15 - Deus concedeu ao mundo um dom
incalculável ao lhe dar Maria. E pensar que, se tivesse sido necessário para a
minha alma, Ele a teria concedido a mim somente! (S 193). São José Marello
João 13,16-20
"Em verdade, em verdade, vos digo: o servo não
é maior do que seu senhor, e o enviado não é maior do que aquele que o enviou.
Já que sabeis disso, sereis bem-aventurados se o puserdes em prática. Eu não falo
de todos vós. Eu conheço aqueles que escolhi. Mas é preciso que se cumpra o que
está na Escritura: 'Aquele que come do meu pão levantou contra mim o
calcanhar'. Desde já, antes que aconteça, eu vo-lo digo, para que, quando
acontecer, acrediteis que eu sou. Em verdade, em verdade, vos digo: quem recebe
aquele que eu enviar, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me
enviou".
MEDITAÇÃO
O Evangelho de hoje (João 13,16-20)
convida-nos a repensar a nossa forma de nos situarmos, quer na sociedade, quer
dentro da própria comunidade cristã. A instrução de Jesus aos discípulos que o
Evangelho nos apresenta é uma denúncia dos jogos de poder, das tentativas de
domínio sobre os irmãos, dos sonhos de grandeza, das manobras para conquistar
honras e privilégios, da busca desenfreada de títulos, da caça às posições de
prestígio… Esses comportamentos são ainda mais graves quando acontecem dentro
da comunidade cristã: trata-se de comportamentos incompatíveis com o seguimento
de Jesus. Nós, os seguidores de Jesus, não podemos, de forma alguma, pactuar
com a “sabedoria do mundo”; e uma Igreja que se organiza e estrutura tendo em
conta os esquemas do mundo, não é a verdadeira Igreja.
Os discípulos relutavam em aceitar
que o Mestre Jesus lhes lavasse os pés. Este gesto foi interpretado como uma
quebra de hierarquia e esvaziamento da autoridade. É que eles pensavam a
sociedade organizada em camadas sociais, sobrepostas segundo a importância de
cada uma, num sistema de precedências e privilégios.
Jesus recusou-se a pactuar com
esta mentalidade, oferecendo-lhes pistas para compreenderem a realidade de
maneira diferente. Ele parte do princípio que "o servo não é maior do que
o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou". Isto vale
tanto para o Mestre quanto para os discípulos.
Entretanto, trata-se de saber que senhor
é aquele que enviou Jesus, segundo a afirmação do Mestre. Sem dúvida, ele está
falando do Pai, que fez de Jesus servo e enviado, e que acolhe também os
discípulos do Filho como servos e os envia em missão. Se é possível
falar em hierarquia, convém saber que só existe uma: a que sobrepõe Deus ao ser
humano, o Criador à sua criatura. Além desta, qualquer tentativa de classificar
as pessoas em mais ou em menos importantes será sem cabimento. Quem se imagina
superior aos demais está usurpando o lugar de Deus. Só ele é o Senhor; todos
nós somos irmãos e irmãs.
Jesus terminou de lavar os pés de
seus discípulos e quer explicar a eles o que realizou, citando um provérbio
conhecido: “Não é o servo maior que seu senhor nem o enviado mais do que quem o
envia”. Com este provérbio os convida a seguir seu comportamento. Ser senhor
significa servir e estar disposto a dar vida por amor, porque no amor o ser
humano alcança a verdadeira vida, sua plenitude. Não é o poder o que faz feliz,
senão o amor. Não é ser superior senão ser igual: Jesus nos chama a isso.
Lamentavelmente dentro do grupo de Jesus há um – Judas – que não está disposto
a seguir este caminho e elegeu o amor ao dinheiro mais que a adesão a Jesus e a
sua mensagem de amor.
Jesus ensinou sobre a humildade,
dizendo que aquele que servia aos outros, era o maior de todos e que dali em
diante deviam lavar humildemente os pés uns aos outros; tocou ainda na
discussão sobre qual deles havia de ser o maior, dizendo muitas coisas que se
encontram também no Evangelho. Ele é o maior exemplo de alguém que serviu a
Deus. Ele próprio afirmava, que não fazia nada por Ele mesmo, a não ser o que o
Pai lhe indicava. Todos, os que temos conhecimento de Deus, sabemos que Jesus
teve que se abnegar a sua vida para pôr em prática o plano do Pai. A abnegação
foi difícil, ele teve que passar por injúrias, vergonha, chicotadas e
crucificação.
