporte e passagem que nos encaminham para o Céu, porto seguro, casa do Pai,
retorno à vida, aí então, com a mesma certeza, nós esperamos ser levado pelos
anjos ao seio de Abraão.
Contudo, isso não depende apenas do nosso saber, ter conhecimento, mas sim, do
nosso viver, do nosso conviver e do nosso participar, porque aqui na terra nós
já começamos a construir esta via, através dos nossos relacionamentos pessoas
com TODOS.
Não apenas com aqueles (as) que são para nós os mais queridos (as), não somente
para com os “ricos”, mas também com aqueles intoleráveis, “os pobres” que são
carentes de pão, mas principalmente de vida e santidade. Jesus abriu para nós
um cenário real, o qual nós não podemos mais ignorar: cenário da vida na terra
e depois dela.
Para onde vamos, só Deus sabe, mas nós podemos ter uma idéia, dependendo do que
nós estivermos colocando
Aqui na terra nós recebemos as condições para nos apropriarmos dos “terrenos do
céu”. Há, porém, uma condição imprescindível: a de partilharmos os nossos bens
e dons dos nossos “terrenos da terra” com os outros moradores.
Nós sabemos que a figura do pobre sempre será uma realidade entre nós, no
entanto, a sua existência é uma chance que Deus dá ao rico para bem empregar os
seus bens e assim poder obter ainda muito mais para ajudar a quem precisa. No
entanto, ninguém é tão pobre que não possua nada para dar nem igualmente é tão
rico que não necessite partilhar com alguém a sua riqueza. Há, porém, outra
coisa importante que nós precisamos ter em conta: o tempo é hoje, agora!
Não podemos esperar para quando chegar lá no nosso destino, “depois quer findar
a festa”, pois há um abismo enorme e nós não podemos retroceder. Nem tampouco
nós podemos de lá fazer com que aqueles que nós temos interesse que escapem possam
se redimir. No entanto, Abraão falou ao rico: “Eles lá têm Moisés e os
profetas, que os escutem!”
Isto vale também para nós HOJE, pois somos convocados a sermos também,
profetas, com palavras, atos e sem omissão. Quando abrimos os olhos e os ouvidos
para apreender os ensinamentos de Jesus, nós também assumimos o compromisso com
a verdade e nos tornamos mensageiros do céu aqui na terra.
Quais os bens que você tem recebido na vida? Você os tem partilhado com os
“pobres” que se encontram à sua porta? Como é a sua vida: você tem
recebido mais bens ou mais feridas? Qual é a idéia que você tem da vida após a
vida aqui na terra? Você tem aberto os olhos das pessoas da sua família para
isso?
Pai, não permitas que nada neste mundo me impeça de ver o sofrimento de meu próximo e fazer-me solidário com ele
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