03 setembro – Precisamos ter paciência
também conosco mesmos. (S 196). São Jose Marello
Leitura
do santo Evangelho segundo São Mateus 16,21-27
"A partir de então, Jesus começou a mostrar aos discípulos que era necessário ele ir a Jerusalém, sofrer muito da parte dos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar. Então Pedro o chamou de lado e começou a censurá-lo: "Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!" Jesus, porém, virou-se para Pedro e disse: "Volte para trás de mim, satanás! Tu estás sendo para mim uma pedra de tropeço, pois não tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens!" Então Jesus disse aos discípulos: "Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará. De fato, que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida? Ou que poderá alguém dar em troca da própria vida? Pois o Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta."
Meditação:
O Evangelho deste Domingo reflete um momento crítico da vida do Senhor Jesus. Ele sabe que será massacrado por seus inimigos, sabe que a vinda do Reino de Deus passaria pelo desastre da cruz.
Agora,
anuncia isso aos apóstolos: iria sofrer e morrer para ressuscitar. Pedro não
compreende como isso possa ser possível, não aceita tal caminho para o Mestre:
“Deus não permita tal coisa, Senhor!” Eis que drama: a atitude de Pedro é a de
muitos de nós: não compreendemos o caminho do Senhor, seu sofrimento e sua
cruz.
Esse
caminho do Senhor está presente na nossa vida; e nós não somos capazes de
acolhê-lo, de perceber aí o misterioso desígnio de Deus.
Nossa
lógica, infelizmente, é tão mundana, tão terra-terra, tão presa à humana
racionalidade. A dura reprimenda do Senhor a Pedro vale também para nós: “Tu és
para mim pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as
coisas dos homens”.
Não
nos iludamos: trata-se de duas lógicas sem acordo: não se pode abraçar a sede
louca do mundo de se dar bem a qualquer custo, de possuir tudo, de viver sempre
no sucesso e no acordo com todos e, ao mesmo tempo, ser fiel ao Evangelho, tão
radical, tão contra a corrente.
Vale
para nós – valerá sempre – o desafio de Jesus: “Que adianta ao homem ganhar o
mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua
vida?”
Olhemos
o Cristo, pensemos no seu caminho e escutemos a palavra do Senhor a nós, seus
discípulos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e
me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua
vida por causa de mim, vai encontrá-la!”
Renunciar-se,
tomar a cruz por causa de Jesus... por causa dele! Não há, não pode haver outro
caminho para um cristão! Qualquer outra possibilidade é ilusão humana!
Estejamos
atentos, que o Deus de Jesus – e o próprio Jesus é Deus! – nos coloca em crise.
Nosso Deus não é um Deus fácil, manipulável, domesticável: ele seduz, atrai, e
sua sedução no coloca em crise porque nos faz pensas as coisas de Deus, não as
dos homens e isso nos faz nadar contra a corrente.
Por
mais que quiséssemos, já não seria possível esquecê-lo, fazer de conta que não
o encontramos um dia! É o drama do profeta Jeremias na primeira leitura deste
hoje: “Tu me seduziste, Senhor!”
É
o que afirma o coração do Salmista: "Sois vós, ó Senhor, o meu Deus: a
minha alma tem sede de vós, como terra sedenta e sem água! Vosso amor vale mais
do que a vida!”
Que
fazer? Por um lado, experimentamos a sede de Deus, a vontade louca de seguir de
todo o coração o nosso Senhor Jesus, por outro lado, os apelos de um mundo
soberbo e satisfeito consigo mesmo, atanazam o nosso coração... que fazer? Como
abraçar sinceramente a lógica do Evangelho?
Há
só um modo de seguir adiante, de ser cristão de verdade: o caminho da conversão.
Não é um caminho fácil: é difícil, doloroso, mas libertador.
São
Paulo exorta-nos a tal caminho: “Eu vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes
em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual”
Seguir
o Cristo é entrar no seu caminho, é, em união com ele, fazer-se sacrifício
agradável a Deus, deixando-se guiar e queimar pelo Espírito do Cristo crucificado
e ressuscitado.
O
Apóstolo nos previne claramente: “Não vos conformeis com o mundo, mas
transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que
possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe
agrada, o que é perfeito”.
Não
tomar a forma do mundo, não viver como o mundo, com sua maneira de pensar e de
avaliar as coisas. Só assim poderemos compreender a vontade de Deus – e ela
passa pela cruz e ressurreição do Senhor!
Pensemos
bem! Os cristãos não são mais perseguidos por soldados, já não são
crucificados, jogados às feras ou queimados vivos.
Hoje,
o mundo nos combate invadindo nossa casa e nosso coração com tanta
superficialidade e tanto paganismo, acirrando nossos instintos e explorando
nossas fraquezas; hoje o mundo nos ataca nos ridicularizando, fazendo crer que
o cristianismo é algo do passado, opressor e castrador...
Quantos
cristãos – até padres, freiras, pastores e teólogos – enganam-se e enganam
pensando que se pode dialogar com o mundo...
O
mundo crucificou Jesus; o mundo crucifica o Evangelho; o mundo nos crucificará
se formos fiéis ao Senhor. Estamos dispostos a pagar o preço? “O que poderá
alguém dar em troca de sua vida?”