Nesta perspectiva, o gesto de
humildade de Jesus é perfeitamente compreensível. Ele agiu como servo, por ser
servo. E, como ele, todos devem agir, pois também são servos. Portanto, o gesto
de Jesus só é incompreensível para quem não pensa como Deus cujo objetivo
principal é que todos possam viver com Ele na eternidade. Contudo, antes mesmo
da vinda de Cristo ao mundo, Ele sabia que nem todos aproveitariam esta
oportunidade. Que muitos iriam desprezar a obra que seu Filho ia fazer na cruz.
No entanto, grande parte das escrituras do velho testamento relatam e apontam o
interesse por parte de Deus, para este plano de salvação mediante Cristo.
“Quem recebe a qualquer um que
eu enviei, recebe a mim, e quem recebe a mim, recebe aquele que me enviou”.
Jesus e Deus se manifestam em quem acolhe o outro. Não há melhor expressão de
igualdade: receber a um enviado de Jesus é como recebê-lo, e recebê-lo é como
receber a Deus. Se seus enviados põem em prática sua mensagem de amor, quando
estes forem recebidos, estarão refletindo o estilo de vida de Jesus, e vendo o
estilo de vida de Jesus poderão entender melhor que Deus é também amor e quer a
solidariedade e o serviço para experiência de amar e ser amado. Jesus efetua
uma inversão total da concepção tradicional de Deus e, em conseqüência, de sua
relação com o ser humano e das pessoas entre si. Contra tudo o que ensinava as
religiões, Jesus revela que o atributo principal de Deus não é o poder, senão o
amor, doador de vida. E se Deus, o Pai, não exerce domínio, nenhum poder nem
domínio humano está legitimado. De fato, a idéia de um Deus soberano, com seu
trono no céu, fundava o paradigma das grandezas humanas; os mais poderosos
entre os humanos criam ser os que mais se pareciam com Ele. Mas, com Jesus,
Deus deixou seu trono; manifesta-se como amor ao serviço de cada um (como
lavando os pés). A palavra “servir” significa: estar ao serviço de;
consagrar-se ao serviço de; viver como servo.
Nós que nos consideramos
discípulos de Jesus e queremos cumprir o plano de Deus, temos que ter
consciência que a palavra serviço é a base para tudo. Dizer, que se é
discípulo, mas continuar a ter uma vida baseada nas mesma vida antes de se
conhecer e aceitar Jesus, é estar em desacordo com a palavra de Deus, em
renunciar o mundo e as suas paixões. Jesus é claro. Ele deu o exemplo. Perdeu a
sua vida. Todos nós que queremos ser discípulos de Jesus, devemos renunciar as
coisas do mundo e andar em novidade de vida. Devemos servir a Deus com
intensidade, com amor, com vida, renunciando o pecado, murmurações, pensamentos
da velha vida. Neste sentido, a frase final do Evangelho de hoje: "[...]
quem receber aquele que eu enviar estará também me recebendo; e quem me recebe,
recebe aquele que me enviou.", própria dos evangelhos sinóticos,
identifica o missionário com Jesus e o Pai.
"Missão é partir,
caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no
nosso Eu. É parar de dar volta ao redor de nós mesmos como se fossemos o centro
do mundo e da vida. É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a
que pertencemos: a humanidade é maior. Missão é sempre partir, mas não devorar
quilômetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e
encontrá-los. E, se para descobri-los e amá-los, é preciso atravessar os mares
e voar lá nos céus, então missão é partir até os confins do mundo".
(Dom Hélder Câmera)
A Páscoa de Jesus convida-nos,
pois, a renovar nossa condição de povo de Deus. Então, se nós vamos chamar a
gente o povo de Deus, se a gente responde ao chamado de Deus para ser “o povo
de Deus”, temos que apreender a viver em solidariedade uns com os outros e com
todos os povos de Deus em todo o mundo e com a Criação. Qualquer coisa menor
vai, sem dúvida nenhuma, trazer o julgamento de Deus sobre nós como Nação, como
“povo” desobediente. Que Deus tenha misericórdia de nós e nos mostre o sentido
de solidariedade no mundo de hoje. Para isso, é imperativo que reconheçamos o
valor de uma alma humana, para que nunca desistamos de um de Seus preciosos
filhos.
Oração: Ó Deus, que restaurais
a natureza humana, dando-lhe uma dignidade ainda maior, considerai o mistério
do vosso amor, conservando para sempre os dons da vossa graça naqueles que
renovastes pelo sacramento de uma vida: Inculcai em nossos corações a certeza
de que só tu és Senhor, e que entre os seres humanos deve reinar igualdade e
solidariedade, sem opressão.Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na
unidade do Espírito Santo.
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