21 dezembro - Não nos amedronte o
pensamento da nossa insignificância; ela deve ser para nós motivo de maior
confiança naquele que se constituiu suplemento a tudo e a todos. (L 8). São
Jose Marello
Lucas 1,39-45
"Naqueles dias, Maria partiu apressadamente dirigindo-se a uma cidade de Judá. Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, ela exclamou: "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre. Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido"."
Meditação:
O anúncio do anjo converte Maria na
primeira discípula, evangelizada e evangelizadora. É a mulher que se converte
em profetisa de Deus e firme seguidora de seu Filho.
Esta experiência fundadora de Deus em Maria faz com que ela se converta, junto com sua prima Isabel, em protagonista das promessas e do plano de Deus em meio a uma sociedade fortemente machista e patriarcal.
Lucas, com sua narrativa da visitação de Maria a Isabel, faz a articulação entre os anúncios do anjo Gabriel a Zacarias e a Maria e o nascimento dos meninos, João e Jesus.
Nas narrativas de infância de Jesus e na exaltação de uma mulher a sua mãe (Lc
11,27) por seis vezes Lucas destaca o ventre de Maria como o lugar do encontro
entre o divino e o humano, na concepção e gestação de Jesus.
Fica assim, em evidência, que a encarnação é o acontecimento salvífico, pelo
qual, Deus fazendo-se humano, a humanidade é assumida na condição divina e
eterna.
Lucas relata o encontro de Isabel e Maria. Uma mulher mais velha, esposa de um
sacerdote, que encarna as tradições da Judéia, junto a uma jovem camponesa que
reflete as tradições da Galiléia.
Isabel saúda Maria com alegria e reconhece nela a ação de Deus. As menções do AT, postas na boca de Isabel, relacionam Maria com a Tenda do Encontro, portadora da presença de Deus, e com as mulheres que foram importantes na história do povo.
Maria é a mulher que leva a termo a plenitude da revelação do A.T; ela é a nova
tenda onde agora Deus se manifesta e se revela aos homens.
Em Isabel e Maria, Deus convoca Israel a inaugurar um novo tempo onde toda diferença ou exclusão ficam superadas pela fraternidade.
O cântico, proclamado por Maria, tema de nossa meditação de amanhã, exalta a
Deus pela obra que fez em favor da humanidade e especialmente dos pobres e
desvalidos, dos necessitados e humilhados.
Vamos ao encontro do outro, como Maria, e reconheçamos como Isabel a presença já atuante do reino de Deus em nosso meio.
Maria e Isabel, mulheres da periferia, mulheres que aprenderam e mostraram com
suas vidas o que é escutar a Palavra e reconhecem que a ação de Deus passa pela
realidade do pobre, do marginalizado.
Maria e Isabel são as mulheres de fé e modelos de resposta de toda a humanidade
ao projeto salvador de Deus, sendo as predecessoras das pessoas discriminadas e
excluídas, de mulheres e pecadores, dos que ninguém esperaria que respondessem
com gratuidade e compromisso à sua revelação histórica.
Estas duas mulheres comprometem os cristãos a partir de duas atitudes
fundamentais para que o plano de Deus seja uma realidade a germinar na terra; o
plano da confiança em Deus que torna possível o impossível, e da escuta e da
prática de sua Palavra.
Atualmente, continua sendo de vital importância que nossa preparação para o
nascimento de Jesus seja também uma ação missionária.
O mundo de hoje clama pela solidariedade e fraternidade. Neste Evangelho, encontramos Maria em atitude missionária.
Em conclusão, podemos dizer que a visita a Isabel se caracteriza por uma série
de ações que revelam o anúncio da Boa Nova. Maria viaja desde o Norte, até a
região da Judéia, para visitar Isabel; esse ato de desprendimento é um gesto
que mostra o poder de envio de Deus.
É a materialização de sua generosidade. A saudação de Maria a Isabel é uma
festa da maternidade de Deus.
O menino João, dando saltos de alegria no ventre em reação às palavras de Maria, é um símbolo do poder da Palavra divina que vai semeando alegria e gozo por todas as partes.
Os movimentos não deixam de ser significativos, o que rompe com todo
formalismo. Deus mesmo supera os formalismos para se expressar da maneira que
quer.
Hoje, a sociedade está perdendo sensibilidade às vozes de Deus. O nosso desafio
é recuperar a voz de Deus para que ela seja ouvida na sociedade.
Reflexão Apostólica:
Chegamos a ler ou meditar, alguma vez, o
Cântico dos Cânticos? Trata-se de um dos livros poéticos mais lindos do Antigo
Testamento e da literatura universal. Parece que se tratava de canções de amor
para serem entoadas por ocasião das festas de casamento em Israel.
