24 setembro - Nas coisas espirituais não só é permitido, mas é
até forçoso aquele egoísmo santo, graças ao qual cada um sonha de se enriquecer
o mais que pode dos tesouros espirituais, dos quais quanto mais se retira tanto
mais se multiplicam; trata-se de um manancial ilimitado: por mais que se beba,
ele nunca se esgota. (S 233).. (L 272) São Jose
Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Mateus
20,1-16a
"O Reino dos Céus é como o proprietário
que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. Combinou
com os trabalhadores a diária e os mandou para a vinha. Em plena manhã, saiu de
novo... Ao meio-dia e em plena tarde, ele saiu novamente e fez a mesma coisa. Saindo
outra vez pelo fim da tarde, encontrou outros que estavam na praça e lhes
disse: 'Por que estais aí o dia inteiro desocupados'?. Eles responderam: 'Porque
ninguém nos contratou'. E ele lhes disse: 'Ide vós também para a minha vinha'.
Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao administrador: 'Chama os trabalhadores e
faze o pagamento começando pelos últimos até os primeiros!' Vieram os que
tinham sido contratados no final da tarde, cada qual recebendo a diária. Em
seguida, vieram os que foram contratados primeiro... cada um deles também
recebeu apenas a diária... começaram a murmurar contra o proprietário... Então,
ele respondeu a um deles: 'Companheiro, não estou sendo injusto contigo. Não
combinamos a diária? Toma o que é teu e vai! Eu quero dar a este último o mesmo
que dei a ti... Assim, os últimos serão os primeiros."
Meditação:
A parábola de hoje visa as comunidades de Mateus. Aos seus
discípulos judeo - cristãos, carregados com observâncias tradicionais, é proposto
que aceitem o convívio com os discípulos de Jesus convertidos do mundo
gentílico aos quais nada é imposto da parte das tradições do judaísmo.
Os convertidos do judaísmo (trabalhadores do dia inteiro),
com um longo tempo de tradição, estão em pé de igualdade com os convertidos do
mundo gentílico (trabalhadores do fim do dia) sem aquela tradição. Estes
últimos, com fé em Jesus, aderiram prontamente ao seu chamado.
Esta parábola nasce da realidade agrícola do povo da Galiléia. Era uma região
rica, de terra boa, - mas com o seu povo empobrecido, pois as terras estavam
nas mãos de poucos, e a maioria trabalhava ou como arrendatários ou como
“bóia-fria” como diríamos hoje.
Embora a cena situe-se na Galiléia de dois mil anos atrás, bem poderia ser o
Brasil da atualidade. Apresenta uma situação de trabalhadores braçais
desempregados, não por querer, mas “porque ninguém nos contratou” (v.7).
Talvez haja uma diferença, comparando com a situação de hoje
- na parábola, o salário combinado era uma moeda de prata, um denário, que na
época era o suficiente para o sustento diário duma família - o que nem sempre
se verifica hoje.
O dono de uma vinha chamou trabalhadores para a colheita. A uns chamou pela
manhã, outros ao longo do dia e outros, ainda, no fim do dia. A todos,
compromete-se com o mesmo pagamento. Naturalmente, aqueles que começaram a
trabalhar ainda cedo reclamaram ao patrão por ter recebido o mesmo montante dos
outros que trabalharam apenas uma pequena parte do dia.
Para o patrão, porém, está feita justiça: pagou a todos conforme o combinado e,
ademais, dispôs daquilo que é seu. Se, aos olhos do empregado que se considera
lesado aquilo era injusto, ao patrão foi apenas um acerto de contas equânime,
dentro dos limites que tinha estabelecido.
Muitas vezes assumimos o papel dos trabalhadores que reclamam por ter
trabalhado tanto enquanto outros que não sofreram as mesmas penas recebem a
mesma recompensa.
Assim o é na vida civil e na vida cristã. Mas, para Deus, não importa o “tempo
de casa” ou aquilo tudo que já demos: importa com que amor o dermos, com que
dedicação o fizemos. Além disso, o Senhor nos dá a Sua graça e está Ele dispõe
como deseja.
Essa é a aparente contradição: a perspectiva humana entende que o pagamento
deve ser correspondente ao tempo ou à responsabilidade do trabalho. Deus, não.
Ele entende que pode dispor do que é seu e dá a cada um como considera o seu
merecimento.
