18 dezembro - O nosso arrependimento seja calmo e tranquilo, de modo que, ao nos fazer tomar consciência do mal que fizemos, nos dê ânimo para voltarmos ao bom caminho. (S 202). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Mateus 1,18-24
A perícope evangélica da
concepção virginal de Jesus tem sido objeto de controvérsia. As interpretações
são desencontradas tanto por desconhecermos elementos fundamentais para
compreendê-la, o que não acontecia com as comunidades primitivas, quanto por
projetarmos nossos preconceitos sobre o texto bíblico.
O Evangelho detém-se na soleira do mistério insondável de Deus, numa atitude de
respeito e reverência, sem se importar com especulações de caráter anatômico ou
fisiológico. Só lhe interessam os elementos teológico-espirituais deste dado da
fé da Igreja.
O “noivado” nos tempos de Cristo – De modo geral, não eram os jovens que
escolhiam com quem iam casar. Eram os pais deles que se encarregavam disso. O
noivo ou a noiva era escolhido entre os membros da mesma parentela, mas não
podiam ser escolhidos parentes muito próximos deles. O Levítico (18,6-18) não
permitia: “Nenhum de vós se aproximará de sua parenta próxima para descobrir a
sua nudez.” (...)
O noivado durava cerca de 12 meses, durante os quais a casa era preparada pelo
noivo e o enxoval era preparado pela noiva. No ato do noivado, o pai do noivo
ou o próprio rapaz tinha que pagar um dote ao pai da noiva. O valor do dote
dependia do lugar, do tempo, da posição social dos pretendentes, mas
correspondia, em média, a uns cinco ciclos de prata.
“Um homem ficava oficialmente noivo
quando, entregando o presente à moça, dizia: com isso você é separada para mim,
segundo as leis de Moisés e Israel.” (Vide Ralph Gower in “Usos e Costumes dos
tempos bíblicos”, pag 65).
O noivado era muito mais sério do que os noivados de hoje. Tornando-se noivo, o
jovem passava a ser dispensado do serviço militar. Se alguém estuprasse uma
noiva, não podia casar-se com ela, pois era tida como pertencente ao jovem
compromissado.
De modo geral, pouco se fala na parte que cabe a José no episódio da
encarnação. Mas também ele teve a sua grande e importante participação.
Ora, aconteceu que Maria, estando
noiva com ele, apareceu grávida antes de coabitarem. Considerando-se as
implicâncias do noivado no tempo de Cristo, como narramos acima, podemos
avaliar o grande constrangimento que teve José.
Uma das presunções que passou
pela cabeça dele é que Maria tivesse sido seduzida ou violentada. José
preparava-se para tomar a providência mais delicada e suave que a Lei permitia,
quando recebeu a mensagem de Deus em sonho comunicando-lhe a ação do Espírito
Santo.
Então, sem hesitar, recebeu Maria
como sua esposa, dando a Jesus um nome, uma descendência e uma casa. José
mostrou muita serenidade e caráter nesses momentos críticos e foi bem o que
Deus queria para o homem que devia criar o seu filho. Sobretudo, foi decisiva
nele a fé, que pode ser comparada à de Abraão.
“Do ponto da vista da Lei, José não estava fazendo nada de errado se repudiasse
Maria. ... Mas o Evangelho nos apresenta algo inusitado: José não abandona
Maria...por ter ouvido a voz de Deus.” (Pe. Claudiano A. dos Santos)
No momento atual, a cada dia se nos deparam casos mais freqüentes de separação
matrimonial. Alguns casais antigos, unidos há tantos anos, nos deixam sem
fôlego ao nos pararem para contar com a maior naturalidade a inacreditável
aventura.
As razões apresentadas quase
sempre são inspiradas na voz do egoísmo. As partes beligerantes nunca fazem
calar as vozes dos próprios ressentimentos. Essas vozes não deixam ouvir, por
exemplo, as vozes dos filhos deles que os rodeiam e, principalmente, a voz de
Deus.
Reflexão Apostólica:
O Evangelho de hoje fala de um dos homens que eu
mais admiro na Bíblia: José. Não só pelo importantíssimo papel de pai terreno
de Jesus, mas principalmente por aceitar casar-se com Maria, estando ela
grávida antes de deitar-se com ele, confiando apenas em um sonho que ele teve.
Admito que não sei se teria a mesma atitude dele... Talvez me falte essa fé...
E talvez por isso eu o admire tanto...
Maria poderia ter dito ao anjo: "Posso conversar com meu noivo antes de
aceitar essa proposta de Deus?" Mas ela deu a sua resposta independente da
resposta de José. E isso deixa clara uma característica de Maria: a sua
impulsividade.
A mesma
impulsividade que fez com que ela antecipasse a vida pública de Jesus nas Bodas
de Caná. Fico imaginando... e se José não tivesse aceito casar com Maria? Ele
estaria sendo justo, e ninguém iria poder condená-lo, pois ele não foi
consultado para concordar ou discordar da concepção de Jesus por Maria, sob a
ação do Espírito Santo, sem a sua participação.
Há muito tempo eu me pergunto se Deus foi justo com José... Só um homem que se
guarda para o casamento poderia entender o que eu estou falando.
A única
resposta que me vem é que Deus não tiraria algo tão importante de José, se não
lhe concedesse uma boa compensação... Ser o pai terreno do Filho de Deus.
Nenhum outro homem na história teve esse papel de ser o formador, o educador, a
referência de pai para Jesus.
Da mesma
forma, muitas pessoas não conseguem se identificar com Maria, Mãe de Jesus,
porque não se dão bem com sua mãe terrena...
Vou dizer algo bastante óbvio, mas que muitas vezes não nos damos conta: Jesus
não nasceu adulto! Ele foi criança, e precisou aprender a andar, falar, ler,
escrever, pensar, tratar, observar e tocar as pessoas... Isso não se nasce
sabendo: se aprende. E o papel de José foi fundamental para o crescimento
físico, social e espiritual de Jesus.
Observe que em Mateus 12,50 Jesus diz que quem faz a vontade de seu Pai que está
nos Céus é seu irmão, sua irmã e sua mãe, mas não diz que pode ser seu pai.
O único que
pôde desempenhar o papel de pai terreno de Jesus foi José. E eu acredito que
tão difícil quanto encontrar a mãe ideal para Jesus, foi encontrar esse pai
ideal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário