20 fev - Alegremo-nos por não
terem cessado as contradições e por não faltarem os adversários que fazem
aumentar em nós a confiança em Deus. (L 253).
SÃO JOSE MARELLO
Marcos 9,14-29
Naquele tempo, 14descendo Jesus do monte com
Pedro, Tiago e João e chegando perto dos outros discípulos, viram que estavam
rodeados por uma grande multidão. Alguns mestres da Lei estavam discutindo com
eles.
15Logo que a multidão viu Jesus, ficou surpresa e correu para
saudá-lo. 16Jesus perguntou aos discípulos: “Que discutis com eles?”
17Alguém na multidão respondeu: “Mestre, eu trouxe a ti meu filho
que tem um espírito mudo. 18Cada vez que o espírito o ataca, joga-o
no chão e ele começa a espumar, range os dentes e fica completamente rijo. Eu
pedi aos teus discípulos para expulsarem o espírito, mas eles não conseguiram”.
19Jesus disse: Ó geração incrédula! Até quando estarei
convosco? Até quando terei de suportar-vos? Trazei aqui o menino”. 20E
levaram-no o menino. Quando o espírito viu Jesus, sacudiu violentamente o
menino, que caiu no chão e começou a rolar e a espumar pela boca.
21Jesus perguntou ao pai: “Desde quando ele está assim?” O pai
respondeu: “Desde criança. 22E muitas vezes, o espírito já o lançou
no fogo e na água para matá-lo. Se podes fazer alguma coisa, tem piedade de nós
e ajuda-nos”.
23Jesus disse: “Se podes!... Tudo é possível para quem tem
fé”. 24O pai do menino disse em alta voz: “Eu tenho fé, mas ajuda a
minha falta de fé”. 25Jesus viu que a multidão acorria para junto
dele. Então ordenou ao espírito impuro: “Espírito mudo e surdo, eu te ordeno
que saias do menino e nunca mais entres nele”.
26O espírito sacudiu o menino com violência, deu um grito e
saiu. O menino ficou como morto, e por isso todos diziam: “Ele morreu!” 27Mas
Jesus pegou a mão do menino, levantou-o e o menino ficou de pé.
28Depois que Jesus entrou em casa, os discípulos lhe
perguntaram a sós: “Por que nós não conseguimos expulsar o espírito?” 29Jesus
respondeu: “Essa espécie de demônios não pode ser expulsa de nenhum modo, a não
ser pela oração”.
Meditação:
Marcos reúne aqui fragmentos extraídos de
várias outras narrativas de cura e exorcismo. Fica em destaque a fragilidade do
entendimento dos discípulos, fica realçada a importância da fé e da oração. A
fé expulsa o espírito mudo e surdo e a oração fortalece nossa fé.
O espírito surdo e mudo é o espírito presente no mundo que nos aliena da acolhida e da prática da palavra de Deus. Os próprios discípulos ainda estavam sob a influência deste espírito.
O pai do menino é alguém que já se aproxima da libertação. Aproxima-se de Jesus com dúvidas. Porém a observação de Jesus leva-o a dar o passo decisivo da oração: "Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé".
A cura do epilético em Marcos é bastante
diferente da dos outros sinóticos. Marcos, com efeito, preocupa-se mais com os
detalhes: como, por exemplo, as discussões entre a multidão e os discípulos
(vv. 14-16. 28), ou sublinha a importância dada por Jesus a este milagre (v.
25). As particularidades contidas em Marcos evocam em geral pontos importantes.
Começando pelo diagnóstico da enfermidade da criança.
Trata-se, sem dúvida, de uma epilepsia. Os
detalhes apresentados por Marcos põem em evidência menos conhecimentos médicos
do que de demonologia e obscurantismo próprios de sua época. Os traços com que
descreve esta cena são, realmente, significativos para indicar as ações do
inimigo contra o povo eleito, representado pela criança.
O diagnóstico é assim menos o de uma
enfermidade epilética que o da incredulidade do povo. Jesus o completa, designando
a multidão como uma “geração incrédula”.
A cura se produz como uma morte e uma
ressurreição, para assinalar que não há cura possível mais que na comunhão do
mistério pascal, que liberta plenamente do mal.
Estamos diante de uma cena onde o mal toma
conta da vida de uma pessoa. O espírito do mal tem a característica de ser mudo
e surdo: surdo para não ouvir e mudo para não falar, situação que absolutamente
impede a comunicação com Palavra de Deus, impedindo também o diálogo com ele.
De fato, quando não conseguimos ouvir a voz de Deus e falar com ele, somente a oração restabelece esse contato e o diálogo com o criador.