O texto nos ensina que a lógica do Reino não é a lógica da sociedade vigente.
Na nossa sociedade, uma pessoa vale pelo que produz - logo, quem não produz não
tem valor. Assim se faz pouco caso do idoso, aposentado, doente, excepcional.
Na parábola, o patrão (símbolo do Pai) usa como critério de pagamento, não a
produção, mas o sustento da vida - também o trabalhador da última hora precisa
sustentar a família, e por isso recebe o valor suficiente, um denário.
O Reino tem outros valores do que a sociedade do nosso tempo - a vida é o
critério, não a produção. Por isso, quem procura vivenciar os valores do Reino
estará na contramão da sociedade dominante.
O texto nos convida a imitar o Pai do Céu, lutando por novas relações na
sociedade e no trabalho, baseadas no valor da vida, não na produção e consumo.
Para a comunidade de Mateus, a parábola tinha mais um sentido. Começavam a
entrar pagãos na comunidade, e muitos cristãos de origem judaica tinham
dificuldade em aceitá-los em pé de igualdade - eram “da última hora”.
Mateus conta a parábola para ensiná-los que no Reino, experimentado através da
comunidade, não pode haver discriminação entre cristãos de várias origens, por
isso “os últimos serão os primeiros”.
O critério é a gratuidade de Deus Pai, pois tudo o que temos, recebemos dele, e
sendo todos filhos e filhas amados dele, a comunidade cristã não pode discriminar
pessoas, por qualquer motivo que seja.
O Senhor está sempre a nos convocar para fazer parte do seu reino. Enquanto
aqui vivemos seremos a cada instante convidados para entrarmos em sintonia com
o reino dos céus.
Feliz de quem atende ao chamado do Senhor logo cedo na vida, pois usufruirá de
tudo quanto Ele providenciou para que tenhamos uma qualidade de vida melhor.
Quando nós aceitamos o convite de Jesus para entrar no Seu reino, tendo-o como
Rei e Senhor da nossa vida, nós também nos tornamos
Seus colaboradores para atrair outros que ainda estão vagando no mundo e não
encontraram ainda a verdadeira felicidade porque não abraçaram a salvação de
Jesus.
A recompensa é a salvação e o Senhor a promete a todos àqueles que a acolherem.
Seja em qualquer hora da nossa vida, até na hora da nossa morte nós teremos a
chance de ganhar o prêmio da vida eterna.
É pela bondade e misericórdia do Pai que nos enviou Jesus
Cristo que nós somos salvos. Portanto, não façamos questão para sermos os
primeiros ou os últimos, o mais importante é que já estamos dentro do redil do
reino de Deus.
Você já aceitou o convite para trabalhar na vinha do Senhor? Qual é a
recompensa que você espera? Você se incomoda se outros também receberem a mesma
recompensa que você espera? Você deseja que muitos entrem também com você no
reino de Deus? O que você tem feito para que isto aconteça?
Reflexão Apostólica:
Neste Evangelho, Jesus retoma as parábolas, para revelar com
uma imagem viva e concreta, a partir de uma experiência de vida, a riqueza
infinita do amor do Pai: Deus é Amor.
É aqui que se concentra todo o significado daquele patrão
que “saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha...”, sinal
da solicitude de Deus, que não aguenta esperar que os filhos que estão
afastados voltem (Lc 15), ele mesmo os procura, chama-os, e os envolve no seu
projeto de vida: a salvação eterna, que é a comunhão feliz com ele.
É este o trabalho que o Senhor oferece em troca de uma
simbólica moeda de prata, que será dada, não com base às efetivas horas de
trabalho, contadas a partir de um relógio, mas pela intensidade de fé com a
qual, também a pessoa mais afastada se dirige a ele.
À primeira vista, a parábola parece ser desconcertante; de
fato, segundo a nossa comum medida de justiça, seria impensável que a retribuição
pelo trabalho seja idêntica, para quem tiver trabalhado uma hora ou poucas
horas, e para quem tiver completado as suas oito horas, quem sabe, até algumas
horas extras.
Dar a cada um o seu, é o princípio mais elementar da justiça
distributiva, que obviamente, Jesus não rejeita; porém, ele mostra que há uma
justiça mais alta, com finalidades bem maiores daquelas exclusivamente
temporais, e é a justiça que regula a nossa relação com o nosso Deus e Pai, e
diz respeito ao fim último da existência humana, que não se acaba com a morte,
mas caminha para a eternidade, onde não há limites, e não pode ser avaliada em
termos econômicos, como uma moeda de prata ou dez mil talentos.