A
única atitude realmente evangélica diante do mundo é o anúncio inteiro do
Cristo, com todas as suas exigências - sem disfarçar, sem esconder, sem se
envergonhar... E isso com paciência, com amor, com todo respeito.
Levantemo-nos!
Sigamos o Senhor até a cruz, para estar com Ele na ressurreição.
Reflexão Apostólica:
Significa, abdicar dos nossos planos humanos, assumir os encargos de nossa
responsabilidade e não tentar escapar das dificuldades para facilitar a experiência
uma “boa vida”.
Em nenhum momento na Sua Palavra, Jesus nos promete uma vida sem aflições nem
dores. Pelo contrário, apesar do homem recusar o sofrimento e a dificuldade
como foi o caso de são Pedro, Jesus nos adverte de que qualquer pensamento contrário
vem do maligno, somente com o intuito, de nos enganar e iludir.
No pensamento de Deus está tanto a luta como a vitória. “O que pode dizer
aquele que não experimentou?” Deus é maior que todos os nossos problemas.
Quem pretende à força, pela sua própria capacidade, salvar a sua vida fugindo
das ocasiões de aprendizado, terá uma existência apagada e medíocre e nunca
provará do sabor de uma vitória.
Quando perdemos a nossa “vida cômoda”, para seguirmos a Jesus e ao Seu Evangelho,
aí sim, é que a encontraremos e veremos realizados todos os nossos anseios
interiores.
No evangelho encontramos um belo esquema catequético "sobre o discipulado
como seguimento de Jesus até a cruz". Jesus coloca de manifesto a seus
discípulos que o caminho da ressurreição está estritamente vinculado à
experiência dolorosa da cruz.
O núcleo
principal é o primeiro anuncio da paixão. Porém, ainda os discípulos,
simbolizados na pessoa de Pedro, não compreenderam esta realidade.
Eles estão
convencidos do messianismo glorioso de Jesus que se situa dentro das
expectativas messiânicas do momento.
Jesus rejeita
enfaticamente esta proposta, pois a vontade do Pai não coincide com a
expectativa de Pedro e dos discípulos. Por isso Pedro aparece como instrumento
de Satanás diante de Jesus, para obstaculizar sua missão.
O mestre
convida o discípulo a segui-lo porque ainda não alcançou a maturidade do
discípulo. Na sequência Jesus se dirige a todos os discípulos para dizer a eles
que o caminho do seguimento por parte do discípulo também comporta a cruz.
Não há
verdadeiro discipulado se não se assume o mesmo caminho do Mestre. O anuncio do
evangelho traz consigo perseguição e sofrimento.
Tomar a cruz
significa participar da morte e ressurreição de Jesus. A perda da vida por causa
de Jesus habilita o discípulo para alcançá-la em plenitude junto de Deus.
No batismo
fomos consagrados sacerdotes e profetas e reis. Portanto, a dimensão profética
de nossa fé é intrínseca à consagração batismal.
Hoje não podemos prescindir do profetismo no seguimento de Jesus. E sabemos que
as consequências do profetismo, vinculado estreitamente à missão
evangelizadora, são a oposição, a perseguição, a rejeição e o martírio.
Muitos homens
e mulheres, em distintas partes do mundo, doaram a vida pela causa da fé e pela
defesa dos valores evangélicos.
Se queremos seguir Jesus em fidelidade, teremos que enfrentar muitas
contradições, caminhar na contramão do que propõe a ordem estabelecida, a
cultura imperante e a globalização do mercado, que não é outra coisa senão a
globalização da exclusão.
Gostaríamos de viver um cristianismo cômodo, sem sobressaltos, sem conflitos.
Porém, Jesus é claro em seu convite: é preciso tomar a cruz, arriscar a vida,
perder os privilégios e seguranças que a sociedade nos oferece, se queremos ser
fiéis ao evangelho.
É bom o
questionamento: Como vivemos na família e na comunidade cristã a dimensão
profética de nosso batismo? Estamos dispostos a correr os riscos que implica o
seguimento de Jesus? Conhecemos pessoas que viveram a experiência do martírio
pelo evangelho? Será que já não é tempo para mártires, ou o que é para mártires
de outra maneira? Diante do que Jesus fala, quem poderá se dizer cristão, hoje?
Você pode? Como os homens estão vivendo hoje na sua maioria? O que significa
“ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida?” Você já pensou nisso?
Seguir Jesus
e tomar sua cruz significa rejeitar os critérios de sucesso deste mundo e
comprometer-se com a construção do mundo novo de fraternidade, justiça e paz,
sem temer as adversidades que surgirão.
Reflitamos
sobre isso hoje, para que, quando chegar a dificuldade, estejamos, mais
confiantes e submissos (as) à vontade de Deus.
Propósito:
Ó Deus, amor
eterno, que geraste a todos os seres e os envolves em tua ternura materna.
Acrescenta em nós uma atitude de confiança radical na bondade da Vida e da
Existência, para que sejamos também criadores de Vida por Amor.
Saiba que
ninguém é tão auto - suficiente que não precise dos demais. Viver isolado é
secar como a planta que não tem a seiva para se desenvolver. Como é bom viver
em harmonia com as demais pessoas, trocar experiências, conversar e
solidarizar-se!
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