Porém, o Povo de Deus acabou vendo nele o
drama amoroso das relações de Deus com o seu povo.
Os protagonistas são um casal de namorados que se buscam, se encontram, se
perdem e voltam a encontrar-se. Expressam as ânsias da paixão e do desejo, a
atração da beleza mútua, a felicidade dos abraços e do beijo.
Os noivos não poupam elogios de um para o outro, com imagens poéticas dignas de
Salomão, o rei a quem a piedade judaica terminou atribuindo a composição do
livro.
Nas sinagogas judaicas se lê na festa da Páscoa, porque expressa a íntima
relação de Deus com o seu povo. É uma lástima que nós, cristãos apenas leiamos
em nossas igrejas apenas quatro fragmentos, em quatro ocasiões distintas.
Às vésperas do Natal nos é proposta esta leitura do Cântico dos Cânticos, ou
Cantares: Ct 2,8-14.
Aí se fala do Amado que já vem, “saltando pelos montes,
brincando pelas colinas”. A Amada o espera, o busca, sente-se
chamada por ele. Tudo num belíssimo marco bucólico de campos floridos, de rolas
que turturinam, de perfumes e frutos do pomar.
Esta passagem quer ambientar-nos para a festa do Natal que já é iminente. O
Amado é Jesus que vem para nós e a Amada é a Igreja que o espera, que sente seu
chamado, que o busca e o encontra.
Neste sentido, a Igreja não pode estar melhor representada senão por Maria, a
mãe de Jesus, que pressurosa foi ao encontro de Isabel, sua prima, para
confirmar as palavras do anjo, e para cantar as maravilhas de Deus.
Continuamos refletindo os relatos do nascimento do evangelho de Lucas, e o
faremos ainda até o Natal.
Hoje, nos é apresentada a cena que chamamos
comumente de “visitação” de Maria à sua prima Isabel.
O Evangelho nos diz que a Virgem fez o caminho até as montanhas da Judéia onde
vivia sua prima, dois ou três dias de caminho.
O encontro das duas mulheres foi
imortalizado, como tantíssimas outras páginas da Bíblia, nas obras dos artistas
cristãos.
No entanto o que mais conta são as palavras com que Isabel saúda a Maria, cheia
de graça – diz o evangelista – do Espírito Santo: “Bendita és tu entre as mulheres
e bendito é o fruto do teu ventre”, palavras que milhões e milhões
de cristãos repetem, em todas as línguas do mundo, para saudar, a mãe de
nosso Senhor.
Bendita não por seus próprios méritos, mas pela graça e pelo favor divino,
porque soube acolher a Palavra de Deus até a ponto de gerá-la em seu seio,
porque se pôs inteiramente à disposição de Deus que fazia dela instrumento
precioso de sua obra de salvação.
Isabel é consciente da desproporção da visita: “Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me
visitar?”, pergunta.
Com a mesma humildade, seu filho, João
Batista, dirá, mais tarde, que não é digno nem de desatar as sandálias do
Messias.
Isabel proclama ditosa, bem-aventurada, bem-amada a Maria porque nela se
cumprirá o que lhe disse o Senhor por meio do anjo.
Mesmo que o Evangelho de hoje se interrompa neste ponto, sabemos que Maria
prorrompeu, em resposta às palavras de Isabel, num cântico de ação de graças, o
“Magnificat”.
Sabemos que muitos daqueles por quem rezamos
e pedimos precisam ser “carregados
através do telhado” como aquele paralítico (Lc 5,19-24).
Precisamos como Maria, levar a graça às
pessoas que nos cercam e não somente guardá-la para nós em nossas orações e
preces.
Precisamos ir até elas e convencê-las a
acreditar que vale a pena subir no telhado, que vale a pena o esforço, que
valerá muito mais ter fé!
Também precisamos fazer nossos os
sentimentos e as palavras de Isabel, bendizer e felicitar a Maria pelas
maravilhas que Deus realizou nela.
Deveríamos, sobretudo, assumir as atitudes destas mulheres que submissamente se
põem à disposição dos planos salvíficos de Deus.
Compete a nós levar o Messias para visitar os nossos irmãos que sofrem e
choram, para que se alegrem como Isabel e louvem ao Deus que os salva e
liberta.
Lembre-se da frase de Isabel: “Feliz aquela que acreditou,
pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido”.
Propósito:
Pai, a
exemplo de Isabel, anseio conhecer a verdadeira identidade de Maria que, na sua
humildade, tornou-se o ser humano abençoado por excelência.
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