30 setembro - Tudo sempre para a maior glória de Deus Nosso Senhor. (L 18) São Jose Marello
"Depois
disso o Senhor escolheu mais setenta e dois dos seus seguidores e os enviou de
dois em dois a fim de que fossem adiante dele para cada cidade e lugar aonde
ele tinha de ir. Antes de os enviar, ele disse:
- A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, peçam ao dono
da plantação que mande trabalhadores para fazerem a colheita. Vão! Eu estou
mandando vocês como ovelhas para o meio de lobos. Não levem bolsa, nem sacola,
nem sandálias. E não parem no caminho para cumprimentar ninguém. Quando
entrarem numa casa, façam primeiro esta saudação: "Que a paz esteja nesta
casa!" Se um homem de paz morar ali, deixem a saudação com ele; mas, se o
homem não for de paz, retirem a saudação. Fiquem na mesma casa e comam e bebam
o que lhes oferecerem, pois o trabalhador merece o seu salário. Não fiquem
mudando de uma casa para outra.
- Quando entrarem numa cidade e forem bem recebidos, comam a comida que derem a
vocês. Curem os doentes daquela cidade e digam ao povo dali: "O Reino de
Deus chegou até vocês." Porém, quando entrarem numa cidade e não forem bem
recebidos, vão pelas ruas, dizendo: "Até a poeira desta cidade que grudou
nos nossos pés nós sacudimos contra vocês! Mas lembrem disto: o Reino de Deus
chegou até vocês."
E Jesus disse mais isto:
- Eu afirmo a vocês que, no Dia do Juízo, Deus terá mais pena de Sodoma do que
daquela cidade!"
Meditação:
Com este texto, Lucas desenvolve um pouco
mais as instruções para os missionários que já foram apresentadas no envio dos
doze (Lc 9,1-6).
Agora se trata do envio dos setenta e dois em
missão nos territórios dos gentios. Está aumentando o número de trabalhadores
para a colheita. Lucas é o único a mencionar este envio dos setenta e dois.
Como Lucas tem uma perspectiva universalista, percebe-se que ele quer registrar a abrangência maior do movimento de Jesus, não restrito ao universo do judaísmo.
Lucas narra que Jesus envia um novo grupo: o
dos 72 discípulos. Eles são enviados “na frente” do Senhor, como precursores,
como preparadores da chegada do reino de Deus.
O número 72 é simbólico e indica a universalidade da missão: o número 72 é
múltiplo de 12 para representar a totalidade do povo de Deus.
A missão, portanto, não é uma tarefa somente de alguns, do grupo dos doze, mas
uma obra também dos leigos, ou seja, de todos os cristãos. Assim, a missão é
universal desde a sua origem e compreende todos.
O texto especifica que Jesus envia “dois a dois”, pois o anúncio do Evangelho
não é uma tarefa pessoal, mas de uma comunidade.
O fato de serem enviados de dois a dois também quer mostrar a credibilidade do
testemunho, além do fato do encorajamento que um pode dar ao outro no caso de
desânimo diante das dificuldades.
Jesus, depois de ter falado em semente e em arado, fala agora de colheita. Esta
última, por sua vez, é imensa, mas os trabalhadores disponíveis são poucos.
Ontem e hoje vivemos a mesma situação! É um trabalho gigantesco, e nunca haverá
trabalhadores suficientes; só o Pai pode chamá-los e enviá-los.
É necessário rezar a Ele, pedindo que chame mais pessoas. É justamente por
causa da extensão da missão que Jesus chama mais este grupo de ajudantes, e,
mesmo assim, são poucos diante da imensidão da missão que Ele tem pela frente e
da qual nos torna participantes.
Jesus faz o envio: “Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos”. É a
imagem clássica da fraqueza diante da violência. A missão é uma obra difícil e
perigosa.
Aqueles que Ele enviou devem cumprir fielmente o seu trabalho, mas não devem
exigir demasiado de si mesmos nem entrar em pânico diante da grandeza da
missão. Devem, sim, ter consciência que não será uma tarefa fácil e que nem
sempre serão recebidos de braços abertos. Devem fazer sua parte, com
competência e perseverança, pois, em último caso, a responsabilidade é de Deus,
e Ele não vai deixar cair em ruínas a sua messe, mandando trabalhadores
necessários para isto.
A mensagem a ser levada é o dom da paz, no sentido mais completo, para as
pessoas e às famílias, e, sobretudo, a mensagem de que “o Reino de Deus está
próximo de vós”. O reino de Deus é, antes de tudo, uma pessoa: Jesus. Quem O
acolhe encontra a vida, a alegria, a missão de anunciá-Lo.
O gesto de bater, sacudir a poeira dos pés, era um gesto simbólico dos
israelitas que, ao ingressar de novo no próprio país, depois de terem estado em
terra pagã, não queriam ter nada em comum com o modo de vida deles. Libertar-se
da poeira que se grudou aos pés enquanto estavam em território pagão
significava ruptura total com aquele sistema de vida.
Fazendo isso, os discípulos transferem toda a responsabilidade pela
rejeição da Palavra àqueles que os acolheram mal e rejeitaram o anúncio do
Evangelho. E a paz oferecida não se perde, mas volta a quem oferece.