A vitória só é alcançada pelo dom da fé. A oração e a fé nos livram do pai da
mentira e nos torna capazes de ouvir o Senhor e responder a ele. O evangelho
nos ensina que a comunidade também pode se engajar na luta contra o poder do
mal. A arma da comunidade é a oração. A oração nos ajuda a que nós mesmos nos
libertemos e também para que ajudemos os outros a se libertarem.
A cena pode ser associada ao batismo: morre a falsa identidade que nos mata, e
ressuscita a nova vida. Alguns elementos identificam o batismo: a fé, a palavra
e a água.
Cada vez que um cristão, como batizado, assume sua responsabilidade de testemunhar do amor de Jesus revelado no Evangelho a evangelização se concretiza e atrai a oposição do maior inimigo de Jesus e de Seu Evangelho: diabo. No texto de hoje aprendemos fatores importantes desta grande batalha da evangelização...
Jesus nos deu um grande mandamento - “amar o próximo” (Mc 12,31) e uma grande
comissão - pregar o evangelho a toda criatura (Mc 16,15). O cenário para
cumprir estes dois desafios é o mundo inteiro que, segundo João, “jaz no
maligno” (IJo 5,19).
Pedro, Tiago e João, os discípulos mais próximos de Jesus, foram levados por
Ele à montanha (Mc 9, 2-8) onde experimentaram tranqüilidade (v. 2), intimidade
(v. 2), manifestação da pureza de Jesus (v. 3), visão do céu (v. 4), prazer (v.
5) e o conhecimento da voz clara de Deus (v. 7).
Ao descerem da montanha com Jesus para a planície encontraram o restante dos discípulos enfrentando movimento (v. 14), discussão (v.14), agitação (v. 15). manifestação do poder do diabo (v. 17-18), frustração (v. 18), incredulidade (v. 19) e grande sofrimento (v. 20).
A evangelização, como já vimos, envolve “pregação” (Mc 3,14), mas também
envolve “libertação” das forças malignas (Mc 3,15) que se espalham pelo mundo
para “roubar, matar e destruir” (Jo 10,10a). Para que ela seja efetiva
precisamos aprender a “estar no mundo sem ser do mundo” (Jo 17:14-18).
Esta guerra espiritual é travada entre o Reino das trevas, com forças arregimentadas no inferno, e o Reino da Luz, formado pelo exército de todos os discípulos de Jesus.
O diabo, mais do que se imagina, tem poder pois ele adentrou numa casa israelita e possuiu o filho da família (v. 17), emudecendo-o (v. 17), derrubando-o (v. 18), provocando anormalidades físicas (v. 18) num processo constante de aniquilamento mental, emocional e físico (v. 18 – “vai definhando...”), violentando-o (v. 20) intensamente e prolongadamente (v. 22a) com um objetivo determinado: matá-lo (v. 22).
Do outro lado da batalha estavam os discípulos de Jesus que, apesar de terem
sido treinados e autorizados para expelirem espíritos malignos (Mc 6,7), na
hora “h”, quando o diabo já vencera o filho, o pai, os escribas e a multidão,
eles igualmente experimentaram um grande fracasso (v. 18).
Assim como no passado, nós que hoje fomos convocados para esta grande peleja precisamos estar conscientes do poder das forças inimigas (IPd 5,8) e da nossa incapacidade de vencê-las com nossas próprias forças.
Na batalha da evangelização o diabo, ao perceber a aproximação de Jesus, sentiu
que seu domínio de muitos anos sobre aquele filho (v. 20-22) estava prestes a
ser anulado.
Após ouvir uma verbalização de socorro por parte do pai (v. 22b), Jesus encorajou-o a reafirmar sua fé (v. 23-24) e promoveu uma libertação completa: pela Palavra (v.25), perceptível (v. 26), pelo toque encorajador (v.27) e pela reinclusão familiar – aquele homem que antes estivera nas mãos de satanás, pelas mãos de Jesus (v. 27) “é entregue a seu pai” (Lc 9:42).
Evangelizar significa avançar no território inimigo, o mundo, no poder do Espírito
(Is 61,1, At 1,8), com a certeza de que a autoridade de Jesus (Mc 6,7:7, Mt
28,18-20) a nós delegada é suficiente para enfrentar todos os ataques satânicos
(Cl 2,15, I Jo 3,8, 4,4), levando-nos à vitória (Rm 8,31-39; ICo 15,57-58; IICo
2,14; Ap 12,7-12).
Marcos destacou a curiosidade dos discípulos em saberem a opinião de Jesus
sobre as razões do seu fracasso (v. 28). Se, como eles, já fomos abençoados em
tudo (Ef 1,3, IIPd 1,3-4) porque também nos sentimos algumas vezes impotentes
diante dos grandes desafios da evangelização libertadora?