A chave interpretativa da parábola é esta verdade,
proclamada por Cristo, verdade que supera toda lógica puramente humana.
Há uma causa bem maior, pela qual o homem é chamado a
colocar em jogo a sua vida, que é a causa da salvação, que vem de Deus, um dom
de misericórdia, para ser acolhido com humildade e fé; para ser vivido com
empenho, e que, na sua dinâmica mais profunda, foge ao nosso pensamento, porque
é determinada pela lógica insondável do amor de Deus, que é Pai, e que não quer
que ninguém se perca.
Deus é rico de misericórdia, como nos diz o profeta Isaías,
já na I leitura; ele nos apresenta um Deus que por amor, revira toda lógica
humana para realizar uma outra bem superior: “abandone o ímpio seu caminho, e o
homem injusto, suas maquinações, volte para o Senhor que terá piedade dele;
volte para nosso Deus que é generoso no perdão. Meus pensamentos não são como
os vossos pensamentos e vossos caminhos não são como os meus caminhos. Estão
meus caminhos tão acima dos vossos caminhos e meus pensamentos acima dos vossos
pensamentos quanto o céu está acima da terra”.
É nessa lógica que devemos interpretar a parábola. O patrão
sai de casa para procurar trabalhadores, para envolvê-los no seu projeto,
quantos não o conhecem, por causa diversas, ou porque são indiferentes. Ele sai
em diferentes horas do dia, inclusive na última hora útil: lá pelas cinco da
tarde.
É a busca que Deus faz do homem, destinado a salvação, é uma
busca apaixonada, frequente, incansável. Uma busca que terminou por enviar
entre nós, Jesus Cristo, o nosso bom pastor que dá a vida pelo seu rebanho.
O tempo de Deus não é como o tempo do homem, porque a
justiça de Deus é uma justiça que é unida ao amor: o amor que salva, e o cálculo
de Deus está no amor.
De fato, aquele trabalhador que reclamava dizendo ter sido
injustiçado, recebe a seguinte resposta: “por acaso não tenho o direito de
fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja porque estou
sendo bom?”
Para ilustrar, lembremos do malfeitor que estava junto da
cruz de Jesus e foi salvo por ele: um trabalhador de última hora. “Ainda hoje
estarás comigo no paraíso”.
O hoje de Deus é um hoje de fé e de amor que não segue os
ponteiros do relógio, mas a intensidade do desejo, que nasce do coração que
acolhe com humilde reconhecimento o dom da graça.
Talvez não sejamos trabalhadores de última hora; mas, neste
caso, o Evangelho nos chama a atenção para não nos distrairmos, o Senhor
repetidamente nos chama a uma vida mais intensa de comunhão e de amor, a um
testemunho mais coerente, claro e decisivo de Cristo.
Jesus hoje vem nos ensinar através de uma parábola que Deus
quer dar o Reino dos Céus a todos. Hoje precisamos aprender que o Reino dos
Céus não é apenas salário daqueles que construíram e constroem uma história
dentro da Igreja, nos movimentos, nas paróquias, mas é riqueza que Deus quer
dar a todos.
Se não fosse assim, com certeza os Profetas e Santos teriam
mais privilégios no Reino dos Céus do que nós, que pouco ou nada fazemos pelo
Reino de Deus.
É preciso que nós, como cristãos construtores deste Reino,
nos alegremos com aquele que chega depois de nós. É preciso se alegrar com a
conquista do outro.
É assim Deus quer que aconteça: que não cobremos mais "moedas
de pratas" em relação aqueles que começaram depois de nós, precisamos sim
ajudar a quem chega depois a construir em suas vidas o Reino dos Céus, e assim
o Reino dos Céus deixa de ser um salário de nossas obras, mas se torna o Sonho
de Deus realizado e partilhado igualmente em nossas vidas.
Precisamos estar juntos nesta batalha que é a revolução que
Jesus nos propõe. Vamos trabalhar na vinha do Senhor, os mais velhos, os mais
jovens, vamos juntos construir o Reino dos Céus aqui na terra.
Pai, que eu jamais me deixe levar pelo espírito de ambição e
de rivalidade, convencido de que, no Reino, somos todos iguais, teus filhos.
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