O estilo da missão de Jesus e dos discípulos é o oposto daquele dos poderosos
que o mundo de hoje idolatra. Não se baseia sobre a vontade de dominar, a
arrogância ou a ambição, mas sobre a proposta humilde, respeitosa, atenta aos
mais fracos, oferecida na gratuidade, sem buscar outras recompensas.
O Evangelho de Jesus é uma mensagem de vida verdadeira para quem confia somente
em Deus, que é Pai e também Mãe: “como uma mãe que acaricia o filho, assim eu
vos consolarei” e em Cristo crucificado e ressuscitado.
Os 72 tinham uma tarefa nova e difícil. Mas, estes voltam para Jesus muito
contentes porque ficaram impressionados pelos prodígios que puderam ver. Jesus
freia um pouco esta alegria e diz: “antes, ficai alegres porque vossos nomes
estão escritos no céu”.
Como podemos, nós, discípulos de Jesus, seguir nossa missão em meio aos lobos
do tempo atual? A missão é mais forte do que o medo. Às vezes, somos tomados
por pensamentos negativos, tipo “o que vão pensar?” ou “o que vão dizer?”. É
humano sentir medo, mas a missão deve superar os nossos temores.
Nenhum profissional tem medo de falar de sua profissão. Então, por que
deveríamos, nós cristãos, ter medo de falar de Cristo, da sua pessoa, da sua
verdade, da sua vida, do seu amor, do seu mistério?
A fé e a missão começam no coração e devem
terminar nos lábios e nas ações. Não podemos deixar que o receio atrapalhe a
nossa missão cristã.
Reflexão Apostólica:
Vamos abordar três pontos…
Muitas pessoas associam esse evangelho a
diferenças religiosas. Imaginam aquele irmão que passa de porta em porta a
anunciar sua fé e se mal recebido declara aos ventos que nem a poeira das
sandálias ficará. Se certo ou errado aquela pessoa queria apenas dizer que “(…)
O Reino de Deus chegou até vocês”.
Mesmo nos batendo à porta nos horários mais
inconvenientes, bastaria para nós dizer: “Sim irmão, ele já chegou! Vá em
paz”! Como é que normalmente respondemos? Não estou aqui dizendo que
devemos ouvir e acatar tudo falam ou nos entregam nas portas, nas ruas, nas
praças, mas pelo menos não sermos mal educados com quem leva uma mensagem
positiva de casa em casa. Filtremos bem os proselitistas!
Outro ponto…
Os judeus possuíam muitos rituais particulares, hoje talvez déssemos o nome de costume, hábitos, crendices, (…). Era, portanto um ritual particular, onde todos ao saíssem da sua região para outra sendo esta pagã ou descrente, ao retornarem não trouxessem (simbolicamente) nada daquele lugar onde não aceitavam a Deus. O gesto era sacudir as sandálias como que dissessem: “não trago nem o pó dessa terra”!
A sabedoria do povo judeu não se limitava a
costumes. Talvez dissessem hoje: “QUANDO VOLTAR PARA CASA, À NOITE, VINDO DO
TRABALHO, NÃO DESCONTE SEU CANSAÇO E SUAS INSATISFAÇÕES NA SUA FAMÍLIA”!
A nossa vida nem sempre é aquela que sonhamos
ou idealizamos. Ela é cheia de altos e baixos, coisas boas e não tão boas.
Padre Léo dizia que temos a grata mania de olhar NOSSOS problemas com lentes de
aumento, os tornado assim maiores do que são. Passamos, talvez
inconscientemente, a responder a insatisfação ou a frustração com desamor,
rancor, ranzinzes, (…). Essa poeira não deve voltar para casa!
Um terceiro ponto…
Pensem num homem que tinha tamanha
inteligência que preferiu viver no isolamento por acha difícil que as pessoas
pudessem conviver com ele. Herdou com a morte do pai uma boa fortuna que
transformou em estudo. Ficou responsável pela tradução da Bíblia para o Latim
que quando concluída fora chamada de Vulgata.
Suas palavras e reflexões duras não
“perdoavam” nem mesmo santo Agostinho, doutor da igreja, mas se resignava a
reconhecer que fazia isso pelo bem da igreja, e por isso preferia ficar longe a
magoar. Mesmo tão contundente em suas afirmações preferiu o silencio.
O seu “eu” impetuoso se rendia ao amor de
Jesus. Essa situação casa-se bem com uma frase de Santa Terezinha: “(…)
No lugar do medo do “Deus duro e vingador”, ela coloca o amor puro e total a
Jesus como um fim em si mesmo para toda a existência eterna”.
Duro ter a convicção de estar certo e ter que
se refugiar no Senhor.
Católicos ou evangélicos (mesmo sem aceitar isso) agradecem a são Jerônimo por
seu investimento, seu tempo, disposição e sabedoria em traduzir a Bíblia para
que mais que 72 pudessem ir de porta em porta, de casa em casa e dizer: “Que
a paz esteja nesta casa!”
Propósito: Estar sempre pronto para o serviço do Reino, em que pesem todas as dificuldades. "Nada é difícil para quem ama". (São Bernardo de Claraval).
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