Jesus diagnosticou esta impotência espiritual apontando para duas falhas sérias: 1.) Incredulidade (v. 19) – Ele viu sinais de incredulidade nos escribas que tentavam desprestigiá-LO, na multidão que via Seus sinais, mas não assumia um compromisso, nos discípulos que não sabiam usar a Sua autoridade já conferida e no pai (v. 22). Mas, segundo Jesus, “tudo é possível ao que crê” (v. 23) – a fé é a grande arma que temos contra o inimigo (Ef 6,16, IJo 5,4-5).
Humildemente, como o pai, precisamos pedir ajuda ao Senhor em nossa falta de fé (v. 24). 2) Falta de oração e jejum (v. 29) – as armas eficientes que conferem vitória na batalha da evangelização (Ef 6,10-20) só são conferidas àqueles que levam a sério as disciplinas espirituais da oração e do jejum, ou seja, aos que fazem do “monte da comunhão” a prioridade maior na “planície da missão”. Que o Senhor Jesus, na unção do Espírito, nos leve dia a dia a esta postura de vitória, para a glória do Pai!
Na descida da montanha da Transfiguração, Jesus encontrou muita gente ao redor dos discípulos. Um pai estava desesperado, pois um espírito mudo tinha tomado conta do filho.
Marcos apresenta-nos
hoje pedagógicamente a importância da fé e da oração para que o milagre da
cura, da libertação e da salvação aconteça na vida da comunidade incrédula, que
Jesus vai chamar de gente incrêdula. E então com muitos detalhes Marcos
descreve a situação do menino possesso, a angústia do pai, a incapacidade dos discípulos
e a reação de Jesus.
O que mais chama
atenção são duas coisas: de um lado, a confusão e a impotência do povo e dos
discípulos diante do fenômeno da possessão e, do outro lado, o poder de Jesus e
o poder da fé em Jesus diante do qual o demônio perde toda a sua influência.
O pai tinha pedido aos
discípulos para expulsar o demônio do menino, mas eles não foram capazes. Jesus
ficou impaciente e disse: “Até quando vou agüentar esta geração sem fé! Tragam
o menino aqui!”.
Jesus pergunta a
respeito da doença do menino. Pela resposta do pai, Jesus fica sabendo que o
menino, “desde pequeno”, tinha uma doença grave que o colocava em perigo de
vida. O pai pede: “Se o senhor puder fazer alguma coisa, tenha pena de nós!”
A frase do pai
expressa a situação bem real do povo. Ele estava com a fé abalada, sem
condições de resolver os problemas, mas também tem muito boa vontade de
acertar. Não é esta a situação minha e tua hoje?
O evangelista
reúne neste texto várias passagem dos milagres de cura e libertação realizados
pelo Mestre como fruto da fé tanto dos curados quanto dos que apresentavam os
enfermos. É para ti e para mim que Jesus se dirige: Ó geração incrédula,
acredite. Afaste-se as dúvidas e trevas do vosso coração.
Marcos nos faz ver o
contraste entre a fé do pai da criança e a pouca fé dos discípulos, Por isso o
Senhor lastima e sobretudo procura fortalecer os seus discípulos e a multidão.
Em contrapartida, é admirável a oração simples e confiante do pai, que se
apresenta como homem de pouca fé, mas que pede para ser nela fortalecido. Só a
humildade e a confiança, como aquelas que inspiraram a oração daquele pai
aflito, são caminho que leva à fé.
Feito o trabalho,
libertado o garoto, o pai feliz da vida, é a hora de os discípulos amuados
perguntarem ao Mestre: “Como explicar o nosso fracasso? Por que não pudemos
expulsar o demônio?” E Jesus, curto e grosso: “Esta espécie de demônios com
nada se pode expulsar, a não ser com oração e jejum.”
Pode ser que você
esteja torcendo o nariz: “Jejum e oração?! Que coisa mais arcaica!” Ora, a água
vegeto-mineral dos tempos da vovó pode ser um remédio arcaico, mas faz efeito
ainda hoje.
Os "capetas"
do tempo de Jesus Cristo são os mesmos de nosso tempo, ainda que mais treinados
e especializados. Tal como ontem ainda hoje Jesus continua realizando curas e
libertações. Basta ter fé, confiança e esperança no Nome e Poder de Jesus.
Portanto, é urgente
que como o pai daquela criança gritemos ante as diversas situações por que
passamos: Eu tenho fé! Ajude-me a ter mais fé ainda!
Propósito:
Pai, reforça minha fé,
de modo a me predispor a ser beneficiado por teu filho Jesus, por meio do qual
tua misericórdia chega até a mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário